Juventude é o Futuro
Clique e confira uma reflexão acerca da adolescência, juventude e o futuro.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Pela primeira vez estou em contato com jovens em Liberdade Assistida. Desenvolvo uma Oficina de Preparação para o Mercado de Trabalho. São adolescentes com a irreverência e a ousadia peculiares que solicitam adultos que sustentem seu brilho no olhar. Eles, como todos adolescentes, solicitam adultos que aceitem o desafio imposto pelos jovens. Fizemos um acordo de trabalho e eles cumprem sua parte, como um cidadão o faz. Assim, ao reler o artigo “Juventude Sem Futuro” veiculado pelo Jornal O Diário - Santa Bárbara D'Oeste, em 28 de setembro, não posso deixar de tecer algumas reflexões. Oportunamente ele aborda uma problemática da atualidade imensamente complexa e que não permite soluções fáceis.
É histórica a preocupação de todas as civilizações com seu futuro. Porém, desde sempre houve o conflito de gerações. Na atualidade é real, pontual e urgente nossa imensa responsabilidade com nossos jovens. É terrível ser mutante em um mundo delirante. Hoje, a perda dos rituais e a complexidade do mundo exigem amadurecimento mais individualizado e problemático. Mas as dificuldades não são apenas dos jovens. Afinal, a “aborrecência” existe ou o termo serve para estigmatizar os adolescentes?
Nas sociedades ocidentais que se caracterizam pela globalização e pela emergência de modalidades complexas nos papéis sociais em função da sofisticação do trabalho, ocorre, de um lado, um alargamento do tempo da formação profissional, que chega até os 25 anos ou mais e, de outro, a antecipação do término da infância. A adolescência, assim, torna-se um período ampliado de investimentos. A escola por excelência é o templo da cultura, ela produz os valores, os ideais de liberdade e singularidade reinantes. Assim, um sistema escolar que historicamente tem produzido exclusão pode de fato formar, capacitar e desenvolver jovens para a vida e para o trabalho? Que escola de fato é a que estamos oferecendo aos nossos jovens? Será que basta a matrícula?
Sobre o desemprego nem é preciso falar extensivamente, é realidade imperante. Porém, desapropriar o suprimento de profissionais capacitados é decretar futura falência e reproduzir o ciclo da pobreza e desesperança. Que mercado de trabalho os recepciona? Funciona na prática a lei que estabelece o Projeto Degrau e Primeiro Emprego? Há ações solidárias no processo de inserção ao mercado de trabalho? Nossos empresários são empreendedores na responsabilidade social?
No que se refere à violência estrutural, a sociedade precisa se mobilizar pela redução da insustentável desigualdade social, geradora de inúmeras formas de violência (além de ser uma delas). Apenas sob forte pressão dos cidadãos organizados se conseguirá modificar a inoperância do Estado, o que envolve uma série de interesses políticos e econômicos. Quanto à criminalidade, é urgente o uso da autoridade pelo Governo, conforme estabelece a lei, atingindo não somente gente miúda, mas também a elite que vive do negócio e que são os verdadeiros mentores. Aqui, cabe lembrar que a nossa juventude é a maior vítima desse estado social caótico e que os adolescentes quando em conflito com a lei, são “punidos” e “controlados” de forma diferenciada por serem pessoas em desenvolvimento. Deve-se ter sempre em mente que não funciona tentar reduzir a violência pela própria violência, embora seja este o primeiro sentimento de uma vítima. Aliás, não resta dúvida de que o processo de encarceramento, para qualquer ser humano, mostra-se uma experiência catastrófica e socialmente deteriorante.
A condição intrínseca à adolescência é a transformação. Com as transformações físicas e psicológicas, o adolescente e quem compartilha de sua vida vêem-se mobilizados a criar formas de se estabelecer na vida adulta. Também os agressores e suas famílias são passíveis de mudança desde que hajam sólidos programas voltados à inclusão, pois são historicamente vítimas de muita incompreensão, preconceito e marginalização. Esclareço: as famílias não são os vilões, pois há todo um contexto produtor de destrutividade. Nós é que tendemos a realizar a lei do talião: do olho por olho. Não podemos jamais generalizar e tendermos ao reducionismo: todos sofremos as confusões e doença de nossa época. Como interromper esse caminho é um desafio. Mas a experiência tem mostrado que a eficiência aumenta na medida em que se trabalha em parcerias, envolvendo todos os tipos de profissionais e a família, com continuidade em inclusão social. Mas é primordial atuar cedo e caso a caso.
O adolescer é um dos eventos cheios de emboscadas que temos de enfrentar na vida moderna. As crises relacionadas às transformações envolvem a todos. Pais, educadores, profissionais da saúde e sociedade também fazem parte dela e freqüentemente manifestam sintomas ao enfrentar a convivência com os jovens, revivendo suas próprias adolescências. O desamparo e a necessidade de criar os próprios rituais de passagem estão presentes em todos os períodos da vida humana, como no envelhecer, no aposentar-se e até mesmo no morrer. Todos estamos pagando caro pelo que historicamente plantamos e é verdade que os governos tem sido ineficazes em soluções, principalmente, porque nós - sociedade organizada - temos deixado, de fato, o nosso agir ao cargo de outros e não temos feito a nossa lição de casa. Por isso, concluo, criem, criem e sempre criem. Criar é fazer nascer o novo e não é reproduzir. Somente com criatividade, sabedoria e verdadeira humanização, onde o outro, de fato, me importa – solidariamente, com respeito e comunicação - é que a vida se fará mais plena aos nossos filhos.
* Eliane Pereira Lima – CRP 06/43457 Especialista em Psicologia Clínica, Organizacional e do Trabalho
Publicado por: Eliane Pereira Lima
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