Existência Virtual
Confira um artigo que aborda acerca do uso da internet como fonte de pesquisa.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Em escolas e vários outros ambientes, a sensação generalizada é de que muitos estão se tornando “eletrônicos”, com mais relacionamentos virtuais que pessoais, como se as pessoas próximas ou distantes fossem apenas imagens e caracteres - e o espaço da informação, exclusivo para a expressão de fantasias e divulgação de realidades pessoais idealizadas.
Todas as vidas são interessantes, embora a maior parte delas interesse mesmo apenas a quem a vive e ao seu círculo familiar e de amizades. No entanto, parcela ponderável de usuários de redes sociais torna público praticamente tudo o que pensa, faz e gostaria de fazer. E, num paradoxo, supõe que todos estão assistindo, e ao mesmo tempo ninguém está vendo nada, como se algo posto na rede fosse visto apenas por aqueles a quem se dirige, quando a web é totalmente aberta, praticamente tudo pode ser acessado por todos, embora usada como se fosse o mais confidencial dos canais de comunicação.
Na Commedia dell’arte, teatro popular na Itália renascentista, havia um personagem que interagia com a plateia, o Polichinelo; representação da malandragem, em busca da cumplicidade dos espectadores, que sempre sabiam o que se passava. Criou-se daí a expressão “segredo de Polichinelo” para referir algo que se supõe reservado, mas que é de conhecimento de todos. E a internet é um palco desse teatro - todos cumprindo seus papéis, acreditando que seus segredos estão resguardados, enquanto operam em um ambiente que, por definição, é a antítese da privacidade.
Têm-se tornado frequentes os casos de demissões de pessoas que criticaram a empresa em que trabalham através de twitter ou Facebook, que acessaram ou transmitiram material inadequado ou ilegal em horário de trabalho e com o equipamento de uso profissional. Representa a mesma síndrome o suicídio de duas meninas que tiveram divulgadas fotos íntimas por amigos ou namorados, a ocorrência de prisões de bandidos que publicam fotos com armas pesadas (e produtos de roubos) e de pedófilos e exploradores sexuais que montam redes de contato. Levam tudo a público e imaginam que não serão vistos por alguém fora do grupo mais íntimo.
Muitos estudantes surpreendem-se quando professores não aceitam seus trabalhos de pesquisa. Julgam-se injustiçados – afinal, cumpriram fielmente as exigências da matéria, espaço, apresentação, até mesmo citação de fontes; sendo recompensados por tanto esforço com a observação de que sua obra não passa de um conjunto de arquivos “copiados e colados”.
Na verdade, tornou-se muito fácil localizar, por meio dos sites de busca, tudo aquilo que se relacione com o assunto proposto pelo mestre, com um pouco de bom senso montar um mosaico de textos que até fazem sentido e guardam relação com o tema. Todavia, um trabalho de pesquisa é muito mais que mera compilação: envolve busca, leitura, reflexão, compreensão e até mesmo alguma proposta original. Alunos esquecem que bons professores conhecem a maioria dos artigos publicados sobre sua especialidade - os que não conhecem, identificarão com os mesmos recursos de procura.
Pode-se usar a informática para facilitar o trabalho de escrita, com moderação e destacando os trechos efetivamente copiados. Porém, isso envolve maturidade e a capacidade, cada vez mais rara, de distinguir o que é da esfera pública daquilo que é privado. E isso afeta não apenas as instituições educacionais, mas toda a vida comunitária.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.
Publicado por: Central Press
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.