Educando para a promoção da saúde
O que é a "cracolândia”, qual é a realidade dessa região e como a população reage e convive com as drogas.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Desde algumas décadas, intensificando-se neste novo século, uma grande preocupação tem sido o oferecimento de atividades escolares que possam promover a saúde e afastar o estudante do fascínio oferecido pelas drogas.
Esportes, festas com a participação da família para integrá-la ao ambiente escolar, visitas a hospitais, cuidados com hortas comunitárias e animais de estimação parecem caminhos promissores, pelo menos naquilo que se denomina primeiro estágio, ou seja, a prevenção ao uso antes que este se instale.
Iniciado o uso, outras providências se fazem necessárias, algumas até medicamentosas. Porém, o problema se torna extremamente complexo quando o uso se transforma em dependência, e algumas drogas levam a uma deterioração rápida e profunda da saúde não apenas física, mas principalmente psíquica.
Na maior cidade do país há uma região chamada “cracolândia”; é um apelido cruel e despropositado, como se os frequentadores/moradores vivessem numa espécie de Disneylândia fazendo selfies com o Pateta enquanto consomem crack. A realidade é que nesta área concentram-se centenas de usuários de drogas, e a maioria deles não tem mais nada além da roupa do corpo e de uma efêmera e mortal fuga de sua realidade e miséria quando conseguem uma “pedra” para fumar.
Os poderes públicos encaram essas pessoas e seu território como problema policial antes de ser social e de saúde pública e, sendo poderes, tentam amiúde sanar o mal com o uso da força. Chamam urbanização à demolição desorganizada de casarões usados como moradia, parecem acreditar que a prisão de alguns pequenos “vapozeiros” acabará com o tráfico. E tentam circunscrever o problema a manicômios judiciários ou equivalentes, internando usuários compulsoriamente; na contramão da opinião de muitos especialistas na área, que afirmam que a internação para ser eficaz deve ser voluntária, e mesmo daqueles que entendem que a partir de determinado estágio da drogadição o usuário perde autonomia para decidir, mas ainda deve ter seus direitos fundamentais respeitados.
Com um recente ataque à área da cracolândia, os usuários se espalharam pelo seu entorno, causando reações iradas e/ou assustadas de seus novos vizinhos. Moradores, comerciantes, passantes, foram unânimes em registrar suas queixas quanto à segurança pessoal e patrimonial, reclamaram das condições e locais em que os “viciados” realizavam suas funções fisiológicas e sexuais, criticaram até mesmo o aspecto estético que o “seu” espaço estava assumindo com pessoas andrajosas circulando por ele. E, correndo o risco de ser catalogados como “higienistas”, enquanto nos solidarizamos com os infelizes que não tem mais para onde ir, entendemos também o burguês que reclama, nosso semelhante e nosso irmão. Muitos de nós convivemos amistosamente com moradores de rua perto de nossas casas, eventualmente lhes damos alimentos ou roupas, conversamos com eles, porém são relativamente poucos e se consomem drogas ou álcool a maioria o faz moderadamente. Não conseguimos conceber, no entanto, como seria a convivência com centenas de “nóias”, alguns com patologias graves, outros capazes de cometer violência ao surtar por falta da droga.
A igreja católica registra santos que dividiram roupas e alimentos com leprosos cobertos de chagas, tão malditos à época quanto os moradores da cracolândia hoje. De algum modo, os abnegados que vão diariamente aos espaços de miséria, vício e crime na busca de resgatar aqueles que podem e querem ser resgatados deveriam também ser santificados: fazem o que muitos de nós falamos que deveria ser feito e não conseguimos fazer.
A raça humana convive com as drogas há milênios, e inclusive algumas religiões as utilizam como parte de seus rituais.
Aprender – e ensinar – a conviver com elas é assunto complexo, um verdadeiro desafio ao bom professor.
Por Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Educação Superior do Brasil – UniBrasil.
Publicado por: Wanda Camargo
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