Corpo sob tortura - ser mulher, mãe e militante em tempos de ditadura militar
Breve resumo sobre ser mulher, mãe e militante em tempos de ditadura militar.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
31 de Março é um dia em que o Brasil deveria encontrar-se em luto, mas infelizmente alguns grupos escolheram comemorar e exaltar o absurdo, o totalitarismo, a barbárie.
O dia 31 de março data o dia em que um conjunto de eventos levou o nosso país ao conhecido Golpe de Militar, um golpe de Estado de se estenderia de 1964 até 1985 . Chamada Era de chumbo, esse período foi marcado por violência, censura, corrupção e violações gravíssimas aos direitos humanos.
A Ditadura militar torturou muitos brasileiros, mas aqui vamos falar sobre como o corpo feminino era evidentemente tratado de forma diferente do corpo masculino e como alguns conceitos patriarcais já conhecidos por nós, foram ferramentas de tortura à mulher.
Debruçando sobre a problemática mulher/mãe/militante, através de diversos relatos de mães militantes, percebemos que o sujeito torturador, na ânsia em torturar e romper o silêncio da mulher militante, entendia seus filhos como extensão de seus corpos, sendo esses também passíveis de tortura.
Para além disso o sujeito torturador, embasado pelo conceito cristão, que determina a mulher um lugar de submissão e obediência ao homem, levou mulheres a terem suas configurações de tortura diferenciadas das sofridas pelos homens. No discurso e entendimento do sujeito torturador ( balizado pelo preceito cristão) o corpo da mulher e um corpo a serviço do homem, e se o serviço que essa mulher/mãe/militante tem que prestar ao sujeito torturador é o romper de seus silêncio ele se sente legitimado a acessar esse corpo como bem entende, não só agredindo fisicamente com as mesmas técnicas utilizadas no corpo masculino, mas também estuprando e estendendo essa tortura a seus filhos, que para eles é corpo indissociável dessa mulher/mãe/militante.
Essas mulheres/mães/militantes e essas crianças sofreram violências inimagináveis, muitas dessas mulheres/mães/militantes morreram em tortura, muitas dessas crianças que viram suas mães serem torturadas e que foram torturadas junto com a elas jamais se recuperaram da violência sofrida, algumas tiraram a própria vida em meio a dor e sofrimento das memórias de terror, e mesmo assim vemos na data de hoje pessoas em comemoração o Golpe de 64.
É importante trazermos à memória a verdade sobre o Golpe Militar de 64, é importante alertarmos, principalmente as mulheres, que para o homem e para os governos totalitários feitos por homens nos somos apenas objetos, submissos e subservientes, que se não está a serviço deles merece o descarte, a dor, o castigo a morte. E se formos mães, nossos filhos serão entendidos como extensão de nossos corpos e também sofrerão.
Manter a memória viva e manter-se vigilante, e quando se é mulher isso é primordial.
"A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento,
inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e manipulações, suscetível de longas latências e de repentinas revitalizações. A
história é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais. A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente: a história, uma representação do passado (NORA, 1993, p. 9)."
Ditadura nunca mais.
Referência:
CORREIA, Ana Paula Alves. "Eles torturavam as crianças na frente das mulheres",. Mulheres, traumas e maternidade na resistência à ditadura militar Brasileira, 2018. Disponível em
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo: PUC-SP. N° 10. 1993.
OLIVEIRA, Eleonora Menicucci de. Testemunho. In: MERLINO, Tatiana e OJEDA, Igor (Orgs): Luta, Substantivo Feminino: Mulheres torturadas, desaparecidas e mortas na resistência à ditadura. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. São Paulo: Editora Caros Amigos, 2010.
Publicado por: Ivana de Oliveira Eugênio de Souza Moura
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