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CONVERSAS SOBRE O COTIDIANO

Reflexões em torno de questões que permeiam a vida cotidiana do homem simples, do letrado, do religioso, do pai, do filho do amigo, do profissional enfim, de todos aqueles que na sua inquietude ainda não perderam a capacidade de dialogar.

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Objetivo do presente texto é fazer algumas reflexões em torno de questões que permeiam a vida cotidiana do homem simples, do letrado, do religioso, do pai, do filho do amigo, do profissional enfim, de todos aqueles que na sua inquietude ainda não perderam a capacidade de dialogar sobre a própria existência humana e seus valores e virtudes.

É preciso deixar claro que algumas palavras se confundem no dia a dia, tais como fé, esperança e acreditar; digo isto porque é preciso ter graça pra poder sorrir, é preciso regar pra poder florir, é preciso plantar pra poder colher, é preciso ter paz pra poder dormir, é preciso ter esperança pra poder sonhar, é preciso ter vez pra poder falar, enfim, é preciso ter um projeto pra realizar, é preciso ter alguém pra poder amar.

A fé, a esperança e o simples fato de acreditar, levam o homem a superar suas próprias limitações, sejam elas de caráter pessoal, individual, coletivas, públicas ou privadas, cientificas ou do senso comum, mas uma coisa é certa impulsiona os serem a projetarem metas para suas vidas, suas carreiras, suas famílias, vertem projetos em realidade, colocam em prática teorias e sonhos, materializando-os.

A figura de Jesus Cristo, digo não aquele da foto, aquilo que traduz a face ou fisionomia dele, mas suas atitudes cotidianas descritas na Bíblia, livro venerado pelos cristãos; veja bem, Cristo foi uma figura emblemática, em alguns momentos era curto e grosso nas palavras e ora justo e modesto com elas.

Cristo fez o homem discutir problemas não só de ordem espiritual, mas também cotidianos que afetavam a estrutura social da época. Em certa passagem bíblica Cristo argumentava com os letrados numa sinagoga e deixou seus pais aflitos com seu sumiço, quando o acharam questionaram porque saiu sem falar e os deixaram preocupados, o menino Cristo respondeu, não sabes que estava na casa de meu pai conversando; Maria por mais que soubesse que Jesus Cristo fosse diferente dos demais meninos ficava surpresa com a forma convicta que o menino falava – José por sinal ficava apreensivo e encabulado com as respostas do menino, pois na cultura da época e até nos dias atuais, tem-se como adequado o filho não ser rebelde com palavras e responder uma indagação dos pais com certa tranquilidade para não ser vista como afronta. José ficava em dúvidas com certas coisas que Cristo falava, até porque os conhecimentos de José não o levavam a ser um homem das letras, mas um simples carpinteiro; mesmo assim José era um homem bom e tinha tamanha admiração pelo menino Cristo e cuidava dele com toda a ternura de um pai.

Em outra passagem bíblica, relativa a um Cristo mais maduro e calejado com os problemas sociais, em especial o da Justiça - uma das grandes virtudes humanas, ele presencia uma mulher rameira ou prostituta (conceito atual da palavra), que estava prestes a ser apedrejada por uma multidão de populares.

Para Cristo, assim como foi para Aristóteles – filósofo grego do século V antes de Cristo, e também como é nos dias atuais, a justiça é uma das grandes virtudes humanas, pois ela permite que o homem se posicione num patamar de atitude menos arbitrária e agressiva perante seus semelhantes numa situação de julgamento de atitudes ou condutas cotidianas.

Voltando a questão da mulher que estava prestes a ser apedrejada sob a acusação de ser prostituta, e que não tinha condições de defesa, Cristo - movido pela virtude completa, a justiça – agiu imediatamente para evitar que as pessoas movidas pelo preconceito cotidiano promovessem o exercício arbitrário das próprias razões, praticassem justiça com as próprias mãos – e disse: aquele de vós que não tiver nenhum pecado, que se aproxime e atire a primeira pedra – a multidão se afastou e as pessoas murmuravam porque no seu intimo todos ali eram pecadores, e ninguém teve a ousadia de apedrejar a mulher - e Cristo na sua infinita cortesia, levantou a mulher que estava encolhida no chão e pronunciou – vá em paz e não peques mais. Esta passagem é interessante para traduzir a concepção de justiça – que naquele momento foi impedir um crime, uma injustiça perpetrada por pessoas do povo destituídas do poder ou da atribuição de julgar, e mesmo o próprio Cristo sabia que a prostituição era uma prática recorrente naquela sociedade, e não seria justo apedrejar aquela mulher por um desvio de conduta daquela sociedade.

A justiça não é um órgão do poder judiciário como o senso comum acredita - é uma virtude própria do homem, é aperfeiçoada ou deturpada com os valores familiares, sociais e profissionais, mas está lá no intimo do ser esperando para ser despertada.

Grandes personalidades pensaram e discutiram a justiça enquanto virtude completa que o homem carrega nas profundezas de seu âmago, dentre eles podemos citar Aristóteles que disse: “vemos que todos os homens entendem por justiça aquela disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, que as faz agir justamente e desejar o que é justo; e do mesmo modo, por injustiça se entende a disposição que as leva a agir injustamente e a desejar o que é injusto." - Ética a Nicomâco, Livro V.

Também Rui Barbosa na sua simplicidade de grande orador expressou: "A injustiça, senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade [...] promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas." 

Mahatma Ghandi também ressaltou "Se ages contra a justiça e eu te deixo agir, então a injustiça é minha."

Percebe-se que atualmente o homem está deixando morrer a virtude completa que existe no dentro de si, está perdendo sua humanidade, sua capacidade de discutir os anseios e angustias, muitas vezes prefere a fuga do agir justamente para desejar o que é justo, conforme pretendeu Aristóteles, e passa a abster-se de enfrentar e discutir os problemas – homens resolvem problemas como homens dialogando e buscando soluções e não como meninos que se prestam a chorar quando uma situação difícil os colocam em prova para testá-los e fazê-los amadurecer.

Outras vezes, ocorre o que Rui Barbosa disse, pois se permitirmos que a injustiça ocorra, ela certamente irá desanimar o trabalho, sufocar o esforço, ofuscar a honestidade, corromper o bem, destruir o caráter e semear no coração das gerações que vêm nascendo, faz florescer a semente do mal, da podridão, os valores distorcidos e perversos, e todos os devaneios que habituam os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna fácil, no acaso, na loteria da sorte, que promove a desonestidade e retira as expectativas humanas em relação à fé, a acreditar e ter esperança num amanhã em que os bons valores e virtudes sejam aperfeiçoados ou pelo menos mantidos no seu status quo, na sua zona de conforto.

E também não podemos esquecer-nos dos esforços do jovem advogado indiano, Ghandi, quando disse que se alguém age com injustiça ou contra a justiça e eu na minha imensa capacidade de agir permito que se pratique tal infâmia, tal ato leviano - a injustiça é minha, porque quando os homens de bem se calam, o mal reina e eles se tornam integrantes da maldade.

Portanto, devemos agir sempre com justiça, segundo a máxima de tratamento pautado no respeito e na ética (fazer o certo sem precisar estar sendo vigiado), tratando as pessoas de forma justa, da mesma forma que esperamos ser tratado por elas.

É preciso que a chama da ética, justiça e moralidade seja uma prática, um hábito - permitindo  que se ensine pelo exemplo e inspire outras pessoas a ter a mesma conduta, pois existe um pensamento de Benjamin Franklin que diz: “Diga-me eu esquecerei, ensina-me e eu lembrarei, envolva-me e eu aprenderei”. Está frase é inspiração para que as pessoas aprendam, participem se sintam parte de um contexto, enfim, sejam respeitadas; pois ninguém se interessa por algo que não se sente parte, isto é bastante visível nos estabelecimentos de ensino e nas organizações onde se estabelecem metas a serem cumpridas e que vão cumpri-las sequer sabe o porquê daquilo.

Em algumas das minhas introspecções, que seriam nada mais que o indivíduo voltar para seu interior, refletir sobre idéias, criar e fazer florir a dúvida, aquela dúvida presente no Cogito de René Descartes – “penso, logo existo”, para levar a outro pensamento que é quando penso reflito exercito meu cérebro, faço indagações que na correria do cotidiano, principalmente das pessoas mais desprovidas de esclarecimentos, de informações puras e simples, mas de efetivo esclarecimento, aquele tipo de circunstância que eleva o espírito crítico, a percepção para discutir os problemas.

Os alemães, em especial o sociólogo Max Weber (1864 - 1920) e o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), discutiram problemas que inquietam os seres humanos até atualidade.

Nietzsche dizia que odiava e submissão a qualquer tipo de doutrina, porque é controle e submissão humana e oprime o homem, cerceia o potencial criador - ele adotou a terminologia vontade de potência – sentimento que foi deturpado e levou a Alemanha a Primeira e a Segunda guerra mundial, e que nada mais é do que a crença no potencial humano, na capacidade que o homem possui para resolver as questões postas ou que ele próprio deu causa; para muitos o filosofo Nietzsche era um libertino, um utópico, um rebelde sem causa focada na realidade de sua época, mas o pensamento de Nietzsche impulsiona e inspira o homem a responder questões do cotidiano.

Ele enfatizava que o homem deve cultivar a vontade de potência, pois ela liberta e projeta um espírito livre, e como se percebe o mundo atual carece de homens verdadeiramente livres para discutir os problemas, sem estar focados nos desejos pessoais e nos objetivos organizacionais.

Por sua vez Max Weber defendia um posicionamento interessante, dizia que o homem busca esclarecimento, conceito que podemos entender como sendo um pensamento crítico em elevado nível que permite dialogar, conversar com certo conforto sobre diversos assuntos do cotidiano, e a medida que atinge o esclarecimento ocorre simultaneamente o que ele chamou de desencantamento do mundo, e a partir daí o homem vai perdendo sua ingenuidade e aguça a percepção sobre a realidade que o cerca, modificando-o substancialmente.

Desencantar para o mundo é perder a inocência e começar a perceber a realidade e suas nuances, é deixar de aceitar as respostas ingênuas que só convencem aqueles cujo esclarecimento é incipiente. Ocorre um descortinamento do mundo, e as circunstâncias por trás do cenário se tornam mais visíveis.

Max Weber acreditava e defendia eloquentemente que é preciso que o homem se desencante para o mundo, liberte-se das amarras de sua ignorância, desenvolva o pensamento crítico, para ter condições de desvendar a realidade que o circunda.

Na vida existem questões que são centrais para que as pessoas se sintam bem, tais como o sentimento de justiça, a prática do bem, pertencer a uma família, ter um trabalho que lhe permita ser útil ao contexto social, afinal ninguém quer muletas para se apoiar, a não ser que tenha alguma necessidade que o impede de caminhar com as próprias pernas; as pessoas não querem carregar o mundo e nem que o mundo as carregue, anseiam em dar sua contribuição conforme sua capacidade, afinal ninguém passa pelo mundo em vão, nada é por acaso, tudo tem um propósito, ninguém planta morangos e colhe abacaxi, tudo é fruto do esforço pessoal e da ajuda e cumplicidade dos amigos, ora, todos precisam de amigos, são como cobertores em tempos de inverno, pois nos confortam e amparam nos momentos difíceis.

Para fechar as conversas sobre o cotidiano vamos discutir com base em duas situações presentes em texto e vídeo nas redes sociais, em que o autor faz algumas reflexões importantes para a atualidade, pontuando alguns apegos materialistas – “A realidade de hoje”, disponível nos endereços eletrônicos https://espacocaminhodeascensao.com.br/realidade-de-hoje/ e https://www.youtube.com/watch?v=5sTV8f0QzD4.

O outro é o discurso feito pelo ator o ator Denzel Washington em 9 de maio de 2015 durante a formatura de 247 estudantes da Universidade Dillard, em Nova Orleans, nos Estados Unidos. Vídeo dublado disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vzmLRAUwJ6o e legendado disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MXQLoubNytI.

No texto “A realidade de hoje” o autor procura fazer reflexões sobre coisas supérfluas e materiais que os seres humanos se preocupam em detrimento daquilo que realmente interessa que é boa convivência familiar e com os amigos, a paz de espírito e a comunhão com o Deus, pois o homem não pode apenas passar pelo mundo, deve acreditar e compreender as razões de sua existência, principalmente em relação às virtudes e valores humanos, tanto o é que o autor em algumas passagens ressalta que mesmo diante do avanço da ciência o homem tem problemas no campo social, em especial o da saúde, e também convive com os vizinhos, está perdendo sua humanidade.

Vejam que interessante o que o autor diz “Casas grandes, pequenas famílias. Mais diplomas, menos senso comum. Medicina avançada, saúde precária. Conhece o mundo, desconhece os vizinhos. Alto rendimento, menos paz de Espírito. Muito conhecimento, menos tempo para amar. Tantos amigos virtuais, sem tempo para o amigo real. Muitos humanos, menos humanidade. Relógios caros e sem tempo pra nada! Volte a valorizar o que realmente tem valor. Olhe e veja o que realmente é belo. Tenha tempo de qualidade com Deus, com você mesmo, com sua família e com amigos, pois a vida passa…Ela é apenas um sopro! Pense nisso…” Autor desconhecido

No texto traduzido extraído do endereço eletrônico https://pt.aleteia.org/2015/05/27/denzel-washington-a-uma-turma-de-formandos-coloquem-deus-em-primeiro-lugar/ o ator Denzel Washington dá 3 conselhos durante uma cerimônia de graduação universitária na formatura de 247 estudantes da Universidade Dillard, em Nova Orleans, nos Estados Unidos.

Seu discurso, proferido em 9 de maio de 2015, chamou a atenção pela referência constante a Deus, a quem o artista pediu que os formandos coloquem à frente de tudo, de todos os objetivos.

"Número um: coloquem Deus em primeiro lugar", aconselhou que os jovens
"Coloquem Deus em primeiro lugar em tudo o que vocês fizerem. Tudo o que eu tenho é pela graça de Deus. É um presente", disse Denzel Washington.  

"Eu mantive Deus na minha vida e isto me manteve humilde. Nem sempre fiquei do lado dele, mas Ele sempre ficou do meu lado. Fiquem perto de Deus em tudo o que vocês fizerem. Se vocês pensam em fazer o que vocês acham que eu fiz, então façam o que eu fiz: fiquem perto de Deus".

Denzel Washington ofereceu mais dois conselhos aos novos graduados.

"Número dois: vocês só vivem uma vez; portanto, façam o que os apaixona, aproveitem as oportunidades profissionais, não tenham medo de falhar. Não tenham medo de romper os esquemas, não tenham medo de pensar fora da caixa, (…) de sonhar grande. Mas lembrem-se: os sonhos sem objetivos são apenas sonhos e, no fim das contas, levam à decepção. Tenham sonhos, mas também tenham objetivos, objetivos de vida, (…) objetivos mensais, objetivos diários. Eu tento traçar objetivos para mim todos os dias".

Denzel afirmou que é preciso ter "disciplina e coerência" para alcançar esses objetivos. "Trabalhar dá resultado. Trabalhar duro é o que torna as pessoas bem-sucedidas. Mas lembrem-se de que fazer muito não significa que vocês vão ter muito".

O terceiro conselho foi justamente o de tomar cuidado para não se apegar às coisas materiais.

"Não importa quanto dinheiro vocês vão ter: vocês não vão poder levá-lo consigo (…) Não importa tanto o que vocês têm, mas o que vocês fazem com aquilo que têm".

O ator arrematou: "A coisa mais egoísta que vocês podem fazer neste mundo é ajudar alguém por causa da sensação boa que isso dá a vocês mesmos".

Em outros trechos que podem ser observados no vídeo, cujos endereços para acesso foram citados durante o texto, o ator Denzel Washington, destaca para os jovens que é preciso ter sonhos, eles são necessários para atingir metas, e que preciso ter foco no que se propõe a fazer, pois quem segue vários caminhos, se perde e não sabe aonde quer chegar. É preciso pensar fora da caixa, pensar diferente, pensar fora do sistema, ser criativo, ser um homem além de seu tempo.

Tanto o texto “a realidade de hoje”, quanto o discurso de Denzel Washington faz referência ao que descrevemos no inicio de nossas conversas sobre o cotidiano, as palavras fé, esperança e acreditar que agindo com ética, justiça e solidariedade aos anseios dos outros podemos contribuir para um mundo melhor.

É importante o homem acreditar, ter fé, colocar Deus como impulso de seus projetos e soluções de sua vida cotidiana, pois uma vida sem fé, sem acreditar é uma vida sem sonhos, sem utopia - e porque falei de utopia... pra que ser a utopia?, ela nos mantém caminhando perseguindo nossos objetivos, já a fé e a esperança são combustíveis que alimentam a vontade humana para que projetos sejam realizados, valores cultivados, justiça seja feita e a convivência entre os povos seja efetivamente pacifica.

*João do Nascimento - Bacharel em Direito, com pós-graduação em docência do ensino superior, História da Ciência, História e cultura mineira e historiador; e autor de diversos artigos em diversas especialidades do Direito e Sociologia.


Publicado por: JOÃO DO NASCIMENTO

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