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CONFLITO ENTRE RÚSSIA E UCRÂNIA: QUAIS OS INTERESSES DE CADA UM?

Breve análise sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Muito tem se falado a respeito do conflito envolvendo Rússia e Ucrânia que já se prolonga por meses, porém a cobertura tem sido parcial e muitas vezes com uma qualidade duvidosa, gerando desinformação e omitindo alguns aspectos que são importantes para entender o conflito.

Começando nossa reflexão pela escala global nos deparamos com a nova ordem mundial que se inicia após o fim da guerra fria, onde temos um mundo multipolar na esfera econômica.

A empreitada russa nas últimas décadas é retomar o protagonismo mundial, e para isso tem se concentrado no viés militar e no desafio da ordem mundial estabelecida.

Após o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) o mundo caminha em direção ao polo de poder ocidental (EUA), pois o mundo bipolar termina junto com o seu polo de poder oriental, a URSS. dessa forma a Federação Russa surge em 1991 com diversos problemas herdados agora da extinta URSS como as dívidas, a crise política após a sucessão de Gorbachev, o aumento da corrupção no governo etc. Dessa maneira, a recém independente Federação Russa perde o peso econômico que tinha enquanto era a cabeça da URSS, porém sempre se manteve no centro das discussões de política e segurança internacional por ter um dos maiores arsenais nucleares do planeta e por ter um assento permanente no conselho de segurança das Nações Unidas.

O cerne do conflito atual se dá pela expansão da Organização do Atlântico Norte (OTAN) – Aliança militar criada no período da guerra fria para proteger a Europa do avanço soviético - a áreas que antes faziam parte da área de influência russa. Dessa forma, a OTAN aproxima-se cada vez mais das fronteiras russas, o que pode significar tropas, peças de artilharia, aviões, equipamentos táticos dos EUA nas fronteiras russas.

A Rússia enxerga com maus olhos essa expansão da OTAN até suas fronteiras, visto que pode estar sendo cercada por um potencial inimigo, dessa forma cria estratégias geopolíticas para impedir o avanço da aliança dos países ocidentais.

Agora analisando a questão pela escala continental existem diversos interesses em jogo como a construção do gasoduto Nort Stream 2, a população russa espalhada pelos países do leste europeu, a insurreição popular que derrubou o presidente pró- Rússia Yanukovich e os diversos tratados assinados após a queda da URSS.

A construção do gasoduto Nort Stream 2 é de extrema relevância, visto que  esse gasoduto leva o gás russo diretamente para a Alemanha, sem passar por nenhum intermediário, o que diminui os custos de envio desse gás da Rússia em direção a Alemanha.

A inauguração desse gasoduto, que estava esperando apenas a aprovação dos órgãos regulatórios europeus, seria um duro golpe a economia ucraniana, visto que geraria um prejuízo de aproximadamente 1,8 bilhão de euros (BBC, 2022) à Ucrânia, pois o país deixaria de arrecadar com taxas de trânsito.

Além da Ucrânia os EUA também são críticos a inauguração desse gasoduto, pois segundo a visão estadunidense, com o início das operações desse gasoduto a Europa se tornaria cada vez mais dependente do gás vindo da Rússia, fortalecendo dessa forma o governo Putin.

asodutos nord stream 1 e 2. – Foto: BBC News / Reprodução

Gasodutos nord stream 1 e 2. Foto: BBC News / Reprodução

Outro ponto é a questão das populações de origem russa que vivem nos países do leste europeu. Durante a era soviética, não existiam fronteiras entre as repúblicas, por isso, as populações russas se deslocavam para as diversas repúblicas que faziam parte da URSS. porém, com a dissolução da URSS cria-se um problema enorme no leste europeu, pois, do dia para a noite surgem diversos países com minorias  russas dentro de suas fronteiras.

A proteção da população de origem russa esteve no centro da narrativa na incursão militar russa na Geórgia em 2008 e na anexação da Criméia em 2014. Juntamente com a anexação da Crimeia surge, em 2014, movimentos separatistas pró-Rússia nos territórios ucranianos de Donetsk e Luhansk. O conflito com esses territórios já se arrasta na Ucrânia desde 2014 com o governo ucraniano tentando sufocar os movimentos separatistas enquanto o governo russo apoiava as milícias pró-Rússia com armas e financiamento, o que levou os países a assinatura dos acordos de Minsk 1 e Minsk 2, que ambos os lados acusam o outro de violarem. O início do conflito atual se dá com o reconhecimento da independência desses territórios pelo governo russo no dia 21 de fevereiro de 2022.

Rússia e Ucrânia vem de uma escalada de tensões desde 2014, quando o presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich rejeitou um acordo de associação com a união europeia mantendo o país na esfera de influência russa. Esse episódio levou a grandes protestos, derrubando Yanukovich, que foi obrigado a se exilar na Rússia.

Após a derrubada de Yanukovich, assume a presidência da Ucrânia Petro Poroshenko, sucedido em 2019 por Volodymyr Zelensky, ambos com uma política pró-união europeia, tentado dessa forma afastar a Ucrânia da esfera de influência russa e se aproximar da UE e consequentemente dos EUA.

A escalada de tensões e o atual conflito se deu pela possível entrada da Ucrânia na OTAN que levou a Rússia a uma grande mobilização de tropas na fronteira e a exercícios militares com Belarus na fronteira norte da Ucrânia.

O governo Ucraniano alega que a incursão russa em seu território viola o memorando de Budapeste que previa segurança e estabilidade territorial para a Ucrânia em troca da devolução do arsenal nuclear deixado pela URSS para a Rússia.

Algumas reuniões entre o governo de Moscou e de Kiev tem sido realizadas para tentar um cessar fogo, porém as exigências de Putin são o reconhecimento da anexação da península da Crimeia, a desmilitarização da Ucrânia, uma garantia de que o país nunca seja aceito na OTAN e uma desnazificação de seu governo e o reconhecimento agora das provincias anexadas pelo governo russo.

O ocidente tem auxiliado a Ucrânia com armas, equipamentos e financiamento enquanto a Rússia conta com o apoio de Belarus, da China e do Irã para esse conflito. Algumas reuniões extraordinárias têm sido convocadas no conselho de segurança das Nações Unidas, porém, como a Rússia tem um acento permanente, dificilmente o conselho conseguirá aprovar alguma resolução condenando o as operações militares da Rússia.

Resumindo o que foi dito acima, vemos que o conflito que se inicia no leste europeu é muito mais complexo do que está sendo relatado, trazendo interesses de potencias extra europeias e interesses econômicos e sociais de diversos países, dessa forma, a Ucrânia se torna um campo de batalha no jogo de xadrez das potências em busca de poder econômico, militar e influência.

¹ Para  entender  os  acordos  acesse:  https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/02/saiba-o-que-sao- os-acordos-de-minsk-e-se-eles-podem-solucionar-crise-na-ucrania.shtml

REFERÊNCIAS

BRAUN, Julia. Por que a Ucrânia abriu mão de arsenal nuclear nos anos 1990. BBC News, 28 de fevereiro de 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60532668.  Acesso  em  03  de  março de 2022,

CONHEÇA A UCRÂNIA, UMA PAÍS QUE SOBREVIVE SOB A SOMBRA DA RÚSSIA. BBC News, 25 de fevereiro de 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60525870.  Acesso  em  03  de  março de 2022

RATHBONE, John Paul; SEDDON, Max e OLEARCHYK, Roman. Saiba o que são os acordos de Minsk e se eles podem solucionar crise na Ucrânia. Folha de São Paulo,            16        de        fevereiro         de        2022.            Disponível       em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/02/saiba-o-que-sao-os-acordos-de- minsk-e-se-eles-podem-solucionar-crise-na-ucrania.shtml

O DISCURSO DE PUTIN E O DILEMA DE SEGURANÇA NA BACIA DO DON.  Folha   de        São     Paulo,  23        de        fevereiro         de        2022.    Disponível       em: https://politica.estadao.com.br/blogs/gestao-politica-e-sociedade/o-discurso-de- putin-e-o-dilema-de-seguranca-na-bacia-do-don/. Acesso em 03 de março de 2022.

OTAN, UCRÂNIA E RÚSSIA: ENTENDA O QUE MOTIVOU O CONFLITO NO LESTE EUROPEU. Correio Braziliense, 27 de fevereiro de 2022. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2022/02/4988976-otan-ucrania-e- russia-entenda-o-que-motivou-o-conflito-no-leste-europeu.html; Acesso em 03 de março de 2022.

RIGUE, André. Chanceler alemão suspende certificação de gasoduto após ações da Rússia. BBC    News,  9            de        fevereiro         de        2022.    Disponível       em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/chanceler-alemao-suspende- certificacao-de-gasoduto-apos-acoes-da-russia/. Acesso em 03 de março de 2022.

VESENTINI, JOSÉ WILLIAN. A nova ordem mundial. São Paulo: Ática, 1997


Publicado por: Paulo Mendes Filho

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