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A Fadinha do Skate e a (des)valorização do Esporte no Brasil

Breve resumo sobre a fadinha do Skate e a (des)valorização do esporte no Brasil.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

26/07/2021, Japão, Jogos Olímpicos 2020, Estréia do Skate Street Feminino.
26/07/2021, Japão, Jogos Olímpicos 2020, Estréia do Skate Street Feminino.

Pudemos acompanhar a História sendo feita, Rayssa Leal, também conhecida como a ‘’Fadinha do Skate’’ com seus 13 anos se tornou a medalhista mais jovem da história do Brasil nas Olimpíadas com sua medalha de Prata.
De Imperatriz, um município brasileiro do estado do Maranhão, localizado na região Nordeste do país para o mundo. Além de nos fazer transbordar de alegria e felicidade, a conquista da jovem atleta nos leva à alguns questionamentos acerca de nossa sociedade e como o atleta e esportista estão inseridos nos dias de hoje. Para contextualizar, precisamos voltar alguns anos;

Em 1995, foi criado, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso o ‘’Ministério Extraordinário do Esporte’’ que depois se tornou ‘’Ministério do Esporte e Turismo’’, que logo mais viria finalmente se tornar o ‘’Ministério do Esporte’’ (ME) no governo Lula. A pasta tinha como principal característica a gestão de recursos públicos destinados ao incentivo e à prática esportiva no país. Na época, quase todo o investimento ao esporte vinha de empresas privadas, estas, destinavam quase que exclusivamente seus recurso para o futebol — afinal, sempre fomos conhecidos como o ‘’País do futebol’’, sendo assim o esporte mais popular e, por isso, o mais rentável para investimentos — dito isso, viu-se a necessidade de aumentar a prioridade dos incentivos aos esportes menos populares e lucrativos no Brasil. A criação de uma pasta própria no Poder Executivo foi o meio encontrado para que isto acontecesse.

Em 2005, durante o governo Lula, é criado dentro do ME o programa ‘’Bolsa Atleta’’, que tinha a premissa de patrocinar individualmente atletas e para-atletas de alto rendimento em competições nacionais e internacionais em suas respectivas modalidades. O programa foi um marco para o esporte brasileiro, em quase 10 anos foram repassados quase 1 bilhão de reais para o programa. Grande parte de nossos medalhistas olímpicos eram beneficiários do Bolsa Atleta (inclusive, 80% da delegação 2020 faz parte do programa).

‘‘O programa garante “condições mínimas para que se dediquem, com exclusividade e tranquilidade, ao treinamento e a competições locais, sul-americanas, pan-americanas, mundiais, olímpicas e paralímpicas’’

- Informa a Secretaria Especial do Esporte, do Ministério da Cidadania.

Após a assinatura do termo de adesão, eles são contemplados com 12 parcelas de benefícios, depositados em uma conta específica da Caixa Econômica Federal, com os valores definidos de acordo com as seguintes categorias:

- Atleta de base (R$ 370)
- Estudantil (R$ 370)
- Nacional (R$ 925)
- Internacional (R$ 1.850)
- Olímpico/Paralímpico (R$ 3.100)
- Pódio (R$ 5 mil a R$ 15 mil)

Segundo a pasta, o impacto do Bolsa Atleta foi medido nos Jogos Rio 2016, onde 358 (77%) dos 465 atletas convocados para defender o Brasil eram bolsistas. Das 19 medalhas conquistadas pelos brasileiros — a melhor campanha da história — apenas o ouro do futebol masculino não teve bolsistas, acrescenta o ministério.

Os Jogos Paralímpicos de 2016 contaram com 286 atletas brasileiros, dos quais 257 (90,9%) eram bolsistas. Os resultados foram 72 medalhas em 13 esportes — todas obtidas por beneficiários do programa. Foram 14 medalhas de ouro, 29 de prata e 29 de bronze.

No Parapan, o Brasil chegou ao topo do quadro de medalhas, com 308 pódios. Foram 124 medalhas de ouro, 99 de prata e 85 de bronze. Do total de medalhas, 287 (93,18%) foram conquistadas por atletas contemplados pelo Bolsa Atleta.

Apresentadas as informações, voltemos aos dias atuais. Em 2019 o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro com uma promessa de uma política para reduzir gastos cortando cargos e ministérios, a fim de que os recursos fossem destinados a áreas supostamente mais importantes, o Ministério do Esporte foi extinto e transformado em Secretaria Especial do Esporte, passando a integrar o Ministério da Cidadania. Dos 27 estados brasileiros, cinco extinguiram suas Secretarias do Esporte existentes e cinco mantiveram-se sem uma pasta específica para a área.

Além disso, somando todas as categorias da Bolsa Atleta e também dos Atletas Militares, houve um corte de aproximadamente 95% no dinheiro investido para o esporte. O resultado é a menor quantidade de recursos federais para o esporte desde 2005. Como se não bastasse, os valores para os beneficiários são os mesmos desde 2005 quando o programa foi lançado, não houve reajuste de valores. Os menores benefícios, de 370 reais mensais nas categorias “estudantil” e “base”, foram os mais afetados pelos cortes.

As consequências destes cortes e reestruturação do ministério foram nocivas para os atletas. Enquanto em 2018, último ano do Esporte como ministério próprio, as despesas previstas com a pasta, em termos gerais, eram de pouco mais de 1,3 bilhão de reais, a verba prevista pelo Ministério da Cidadania para o esporte em 2020 foi de menos de 686 milhões, segundo dados do Portal da Transparência.

Quando em 2016 o Brasil sediou as olimpíadas, muitos profissionais do esporte consideravam que aquele evento seria um marco que definiria o futuro para os esportistas de nosso país. Porém, assim que o evento acabou, acabaram também os investimentos.

‘’O fim do ministério é só a cereja do bolo nisso tudo que começou depois das Olimpíadas. Quando a gente viu o tanto de investimento nas Olimpíadas, achou que fosse mudar esse panorama do esporte no Brasil, mas a primeira coisa que fizeram foi tentar tirar educação física das escolas, que é a base do desenvolvimento esportivo do país”
Alexandre Rivetti, ex-atleta e técnico de vôlei

(Alexandre se refere à reforma do ensino médio, proposta pelo governo de Michel Temer ainda em 2017 e que, gerando polêmica entre professores e estudantes, propunha a não obrigatoriedade da educação física nas escolas)

Com base nas informações apresentadas, vemos uma notável desvalorização do atleta brasileiro e o sucateamento das pastas responsáveis para investir no futuro dos nossos jovens. O esporte é muito mais do que um meio profissional, o esporte é social, o esporte transforma e salva vidas. Há uma base educativa e transformadora na formação do indivíduo, ensinando-o a ter disciplina, respeito às regras sociais, solidariedade, empatia, força e muitos outros adjetivos.

Quantos jovens já foram salvos do crime ao serem apresentados ao esporte através de projetos sociais? E, quantos jovens já se perderam no crime por não terem tido a oportunidade de serem resgatados pelo esporte? Nos falta investimento na infra-estrutura de base. Há a necessidade de se investir mais no futuro do atleta, de serem criadas novas ONGS e projetos sociais, construir e reconstruir quadras e pistas esportivas não só para os atletas mas para a criança e o jovem de maneira geral. É necessário também que o ensino do esporte na escola seja reestruturado para que possa colocar em prática toda a capacidade deste meio que transforma vidas.

É dever do governo fomentar práticas esportivas como direito básico do cidadão, assim, democratizando a prática do esporte, investindo em vidas, ressaltando a importância da atividade afim de diminuir a incidência à criminalidade e ampliando os direitos e a proteção social dos indivíduos desde a infância. É preciso primeiro regar a semente para depois colher os frutos. A mudança vêm da base.

Nossos atletas olímpicos nos mostram como é possível fazer muito tendo pouco ou nada de incentivo governamental, agora imaginemos o quão longe poderíamos ir em competições com o devido apoio. Quantas milhões de Rayssas estão espalhadas pelo Brasil apenas esperando uma oportunidade para mudar de vez suas vidas? o país que gerou estes atletas não pode e não merece estas nas mãos de Jair Bolsonaro.

A história retomará o seu caminho.

(Não tenho acompanhado as competições mas me enche de felicidade ver as medalhas históricas que o Brasil está conseguindo nessa edição das Olimpíadas. Em meio ao sucateamento do Esporte e de uma Pandemia ver medalhas improváveis surgindo é uma forma de resistência.)

Referências

https://comunicacaoeesporte.com/2020/02/07/apos-um-ano-sem-ministerio-esporte-enfrenta-isolamento-no-governo-bolsonaro/

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2020/02/governo-bolsonaro-corta-94-do-investimento-em-atletas-militares.shtml

http://jornalismojunior.com.br/fim-do-ministerio-do-esporte-o-brasil-valoriza-seus-atletas/

https://www.senadorhumberto.com.br/o-bolsa-atleta-criado-por-lula-foi-um-marco-na-historia-dos-esportes-brasil-afirma-humberto/

https://agenciabrasil.ebc.com.br/esportes/noticia/2021-06/agencia-brasil-explica-o-que-e-o-bolsa-atleta#:~:text=Com%20o%20objetivo%20de%20garantir,do%20mundo%3A%20o%20Bolsa%20Atleta.

https://agenciabrasil.ebc.com.br/esportes/noticia/2021-07/bolsa-atleta-contempla-80-da-delegacao-brasileira-em-toquio

https://www.torcedores.com/noticias/2016/02/opiniao-o-esporte-no-brasil-precisa-ser-valorizado

https://www.projetoredacao.com.br/temas-de-redacao/esporte-no-brasil-ferramenta-de-inclusao-social-ou-meritocracia-excludente/

https://www.uol.com.br/esporte/colunas/olhar-olimpico/2021/03/03/governo-festeja-cortes-no-esporte-e-mente-sobre-aumentar-apoio-a-atletas.htm

https://olharolimpico.blogosfera.uol.com.br/2019/09/26/proposta-de-orcamento-para-2020-corta-49-do-investimento-no-esporte/


Publicado por: Vitor Amoroso

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