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A exclusão digital e seus impactos frente ao avanço da implementação da IA no mercado de trabalho

Breve discussão acerca da exclusão digital e seus impactos frente ao avanço da implementação da IA no mercado de trabalho.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Não é novidade que as novas tecnologias de inteligência artificial (IA) estão impactando cada vez mais o funcionamento da sociedade, principalmente depois da pandemia da COVID-19, que, talvez, em um futuro próximo, seja considerada como marco – ou algo próximo disso –, da migração para o mundo digital. Tal reflexão se torna possível, pois em algum momento daquele período turbulento, todos adaptaram-se às atividades remotas, assim como aos desafios que a impossibilidade da presencialidade desencadeou.

Apesar da extensa discussão acerca da substituição de diversas funções tradicionais e administrativas pela inteligência artificial, deixa-se de observar que o Brasil vive um verdadeiro abismo digital e educacional. Quais as oportunidades estão sendo criadas para quem não possui nem o acesso básico às competências digitais? Quais brasileiros, de fato, possuem acesso à equipamentos eletrônicos ou recebem a educação necessária (mínima) para poder utilizá-los?

A disparidade digital engloba a discrepância no acesso e na utilização das tecnologias da informação e comunicação entre diferentes grupos socais. Isso não apenas abrange o acesso físico a dispositivos com conexão com a internet, mas também a competência – no sentido das skills necessárias para tal –, e o saber exigido para empregar essas tecnologias de maneira eficaz. A ausência de competências básicas oriundas da deficiência do ensino no Brasil, muito antes de se falar em digitalização, é um dos principais atrasos de parte da população em frente à modernização do mercado de trabalho.

De acordo com estudo publicado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC), a pesquisa de tecnologias de informação e comunicação (TIC) Domicílios em 2022, constatou que 14,3 milhões de domicílios não possuem computador e Internet no Brasil. Os dados também mostram, que aproximadamente 27 milhões de brasileiros com 10 anos ou mais, nunca usaram Internet.

Os maiores motivos para esse nunca acesso da rede foi a falta de habilidade com o computador (69% dos entrevistados), assim como a falta de interesse (de 63% dos questionados). Já no ano de 2023, o TIC Domicílios revelou que ainda 29,4 milhões de pessoas não são usuárias de Internet.

Essa realidade alarmante deve ser enfrentada urgentemente, vez que a desigualdade social e de oportunidades, indubitavelmente será transferida para o novo mercado de trabalho digital – e tudo que com ele aparecer. Ao tratar dos novos modelos de trabalho e da adaptação dos trabalhadores à nova realidade, ignora-se que essa é só a ponta do iceberg. Enquanto já se encontram relatos de pessoas executando atividades com óculos de realidade virtual, laborando de forma diária com o meio digital, outros ainda sequer receberam as tecnologias básicas para tanto, menos ainda orientação para utilizá-las.

Conforme a referida pesquisa do TIC Domicílios de 2023,  milhões de brasileiros vivem em situação de exclusão digital, posto que por vezes, sequer possuem acesso à dispositivos como computadores e internet. Isso sem falar que, não raras vezes, a própria infraestrutura das residências dificulta o ingresso no mercado de trabalho digital. De que forma se espera que as pessoas passem a manusear ferramentas de IA para alcançar o (novo) trabalho? Ou melhor, existe(rão) novos modelos? Eles serão estanques?

É notável que a discussão que versa sobre a substituição de mão-de-obra humana pelas façanhas da inteligência artificial deve dar um passo para trás e se preocupar, inicialmente, em garantir maior acesso à tecnologia e informação, para que não se consagre um novo meio de exclusão social. 

Referências

CGI.br. (2021). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios, 2022.

CGI.br. (2021). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios, 2022.

CGI.br. (2023). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios, 2023.

HELDER, Darlan. Metrô, academia e shopping: vídeos de pessoas usando o Apple Vision Pro fora de casa viralizam nas redes sociais. G1, 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2024/02/05/metro-academia-e-shopping-videos-de-pessoas-usando-o-apple-vision-pro-fora-de-casa-viralizam-nas-redes-sociais.ghtml.

CGI.br. (2023). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios, 2023.


Publicado por

Andressa Munaro Alves[1]

Natália Gomes de Oliveira[2]

[1] Doutoranda e Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professora de Direito do Trabalho e Previdenciário da Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS / UOL). Especialista em Direito do Trabalho e Previdenciário pela Escola Superior Verbo Jurídico Educacional. Professora no Programa de Graduação em Direito nas Faculdades Integradas São Judas Tadeu. Advogada. andressa.castroalvesadv@gmail.com.

[2] Graduanda e Mestranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).


Publicado por: ANDRESSA MUNARO ALVES

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.