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A criatividade como estratégia competitiva nas organizações

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Em um mundo em constante mudança como o de hoje, no qual a capacidade organizacional de competir depende cada vez mais de vários aspectos intangíveis – como a inovação e o conhecimento – a criatividade surge como um elemento de importância capital para a competitividade das regiões e das empresas. Face à impossibilidade de competir em preços com algumas das economias emergentes, as estratégias regionais deram origem a um caudal de políticas de reforço das atividades baseadas no conhecimento e na I&D ([1]).

Por seu lado, a criatividade é uma ferramenta que ativa o processo inovador por meio da geração e desenvolvimento de ideias no mundo empresarial. Da mesma forma, a criatividade é uma capacidade inerente às pessoas, que pode ser desenvolvida coletivamente e sua utilização constitui uma oportunidade para melhorar a competitividade das empresas. No entanto, nem sempre as equipes de trabalho das organizações, nem as respectivas estruturas, utilizam modelos de trabalho que fomentem o desenvolvimento da criatividade.

Conceito de Criatividade

De maneira instintiva, o termo criatividade sempre foi associado à atividade artística, mas graças a exemplos empresariais – como a Apple e o Google – a inovação ganhou espaço nos setores tecnológicos. Neste sentido, algumas pessoas vêm afirmando que a criatividade e a inovação são dois conceitos muito unidos. Explicado de forma simples, a capacidade criativa foi definida por PONTI ([2]) como a habilidade para gerar ideias, alternativas e soluções a um determinado problema de forma fácil.

Considerando a definição acima e relacionando-a com o conceito de inovação, pode-se dizer que a criatividade representa o processo de criação de ideias. De certo modo, é a inspiração que nos permite criar novas soluções. A inovação é a capacidade de converter estas ideias em algo aplicável, dando-lhes sentido e valor dentro de um determinado contexto.  

Deste modo, pode chegar a ocorrer o que a Universidade do Algarve (Portugal) designou como o “Paradoxo da Criatividade”; ou seja, uma pessoa muito criativa – com uma grande capacidade de gerar ideias – pode também ser pouco inovadora, ao ser incapaz de selecionar as melhores ideias para as aplicar eficazmente. Para ultrapassar esta dificuldade e para desenvolver o potencial criativo inato a todas as pessoas, é possível recorrer a técnicas que podem ser de grande valor no âmbito empresarial.

O Processo Criativo

A criação de ideias – e sua respectiva utilização sob a forma de inovação – segue um processo cuja análise e aplicação permite solucionar problemas e formular estratégias de mudanças, as quais permitam a adaptação a uma nova situação. Sendo assim, o processo criativo poderá ser divido nas seguintes fases:

Fase I: Identificação e Definição do Problema

A presença de um problema que implique mudanças é o principal detonante de um processo criativo e, para que a decisão adotada seja acertada, é fundamental que o processo parta de uma boa análise e da correta compreensão do problema que se pretende solucionar. De acordo com esta ideia, o primeiro a fazer é obter uma fotografia, o mais fiel possível, da realidade a enfrentar. Trata-se, portanto, de utilizar a informação existente em forma de dados estatísticos, opiniões, necessidades, expectativas, objetivos, etc. Para o efeito, pode-se recorrer a técnicas como os DAFO, o método Delphi, a análise morfológica e outras. Deve-se ter em conta que esta fase é fundamental para o processo, uma vez que uma avaliação incorreta da realidade pode originar estratégias que dificilmente ajudariam a superar a situação ou problema existente.

Fase II: Geração e Seleção de Ideias

Esta etapa constitui o núcleo criativo do processo, uma vez que é neste momento que são produzidas as ideias que servirão de base para a criação de propostas que ofereçam uma solução ao problema ou à situação em questão. O desenvolvimento de ideias, por sua vez, consta de duas subfases. A primeira consiste em gerar ideais de forma “selvagem”, sem restrições e onde tudo é válido. Quantas mais ideias forem apresentadas, mais vasta será a possibilidade de escolha. Além disso, qualquer ideia, por mais que pareça absurda, pode dar origem a outra ideia que seja útil. Esta fase é conhecida como pensamento divergente.

A segunda subfase – designada pensamento convergente – tentaria colocar ordem em todas as ideias geradas. Para o efeito, é necessário estabelecer e definir os critérios para a seleção de ideias e criar grupos de trabalho para a discussão das mesmas. O objetivo destes grupos, para além da avaliação das propostas existentes, é dar um valor acrescentado ao processo criativo por meio do agrupamento de ideias e da definição pormenorizada de soluções mais definitivas.

Fase III: Consenso e Implementação da Ideia Desenvolvida

O final do processo criativo inclui a aceitação de uma das soluções debatidas e desenvolvidas nos grupos de trabalho a partir de alguma das ideias propostas ou de um conjunto de várias ideias. Uma vez encontrado o consenso acerca da solução definitiva, o início das ações necessárias para a sua implementação (estabelecimento de metas, pessoas responsáveis, orçamento, etc.) permitirá que as ideias surgidas no processo criativo se convertam num projeto concreto, ou seja, numa inovação. É também de assinalar que a inovação obtida neste processo será objeto de uma contínua revisão, uma vez que a criatividade, embora se manifeste através do processo acima descrito, é mais do que uma mera forma de proceder, tratando-se sobretudo de um hábito e de uma atitude.

A Atitude Criativa

A criatividade, tal como foi definida acima, procura alternativas a uma situação existente ou a formulação de soluções que deem resposta a problemas que possam surgir. A predisposição para encontrar soluções e para a mudança (entendendo-a como positiva) implica também a existência de uma atitude criativa. A criatividade está relacionada com a utilização de mecanismos e métodos que não respondem a esquemas e lógicas tradicionais. A cada vez mais complexa situação do meio e dos problemas a que nos enfrentamos exige novas ideias e, sobretudo, novos enfoques. Uma mente criativa é aquela que procura métodos diferentes e que é capaz de reinterpretar a realidade segundo novos parâmetros lógicos. Tudo com a finalidade de encontrar novas formas de interpretar a realidade e de dar respostas criativas e eficazes aos problemas que possam surgir.

Da Tecnologia à Criatividade: Um Novo Modelo de Competitividade

As mudanças pelas quais passa a nossa sociedade são cada vez mais profundas, afetando em grande medida a forma como entendemos o meio onde vivemos (trabalho, telefone, internet, transportes, etc.). Estas mudanças não são importantes apenas pela intensidade que têm, como também porque se estão a produzir a uma grande velocidade, o que requer mais flexibilidade e capacidade de adaptação por parte das regiões, das pessoas e das organizações.

Para assimilar este novo paradigma – ou modelo económico e social em constante evolução – é necessário que as nossas sociedades se preparem e tenham capacidade para se adaptarem às mudanças ou, melhor ainda, para serem protagonistas das mudanças. Há relativamente poucas décadas, a capacidade tecnológica era o elemento diferenciador das sociedades mais avançadas. No entanto, com o passar do tempo, a tecnologia começa a mostrar-se insuficiente para assegurar a competitividade num contexto tão complexo como o atual, apesar de continuar a ser uma necessidade sine qua non.

Para superar esta situação, uma das estratégias mais utilizadas consiste na aplicação intensiva do conhecimento para a implementação de processos inovadores. Considera-se que o conhecimento é um elemento-chave neste tipo de processos porque, em grande medida, é o responsável de que alguns bens e serviços, embora utilizem a mesma base tecnológica que outros, tenham mais valor acrescentado e, por outras palavras, sejam mais competitivos no mercado. Neste sentido, as políticas regionais e de empresa têm-se dirigido ao desenvolvimento de capital humano com uma elevada qualificação, capaz de colocar o seu conhecimento científico e tecnológico ao serviço da inovação.

Mas, uma vez mais, esta receita ficou caduca. Atualmente, não basta a existência de capacidade tecnológica e de capital humano altamente qualificado. O crescente fluxo de informação e de pessoas facilitou o acesso à economia do conhecimento, equilibrando as capacidades de uma grande parte das nossas sociedades. Neste novo contexto, surge um novo fator de competitividade, também ligado à inovação e ao conhecimento, mas que se ergue como um elemento diferenciador das economias mais avançadas: a criatividade. Nesta perspectiva, são três os elementos que determinam a capacidade de competir:

  • O nível de desenvolvimento tecnológico,

  • A capacidade de gerar conhecimento,

  • A Criatividade.

Os três elementos interagem entre si de tal forma que não se estabelecem inter-relações unívocas ou de sentido único, uma vez que cada elemento alimenta continuamente os restantes, estabelecendo relações sinérgicas dentro de uma dinâmica de interação contínua. Para que este modelo funcione adequadamente, é necessário um capital humano que o alimente, ou seja, é necessário que existam pessoas que possuam os perfis requeridos em cada um dos três âmbitos indicados:

  • Capital Social: com capacidade para utilizar a tecnologia existente.

  • Capital Intelectual: que se encarrega de criar novo conhecimento, básico e aplicado.

  • Capital Criativo: com habilidades para gerar novas ideias criativas.

A presença de capital humano com elevada qualificação e capacidade criativa nas economias mais desenvolvidas e a correlação entre a sua existência e os processos de inovação são um tema profundamente analisado nos últimos tempos. Mais recentemente, Richard Florida ([3]) foi um dos autores que mais contribuiu para este debate e, no seu livro, ele atribui à denominada Classe Criativa um papel decisivo no crescimento económico e na capacidade de competir das cidades. Indica como as pessoas mais criativas tendem a estar em lugares que se caracterizam por elevados graus de tolerância, onde abundam as infraestruturas tecnológicas e onde se concentram vários talentos com capacidade e formação técnica.

Os trabalhadores que fariam parte desta Classe Criativa seriam os pertencentes a setores considerados tradicionalmente criativos, como a arte, o design e os meios de comunicação. Além disso, este conceito incluiria trabalhadores com profissões como engenheiro, investigador, informático, etc. A teoria de Florida sublinha a necessidade de dar um passo em frente, aproveitando o potencial criativo de cada trabalhador e não só dos que estão considerados dentro desta Classe Criativa. O crescimento económico é impulsionado pela criatividade e, por esse motivo, se pretendemos aumentá-lo é fundamental aproveitar a criatividade de segmentos mais amplos de mão-de-obra em sectores como os serviços e a indústria.

Referências bibliográficas

([1])  A expressão Investigação e Desenvolvimento (I&D) designa um conjunto de atividades (ou trabalhos criativos) executadas de forma sistemática e com vista ao aumento dos conhecimentos humanos, bem como à utilização desses mesmos conhecimentos em novas aplicações

([2])  PONTI, F.: “La empresa Creativa”. Ediciones Granica. Barcelona, 2011

([3])  FLORIDA, R.: “The Rise of the Creative Class: And How It’s Transforming Work, Leisure, Community and Everyday Life”. Basic Books, 2002


Publicado por: JULIO CESAR DE SOUZA SANTOS

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