O espectro de Marx
O capitalismo nos ensinou, da maneira mais bem elaborada, que o desenvolvimento dá-se através da concorrência, da disputa acirrada, da luta para ser melhor.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
O capitalismo nos ensinou, da maneira mais bem elaborada, que o desenvolvimento dá-se através da concorrência, da disputa acirrada, da luta para ser melhor. Em contrapartida, há uma corrente, com tendências socialistas, que prevê o desenvolvimento através da cooperação, do trabalho em equipe, da junção de ideias; lastimável é o fato desta última ser carente em credibilidade, pois até mesmo entre os mais jovens (que porventura desconhecem o modo de produção burguês) é revelada uma preferência ao avanço pelo choque, do que pela fusão.
De repente tal situação é fundamentada pela ação de neurônios-espelho, uma vez que estes levam o indivíduo a reproduzir as diretrizes do meio. Karl Marx, em seus dignos estudos, sustenta a teoria de que o capitalismo cavaria a própria cova e, que ao proletário caberia a tarefa de encher o buraco com terra. Estudiosos afirmaram e afirmam que a teoria exposta é tão surreal quanto o pote de ouro dum arco-íris.
Mesmo após séculos de aparente estabilidade, o capitalismo (que é senão um garoto flácido que mostra versatilidade frente a adversários) tem certas dificuldades para moldar-se aos anseios do mercado. Realidade essa ilustrada pela Bolsa de Nova York em 1929, pela Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) em 1973, pelo mercado imobiliário norte-americano em 2008 e até mesmo pela Grécia, em pleno 2011. É interessante notar que não só o capital (ou a falta dele), mas também o Estado têm grande participação nas datas citadas.
Eis aí outra relação com os estudos de Marx e uma com os de Adam Smith também, entretanto, essas serão discutidas mais adiante. Discutamos primeiro o porquê das datas. A crise de 1929 decorreu do descompasso entre produção e consumo, pois, o mercado norte-americano agia como se ainda estivesse produzindo para economias em guerra.
O crack da Bolsa de Nova York veio de súbito e abalou todos os países capitalistas relacionados com os EUA. Desemprego em massa e miséria foram algumas das consequências da crise que se alastrava. Foi preciso a intervenção do Estado para dar início ao processo de estabilização, ou seja, as medidas do New Deal implantadas por Franklin Roosevelt: investir massivamente em desenvolvimento e trabalho. Em 1973, a Opep diminuiu a produção e elevou os preços do petróleo no intento de pressionar os países ocidentais a reduzir seu apoio a Israel, que havia ganhado a Guerra do Yom Kippur. Uma espécie de boicote que atingiu em cheio os países importadores.
Com o auxílio de seus Estados, os países dependentes da Opep começaram a investir em pesquisas; alguns se tornaram produtores enquanto outros optaram por novas fontes de energia. Exemplo é o Proálcool (Programa Nacional do Álcool) no Brasil, cujo objetivo era aumentar a produção de álcool e adicioná-lo à gasolina para economizar petróleo. A crise imobiliária norte-americana, que abalou o mundo em 2008 (e continua abalando), atingiu bancos, indústrias e bolsas de valores ao redor do globo.
A amplitude deve-se às atuais relações de interdependência. A alta liquidez do mercado mundial fez com que houvesse aumento na concessão de crédito. Tal expansão alcançou empresas de hipoteca nos EUA, que já estavam com dificuldades. Para reverter o processo (recessão econômica e altos índices de desemprego), inúmeros Estados intervieram ou com fortes subsídios financeiros ou com isenções fiscais. Mesmo com as medidas para conter a crise de 2008, economias frágeis travam ainda hoje uma luta que parece infindável.
É numa situação parecida que se encontra a Grécia, o déficit fiscal do PIB do país é um dos mais elevados, fator que coloca em cheque a confiança no Euro e preocupa o mercado com um possível calote na dívida (o que seria um verdadeiro presente de grego).
Para que a Grécia receba ajuda da União Europeia, terá de realizar um rígido ajuste orçamentário. Tal medida não agrada nem um pouco a população - as ruas de Atenas que o digam - e igual reação agrava a turbulência. Em suma, vive-se uma conjuntura de tensão econômica, que pode ser amenizada com a ajuda dos Estados europeus, mesmo à revelia da população.
Observando rapidamente as datas, conclui-se da mesma maneira que o capitalismo passa por crises cada vez mais frequentes, e de certa forma, intensas. Marx dizia que em determinada ditadura, o proletariado assumiria os encargos do Estado confiscando os bens daquele país e tornando-os públicos, tornando os cidadãos iguais. Essa seria a solução para os conflitos e desigualdades advindos da disputa histórica entre classes.
Apesar da tão bem elaborada doutrina de Adam Smith, o capitalismo, após passar por diversos abalos, comprova que sem a mão amiga do Estado seria estritamente difícil evoluir, moldar-se, reinventar-se. Seria estritamente difícil manter a lei da oferta caso ninguém saísse à procura.
O antigo proletário de Marx está longe de assumir o Estado, ou não. Países como a Grécia são barris de pólvora, pois ameaçam a estabilidade econômica do mercado global; além disso, a população se vê ainda mais indignada (como se a recessão e o desemprego já não fossem suficientes) frente aos chamados cortes de gastos, reformas tributárias, reformas na previdência que são senão revoltantes.
Estaria Marx correto em sua convicção de que o proletário organizar-se-ia, e daria o golpe? Estaria Marx correto em sua convicção de que o capitalismo armaria as bases da própria destruição? Resta-nos apenas deixar o tempo passar e a história contar-se para sabermos o quão versátil o garoto flácido manter-se-á; o quão melhor o acúmulo será frente à distribuição. O resto são meras especulações sobre um futuro incerto.
Publicado por: Nilo Cásar Basílio
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