Ideologia e Comportamento Social
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RESUMO
O presente trabalho trata da temática sobre a Ideologia e a relação com o comportamento social. Partindo da conceituação, estabelecendo suas características, como funciona e objetivos. Observando diferentes posicionamentos dos autores que abordam o tema, como: Karl Marx, Gramsci, Marilena Chauí e Paulo Freire. Quando percebemos como a ideologia interage e interfere no comportamento social podemos então avaliar o quanto é necessário manter a reflexão sobre posturas consideradas normais e naturalizadas dentro da sociedade que vivemos.
Palavras Chave: Ideologia; Comportamento Social; Poder.
ABSTRACT
The present work deals with the theme of Ideology and its relationship with social behavior. Starting from the conceptualization, establishing its characteristics, how it works and objectives. Observing different positions of the authors who approach the theme, such as: Karl Marx, Gramsci, Marilena Chauí and Paulo Freire. When we realize how ideology interacts and interferes with social behavior, we can then assess how much it is necessary to keep reflecting on postures considered normal and naturalized within the society we live in.
Keywords: Ideology; Social Behavior; Power.
INTRODUÇÃO
O tema do artigo é o entendimento do termo ideologia e como ele interfere nas posturas e comportamentos sociais. Que por vezes estabelecem como normais relações desiguais e injustas.
Existe a necessidade de estabelecer elevado grau de criticidade com relação a comportamentos considerados normais, e que muitas vezes mascaram preconceitos, discriminação e até violência contra os que são considerados inferiores, pobres ou excluídos do mercado de trabalho.
O problema da pesquisa é estabelecer a relação entre a ideologia e os comportamentos sociais.
Dos métodos escolhidos, em relação à abordagem foi o dedutivo que partiu do conceito de Ideologia, para analisar perspectivas de autores diferentes que trazem compreensões sobre o termo e como atuam em nosso cotidiano.
Com relação ao procedimento foi adotado o método monográfico que parte de generalizações para o estudo de um caso em específico, para perceber seu grau de atuação a nível geral no caso da Ideologia.
O objetivo geral é entender o conceito de Ideologia, para então analisar dentro de diferentes perspectivas dos autores pesquisados, como se processa a relação entre ideologia e o comportamento social.
DESENVOLVIMENTO
O termo ideologia é polissêmico, ou seja, possui vários sentidos. Essa multiplicidade de sentidos torna difícil e precisa identificação e conceituação da palavra. Teoricamente, a ideologia em si é quase tão antiga quanto a filosofia, tendo seus primórdios remetidos à Antiguidade Clássica, no pensamento de Aristóteles. Porém, o termo somente foi criado na Modernidade com o filósofo francês Destutt de Tracy, ganhando escopo de uma ciência que abordaria a formação e a construção das ideias.
Ideologia segundo o Dicionário Houaiss (2001, p.1565)
“Ideologia é um sistema de ideias (crenças, tradições, princípios, mitos) interdependentes, sustentadas por um grupo social de qualquer natureza ou dimensão, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes morais, religiosos, políticos ou econômicos.”
No Dicionário de Filosofia de Abbagnano (2007, p.531) Ideologia recebe a seguinte designação:
“Pode-se denominar ideologia toda a crença usada para controle dos comportamentos coletivos, entendendo-se o termo crença, em significado mais amplo, como noção de compromisso da conduta, que pode ter ou não validade objetiva. Entendido nesse sentido, o conceito de ideologia é puramente formal, uma vez que pode ser vista como Ideologia tanto uma crença fundada em elementos objetivos quanto uma crença totalmente infundada, tanto crença realizável, quanto irrealizável. O que transforma uma crença em ideologia não é sua validade, mas a capacidade de controlar os comportamentos em determinadas situações.”
Sendo assim é importante salientar que todos os indivíduos e grupos sociais possuem interesses relacionados às ideias e valores que orientam o comportamento e as decisões dos indivíduos e grupos que compõem a ideologia.
Nossas ações e percepções do mundo são baseadas em ideologia. A ideologia, assim como a cultura, é um elemento essencial para a compreensão das relações sociais.
A sociedade é formada por uma série de princípios e ideias que orientam nosso comportamento no dia-a-dia, sem que nem sempre nos demos conta disso. É esse conjunto de ideias que orienta o pensamento dos indivíduos de uma sociedade chamada ideologia. Consciente ou inconsciente, todas as pessoas seguem uma determinada ideologia, pois procura um ideal para a vida.
Presente nas relações com nossa família, com a escola e a religião, nos permitindo entrar em contato com as primeiras ideias e valores que formam a sociedade, nos preparando para o convívio social. A religião estrutura-se sobre uma série de ideias e crenças constituindo sua própria ideologia.
A filósofa brasileira Marilena Chauí em sua obra “O que é ideologia?” afirma que a origem da ideologia está entre os gregos, que separaram em sua vida intelectual dois tipos de atividades, a técnica e a prática. A prática seria poiésis, e a atividade do livre pensamento filosófico intelectual sobre a ética e a política, chamada práxis.
A poiésis era a atividade, dos comerciantes, artistas, artesãos, soldados e escravos, ou seja, era o trabalho e a produção técnica, que não demandava esforço intelectual. A práxis era a filosofia e o cuidado intelectual com a política e com a ética, demandando do esforço intelectual. Essa é superior e lidava com a ação respaldada por ideias.
Os gregos clássicos valorizam, portanto, as ideias, e cada postulado filosófico deles era proposto como sendo uma realidade única e universal. Assim sendo, eles não conseguiam enxergar que havia um contexto histórico e uma visão pessoal de mundo que os faziam pensar daquela maneira. Os filósofos clássicos, como Platão e Aristóteles, já possuíam ideologias e não sabiam.
A ideologia representa o modo como cada grupo ou classe social atribui sentido a suas experiências no mundo. Duas consequências importantes derivam dessa visão. A primeira é a valorização da cultura na análise das relações sociais. A segunda é o papel que as classes dominadas podem ter no processo de transformação da sociedade.
Na visão clássica, o termo tem o significado de uma espécie de ciência capaz de organizar metodicamente e estudar rigorosamente o conjunto de ideias que formam a intelectualidade humana. Na visão crítica, a ideologia é uma ilusão criada por uma classe para manter a aparente legitimidade de um sistema de dominação.
No século XIX, o pensador Karl Marx questionou o significado de ideologia propondo sua reinterpretação. Para Marx, a ideologia- essas ideias que nos orientam a viver em sociedade- impedem que possamos enxergar a realidade ao nos proporcionar uma visão única que não deve ser questionada.
Um exemplo disso, são as ideias como: “O trabalho dignifica o homem” ou “quem espera sempre alcança”, que procuram estabelecer valores positivos associados ao trabalho e à disciplina, fortalecendo a ideia de que o esforço pessoal traz recompensas econômicas e sociais.
O conceito de ideologia como falsa consciência faz parte da proposta de Karl Marx, com base em um debate travado com outros pensadores sobre o desenvolvimento da consciência, Marx em parceria com Engels, desenvolveu o conceito de ideologia como ilusão ou falsa consciência, em uma série de manuscritos de 1846, que se tornaram conhecidos na obra “Ideologia alemã”.
Na visão de Karl Marx, a infraestrutura e a superestrutura são duas esferas da sociedade que estão relacionadas e se complementam. Nessa definição, Marx procura se contrapor à visão dominante em seu tempo, de que o desenvolvimento da razão humana por si só modificaria o mundo, ou seja, as ideias seriam o fundamento da realidade.
Marx contra argumenta explicando que a sociedade é compreendida em duas esferas. A infraestrutura que compreende a produção material, que produz os bens que satisfazem as necessidades materiais. A superestrutura representa o conjunto das ideias, das leis, das religiões, da moral e das organizações políticas existentes em uma sociedade. Essas duas esferas se relacionam mutuamente, que são percebidas como um todo estruturado.
As ideias que pertencem à superestrutura, são autônomas e consistem em uma representação falsa das relações sociais, desenvolvida pelas classes dominantes com objetivo de manter as classes trabalhadoras sob seu controle. Significa desconsiderar que as relações materiais de produção construídas fundamentam o modo como cada um explica e interpreta o mundo. Por isso, nesse sentido, a ideologia é vista por Marx como uma falsa consciência da realidade.
Na concepção defendida por Marx, as mudanças na base material (formas de organização de produção) e a postura do Estado (superestrutura) explicam as dificuldades dos trabalhadores de encontrar emprego.
Contudo, ao mesmo tempo, para evitar que se perceba a causa real do aumento do desemprego, as classes dominantes desenvolvem uma explicação dessas mudanças segundo a qual as dificuldades para conseguir emprego são atribuídas à falta de qualificação profissional ou de dedicação por parte dos trabalhadores. Essa forma de explicar o desemprego faz com que muitos trabalhadores considerem que estão desempregados por sua própria culpa.
Temos, nessa situação, um caso de ideologia como falsa consciência. Cabendo ressaltar que a percepção da ideologia como falsa consciência não ocorre por uma relação mecânica, em que a base material determina a superestrutura, mas em razão da utilização de ideias como forma de impedir os trabalhadores de compreenderem as causas materiais que formam sua realidade.
Em qualquer tempo histórico, a classe que controla o sistema econômico procura desenvolver um conjunto de ideias que legitime seu controle. Produz assim, representações da realidade que atendem a seus interesses e lhe permitem continuar a exercer seu domínio sobre as demais classes sociais.
Dessa forma, as ideologias da classe dominante tendem a se tornar a representação da realidade de todas as classes. Em geral o objetivo é fazer os trabalhadores acreditarem em uma explicação que favorece a manutenção das estratégias das classes dominantes, contribuindo para a consolidação da forma de organização da economia que foi elaborada pelos detentores dos meios de produção.
De acordo com Marx, as ideologias surgem por meio das relações sociais, econômicas e políticas, em contextos de ideias conflitantes, de contradições e contrastes sociais manifestos em desigualdade de recursos, de direitos, de acesso a bens e serviços.
Portanto, as ideologias podem ter por finalidade neutralizar conflitos para que eles sejam considerados aceitáveis, na tentativa de normalizar, justificar, amenizar e mesmo ocultar tensões sociais.
Outra abordagem sobre a ideologia é a do filósofo e político italiano Antônio Gramsci. Seus estudos procuram valorizar o papel da cultura no desenvolvimento da luta de classes.
Para Gramsci, a ideologia pode ser compreendida como visão de mundo, um conjunto de perspectivas produzidas pelas diferentes classes sociais, que se materializam nas práticas sociais ao mesmo tempo que são influenciadas por elas, formando um sistema de valores culturais.
Na visão de Gramsci, as ideologias são expressões das experiências sociais de grupos ou classes sociais e estão profundamente vinculadas às práticas culturais de sujeitos coletivos. Sendo assim, as classes dominantes procuram difundir sua forma de explicar o mundo, de modo que possam inspirar o comportamento cultural das classes dominadas e influenciá-lo. Quando isso ocorre, estamos diante de uma situação denominada por ele de hegemonia.
Em qualquer sociedade, o exercício do poder pressupõe uma alternância entre a coerção e o consenso. O exercício da hegemonia de uma classe sobre as demais prevê o domínio baseado no consenso e não na força. Isso pode ocorrer pela difusão da ideologia da classe dirigente para todas as esferas da vida, de maneira que se torne concepção de mundo de todas as classes.
Significa que a classe dominante, ao difundir ideias sobre por exemplo, o papel dos trabalhadores na questão do desemprego, não tem como objetivo produzir uma falsa consciência da realidade, mas influenciar o modo como esses trabalhadores vão se comportar em seu cotidiano, cobrando mais de si mesmo do que de seus empregadores ou do Estado.
Portanto, a dominação ocorre também no âmbito das relações culturais. No entanto, para Gramsci as classes dominadas não precisam ser elementos passivos nesse processo. Elas podem construir sua própria visão de mundo e se contrapor à visão dominante. Esse processo se chama contra hegemonia. Para isso, é necessária a existência de intelectuais vinculados às classes dominadas, que possam ajudar a produzir outros olhares sobre o mesmo fenômeno. Um exemplo seriam as organizações de trabalhadores, sindicatos de trabalhadores que podem exercer tal papel.
O educador e filósofo brasileiro Paulo Freire (1921-1997), elaborou uma reflexão sobre o papel da ideologia que se vale de dois aspectos: para ele a ideologia dominante é incutida na mente e na prática dos indivíduos por meio do processo educacional. A pedagogia tradicional associa-se ao modo de ver e agir das classes dominantes e encobre a realidade, apresentando o olhar dominante como o único possível.
O pensador discute como a escola reproduz e ensina aos estudantes a ideologia dominante, principalmente quando adota o modelo que ele domina a educação bancária.
Paulo Freire em 1974, na obra Pedagogia do Oprimido, conceitua educação bancária como imposição do conhecimento realizada pelo professor sobre o aluno na medida em que o professor já os havia adquirido e dispõem destes sendo assim possível sua ação de depósito destes conhecimentos nos alunos.
Freire afirma que o modelo de educação adotado em nossa sociedade produz exclusão, desigualdade e miséria, além de manter a submissão das classes populares às elites dominantes.
Mas a educação pode cumprir outro propósito social, de caráter emancipatório. Assim como Gramsci, Freire considera que ela também pode ser utilizada como ação contra hegemônica.
Por meio do desenvolvimento de uma ação pedagógica que rejeite os valores pelos quais a ideologia dominante reproduz injustiças sob o discurso do mérito individual, Freire acredita que as classes populares podem produzir um discurso alternativo sobre o mundo, permitindo aos dominados se libertarem o controle ideológico e se tornarem sujeitos ativos na transformação da sociedade.
METODOLOGIA
A pesquisa, que consiste em uma revisão bibliográfica, com texto dissertativo expositivo, utilizou o método de abordagem foi o dedutivo que partiu do conceito de Ideologia para estabelecer então conexões com a realidade.
Com relação ao procedimento foi adotado o método monográfico consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações. A investigação deve examinar o tema escolhido, no caso a ideologia, observando todos os fatores que o influenciaram e analisando-o em todos os seus aspectos.
A pesquisa quanto a sua natureza é básica pois parte de uma revisão bibliográfica sem aplicação prática prevista, sendo somente para ampliar conhecimentos.
Quanto aos objetivos, a pesquisa é descritiva pois descreve o conceito de ideologia, significados, funções e como se apresenta, estabelecendo relações com o comportamento social.
Os principais referenciais teóricos foram: Karl Marx e Friedrich Engels na obra “Ideologia Alemã”; Paulo Freire com a obra “Pedagogia do Oprimido” e Marilena Chauí com a obra “O que é Ideologia?”. Também os sites: Mundo Educação e Portal Comporte-se de Psicologia e análise comportamental.
As palavras chave são: Ideologia; Comportamento Social; Poder.
Quanto aos resultados, a pesquisa é de cunho qualitativa pois é uma abordagem que estuda aspectos subjetivos do fenômeno social e do comportamento humano, levando em consideração as constatações sobre a influência das ideologias nos comportamentos sociais.
CONCLUSÃO
Entendemos a ideologia como um sistema de ideias (princípios, mitos, crenças, tradições) que representam interesses relacionados às ideias e valores que orientam o comportamento e as decisões dos indivíduos e grupos, sob orientação de um grupo social com mais poder. Onde existe uma relação de poder, temos elementos ideológicos que podem atuar de forma coercitiva, primando sempre para o consenso para evitar choques.
Todos os indivíduos e grupos sociais possuem interesses relacionados às ideias e valores que orientam o comportamento e as decisões dos indivíduos e grupos que compõem a ideologia. Ou seja, ninguém é isento de processos ideológicos. O que cabe é buscar a reflexão, perguntando-se sempre: “Quem ganha com essa situação?” Rompendo com ideologias hegemônicas que pretendem impedir o posicionamento crítico, reivindicações e busca de direitos pelos cidadãos.
As ideologias podem ter por finalidade neutralizar conflitos, para que eles sejam considerados aceitáveis, na tentativa de normalizar, justificar, amenizar ou mesmo ocultar tensões sociais.
Concluímos que nossas ações e percepções do mundo são baseadas em ideologias. Juntamente com a cultura a ideologia interfere no comportamento social. Sendo assim, os princípios e ideias que orientam o comportamento social são ideológicos e que muitas vezes nem são percebidos, por vezes tidos como naturais. O que merece cuidado e atenção quando envolvem elementos que cultivam o ódio, o preconceito, a discriminação e a violência.
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia? São Paulo: Ed. Brasiliense, 1980. (Coleção Primeiros Passos)
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
MARX, Karl. Ideologia Alemã. São Paulo: Civilização Brasileira, 2007.
MONTINHO, Wilson Teixeira. Ideologia. Cola da web. Disponível em:<https://coladaweb.com/sociologia/ideologia> Acesso em: 05/02/23
O que é ideologia:significado, conceito, definições; Significados. Disponível em:< https://www.significados.com.br > Acesso em:06/02/23
PAIXÃO, Denilson. Ideologia e Análise de Comportamento. (25/12/2015). Comporte-se Psicologia e AC. Disponível em: <https://comportese.com/2015/12/25/ideologia-e-ac/ > Acesso em 07/02/23.
PORFÍRIO, Francisco. Ideologia. Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol/sociologia/ideologia > Acesso em: 05/02/23.
REZENDE, Milka de Oliveira. Ideologia. Mundo Educação. Disponível em:<https://mundoeducacao.uol/sociologia/ideologia > Acesso em 07/02/23
SOCIOLOGIA EM MOVIMENTO. Vários Autores. São Paulo: Moderna, 2016.
Publicado por: BENEDITO MACHADO FILHO
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