Georg Simmel: As grandes cidades e a vida do espírito
Influência da grande cidade moderna na personalidade e na vida mental dos seus habitantes.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Com base no texto de Georg simmel "As grandes cidades e a vida do espírito"tentarei aqui apresentar alguns dos diversos argumentos sobre as relações sociais nas cidades apresentados por este mesmo autor. Entre esses argumentos, o autor destacou as relações de antagonismo na cidade, a vida nervosa e a economia monetária.
Simmel trata neste texto, ao menos em minha compreensão, da relação entre o indivíduo e a metrópole, da influência da grande cidade moderna na personalidade e na vida mental dos seus habitantes. Também da questão que a economia do dinheiro provoca uma personalidade urbana caracterizada pela reserva, desconfiança, apatia e ausência de solidariedade. Para ele no campo há uma vida psíquica diferente da cidade, no campo predominam os costumes, o ritmo lento, a emotividade e o sentimento. Nas cidades há uma mutação constante, um devir permanente e um ritmo febril, não que transformações não aconteçam no meio rural, mas seriam mais lentas, graduais, enquanto nos centros urbanos seriam rápidas e efêmeras .
A cidade exalta a liberdade do indivíduo face aos grupos de pertença, liberdade sem amarras.Para Simmel a sociedade parte da interação entre os indivíduos e comporta uma distinção entre forma e conteúdo. Nesta concepção, os indivíduos tendo diversas motivações (paixões, desejos, angustias etc) conteúdos da vida social, interagem a partir delas e se transformam em “uma unidade”, a vida em Simmel aparece como a fonte de energia que alimenta as relações recíprocas dos elementos.
A categoria sociedade para este autor deve ser compreendida como a interação psíquica entre os indivíduos; a definição “social” não abrange apenas as interações duradouras já estabelecidas. Deste modo, a sociedade significa que os indivíduos estão constantemente ligados uns aos outros, influenciando e sendo influenciados, e também algo funcional que os indivíduos fazem e sofrem simultaneamente: A sociação; mesmo que os indivíduos não interajam diretamente. Neste sentido a sociedade forma não uma substancia, algo concreto em si mesmo, mas um acontecer, talvez possamos entender ai a sociedade como um constante “devir”; e este “devir” só ocorre nas cidades para este autor.
Para Simmel, os elementos negativos e duais, antagônicos, díspares, conduzem à um papel inteiramente positivo na configuração social, muito embora possam causar estragos em relações particulares; por isso mesmo, para ele, o conflito é também uma forma de sociação, e é destinado a resolver dualismos divergentes, é uma forma de conseguir alguma unidade, ainda que por meio da destruição de uma das partes conflitantes, o conflito surge em função de elementos dissociativos da sociedade, como ódio, inveja, interesses, necessidades etc. Sendo assim o conflito não é patológico e tão pouco é negação da sociedade, mas sim condição de sua estruturação.
O conflito se estabelece por meio da inerência da sociedade no individuo da personalidade urbana que para ele é provocada pela economia do dinheiro, e se mantém pela capacidade que o ser humano tem de se dividir em partes colocando-se em uma relação conflituosa entre as partes do seu “eu” que se sentem como ser social, e oimpulsos não absorvidos por este caráter: “o conflito entre a sociedade e o individuo prossegue no próprio individuo como a luta entre as partes de sua essência”.
Simmel Concedeu ao conflito uma autêntica função social, para ele, a sociedade tem, efetivamente tanta necessidade de sociação como de competição, o conflito vem a ser uma fonte de regulação que perpassa e estrutura grande número de campos e de formas sociais (famílias, partidos, indústrias, igrejas etc). Para ele a vida social é um movimento pelo qual não cessam de se remodelar as relações entre os indivíduos, estas relações são, a imagem da ponte que liga e da porta que separa, um feixe de tendências contraditórias à coesão e à dispersão.
Simmel propõe o conceito de ação recíproca, entendo-a como a influência que cada individuo exerce sobre o outro; esta ação é guiada por um conjunto de motivações diversas (amor, impulsos eróticos, interesses, práticas, fé religiosa, imperativos de sobrevivência ou de agressão, trabalho etc), e é a totalidade, sempre inconstante e conflituosa destas ações que contribuem para unificar o conjunto dos indivíduos em uma sociedade global.
Simmel deu o nome de “formas sociais” ao produto das ações recíprocas. As formas sociais são para ele, elementos necessários à vida cotidiana, somente elas oferecem um quadro aos vínculos sociais, este paradoxo, que se nutre de uma constante tendência a coisificação das relações humanas, está no núcleo do que Simmel denominou de “a tragédia cultural da modernidade”, é o que se dá com o dinheiro, um instrumento de troca, meio de avaliação dos objetos e dos seres humanos, o dinheiro facilita o desenvolvimento econômico das sociedades modernas.
Infelizmente, averiguou Simmel, o dinheiro aprisiona ao mesmo tempo os indivíduos em relações sociais empobrecidas por estarem cada vez mais submetidas ao cálculo e a estratégia, induzindo a desconfiança, ao egoísmo e algumas vezes a intolerância e é claro a supressão das subjetividades.
O dinheiro é apenas um sinônimo da necessidade urgente de encontrar-se um denominador comum em meio a uma rede de meios que se torna cada vez mais complexa. Com o aparecimento das economias monetárias, os objetos perdem, pouco a pouco, o seu significado subjetivo, pessoal, individual. Essa experiência societária mostra que toda uma estrutura de meios converte-se não apenas num passo intermediário entre o desejo e sua satisfação, mas no cerne da vida social.
Na passagem do sentimento íntimo individual à interação social está em jogo também uma mudança de tonalidade, de cor, de nuanças. A relação dos homens converteu-se em relação dos objetos. Neste sentido, a troca é a conversão em objeto da capacidade de reciprocidade dos homens.
A gratidão inverte o sentido desse movimento, voltando-o para o interior dos homens, como "resíduo subjetivo" do ato de receber e dar. Simmel a vê como uma "memória moral da humanidade”, uma ponte que a alma sempre encontra para aproximar-se do outro ao mais leve estímulo, insuficiente talvez para gerar por si uma nova ponte. Ao fazê-lo, a gratidão proporciona aquilo que importa na constituição e permanência da vida social: a persistência de relações para além do momento da sua criação. Fosse ela abolida como resíduo subjetivo e memória moral, a sociedade como a conhecemos deixaria de existir.
Para Simmel a empresa capitalista e a economia monetária fracionam as atividades produtivas e variadas etapas e ocupações, retomando em um outro plano a problemática da alienação; a possibilidade de reconhecer-se e identificar-se como um produto, como na tradição artesanal torna-se inviável no mundo da sociedade urbana industrial nada é simples, forma-se uma rede complexa e fragmentada de relações dependentes e interdependentes.
Publicado por: Bianca Wild
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.