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Eu ainda desejo ver: Aborto e adoção na visão infantil

Por que abortar se a criança pode ser entregue a adoção?

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Matar não é tão grave como impedir que alguém nasça, tirar a sua única oportunidade de ser. O aborto é o mais horrendo e abjeto dos crimes. Nada mais terrível do que não ter nascido! (Fernando Sabino)

Eu dormia tranquilamente até que entrou algo amargo em meus “lábios”, não sabia bem o que era e por isso tive medo. Medo de perder aquele lugar tão gostoso, aconchegante e que deveria ser protetor.

Na minha pequenez eu sentia que algo não estava certo, eu ouvia muitas palavras estranhas que não pareciam de carinho. E eu sentia falta de uma mão para me apalpar. Havia dias em que aquele lugar parecia gelo, não havia amor, não havia palavras doces que me fizessem sonhar. Apenas duras palavras de ódio, raiva e acusações. SÓ QUE O LUGAR ERA ACONCHEGANTE.

Mesmo assim eu sonhava em ver seus olhos, quem sabe quando me visse olhasse dentro dos meus olhos e logo se apaixonasse. Esse era meu sonho. Ver logo aquela que seria minha mãe. E uma noite fria eu senti algo ainda mais estranho me tocar. Como uma luz forte veio até mim e alguém me tirou dali com uma correria grande.

Havia muita gente naquela sala, e eu não vi os olhos de quem eu tanto queria, mas como que em um instante de silêncio alguém toca em mim novamente. Era um toque diferente daquele que eu estava acostumado a sentir. As mãos eram quentes, os olhos pareciam cheios de água. Ouvi então uma doce e suave voz dizendo: bem vindo a minha vida meu filho.

Eu não conhecia aquela voz, não me era familiar. Mesmo sendo estranha eu gostei dela, eu apenas conseguia discerni carinho. Um carinho até então estranho e tão desejado por mim. Ela me pegou em seus braços quentes, fofinhos e alisava meu cabelo e dizia a um outro alguém ao lado: como é lindo, como é perfeito, não era tudo que esperávamos? A outra voz respondia também com uma delicadeza tremenda, simmm. Era uma voz forte, essa eu não sabia quem era. Ainda não ouvira uma voz forte, decidida. Essa voz então disse: Vamos com o nosso garoto. Está frio e ele precisa ser cuidado. E os cuidados começaram.

Nós sempre achamos aquela sala de parto muito fria, até aquele momento em que estávamos esperando um paciente e ele não pode descer. Então recebemos a notícia que um parto de urgência seria feito que o bebe que iria nascer a mãe não o queria, se queríamos o bebe deveríamos entrar logo em contato com os órgãos responsáveis e saber como deveríamos proceder. Assim foi feito. Como onde moramos não há filas de espera, fomos autorizados a acompanhar o parto e pleitear a guarda a partir dali.

Quando entramos na sala o rostinho surgiu, aquela sala que achávamos tão fria inundou de amor e felicidade. Era tudo que esperávamos acontecer conosco, apaixonarmos por nosso filho adotivo ao primeiro olhar. Não queríamos adotar alguém para aliviar os postos de crianças sem pais. Queríamos um filho, o nosso filho. Aquele que ao olharmos saberíamos que este era o nosso. Assim foi. Nos apaixonamos loucamente. Ele parecia conosco (coisa de mãe de primeira viagem).

Depois de tanta burocracia pudemos levar nosso garoto para casa, falar disso hoje parece que foi ontem, mas vinte e cinco anos se passaram. Hoje homem, preparando-se para ser pai. Ele está ali pelo vidro esperando seu filho nascer. Chora, sorri e conta a história inicial. Claro que do ponto de vista dele. Mas nunca deixamos de acreditar e de ouvir com atenção. Sempre que nos olhamos temos o hábito de fitarmos nos olhos. É o seu maior prazer.

Eu nunca quis saber quem são meus pais biológicos. Afinal neles eu não encontrei o que eu mais precisava – calor de família. Aqui tive tudo isso. Aprontei na adolescência e nunca me disseram: - quem será que você puxou, deve ser aquela família!

Que nada minha mãe sempre me trouxe perto de si como filho amado, me lembro de cada desejo maluco e ela sem pestanejar estava na aventura comigo. Coisa de mãe. E o meu pai. Há sempre forte, decidido, me levou para o hospital várias vezes com ele, me levavam para jogar bola e sempre que dirigia a mim para apresentar aos amigos dizia: este é o melhor sentimento que já tive. Minha maior conquista. Meus sonhos em forma de filho. Eu me sentia o máximo. Assim como me sinto agora vendo o meu filho vir ao mundo.

Somos uma família completa hoje. Com nossas dificuldades, alegrias, porém nunca deixamos que nada nos atrapalhe. Somos felizes assim. Somos uma família de verdade. Amo meus pais, amo minha nova família que se forma. Uma mensagem que posso deixar é: nunca adote uma criança por ela estar sofrendo, mas adote para ser seu filho amado. Não pense no amanhã. Apenas construa aos poucos este amanhã.

Obrigado pai, mãe. Vocês me fizeram o homem mais feliz, amado e satisfeito com tudo que a vida me proporcionou.

Até a próxima...

leticiacarrijo@oi.com.br
http://www.artigonal.com/find-articles.php?q=silvia+leticia


Publicado por: silvia leticia carrijo de azevedo sá

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.