DESAFIOS E SOLUÇÕES NA IMPLEMENTAÇÃO DE CENTROS DE APOIO A MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA.
Breve estudo acerca dos desafios e soluções no processo de implementação de centros de apoio às mulheres vítimas de violência.
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
RESUMO
A desigualdade de gênero sempre esteve presente em toda a sociedade, sendo um fenômeno histórico e profundamente enraizado. Como resultado, a violência de gênero também se fez presente. É crucial entender os contextos históricos, sociais e econômicos para entender as relações de gênero. No Brasil, esse enfrentamento já evoluiu, porém, ainda é algo bastante presente. A supremacia masculina patriarcal se desenvolve ao longo do tempo, enquanto a subjugação feminina complica diversas condições básicas e de direito, como a autonomia econômica, falta de oportunidade no mercado de trabalho, direito na criação dos filhos. Como resultado, o aumento de inúmeras violências praticadas contra as mulheres cresce conjuntamente. Apesar de o país ter avançado na criação de políticas públicas, legislações e redes de apoio, é evidente a insuficiência dessas ações, maiores movimentações precisam ser feitas. Dessa forma, entendendo o quão prejudicial essa discrepância entre gêneros é para a sociedade, foram reunidos dados e informações a partir de uma pesquisa conduzida pelo Instituto Datasenado, a qual revelou que foram entrevistadas mais de 34 mil mulheres ao longo dos 10 anos até 2023. O objetivo desse artigo é avaliar as necessidades e embasá-las para a construção de centros de apoio para mulheres que sofreram qualquer forma de violência, fomentando um espaço seguro, justo e equitativo. Portanto, analisar a relevância desses centros de referência para elas e para a sociedade, chega-se à conclusão de que a contribuição de uma arquitetura humana direcionada ao desenvolvimento psicológico e físico para a reinserção social é crucial neste cenário. Isso não só proporciona uma inserção pessoal ao usuário, mas também social, a redução da desigualdade de gênero e da violência, além de contribuir para uma evolução social que será apreciada pelas gerações vindouras. Palavras-chave: Violência. Mulher. Centro de apoio
Introdução
Por toda a história da humanidade, a desigualdade de gênero está profundamente enraizada na sociedade e a mulher sempre esteve em desvantagem, tanto em âmbitos sociais, econômicos e políticos. E com o aumento da globalização e o desenvolvimento da sociedade, esse complexo se intensificou.
Historicamente, identifica-se uma maior apropriação pelos homens do poder político, do poder de escolha e de decisão sobre sua vida afetivo-sexual e da visibilidade social no exercício das atividades profissionais. Este é um processo que resulta em diferentes formas opressivas, submetendo as mulheres a relações de dominação, violência e violação dos seus direitos (SANTOS e OLIVEIRA, 2010, p.12).
Essa foi a realidade por muito tempo, mas apenas no século XIX começaram os movimentos feministas no mundo. Uma das primeiras mulheres a documentar esse processo de busca aos direitos foi a inglesa Mary Wollstonecraft que publicou o livro “Reinvindicação dos direitos das mulheres” em 1792, onde ela critica a educação dada às mulheres naquele tempo, que era exclusivamente para melhorar as habilidades domésticas e satisfazer os homens, tornando-as emocionais e intelectualmente vulneráveis. Segundo ela, as mulheres deveriam receber uma educação robusta para que pudessem participar da sociedade como indivíduos racionais, independentes e competentes. Apenas no século seguinte, especificamente na Inglaterra, através do movimento sufragista, que reivindicava o direito ao sufrágio feminino (direito de voto), que as mulheres alcançavam maior destaque. Desde então, o movimento feminista passou por várias fases e só em 1932 por meio do Decreto 21.076, foi instituído no Código Eleitoral o direito a voto para as mulheres brasileiras. Outra conquista feminista brasileira foi que na Constituição de 1988 incluíram a igualdade de direitos entre homens e mulheres como um princípio fundamental. Ainda que essas conquistas venham sendo realizadas e direitos ocorram continuamente, pesquisas têm apontado a violência contra a mulher como um fenômeno que atinge diversas sociedades, podendo variar nas formas em que é praticada (Saffioti; Almeida, 1995). Apesar de significativa, essas vitórias não simbolizam o fim da batalha feminista, o movimento segue crescendo e se ajustando às novas situações sociais.
Problemática
Apesar de um meio social mais evoluído, percebesse que o problema da desvalorização da mulher e sua participação na sociedade quase nula é algo bastante enraizado. A intervenção encaminhou a diversos desafios que mulheres enfrentavam, como a participação nula na política, falta de acesso ao mercado de trabalho e, de modo substancial, a questão da violência, ganhando mais espaço e reconhecimento tanto global como nacional, entrando para o campo da saúde coletiva. A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a violência contra a mulher como um problema a violação dos direitos humanos e uma questão de 5 saúde pública. Contudo, a violência contra a mulher se externa em diferentes espaços ligada à desigualdade de gênero. Onde a diferença entre o homem e a mulher é algo explícito, naturalmente se colocando como provedor e consequentemente se vê como superior à mulher.
Ao iniciar uma reflexão sobre gênero o primeiro desafio que se apresenta é o de reconhecer que ser homem ou ser mulher não é simplesmente um feito natural, biológico. Isso porque há vários fatores de ordem econômica, social, política, étnica e cultural que contribuem de forma diversa para a maneira como pensamos, nos comportamos e atuamos enquanto homens ou mulheres. Nem sempre, porém, levamos em consideração esses fatores quando procuramos compreender as diferenças entre homens e mulheres (MACEDO e SARDENBERG, 2011, p.1).
Objetivos
Objetivo Geral
Viabilizar de implantação de centros de acolhimento para as mulheres em situação de violência e analisar as principais causas de violência contra as mulheres para uma funcionalidade mais eficaz.
Objetivos Específicos
Entender de onde vem todo o problema da violência contra a mulher e as consequências que ela acarreta. -Analisar fatores que influenciam a implementação e operação dos centros de apoio para mulheres em situações de violência -Assimilar como a arquitetura pode impactar positivamente no bem-estar dessas mulheres, afetando suas vidas futuras.
Metodologia
A metodologia empregada consiste em uma abordagem exploratória qualitativa, baseada na avaliação de artigos científicos, livros e dissertações sobre os obstáculos e soluções na criação de centros de suporte para mulheres que sofreram violência. Sendo assim, foi analisado algumas pesquisas sobre a violência de gênero no Brasil, os dados foram coletados por meio de uma pesquisa feita pelo instituto Datasenado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV). Esta metodologia foi selecionada para possibilitar uma avaliação minuciosa dos elementos que impactam a implementação e o funcionamento dos centros de suporte, além das estratégias empregadas ou propostas para superar os desafios identificados.
Fundamentação Teórica
Violência contra as mulheres no Brasil
Ao longo das décadas, a teoria do feminismo buscou visibilidade para as questões de gênero e a proteção dos direitos das mulheres, entendesse que a violência contra mulheres sempre foi algo muito presente. A partir disso, meios foram buscados para melhorar essa questão. Desde a elaboração da Lei Maria da Penha, a busca por alternativas de melhoria destas mulheres se tornou frequente, com isso os centros de apoio se multiplicaram no Brasil para atender à demanda por serviços especializados. Essas condições foram criadas com o objetivo de funcionar como uma rede de proteção, oferecendo um ambiente de apoio e serviços adversos para a recuperação das vítimas. Pesquisa realizada por Almeida (2020) mostra que, apesar dos avanços na implantação desses centros, muitos ainda enfrentam desafios significativos, como a falta de recursos, a necessidade de capacitação adequada dos profissionais que atuam nesses espaços e a resistência cultural que permeia a sociedade em relação à violência contra a mulher.
A partir disso, foi analisada a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher (DataSenado 2023). Segundo a pesquisa, três em cada dez mulheres brasileiras já sofreram violência doméstica provocada por homens. De acordo com o estudo, a probabilidade de uma mulher sofrer violência doméstica aumenta com a diminuição da renda. Desse total, 22% disseram que pelo menos um episódio de violência ocorreu nos últimos 12 meses. Estudo descobriu que a violência psicológica é responsável por 89% de todas as formas de violência, seguida pela violência física (76%), violência sexual (25%), violência patrimonial (34%) e violência moral (77%). No estudo, mulheres com rendas mais baixas são mais propensas a sofrer violência física. Metade das partes lesionadas (52%) sofreu violência cometida por seu parceiro ou parceira, e 15% ex-cônjuge ou excompanheiro. Ao entender e analisar esses dados, tem-se que a falta de recursos, a capacitação e formação de profissionais, o estigma e o preconceito são fatores agravantes.
Centros de apoio
Depois de compreender e analisar a violência contra as mulheres no Brasil e no Ceará, estão sendo constantemente formuladas medidas por entidades governamentais. Dentre as medidas está o estabelecimento e implementação de centros de suporte para essas mulheres em todo o país. Esses centros oferecem uma variedade de serviços e recursos, facilitando os desafios enfrentados pelas mulheres. Eles contam com aconselhamento psicológico, assistência jurídica, abrigo temporário, encaminhamento para serviços sociais e grupos de apoio. Assim, ao analisar essa carência em todo o país também com atenção na região nordeste, especialmente no Ceará, evidencia-se que, apesar de ser bem desenvolvida, ainda tem insuficiências e muitas cidades sofrem com falta de insumos e iniciativas. Em Juazeiro do Norte, o Governo do Estado do Ceará (GCE) inaugurou a primeira Casa da Mulher Cearense, onde recebe 29 municípios em atendimento 24 horas e conta com área administrativa, Delegacia da Polícia Civil, Tribunal de Justiça, atendimento psicossocial, Ministério Público, Defensoria Pública, apoio, auditório, pátio interno, brinquedoteca, refeitório, vestiários, depósito, estacionamentos e áreas de jardins e passeios.
Influência da Arquitetura nos Centros de Apoio
A arquitetura tem um impacto considerável na qualidade de vida das mulheres em centros de apoio, moldando a experiência de formas fundamentais. Ambientes projetados com foco na segurança e no conforto proporcionam um sentimento de acolhimento, enquanto a privacidade e o conforto são essenciais para que se sintam confortáveis. Espaços inclusivos e acessíveis asseguram que todas as mulheres possam circular livremente pelo espaço, fomentando a igualdade. A existência de espaços coletivos promove a interação e a formação de redes de suporte, fundamentais para a recuperação emocional. Dessa forma, a arquitetura não atende apenas às necessidades físicas, mas também apoia a recuperação emocional e social das mulheres.
Resultados Esperados
A partir do que foi exposto, conseguimos entender as propostas de projeto e as necessidades relacionadas ao cuidado de mulheres vítimas de violência, bem como a forma como as políticas públicas tentam suprir essas demandas. Também se investigou a ocorrência de mulheres vítimas de violência doméstica e a relevância de preservar o anonimato, sempre que possível. Além disso, foram comprovadas formas de aprimorar o atendimento em centros e abrigos, considerando uma visão mais ampla e estratégica para oferecer suporte mais eficiente e abrangente.
Considerações Finais
Nesse sentido, todas essas problemáticas e soluções expostas foram de suma relevância para que, em um futuro próximo às mulheres tenham a liberdade, autonomia e direito de viverem uma sociedade equitativa, onde seus direitos, deveres e gostos são levados em consideração. E que, além de tudo, as mulheres tenham seus corpos e mentes preservados, que essa desvantagem de gênero não ocasione tragédias. As mulheres precisam ter o respeito mínimo para que isso reflita em toda a sociedade.
Recomendações
Com base no exposto neste estudo, algumas sugestões são fundamentais para futuras pesquisas e para a promoção da equidade entre mulheres e homens. Inicialmente, é essencial ponderar sobre os métodos mais eficientes para a implementação de centros e abrigos: como satisfazer todas as necessidades sugeridas? E quais são os métodos mais eficazes para garantir um serviço de alta qualidade? Além disso, é fundamental manter a mulher como o foco central de qualquer análise, garantindo que todos os serviços e políticas sejam planejados para maximizar o seu aproveitamento. Ao priorizar as necessidades das mulheres, podemos garantir que as soluções sejam mais eficazes e acessíveis.
Referências Bibliográficas
BRASIL. DATASENADO. Aponta que 3 a cada 10 brasileiras já sofreram violência doméstica. Senado Federal. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/11/21/datasenado-aponta-que-3-a-cada-10-brasileiras-jasofreram-violenciadomestica#:~:text=Desde%20ent%C3%A3o%2C%20foram%20entrevistadas%20mais,no%20Brasil%2C%20apenas%20c om%20mulheres. Acesso em: 21 nov. 2023.
BRASIL. DATASENADO. Pesquisa nacional de violência contra mulher. Senado Federal. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/datasenado/publicacaodatasenado?id=pesquisa-nacional-de-violenciacontra-a-mulher-datasenado-2023 Acesso em: 21 nov. 2023. BRASIL. Lei n°11.340, de 7 de agosto de 2006: Maria da Penha. Diario oficial da República Federativa do Brasil, Brasília DF.
BRASIL. Secretaria Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres; Secretaria de Políticas para as Mulheres – Presidência da República. Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação de Risco e Violência. Brasília, 2011. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/copy_of_acervo/outrasreferencias/copy2_of_entenda-a-violencia/pdfs/diretrizes-nacionais-para-o-abrigamento-de-mulheres-em-situacaode-risco-e-de-violencia. Acesso em: 2011
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO CEARÁ. Nudem atende na Casa da Mulher Cearense, em Juazeiro do Norte. Defensoria Ceará, Juazeiro do Norte, 2024. Disponível em: https://www.defensoria.ce.def.br/noticia/nudem-atendena-casa-da-mulher-cearense-em-juazeiro-do-norte/. Acesso em: 31 mai. 2022.
DINIZ, N. M. F. et al. Mulher, saúde e violência: o espaço público e o privado. O Mundo da Saúde, São Paulo, v. 23, n.2, p. 106-112, 1999.
FORTALEZA. Decreto nº 13.101, de 05 de abril de 2013. Cria a Casa Abrigo de Fortaleza para mulheres em situação de risco iminente de morte em razão da violência doméstica e familiar Margarida Alves. Fortaleza, 2013. Disponível em: https ://leismunicipais .com .br /a /ce /f /fortaleza /decreto /2013 /1311 /13101 /decreto -n -13101 -2013 -cria -a -casa -abrigo -de -fortaleza -para -mulheres -em -situacao -de -iminente -risco -de -morte -em -razao -da -violencia -domestica -e -familiar -margarida -alves . Acesso em: 18 abr. 2013.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Disponível em: https://publicacoes.forumseguranca.org.br/items/f62c4196-561d-452d-a2a8-9d33d1163af0 Acesso em: 2024
GALVÃO, Elaine Ferreira; ANDRADE, Selma Maffei de. Violência contra a mulher: análise de casos atendidos em serviço de atenção à mulher em município do Sul do Brasil. Saúde e Sociedade, v. 13, n. 2, p. 89-99, maio-ago. 2004.
GROSSI, K. Violência contra a mulher: implicações para os profissionais de saúde. In: LOPES, M. J. M.; MEYER, D. E.; WALDOW, V. R. (Orgs.) Gênero e Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p.133-149.
MACEDO, Márcia; SARDENBERG, Cecília. Relações de gênero: uma breve introdução ao tema. 2011. Disponível em: Acesso em: 29 abr. 2017. OMS. Prevenção da violência sexual e da violência pelo parceiro íntimo contra a mulher São Paulo: Opas, 2010.
SAFFIOTI, H.; ALMEIDA, S. de S. Violência de gênero: poder e impotência. Rio de Janeiro: Revinter, 1995
SANTOS, Silvana Mara De Morais Dos; OLIVEIRA, Leidiane. Igualdade nas relações de gênero na sociedade do capital: limites, contradições e avanços. Katálysis. Florianópolis, v. 13, n. 1. ISSN 1982-0259. Disponível em: Acesso em: 20 mar. 2018. 15
SPM. Secretaria de Política pra Mulheres da Presidência da República. Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação de Risco e de Violência. Brasília, 2011.
PAULA, Mayara Almeida de. Análise interseccional da vida urbana: reflexões acerca da condição das mulheres negras na cidade de Maceió - AL. Trabalho Final de Graduação (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal de Alagoas, Maceió, AL, 2019.
Publicado por
CUSTÓDIO, Bárbara. Graduanda no Centro Universitário Paraíso no Curso de Arquitetura e Urbanismo do UniFAP.
Publicado por: Bárbara Custódio

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.