Culto Consumista: A Cultura de Consumo no Culto aos Orixás
Confira um reflexão acerca das oferendas realizadas pelo Candomblé!O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
As tradições africanas que são reproduzidas nos cultos afro-brasileiros dos Candomblés preservam muitos ritos milenares, como por exemplo, o sacrifício e as oferendas. Tais práticas sempre foram comuns em muitas e diferentes religiões. A oferta espiritual de alimentos para energias não materializadas representa uma canalização de energia. Os alimentos são carregados de energia vital. E oferecer essas energias à entidades espirituais é fortalecer, “alimentar” a harmonia entre o indivíduo ou grupo que cultua com a própria entidade.
O vinho e o pão da liturgia cristã têm o mesmo significado. O sacrifício a que Jesus se submeteu é representado pelo sangue e o corpo à qual alimentam a alma dos fiéis. É, simbolicamente, um tipo de sacrifício que se ritualiza nas missas e cultos cristão. Oferece-se aos fiéis a energia vital e espiritual de Jesus.
No Candomblé a essência dos sacrifícios e das oferendas, como já mencionado, está na energia vital, tanto do alimento vegetal quanto do sangue animal. Um alimento, ou mesmo a vida de um animal, que é oferecido ao Orixá contém uma intensa e complexa carga de energia vital, que, complementada com os devidos orikis e adurás (rezas faladas e cantadas) adquirem um poder sem medidas. São ensinamentos transmitidos e reproduzidos há milênios.
Um dos maiores tabus que a religião enfrenta perante a sociedade é a questão do sacrifício animal. Genericamente associado às feitiçarias e maldade, o sacrifício animal levanta duas graves questões: a prática irresponsável por parte dos terreiros e o desperdício de alimentos. A primeira questão é o comum questionamento: mata-se para fazer o mal? Quando se submete o sangue vivo de um animal a um determinado fim acontece uma canalização de energia para a realização de tal fim. E esse fim pode ser positivo ou negativo. Quem implanta o mal, ou o bem, é o sentimento humano e não o Orixá. Tal questão envolve a responsabilidade ética do praticante e sua moral perante o que é certo e o que é errado. Qualquer oração, devoção, “simpatias”, feitiços, rezas são formas de canalizar energias para um determinado fim. Assim como é possível se matar um animal para o mal é possível se rezar um “terço” para o mal. Depende do coração e da mente do orador, do devoto.
Atualmente vivemos uma crise, uma completa distorção dessa tradição tão importante e poderosa dentro do culto aos Orixás no Brasil, o que nos remete ao problema em relação a sacrifícios e oferendas.
O consumismo ocidental de nosso tempo passou a permear as práticas das oferendas e dos sacrifícios praticados pela Umbanda e pelo Candomblé. É muito comum presenciarmos verdadeiros desperdícios e poluição em cachoeiras, matas e praias por parte dos adeptos dos Orixás. Garrafas, pratos, vasilhames de todos os tipos deixados na natureza, contendo quilos e litros de alimentos e bebidas que são oferecidas aos Orixás. Despachos em sacolas plásticas. Sabonetes, pentes, espelhos, perfumes e xampus deixados a esmo. Ebós com quilos e quilos de comida. Praticantes que enxergam na quantidade a qualidade e força da louvação. Pessoas que não tem consciência de que o local mais sagrado para essas religiões é a própria natureza, e daí a importância do cuidado a ela. Enquanto tanta gente passa fome no mundo todo, quilos e quilos de alimento são desperdiçados pelos candomblecistas e umbandistas sem consciência da essência de sua própria religião. Como os Orixás vão abençoar o desperdício de alimentos e poluição de seu principal e mais sagrado templo.
Em orôs (sacrifícios) de iniciações e obrigações, matam-se inúmeros animais, inclusive silvestres como tartarugas, cobras, faisões, lagartos. Matam-se animais que não se come. E mesmo, em muitos casos, os animais comuns de alimentação como frangos e cabras não são consumidos. Quilos de carne são despachados com a idéia de que o Orixá irá comer.
Aos praticantes é necessária a compreensão de que a essência da oferenda é a reza, a fé, e que o alimento e a bebida são símbolos. Os Orixás se alimentam da energia cósmica, vital e imaterial desses elementos. Tais produtos carregam a energia vital em sua essência e não em sua quantidade. 5 quilos de feijão preto não agradarão mais que 100 gramas. 100 gramas com fé, com respeito e coração, agradarão muito mais do que 5 quilos, sem coração e fé. Uma iniciação com uma angola e dois frangos não é menor do que com um boi, quatro cabras e 16 frangos. Mal sabem os adeptos que o sangue mais importante da religião é o das folhas. Não se inicia ninguém sem folhas, mas com apenas um animal é possível. Depende muito mais do domínio litúrgico sobre atos e rezas do que da quantidade de comida e de animais. É, até mesmo, uma falta de respeito aos próprios Orixás desperdiçar tanto alimento em seu nome.
Não é necessário sacrificar vários animais, principalmente exóticos como tartarugas, faisões, cobras, lagartos, para o iniciado ser realmente iniciado. Inclusive, em muitos casos se matam animais sem se saber as devidas palavras. Sem utilizar as devidas folhas.
Quantidade não é qualidade. E como já mencionado, existem terreiros, casas, centros que rezam as oferendas e depois jogam fora. Despacham quilos e quilos de carne, frutas e comidas em geral que poderiam ser consumidas pelos próprios praticantes, ou mesmo doadas. Mas são desperdiçadas com o nome de despacho.
Muitos praticantes do Candomblé e da Umbanda sofrem de um mal que precisa ser superado. Esse mal se chama ignorância. Falta de conhecimento e consciência sobre a essência da própria religião.
Publicado por: Alan Carvalho
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