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HIV em heterossexuais tem se tornado maioria em novos casos. Como o preconceito e o negacionismo está contribuindo para essa nova realidade.

Breve análise sobre como o HIV em heterossexuais tem se tornado maioria em novos casos e sua relação com preconceito e o negacionismo.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Uma das constatações quando olhamos os novos casos é que o HIV entre heterossexuais tem superado os de homossexuais, em muitos estados do Brasil e também alguns países do mundo.

Dados indicam que essa tendência no Brasil vem desde o ano de 2007, mas ultimamente tem se consolidado.

Pesquisas também indicam que, o público de homens heterossexuais é mais propenso a negligenciarem esse risco e contaminarem outras pessoas, por não terem diagnóstico precoce.

Essa constatação é crítica e importante, pois, apesar de existem métodos modernos de prevenção e tratamento, esse tipo de problema pode levar a novas epidemias do vírus a longo prazo, caso não atuemos nas suas possíveis causas. Mas quais são elas?

Potenciais Causas

Podemos citar várias delas, porém gostaria de focar em algumas que acredito serem bem relevantes.

  • Campanhas Públicas de Prevenção

O Brasil já foi um país premiado por organizações internacionais, pelos programas implementados para prevenção e tratamento do HIV e da AIDS na década de 1990, sendo considerado com uma das referências globais no combate ao vírus. Naquele momento houve uma diminuição considerável de novos casos e significativa melhora no acesso aos medicamentos, assim como na sobrevida dos pacientes em tratamento.

Essa curva segue com a tendência de redução, o que mostra que seguimos um caminho importante, porém chama a atenção como os casos mudaram ao longo do tempo e que talvez isso possa gerar um aumento futuro, simplesmente por falta de informação.

Talvez o direcionamento das campanhas e também a falta de investimentos específicos possam explicar essa tendência.

  • O erro da Esquerda e o erro da Direita

A parte os acertos dessa luta árdua, podemos aqui citar alguns erros cometidos por governos de todos os espectros políticos.

Talvez falar em Esquerda e Direita seja simplista demais, mas o foco desse artigo não é tratar do viés político de cada governante, mas sim de algumas preconcepções que ambos espectros políticos têm acerca desse tema.

O erro que podemos atribuir à Esquerda política no Brasil é o foco das campanhas apenas, ou pelo menos majoritariamente, no público mais vulnerável, a comunidade LGBTQIA+. E veja, não estou falando que está errado focar nesse público, aliás é o inverso, os mais vulneráveis na saúde pública deverão ser os primeiros a serem protegidos, justamente por sê-los.

O que aponto aqui é que uma vez que o foco das campanhas acaba sendo muito nesse público, os demais, como as pessoas que mantém relacionamentos heterossexuais talvez não se identifiquem com essas campanhas, ou ainda mais grave, achem que não é para eles e por isso as ignoram.

Já falando do expecto à Direita, o erro é outro, como exemplo, o corte de campanhas de prevenção e até de medicamentos específicos para tratamento de AIDS, seja por questões econômicas ou mudança de foco em saúde pública.

Porém é sabido que reduções em campanhas e dos tratamentos pioram as ações de combate e contribui para mais pessoas portadoras de ISTs e com piora na sobrevida pós-diagnóstica.

  • Preconceitos e Negacionismo

Outro fator muito relevante que talvez explique a situação atual é o preconceito e negacionismo que parece afetar um número considerável de homens heterossexuais.

Em um artigo científico de 2020, alunos de pós-graduação em epidemiologia e saúde pública da UFRGS, UFMG e UNIPAMPA, fizeram uma série de entrevistas com homens heterossexuais, recém diagnosticados com o vírus do HIV e mostraram dados surpreendentes e alarmantes de como o negacionismo e preconceito. Gostaria de destacar apenas 3 deles:

- Muitos acreditam que apenas homossexuais e grupos de risco podem se contaminar e não heterossexuais;

- Outros só descobriram a infecção após a procura do médico por outros motivos, não tendo nenhuma rotina de exame para ISTs;

- Diversos outros somente tiveram o diagnóstico graças as suas mulheres, que fizeram o exame e levaram o companheiro a também realizar.

Aqui estão apenas alguns resultados, dentre muitos outros também relevantes, pois estudo é bem amplo e recomendo que você leia, pois estará nas referências desse artigo.

Perceba, em dois dos resultados identificados entre diversos homens, é bem provável que estes mantivessem relações com diversas outras pessoas ao longo da vida, mas nunca sequer fizeram o exame, contribuindo para a contaminação de diversas mulheres.

O fato também de muitos homens acreditarem que não é possível a contaminação em relações heterossexuais, expllica boa parte dos motivos dos novos casos serem maioria entre eles.

Essa mistura de preconceito e negacionismo está levando a mais pessoas contaminadas.

  • Como mudar essa situação?

Como mencionado no início, atualmente existem diversas formas de prevenção e até de qualidade de vida convivendo com o vírus do HIV e a AIDS.

Talvez uma das maiores evoluções na prevenção contra o HIV depois da camisinha, tenha sido as medicações Pré e Pós exposição.

Esses medicamentos atuam no organismo para impedir que o vírus se instale, sendo que no caso de pré-exposição, os chamados PrEPs, você segue uma rotina de tratamento diário que exige disciplina e acompanhamento médico, com exames de rotina, que podem reduzir e até zerar o risco de contaminação. Cabe lembrar que mesmo esses medicamentos não protegem contra outras ISTs, sendo a camisinha também recomendável nesses casos.

Já os medicamentos que funcionam pós-exposição, os chamados PEP, são medicamentos que você tem que tomar após 2 horas da relação e no máximo até 72 após o risco de exposição, sendo que o tratamento deve ser mantido por 28 dias, com acompanhamento médico rigoroso e nesses casos tem a chance de até 99% da redução do risco por contaminação.

Dessa forma, as medidas preventivas são muito eficientes, sem contar que no caso de infectados os tratamentos atuais são muito avançados e permitem até manter a pessoa com o vírus indetectável, que também reduz drasticamente o risco de aumentar a contaminação para outras pessoas, então o que está faltando é mostrar e convencer esse público do que precisa ser feito, para que eles também se protejam.

Talvez olhar o sucesso das campanhas com o público LGBTQIA+ e aplicar algumas dessas boas práticas para o público heterossexual, sobretudo de homens CIS gênero heterossexuais, que são os mais propensos ao preconceito e negacionismo, que por consequente gera mais contaminações.

Convencer os espectros políticos a ter medidas que atinjam esse público também é importante, desde os mais conservadores entenderem que entre o seu próprio público votante histórico, esse problema é real e precisa ser trabalhado e não apenas uma pauta político-partidária.

A tendência atual é que essa realidade cresça e que no futuro os heterossexuais se consolidem como maioria, considerando que a população LGBTQIA+ está em um dos momentos mais conscientes em termos de prevenção e tratamento desde o início das campanhas, ao passo que a população heterossexual, se continuar na curva ascendente e sendo maioria declarada na sociedade, gera um risco de aumento exponencial dos casos, levando a uma nova crise de saúde pública.

Medidas de campanha direcionadas, exames para diagnóstico realizados de forma preventiva, medidas educativas feitas em toda a sociedade, entre outras alternativas são muito recomendadas se quisermos manter a curva decrescente de novos casos.

Sobre o preconceito e negacionismo, somente a educação pode dar a resposta e para isso um esforço de todos será necessário. Esperemos que isso aconteça!

Referências:

Estudo com entrevistas realizado pela UFRGS, UFMG e UNIPAMPA:

Knauth, Daniela Riva, . et al. O diagnóstico do HIV/aids em homens heterossexuais: a surpresa permanece mesmo após mais de 30 anos de epidemia. SciElo Brasil. 2020 https://www.scielo.br/j/csp/a/xDFFhtkF89JM65GDhWwTHPj/# - Consultado em 12.05.2024 09:32hs

Tratamentos PrEP - Ministério da Saúde:

https://www.gov.br/aids/pt-br/assuntos/prevencao-combinada/prep-profilaxia-pre-exposicao/prep-profilaxia-pre-exposicao

Tratamentos PEP - Ministério da Saúde

https://www.gov.br/aids/pt-br/assuntos/prevencao-combinada/pep-profilaxia-pos-exposicao-ao-hiv#:~:text=A%20PEP%20%C3%A9%20uma%20tecnologia,m%C3%A9todo%20preventivo%20na%20sua%20vida.

Secretaria de Saúde de SP - HIV Indetectável x Transmissibilidade:

https://saude.sp.gov.br/centro-de-referencia-e-treinamento-dstaids-sp/homepage/destaques/carga-viral-indetectavel-torna-infeccao-por-hiv-intransmissivel

Distribuição de Novos Casos HIV Global

https://unaids.org.br/estatisticas/

Estudo Científico: Invisibilidade Heterossexuais

Knauth, Daniela Riva, . et al. A invisibilidade da heterossexualidade na prevenção do HIV/Aids entre homens. SciElo Brasil. 2015cc

https://www.scielo.br/j/rbepid/a/ZBFVH45gk8VTD3bvc4JSTQq/?lang=pt&format=pdf - Consultado em 12.05.2024 09:32hs

Marcos dos Santos Farias, 33 anos, Escritor brasileiro. Residente em Burgos, Espanha.


Publicado por: Marcos dos santos farias

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