A influência da mídia sobre a imagem corporal e os distúrbios/transtornos alimentares: anorexia e bulimia nervosa
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RESUMO
O homem atual mudou seus conceitos de beleza (REISS, 1993; STRIEGEL-MOORE et al., 1986 apud PHILIPPI et al., 2004), passando a valorizar um corpo cada vez mais magro, atlético, torneado, musculoso, ao contrário do corpo renascentista e cheio de curvas do passado (PHILIPPI et al., 2004). O conceito de beleza na verdade é virtual. Os indivíduos como seres sociais sentem-se pressionados a corresponder ao “padrão” de beleza da sua cultura – que é exaustivamente apontado pela mídia -, caso contrário, sentem-se menos atraentes e inferiores. Algumas pessoas, nesse caminho, elegem o corpo como único representante de si mesmas e o controle do peso como forma de viver; não percebem o quão tirânica a beleza pode ser e, diante de um universo de possibilidades como ser humano, deixam de acreditar em si em nome de um modelo que será sempre inexistente (ROSO, 1993 apud PHILIPPI et al., 2004). Essa pressão social pode levar algumas pessoas a desenvolverem alguns distúrbios alimentares, devido à busca pelo corpo ideal.
Palavras chaves: anorexia nervosa, bulimia nervosa, distúrbios alimentares, influência da mídia, alimentação, beleza.
ABSTRACT
The present man changed his concepts of beauty (REISS, 1993; STRIEGEL-MOORE et al., 1986 apud Philippi et al., 2004), passing to value a body increasingly thin, athletic, toned , muscular, unlike the Renaissance body and full of past curves (Philippi et al ., 2004). The concept of beauty is actually virtual. Individuals as social beings feel pressured to match the "standard" beauty of their culture - that is exhaustively appointed by the media -, otherwise, they feel less attractive and less. Some people, in this way, elect the body as the sole representative of themselves and weight control as a way of living ; do not realize how tyrannical beauty can be and , before a universe of possibilities as a human being , stop believing in it on behalf of a model that will always be non-existent (ROSO, 1993 apud Philippi et al., 2004). This social pressure can lead some people to develop eating disorders because of the search for the ideal body.
Key Words: anorexia nervous, bulimia nervous, eating disorders, media influence, power, beauty.
INTRODUÇÃO
Neste artigo, propõe-se descrever a relação da influência da mídia social no comportamento alimentar e estético da população afetada por distúrbios alimentares, mais precisamente a anorexia nervosa e a bulimia nervosa. Foram utilizados como fontes de pesquisa artigos científicos e literaturas conceituadas.
OS DISTÚRBIOS/TRANSTORNOS DA ALIMENTAÇÃO
Os distúrbios alimentares são mais frequentes do que se imagina. E muitas vezes são difíceis de ser diagnosticados pelo fato de que quem está passando pelo problema não admitir que precise de ajuda ou esconder da família e de pessoas próximas.
Os transtornos da alimentação caracterizam-se por graves perturbações no comportamento alimentar. A anorexia nervosa caracteriza-se por uma recusa a manter o peso corporal em uma faixa normal mínima. A bulimia nervosa é caracterizada por episódios repetidos de compulsões alimentares seguidas de comportamentos compensatórios inadequados, tais como vômitos auto induzidos; uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos; jejuns; e exercícios físicos excessivos. Uma perturbação na percepção da forma e do peso corporal é a característica essencial tanto da anorexia nervosa quanto da bulimia nervosa (DSM-IV-TR, 1994).
O início da anorexia nervosa ocorre frequentemente na adolescência entre os 13 e os 18 anos. Já os sintomas bulímicos aparecem mais tarde, por volta dos 18 aos 40 anos. Atingem, sobretudo, o sexo feminino, representando mais de 90% dos casos (BUSSE, 2004 apud NÓBREGA, 2007).
ANOREXIA NERVOSA
A percepção da imagem corporal está gravemente distorcida, sendo este o aspecto central do transtorno. A pessoa afirma-se gorda mesmo contra as evidências médicas e os argumentos familiares. Normalmente nega e oculta elementos importantes da doença (SEGAL, 1993 apud NÓBREGA, 2007). A perda de peso é vista como uma conquista notável e como sinal de extraordinária disciplina, ao passo que o ganho de peso é percebido como um inaceitável fracasso do autocontrole. Associado ao quadro de restrição alimentar, é frequente o aumento compulsivo de exercícios físicos e a utilização de anorexígenos, laxativos, diuréticos ou vômitos provocados (NUNES, 1995; BUENO et al., 1996; WOODSIDE, 1995 apud NÓBREGA, 2007). A pessoa pode ficar vários dias sem comer nada.
Geralmente são pessoas introvertidas e com baixa auto-estima; têm um sentimento de insuficiência que é compensado pelo controle constante, rigidez na conduta e extremo perfeccionismo; apresentam preocupação excessiva com o peso e distúrbios de percepção; podem apresentar distúrbios emocionais como depressão (WOODSIDE, 1996 apud NÓBREGA, 2007).
BULIMIA NERVOSA
A bulimia nervosa é caracterizada, em sua forma típica, pela ingestão periódica, compulsiva e rápida de grandes quantidades de alimento, com pouco ou nenhum prazer, alternada com comportamentos próprios para evitar o ganho de peso, como provocar vômitos, usar laxantes e diuréticos ou restrição alimentar importante (WOODSIDE, 1995 apud NÓBREGA, 2007). O diagnóstico da bulimia nervosa é um pouco mais tardio que o da anorexia nervosa, pois a pessoa, na maioria das vezes, possui o corpo normal e não apresenta perda de peso excessiva nem aparência esquelética.
IMAGEM CORPORAL E OS DISTÚRBIOS/TRANSTORNOS ALIMENTARES
Alguns autores têm investigado as razões para que algumas pessoas submetidas a dietas desenvolvam transtornos alimentares e outras não. Várias pesquisas afirmam que pessoas que realizam dietas restritivas e que enfatizam razões ideológicas mais do que o prazer de comer desenvolvem mais depressão, baixa auto-estima, maior insatisfação corporal, maior internalização do padrão cultural de magreza e mais sintomas de transtornos alimentares (LINDEMAN; STARK, 1999 apud NÓBREGA, 2007).
A sociedade atual, com a sua valorização e o culto à magreza, fazendo da obesidade uma condição altamente estigmatizada e rejeitada, têm levado a maioria das pessoas à busca frenética do “corpo ideal”, predispondo os vulneráveis a desenvolver doenças. Os meios de comunicação são, provavelmente, os mais poderosos veículos utilizados pelas indústrias das dietas, atividade física e cirurgia plástica para reforçar a associação da magreza com sucesso, poder, autocontrole, modernidade e atratividade. Convencem o público de que o corpo pode ser moldado a nosso bel-prazer e estabelecem padrões corporais impossíveis de serem atingidos pela maioria (CORDÁS, 1995 apud NÓBREGA, 2007)
A relevância dos estudos sobre imagem corporal e distúrbios alimentares está em conexão com o desenvolvimento da identidade do ser humano e pode ser um ponto determinante das relações do homem com o mundo (TORO et al., 2006 apud LEGNANI, et al., 2012). Segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV, 1994), os distúrbios alimentares podem ter consequências graves aos indivíduos, tanto de ordem psicológica, quanto fisiológica. A pessoa se recusa em manter um peso corporal adequado para a sua estatura, mostra medo intenso de ganhar peso corporal e uma distorção da imagem corporal, além da negação da própria condição patológica.
Hoje, existe um constante descontentamento com a aparência física, então é preciso saber que o diagnóstico de um transtorno alimentar nunca pode ser feito baseado exclusivamente em um único critério. A preocupação exagerada com a forma e o peso do corpo é somente um dos critérios para o diagnóstico de uma patologia envolvendo os transtornos alimentares (NUNES et al., 2006).
Muito se vê nas redes sociais, pessoas que possuem alto poder de influência, devido ao grande número de seguidores que possuem, fazendo publicações de corpos sarados ou cada vez mais magros, na maioria das vezes por publicidade, e nem sempre divulgam ou defendem a forma saudável de se alcançar esse objetivo. A mídia, assim como as redes sociais, acabam por influenciar na maneira como pessoas se alimentam e na aceitação de sua forma física.
O sexo feminino de uma maneira geral é muito vulnerável à aceitação das pressões sociais, econômicas e culturais associadas aos padrões estéticos. A sociedade rejeita, discrimina e reprova pessoas obesas. Perante esta situação muitas mulheres encontram-se insatisfeitas com seu corpo. O medo da obesidade faz com que um número cada vez maior de mulheres faça dieta, controle neuroticamente o peso corporal, exercite-se de maneira exaustiva e faça uso de laxantes, diuréticos e drogas anorexígenas (Beatty & Finn, 1995 apud FIATES; SALLES, 2001, p. 4).
Nas sociedades afluentes, ao mesmo tempo em que observamos uma oferta abundante de alimentos de alto teor energético e de rápido consumo, a vida cotidiana é cada vez mais sedentária, tornando mais penosa a tarefa de
manter o corpo magro. Modelos e atrizes de sucesso, representantes dos padrões ideais de beleza feminina, são extremamente magras e muitas vezes apresentam um corpo de pré-adolescente com formas pouco definidas (Nunes,
1998 apud FIATES; SALLES, 2001).
A maior prevalência de risco de transtorno alimentar e de insatisfação com a imagem corporal entre as moças mesmo que este tenha apresentado um estado nutricional mais favorável possui causas complexas e grande influência cultural e histórica. A mulher do início do século passado deveria apresentar depósitos de gorduras, principalmente nas regiões dos quadris, coxas, abdômen e mamas para se adequar ao perfil de beleza em voga. No período pré-industrial, marcado por uma carência alimentar, a mulher com tendência a obesidade representava ser uma mulher forte, com energia suficiente para enfrentar os períodos conturbados e proteger sua família (ANDRADE & BOSI, 2003; INAD, 2004; ALMEIDA et al.; 2005 apud LEGNANI et al., 2012).
Nos dias atuais os anúncios veiculados envolvendo o padrão de beleza com ênfase ao sexo feminino se alteraram consideravelmente (LEGNANI et al., 2012). Houve uma mudança cultural para o ideal de imagem corporal magro, desencadeada pelo movimento feminista, tentando contrapor à pornografia feminina, que enfatizava as partes “gordas”. O objetivo do movimento feminista era levar as mulheres ao mercado de trabalho na mesma condição dos homens. Assim, elas precisavam de um novo corpo ideal que pudessem carregar em suas mentes, e em contra imagem deveriam ser mais magras. Na contemporaneidade, no entanto, é possível observar que os padrões de beleza impostos são inatingíveis por muitos e as figuras de corpo, especialmente da mulher, são constantemente manipuladas por meios eletrônicos, o que se tem revelado nos altos índices de insatisfação corporal nos jovens (WOOLEY, 1994 apud LEGNANI et al., 2012).
Buscando esse novo ideal de corpo e a adequação a nova realidade alimentar, algumas pessoas chegam aos extremos, como no caso dos transtornos alimentares. Torna-se um desafio para a ciência da nutrição, que cada vez mais procura acompanhar essas mudanças na alimentação e atualizar princípios e recomendações para uma dieta saudável (PHILIPPI et al., 2004, p.17 ).
NUTRIÇÃO E TRATAMENTO
Nutrição é a ciência que estuda os alimentos, seus nutrientes, sua ação, interação e balanço em relação à saúde e doença, além dos processos pelos quais o organismo ingere, absorve, transporta, utiliza e excreta os nutrientes. A alimentação é o processo pelo qual os seres vivos adquirem do mundo exterior os alimentos que compõem a sua dieta. Os nutrientes são substâncias que estão inseridas nos alimentos e possuem funções variadas no corpo humano. E a dieta pode ser entendida como um conjunto de alimentos que o indivíduo consome diariamente com as substâncias denominadas nutrientes (FISBERG et al., 2002 apud PHILIPPI et al., 2004).
Deve haver um equilíbrio dos alimentos em uma refeição para que atinja-se a sáude perfeita (STÜRMER, 2007) defendida pela Nutrição. STÜRMER (2007) defende que sempre que é elaborada uma refeição, deve-se ter em mente as leis que regem a alimentação equilibrada:
- Quantidade – Numa alimentação a quantidade de alimentos deve ser suficiente para atender o organismo em todas as suas necessidades.
- Qualidade – Deve conter variedade de alimentos que satisfaça todas as necessidades do organismo.
- Harmonia – Os diferentes nutrientes devem guardar equilíbrio entre si, em sua qualidade e quantidade.
- Adequação – A alimentação deve ser apropriada às diferentes fases e condições de vida, às variadas atividades, às circunstâncias fisiológicas e de doenças.
STÜRMER (2007) afirma ainda que a reeducação alimentar é a solução para emagrecer ou manter o peso corporal sem passar fome nem fazer sacrifícios físicos exagerados.
Para se considerar uma dieta adequada ou normal devem estar presentes alimentos variados de acordo com os hábitos alimentares, a disponibilidade dos alimentos e as necessidades nutricionais do indivíduo. O aporte calórico deve ser considerado, e também a inclusão de todos os macro e micronutrientes em quantidades e proporções adequadas. (PHILIPPI et al., 2004). Os alimentos devem ser qualitativa e quantitativamente adequados, do hábito alimentar, consumidos em refeições, em ambientes calmos, visando à satisfação das necessidades nutricionais, emocionais e sociais, para promoção de uma qualidade de vida saudável (PHILIPPI, 1999 apud PHILIPPI et al., 2004). O nutricionista tem como objetivo a adoção de cuidados nutricionais, tais como a avaliação e o monitoramento nutricional, que inclui dietoterapia, aconselhamento e uso de suplementos nutricionais específicos, se necessário; e a educação nutricional coma orientação para a adoção de práticas alimentares adequadas (APA, 2000; ALVARENGA, 2002 apud NÓBREGA, 2007).
O tratamento multidisciplinar é particular para cada paciente e abrange o estabelecimento de uma dieta para atingir um peso adequado e saudável, acompanhada de exercícios orientados, orientação familiar, focalização nas sensações de fome e saciedade, práticas de relaxamento muscular para controlar a ansiedade e treinamento em habilidade social (ADA, 2001 apud NÓBREGA, 2007).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreende-se que estamos vivendo em uma sociedade, onde o consumo é valorizado, e os valores materiais e estéticos governam nossas vidas como mandamento a serem seguidos. A mídia influencia na concepção de normas, comportamento e padrões de beleza, ligadas à indústria do corpo. Conclui-se então que o fator psicológico deve ser bastante estudado, pelos psicólogos frente a esses indivíduos, pois essas pessoas têm uma apreensão obsessiva com alguma deformidade inexistente ou no mínimo na aparência física (MATTANA, 2013). É de grande importância que as mídias sociais promovam a saúde e o bem estar antes da beleza do corpo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Disgnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV). 4th. ed. Washington, DC, 1994.
FIATES, G. M. R.; SALLES, R. K. Fatores de risco para o desenvolvimento de distúrbios alimentares: um estudo em universitárias. Rev. Nutr., Campinas, 14 (suplemento), p. 3-6, 2001.
LEGNANI, R. F. S. et al. Transtornos alimentares e imagem corporal em acadêmicos de Educação Física. Motriz. Revista de Educação Física, São Paulo, v.18, n.1. p. 84-91, Jan./Mar. 2012.
MATTANA, A. S. Consumo, Mídia e Beleza: a Mídia como Mediadora de Padrões de Comportamentos Femininos e Masculinos. Disponível em:
NÓBREGA, F. J. Distúrbios da Nutrição: na infância e na adolescência. 2. ed. Rio de janeiro: Livraria e Editora Revinter, 2007.
NUNES, A. M. et al. Transtornos Alimentares e Obesidade. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
PHILLIPI, S. T. et al. Transtornos alimentares: uma visão nutricional. São Paulo: Manoel, 2004.
STÜRMER, J. S. Reeducação Alimentar: qualidade de vida, emagrecimento e manutenção da saúde. 8. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
Publicado por: Layanne de Oliveira Castro
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