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Sincretismo

Você já ouviu falar no termo sincretismo? Clique e saiba do que ele se trata.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Podemos definir sincretismo como qualquer prática religiosa que provém da fusão de outras. O sincretismo religioso tem suas maiores expressões no Brasil por uma simples questão histórica: a colonização e a formação do povo brasileiro. Um complexo processo histórico repleto de misturas culturais e étnicas que ultrapassam os limites daquilo que foi documentado, do que é oficial.

No Brasil podemos observar inúmeras matrizes religiosas. Judaísmo, Cristianismo Católico, Cristianismo Protestante, Cristianismo Espírita Kardecista, Islamismo, Budismo, Hinduísmo desembarcaram nos milhares de navios que vieram pra cá entre 1500 e 1950.

Os cultos africanos Angolas, Congos, Fons, Malês e Iorubás também desembarcaram nesse contexto. Encontraram aqui os Tupis, os Guaranis, os Tapuias e muitos outros. Ao longo dos anos tudo se misturou em manifestações diversas e complexas.

Sendo a Igreja Católica a religião institucionalmente dominante, pois era unida à administração colonial, ela tentou controlar a difusão de outros cultos assim como impor sua soberania. Porém, como a religião é um fenômeno incontrolável do ponto de vista cultural e social, as crenças se difundiram na mesma proporção das miscigenações. Naturalmente foram surgindo cultos que misturavam os mais diversos tipos de tradições.

Podemos organizar os principais tipos de sincretismos surgidos no Brasil a partir de sua origem étnica e sua posterior união. Assim teríamos a fusão, cristão-indígena, africano-cristã, indígena-africana, indígena-cristão-africana. Sem ordem, local, cronologia ou lógica, essas três matrizes étnico-religiosas deram origem às centenas de cultos, festejos populares, folguedos, lendas, personagens, superstições, ritos e práticas sociais.

Os primeiros missionários Jesuítas que chegaram ao Brasil deram aos ameríndios a crença em Jesus Cristo, assim como já haviam feito nas terras de Angola e Congo de onde vieram muitos escravos. Ao mesmo tempo, receberam o domínio sobre plantas, raízes, bebidas diversas que foram incorporadas pelos padres e reproduzidas. Nessa fusão indígena-cristã rezas católicas com ervas indígenas deram origem ao curandeirismo mestiço, com benzedeiros e benzedeiras, rezadeiras e rezadores, parteiras e outros ainda típicos em zonas rurais e lugares distantes da medicina convencional.

A chegada dos africanos e o processo de conversão desses, promovem um processo semelhante ao ocorrido com os indígenas. Contudo há uma maior resistência de preservação da tradição em muitos lugares. Os negros recebem o braço opressor da Igreja Católica com muito mais intensidade. São incentivados castigos e torturas para africanos que insistissem com seus cultos. Torna-se expressamente proibido cantar e rezar na língua de origem. É nesse contexto que começa a acontecer o sincretismo que dará origem a Umbanda Sagrada. Os africanos que passaram pelo processo de conversão, mas não aceitavam de coração tal conversão, começaram a utilizar o conhecimento adquirido com os padres a associando santos católicos aos Orixás de acordo as regências e características de cada entidade. Assim São Jorge, um santo guerreiro foi associado à Ogum, um Orixá guerreiro. São Sebastião, santo morto por flechas, foi associado à Odé, o Orixá caçador cujo principal instrumento é a flecha. Nessa mesma lógica todos os Orixás são associados a santos católicos para fantasiar, esconder o verdadeiro culto que era direcionado aos Orixás. Tais associações serão tão naturais que não seguirão uma ordem homogênea. Na Bahia, no Rio de Janeiro, em Pernambuco essas associações mudam. Nem sempre Ogum é São Jorge. Ele é também Santo Expedito, ou Santo Antônio.

O surgimento dos Quilombos deu origem a outro tipo de sincretismo. Índios e africanos passaram a trocar tradições. Incorporou-se o culto aos Caboclos. Os chefes indígenas, Morubixabas, que eram à base da organização social das tribos, eram também cultuados como ancestrais poderosos, semelhante ao culto dos Orixás africanos. O domínio das plantas da terra que os índios tinham foi ensinado aos Africanos. Rituais africanos como a gira, ou xirê, foram incorporados pelos índios. Os congos e angolas, foram os que mais se fundiram com os índios brasileiros, por uma questão temporal e espacial, pois além se serem os primeiros a chegarem foram também os que formaram os quilombos. Entre os candomblés de nação, a nação de angola pratica um culto mais forte aos caboclos brasileiros, o que dá origem ao conhecido candomblé de caboclo. Muitas outras formas de culto e cultura, ao mesmo tempo, surgem pelo Brasil afora como fruto de um complexo sincretismo, como a Pajelança, Cachimbada, Jurema Sagrada, Quimbanda, Catimbó, Tambor de Mina, Congado, Tambor de Crioula, e outros.

No culto aos chamados catiços, ou seja, os exus, caboclos, baianos, boiadeiros, ciganas, Zé Pilintra, malandros e outros, prevalecem a mesma lógica do culto aos Orixás. À medida que são considerados espíritos que tem a missão e função de orientar, ajudar, proteger, iluminar são também considerados “orixás”, ou seja, espíritos de mente forte, iluminados. E, esse culto que é típico da Umbanda, também aparece no Candomblé como umas das manifestações de sincretismo aqui abordadas.

Ao longo das décadas e séculos, o sincretismo perdeu seu caráter de fuga e passou a ser concebido como crença. Assim sendo os santos católicos deixaram de ser representações dos Orixás e passaram a serem considerados os próprios Orixás, e vice-versa. Naturalmente, o que era um recurso de disfarce se tornou uma crença real.

O sincretismo não se limita à mistura e incorporações de símbolos e ritos. Existe a questão ética, e é nesse ponto que surgem contradições. A lógica do pensamento cristão é muito diferente daquela proferida e reproduzida nas tradições africanas. Assim sendo, a Umbanda apresenta um caráter um tanto quanto confuso, quando buscamos estabelecer uma ética específica para tal religião. O Umbandista apresenta uma concepção de moral e ética mais próxima do cristianismo do que do culto aos Orixás. A ideia de bem e mal, céu e inferno, pecado, e o próprio Jesus Cristo como expressão do bem e do Satanás como expressão do mal estão presentes no pensamento Umbandista. Antes que o leitor tome uma conclusão precipitada, não cabe aqui o julgamento do que é melhor, certo ou errado. O objetivo é a definição das diferenças. Confunde-se a Umbanda como algo muito próximo do Candomblé, mas há questões que devem ser claras. Os símbolos e ritos são mais parecidos com o culto aos Orixás. Pratica-se o xirê, ou gira. Pratica-se a incorporação da entidade. Praticam-se oferendas.

Ao mesmo tempo, a ética e moral distanciam-se do culto aos Orixás pois, acredita-se que Exú mora no inferno. E que Oxalá é Jesus. Acredita-se no castigo. Acredita-se no pecado. Cumprem-se preceitos de quaresma. Acredita-se em Deus, como imagem e semelhança do homem.

Para completar a complexidade, o Espiritismo kardecista também incorpora práticas de outras religiões espiritualistas, mas reproduz uma ética e uma moral essencialmente cristãs. O que contribui para um sincretismo preconceituoso. Que coloca as práticas espiritualistas tradicionais africanas à margem do espiritismo, como se fosse limitado a fazer o mal.

Tal questão dificulta bastante a comunicação entre Candomblé e Umbanda. Gera preconceitos pela falta de compreensão dos adeptos. Templos de Umbanda que incorporam práticas do Candomblé e vice-versa criam contradições em seus cultos. Criam contradições em suas liturgias. Uma série de perguntas pode ser feitas a um praticante da Umbanda, ou do Candomblé, para que se esclareça sua posição espiritual, como: Você se sente um pecador? Você faz o sinal da cruz quando passa por perto de igrejas e cemitérios? Você faz penitência na quaresma? Você guarda a sexta-feira da paixão? Você celebra o natal com fé no nascimento do Salvador? Você acredita no juízo final? Você batiza seu filho da Igreja Católica? Você casa ou incentiva o casamento em Igrejas cristãs? Tudo isso são praticas cristãs.

O culto aos Orixás não é Cristão. Em nome da Cruz e de Cristo muitos filhos de “Santo”, de Orixás, morreram, apanharam, foram torturados, perseguidos e presos. Pelos bons costumes e moral da igreja, Candomblé e Capoeira foram considerados crimes, pela constituição federal, até meados de 1930. Em folhetos, sermões e discursos informais de igrejas, você frequentador de terreiros, é acusado de ter pacto com o Diabo e de praticar feitiçaria para prejudicar pessoas. Mas tudo isso por uma determinada instituição, e não pela doutrina cristã.

A Igreja Católica é uma instituição especifica. O cristianismo é uma doutrina tão carregada de moral e ética quanto o culto aos orixás. Porém são coisas diferentes, com essências e origens diferentes. Os próprios santos católicos são cultuados de maneira semelhante aos Orixás e às entidades da Umbanda. Santos foram pessoas que tiveram importância, realizaram feitos grandiosos, foram exemplos de bondade, coragem, fé. O catolicismo popular tem características que muito se distanciam da doutrina católica oficial. Cultuam-se os santos, em muitos casos, antes de Deus. Quase não se recorre ao grande Deus para fazer pedidos e promessas. Mas sim aos santos e santas. E dentro da lógica espiritualista, os santos são entidades espirituais poderosas que tem sua força na vida das pessoas que lhe atribuem fé.


Publicado por: Alan Carvalho

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