Da profecia à apocalíptica
A diferença entre literatura apocalíptica e literatura profética, atuação dos profetas na história de Israel, dia do Senhor...O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
A literatura apocalíptica está muito próxima da profética. Entretanto não se confundem.
A atuação dos profetas teve começo meio e fim, na história de Israel. “Desde o tempo dos juízes até o cativeiro, os profetas aparecem. Eles fazem parte da vida, da cultura e da organização do povo. Depois do cativeiro, o quadro mudou. O povo dizia ‘não há mais profetas’ (Sl, 74,9)” (CEBI, 2000, p. 58). Depois da queda definitiva da monarquia, cessou a atuação dos profetas de Israel. Não se pode dizer que a profecia morreu, mas que a atuação dos profetas deixou de ser algo marcante na vida do povo de Deus. O que levou alguns estudiosos a dizer que os profetas desapareceram ao findar a monarquia.
Acontece que a ação profética havia sido nacional e localizada. Após a volta do exílio a conjuntura nacional passou a ser diferente; e as interferências de costumes estrangeiros eram mais intensas. O povo precisava manter a fé e a esperança. Mas a interferência externa era intensa e, em muitos casos, matava a esperança. Além disso, várias das promessas dos profetas ainda não se haviam cumprido. Ao desaparecerem, os profetas deixaram um vazio que precisava ser preenchido a fim de se manter a fé, a identidade e a perspectiva de um futuro. “A falência da profecia deixa um vazio que precisa ser preenchido, pois os problemas continuam. É aí que surge a apocalíptica. Neste sentido, a apocalíptica é filha e herdeira da profecia. Parece que grupos proféticos marginalizados pelo crescente poder sacerdotal vão sendo empurrados na direção da apocalíptica” (SILVA, 2008). E a perspectiva nacional/local se amplia para um nível internacional e escatológico.
Um dos elementos importantes, da profecia, permaneceu: a expectativa do “dia do Senhor (YHWH)”. Dia em que se manifestaria a justiça divina. Essa perspectiva permaneceu e se tornou um dos pilares da apocalíptica. Entretanto o dia do senhor, deixou de ser um momento histórico para ganhar configurações cósmicas; a justiça divina não recairá somente contra os soberanos cruéis, mas sobre todos os infiéis; já não se tratava mais de um evento histórico, mas do fim da história. Em razão disso a divisão do mundo em dois planos: o mundo terrestre (de baixo) e o mundo do alto (celeste). Aliás, essa visão também estava presente nas palavras de Jesus (Jo, 8,23) e manifestava o novo conflito, agora não mais do povo contra os poderosos da terra, mas dos filhos da luz contra os filhos das trevas (Lc 16,8).
Entretanto, e justamente para mostrar a proximidade dos dois estilos literários, a revelação apocalíptica é, também, chamada de profecia. “Feliz o leitor e os ouvintes desta profecia” (Ap. 1,3). E isso também mostra mais uma característica deste gênero literário: enquanto a profecia havia sido uma prática do profeta falando contra os opressores, na apocalíptica se trata de um discurso literário a ser apresentado ao um grupo de ouvintes; enquanto a profecia destina-se ao publico externo – rei, templo, falsos profetas, opressores do povo – a apocalíptica destina-se ao público interno: aos fiéis atribulados, assustados e carentes de um norte.
Neri de Paula Carneiro: Mestre em Educação pela UFMS. Especialista em Educação; Especialista em Didática do Ensino Superior; Especialista em Teologia; Professor de História e Filosofia na rede estadual, em Rolim de Moura – RO. Filósofo; Teólogo; Historiador; Professor de Filosofia e Ética na Faculdade de Pimenta Bueno (FAP). Jornalista e produtor e apresentador de programa radiofônico.
Referências
BÍBLIA de Jerusalém, São Paulo: Paulinas, 1989
CEBI (Centro de Estudos Bíblicos), Evangelho de João e Apocalipse. São Paulo: Cebi/Paulus, 2000.
CHARPENTIER, Etiene et al. Uma leitura do apocalipse. São Paulo: Paulinas, 1983.
GORGULHO, G.S.; ANDERSON, Ana Flora. Não tenham medo: apocalipse. 3 ed. São Paulo: Paulinas, 1981.
MESTERS, Carlos; OUROFINO, Francisco. Apocalipse de João, Esperança, Coragem e Alegria. 2 ed. São Paulo: Cebi/Paulus, 2002
SILVA, Airton José da. Apocalíptica: Busca de um tempo sem fronteiras. disponível em: acessado em 20/07/2008
Publicado por: NERI DE PAULA CARNEIRO
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