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A Celebração do Mistério de Cristo: uma introdução à sua teologia

O propósito do presente trabalho é apresentar quais as respostas que a Liturgia da religião cristã tem a dar para a celebração e para a missão do homem cristão.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Introdução

O propósito do presente trabalho é apresentar quais as respostas que a Liturgia da religião cristã tem a dar para a celebração e para a missão do homem cristão e de como ela pode contribuir para conferir relações corretas e equilibradas no processo de vida e santidade do homem contemporâneo na busca e na compreensão do fiel em seu contacto com a dimensão transcendente e na valorização das realidades religiosas de uma comunidade em especial qual a sua contribuição para desenvolvimento da vida plena e no encontro com o transcendente.

O que é Liturgia?

Segundo Boróbio, a Liturgia é a realidade mais viva e a expressão mais eloqüente da vida da Igreja. Por intermédio da Liturgia, a Igreja anuncia sua identidade reconhecida e suas convicções renovadas. O mesmo autor ainda proclama que na liturgia, a Igreja faz a experiência do seu ser e do seu existir, é a própria Igreja em sua mais densa relação simbólica com Deus e com a sua totalidade.

De fato, a liturgia é transformar em ação aquilo que conhecemos de Deus por um ato intelectual, é a ação pela qual tornamos acessível o Mistério de Deus. Para agir é necessário conhecer, desta forma sem a Teologia não há Liturgia. A ação em liturgia é o rito, é a maneira de celebrar, é o que compreendemos do mistério de Deus.

Assim têm-se dois desafios a liturgia ideologizada e a ritualização: - A liturgia ideologizada nasce da ideologia do líder espiritual que conduz uma determinada comunidade e com isso pode levar a algum desvio daquilo que constitui a liturgia universal da Igreja. Faz-se necessário muito cuidado para não se cometer equívocos, com conseqüência, os quais poderão ser causa de danos para a fé do povo de Deus. Em segundo lugar a ritualização é a excessiva preocupação com o rito prescrito não alimenta a fé, essa é alimentada pelo Mistério de Deus, ou seja, pela teologia, a qual valoriza e pereniza os elementos que constituem a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Do mistério de Deus intelectualizado faz-se brotar a liturgia.

Pode-se dizer também que Liturgia é Memorial, é um memorial que comemora alguém do passado para tornar presente um acontecimento fundamental. Esse acontecimento realizou-se uma vez por todas, mas continua hoje. Portanto, esse memorial traz a presença eficaz do ontem e do hoje, também pela presença do espírito, a liturgia não deixa ser uma antecipação. Diz-se então que a liturgia traduz um tempo de eternidade. Esse memorial acontece em dois momentos: na palavra com o rito da palavra e na fração do pão com o rito eucarístico, desta forma pode-se dizer que o rito existe em vista da memória. 

A Liturgia Católica

Segundo Boróbio, o mundo litúrgico era considerado como um todo misterioso e intocável, uma realidade fixa e inalterável por todas as épocas. Reflexo do mistério e da perenidade do próprio Deus. Essa atitude mental foi classificada de monofisismo litúrgico. Na realidade a liturgia que se celebra é resultado da contribuição e do trabalho de muitas gerações e de pessoas anônimas. No culto cristão, a Eucaristia é a parte principal e primordial sacramentaria na vida das comunidades cristãs, do ponto de vista da celebração e da teologia.

O culto no Novo Testamento exprime o reconhecimento da união radical que liga o homem com Deus. Igualmente, o culto cristão representa uma continuidade e uma ruptura à tradição judaica do Antigo Testamento. Pode-se dizer que as raízes do culto cristão encontram correspondência no mundo judaico, tanto bíblico com extra-bíblico. Porém as primeiras gerações de cristãos tinham a característica de uma anticultualidade, refletida em parte na atitude pessoal de Jesus diante do tema culto. Apesar de viver e atuar dentro do sistema de culto, Jesus também transgride a ordem cultual de Israel, manifestando sua realidade sobre ela. Jesus na véspera de sua morte anuncia o fim de todo culto sacrificial que propunha intercambio comercial com Deus.

No momento da morte de Jesus, o rompimento do véu significa para os cristãos o fim definitivo do culto judaico como era conhecido. Desta forma no culto das primeiras comunidades, o Evangelho é o fundamento do culto cristão. O acontecimento da morte e ressurreição de Jesus marca que o culto a partir de então. Aquele que foi ressuscitado foi crucificado por Israel como conseqüência de seu comportamento religioso e de culto, o que comprova que o culto por si mesmo é incapaz de realizar a salvação. Na realidade os cristãos querem transformar as suas vidas num culto agradável a Deus, para isso precisam fazer a vontade de Deus Pais, através do seguimento e imitação do seu Filho Jesus Cristo.

As primeiras assembléias tinham por base os ditos de Jesus que os teólogos hoje denominam como fonte Q e leva outra denominação Didaché. A leitura da didaché recorda as ações de Jesus Cristo e também acarreta a leitura dos livros do Antigo Testamento. Esse ato encontra similaridade na prática das assembléias dos Judeus nas sinagogas. O culto judaico, na época de Jesus, era composto por uma profissão de fé, bênçãos, duas leituras e um comentário sobre a palavra de Deus. São Paulo, em 1Cor 14, recomenda duas formas de culto: uma para celebrar a ceia do Senhor e outra para orações e proclamações da palavra. Porém, os cristãos tinham na refeição o significado da memória de Jesus Cristo e aos poucos foram criando suas próprias assembléias tendo na fração dos alimentos a fórmula para celebrar a ceia do Senhor.

Os ministérios

A assembléia dos cristãos não é uma simples reunião para recordar os ensinamentos de Jesus, mas uma reunião de pessoas que tem a fé de que Jesus é o Filho de Deus e que Ele veio para divulgar e viver essa verdade única e que se constitui o caminho para a salvação dos homens. O culto cristão é uma assembléia que reúne pessoas com diversos carismas, distintas posições hierárquicas e variados ministérios litúrgicos.

Portanto, a assembléia dos cristãos é uma manifestação convocada pelo Espírito Santo de Deus para celebração do mistério de Jesus Cristo na fé, que se estende na missão de anunciar e viver a Palavra do Senhor. Na liturgia, os participantes tem tarefas definidas conforme os dons recebidos do Espírito Santo. A constituição Sacrosantum Concilium, oriunda do Concílio Vaticano II, reforça a idéia dos papéis definidos de cada fiel na liturgia, ao declarar no artigo 28 que: “Nas celebrações litúrgicas, cada qual, ministro ou fiel, ao desempenhar sua função, faça tudo e só aquilo que pelas normas litúrgicas lhe compete.” A assembléia litúrgica é liderada por um presidente, denominado sacerdote, que atua em “persona crhisti” e ao seu entorno articula-se diversas atividades distribuídas em os fiéis. A função do presidente é coordenar a participação de todos os presentes no culto cristão.

O cargo de coordenação é mencionado em escritos do 1º século mencionando as funções de presidir na pessoa de Cristo, que pela sua ordenação, permite-lhe recitar orações e realizar gestos presidenciais, dirigir o conjunto da ação celebrativa sendo, portanto, uma ação funcional e mística. O sacerdote também preside o culto em nome da Igreja pela qual foi ordenado, sagrado e da qual é membro permanente. Existem outros ministérios ordenados igualmente importantes e fundamentais para o bom êxito da celebração litúrgica, são eles: a diaconia, o eletorato e o acolitato. Cabe ao diácono a proclamação do evangelho, motivar orações comunitárias e auxiliar o presidente. Ao leitor compete à proclamação das leituras do Antigo e Novo Testamento nas Assembléias e ao acólito cabe servir ao altar durante as apresentações das oferendas.

A seguir, relacionam-se os outros ministérios, os quais, suas funções não exigem uma ordenação específica, são eles: salmistas, cantores, instrumentalistas, dirigentes do canto, libríferos, turiferários, crucíferos, equipes de acolhida, presidentes das celebrações dominicais da Palavra, comentaristas, padrinhos do batismo e da crisma, testemunhas do matrimônio e ministros extraordinários da comunhão eucarística, etc. Conforme o caderno de estudos da disciplina é necessário realçar a importância da equipe pastoral litúrgica e a equipe de celebração: à primeira cabe a organização das celebrações segundo o tempo litúrgico, com a redação de comentários e orações para os fiéis; à segunda compete a execução em cada celebração da programação litúrgica definida.  

O espaço e o tempo na liturgia

Segundo Boróbio, para o cristão o templo em si não é o lugar da presença de Deus (Jo 4,23), mas o lugar da assembléia em que Deus se faz presente. A igreja enquanto comunidade de crentes reunidos, congregados em torno de Cristo, é o novo templo.

O templo físico não se reduz a um mero abrigo para acolher a assembléia, mas tem a função de exprimir em pedra, em cor e em luz todo o simbolismo da celebração festiva de todos os mistérios cristãos. Existe uma concepção que a organização do espaço seria de um lugar para os ministros ordenados e outro espaço para os fiéis.  Ao contrário, o templo deve estar a serviço da facilitação e potenciação expressiva das ações das celebrações litúrgicas. “O que de fato deve ser determinante na organização do espaço celebrativo não é tanto o binômio presbitério-nave quanto o trinômio altar-sede-púlpito, isto é os locais concretos do banquete eucarístico, da presidência e das leituras, ao mesmo tempo sinais triforme de Cristo: no alimento sagrado, no sacerdote e na Palavra”, (Boróbio, 1990).

Segundo o mesmo autor, esses são os três pólos da celebração cristã em torno dos quais, a assembléia se reúne. Contudo deve se evitar o distanciamento dos pólos uns dos outros, sobretudo dos fiéis. Uma celebração equilibrada deve possuir um adequado ordenamento do espaço litúrgico. Ou seja, a estrutura arquitetônica precisa favorecer a participação de todos na liturgia, deste modo a edificação de novos templos possui uma concepção visando contemplar essa participação. “O rito atual de dedicação de uma Igreja e de um altar é muito rico em orações, leituras e símbolos, para expressar a realidade da assembléia cellebrante como lugar da presença de Deus e o templo como realidade simbólica dessa Igreja-povo”, (CLARETIANO, 2010).

Segundo Boróbio, a celebração verdadeira alcança a sua plenitude graças à combinação obtida entre duas coordenadas: o tempo e o espaço. É importante perceber que o tempo está relacionado com o momento no qual a assembléia se reúne. Esse momento festivo é a hora em que todos celebram, na alegria, a presença de Cristo, que nos salvou em sua páscoa.

Esse momento no tempo recebe o nome de Kairós, palavra de origem grega, significa o tempo oportuno para a manifestação salvífica de Deus. O tempo litúrgico ocorre na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo e seu calendário está centrado no mistério da páscoa de Cristo. O domingo determinado como “primeiro dia da semana” é o dia fixado para celebrar a memória do mistério pascal de Jesus Cristo. O domingo simboliza o dia em que os cristãos celebram a ressurreição de Jesus Cristo e a sua presença viva no seu meio, por isso ele o fundamento e o núcleo do ano litúrgico. O momento de exaltar a salvação de Deus, através de seu Filho, é denominado páscoa.

A estrutura e as Leis da Celebração Litúrgica

Segundo Boróbio, a celebração cristã possui uma grande variedade de formas, adapta-se aos tempos e lugares, aos múltiplos contextos, diferenciados entre si e determinantes por uma ampla gama de realidades sociais e culturais. Segundo o caderno de estudos da disciplina, as celebrações litúrgicas classificam-se em três formas: sacramentais, não sacramentais e em tempos e lugares diversos. Cada celebração obedece a uma determinada estrutura que a conduz, esta por sua vez é composta de linguagem e a símbolos próprios. Têm-se as seguintes estruturas:

A Estrutura verbal-simbólica compõe-se de dois momentos, a Palavra de Deus e o símbolo que o representa. A Palavra de Deus é conhecida através de: leituras bíblicas, orações, salmos, cânticos e homilia. O pólo simbólico refere-se aos gestos e movimentos corporais, mediante esses elementos materiais é reconhecido um sentido simbólico. A estrutura dialógica é outra forma de entender a liturgia, através do diálogo que se realiza entre Deus e seu povo entre o “noivo (Cristo) e a esposa (Igreja)”, pode-se dizer que este diálogo tem um caráter esponsorial. Essa estrutura é entendida na celebração da missa da seguinte forma: 1) Deus fala: primeira leitura; 2) Povo responde: salmo responsorial; 3) Deus fala novamente: segunda leitura; Resposta do povo: aclamação ao Evangelho; Cristo fala: Evangelho; Resposta da comunidade: profissão de fé e preces. Neste tipo de estrutura dialoga-se com Deus nos mesmos termos em que Ele se revela.

O significado teológico subjacente a essas estruturas é que só Deus tem a iniciativa da salvação. É ele quem se revela gratuitamente e convoca os homens para dela participarem, viabiliza assim, a assembléia dos cristãos que se reúne e começa por esse anúncio, (BORÓBIO, 1990).

Considerações Finais

Após a abordagem de diversos tópicos da disciplina de Introdução à Liturgia pode-se refletir um pouco sobre a sua importância como fio condutor das celebrações cristãs em que Cristo exerce seu sacerdócio e os sinais sensíveis realizam aquilo que significam pelo homem que glorifica a Deus e por Ele é abençoado.

É relevante conhecer o processo de formação das tradições da Liturgia Cristã, sobretudo no que se refere à liturgia das celebrações judaicas, passando pela liturgia das primeiras comunidades cristãs, até a consolidação da liturgia como a conhecemos hoje. Igualmente fundamental, foi a descoberta da liturgia como ciência litúrgica e as suas fontes, cujos grupos reduzem-se aos livros litúrgicos, a Sagrada Escritura, aos Escritos dos Padres da Igreja, às homilias, catequeses, tratados de teologia referentes à liturgia, os concílios, o mundo das religiões e às ciências antropológicas, (BORÓBIO, 1990).

O estudo de tais processos leva à compreensão da expressão do significado de que a Liturgia é a fonte, o cume e o ápice de toda a ação da Igreja. Com isso aumenta o respeito que se devem ter para com seus ritos, preceitos e doutrinas. Ou seja, a discussão dos valores intrínsecos de cada tradição litúrgica serve como parâmetro para vislumbrar os limites da liberdade humana em sua trajetória e em que medida esta deve ou não se submeter aos desígnios de Deus nas questões referentes a este trabalho.

Uma reflexão importante são as questões referentes à interface entre as tradições litúrgicas, pelo conteúdo exposto neste trabalho é que ficou claro que as diversas expressões da liturgia vão continuar seu processo de evolução e continuar um processo de aproximação no sentido do diálogo e a dimensão imanente e a transcendente nesta complementaridade, cujo objetivo é a salvação humana, dom gratuito de Deus para a humanidade.

Por outro lado nas questões referentes aos ministérios da assembléia celebrante abriu-se uma nova visão para o aluno compreender o papel dos diversos atores que participam numa assembléia religiosa, suas especificidades, seus significados e principalmente a cooperação requerida para o êxito de uma feliz celebração litúrgica. O grande desafio é vislumbrar de que forma a assembléia religiosa deve se mobilizar para responder positivamente a esta questão. Evidentemente que não se trata de uma questão estanque, mas de um início do processo de diálogo objetivo entre os diversos segmentos da comunidade orante para que não se perca a riqueza cultural existente em cada um deles. Trata-se então, de criar um fórum permanente de diálogo que reflita e canalize os papéis específicos de cada grupo ministerial participante do culto religioso.

Finalmente conclui-se que há um longo caminho para a humanidade percorrer na busca de sua salvação e a liturgia desempenha um papel fundamental para o encontro com a graça, a bondade e o amor do Criador. Suas fórmulas eficazes traduzam fielmente os conteúdos de valores de geração em geração, agora neste tempo com apoio de novas tecnologias que perenizem, sem a perda da magia e do encanto, as imagens que a liturgia nos seus diferentes aspectos requer que fossem assim preservadas e resguardadas para o aguardado encontro daqueles que alvejaram a roupa no sangue do cordeiro.

Referencias

- BORÓBIO, D. CANALS, J.M. BASURKO, X. GOENAGA, J.A. MALDONADO, L. FEERNANDEZ, P. FLORISTAN, C, A Celebração na Igreja, São Paulo/São Paulo: Loyola, 1990.


Publicado por: Robson Stigar

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