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Resenha do livro “O Bebê do Amanhã - um novo paradigma para a criação dos filhos”

Confira aqui uma resenha do livro “O Bebê do Amanhã - um novo paradigma para a criação dos filhos”.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

O livro “O Bebê do Amanhã” atravessa com seus postulados questões substanciais da contemporaneidade, como: o desenvolvimento saudável e desenvolvimento de transtornos psicológicos, as questões educacionais na formação da criança até questões éticas e filosóficas, como aborto e o início da vida. As teses de Verny e Weintraub mostram a força da relação entre o ser e o mundo, na construção da personalidade, desde o início da vida. Logo, são ferramentas preciosas para pais e educadores.

Na contemporaneidade, a psicopatologia infantil está sendo diagnosticada em número superior a outras épocas. Nos EUA, 9% das crianças em idade escolar são diagnosticadas com TDAH e medicalizadas. O Brasil é o segundo colocado em diagnósticos de TDAH e medicalização, vindo logo atrás do EUA. O livro torna-se uma arma contra os que defendem a etiologias deterministas de tais transtornos e, ainda, ao apontar as relações familiares como principal fator para o desenvolvimento das potencialidades da criança, mostra que, possivelmente, o principal fator para o desenvolvimento de neuroses infantis são relações conturbadas estabelecidas desde o início da vida, e que a medicalização não é o melhor caminho para a intervenção nos ditos transtornos comportamentais e sim, uma reconfiguração dessas relações.

As teses essenciais do livro “O Bebê do Amanhã", de Thomas Verny e Pamela Weintraub, são três: 1) A interação bebê/criança e o ambiente (mãe) é o fator mais forte para o desenvolvimento de uma personalidade saudável; 2) Interações positivas, carregadas de afeto positivo, facilitarão o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança, e as negativas terão efeito oposto; 3) Essa interação começa desde o momento da concepção, ou seja, ainda no momento uterino. Para defender tais teses, Verny e Weintraub se fundamentam nas modernas pesquisas da Neurociência.

A interação com o meio ambiente não ocorre apenas após o nascimento, e sim desde o momento da concepção, sendo então, a mãe, o meio ambiente do feto e esta inserida no seu próprio ambiente. Logo, a mãe passará sinais do ambiente para sua criança. Verny e Weintraub colocam que as experiências, do pré-natal e após o parto, são as mais importantes para desenvolvimento sadio da pessoa.

Vários estudos, do campo da Neurociência, são apresentados no livro. Um deles mostra que a aprendizagem ocorre em momentos específicos da vida criança e não, de modo contínuo, onde uma janela na área cerebral, responsável por tal aprendizagem, é aberta, e a criança se torna apta a receber a aprendizagem, por exemplo: matemática, música, linguagem, etc. Outro estudo que impressiona é o que mostra a passagem de sinais do ambiente para o feto feito pela mãe.

O estudo que se coaduna com a tese defendida por Verny e Weintraub é o projeto Genoma, de Bipton (98). Ele mostra que mais de 95% do DNA humano não codificam dado, são interruptores. Tais genes são responsáveis por ativar e desativar os genes que vão determinar as nossas características genéticas. Ou seja, uma característica genética pode ser, ou não, ativada pelos seus interruptores, diminuindo assim, a força de hipóteses do postulado do determinismo genético. Impressiona, também, nas descobertas recentes, a velocidade do desenvolvimento das potencialidades da criança, bem superior ao que se imaginava. Com 22 semanas, os fetos já mostram padrões de ondas cerebrais semelhantes aos adultos.

O feto, desde que começa a existir, está em conexão com os sinais emocionais que a mãe envia para ele, e tal fator influenciará o estado emocional do feto e todo seu desenvolvimento. As vias de comunicação, que criam um verdadeiro diálogo da criança com a mãe e pela mãe com o mundo externo, dão-se pelo cordão umbilical e são por três canais: 1) Comunicação molecular, quando as moléculas maternas, inclusive os hormônios, chegam ao feto por meio do cordão umbilical e placenta; 2) Sensorial, quando a mãe fala, acaricia a barriga, conversa, caminha ou corre, o feto já tem seus sentidos desenvolvidos para apreender  tal comunicação de alguma modo, mesmo que rústico ainda; 3)Intuitiva, quando a forte ligação mãe e bebê faz com que ocorra a ligação de pensamentos, sentimentos e  estados emocionais entre eles.

Desta maneira, nota-se que a criança, no útero da mãe, mais do que percebe os estados afetivos da mãe, ela os sente no próprio corpo. Logo, o bebê sentirá quando a mãe está feliz, triste, alegre, com raiva, ansiedade, angústia ou medo e, mais do que isso, sentirá os verdadeiros sentimentos que a mãe tem para com ele, se o ama, se o deseja, se o teme, se odeia ou se o repulsa, entre outros tanto sentimentos possíveis . Pesquisas de várias áreas mostram como estados afetivos positivos influenciam o melhor desenvolvimento das habilidades emocionais e cognitivas da criança.

“Antes do nascimento, a experiência ajuda a estabelecer os circuitos primários do cérebro, formando uma base par a o desenvolvimento...” (p 210).

Um parênteses se faz importante: não existe pessoa, nem mãe, perfeita, e é provável, que todos os esses sentimentos estejam presentes em todas as mães, em maior ou menor escala, bem como anseios e dúvidas em relação ao novo futuro que está por vir. Neste ponto, Verny e Weintraub colocam a importância de uma “faxina emocional”, o que não significa jogar as emoções e sentimentos ruins fora, tal coisa não é possível, mas, sim, falar sobre eles, ser sincera consigo mesma, pois a melhor maneira de lidar com os sentimentos negativos é assumi-los, não recalca-los e enfrentá-los de frente.

Outro momento crucial na vida da criança é o parto. O parto é, provavelmente, a primeira experiência traumática da vida da criança, onde ela vai sair do ambiente ótimo do útero materno para o ambiente externo, cheio de ameaças, e terá que fazer movimentos, rumo a sua adaptação. A primeira difícil é adaptação ocorre logo na respiração, quando a criança, que antes obtinha oxigênio, através do cordão umbilical e da placenta, terá que se esforçar  para conseguir este oxigênio do meio ambiente. As marcas do parto são mantidas em nossa memória inconsciente, corporal para sempre na vida. A tarefa, que se impõe neste momento, é promover um parto mais acolhedor possível. Verny e Weintraub citam o programa de estimulação neonatal de Panthuraamphorn (1994) de Bangkok, no qual seis elementos são fundamentais: pouca luz e pouca estimulação visual, som ambiente abafado e pouca estimulação auditiva, toques suaves (o bebê necessita sentir o toque da mãe), calor (salas em temperatura ambiente com ar-condicionado desligado) e movimentos e atividades de apoio. Tais medidas visam diminuir o impacto da mudança do útero para o ambiente externo mundano.

O recém-nascido é um ser muito mais completo do que se cria antigas teorias. Ele já apresenta estágios muito avançados de consciência e percepção sensorial. Assim sendo, percebe e apreende o ambiente a sua volta, sendo sensível a experiência que viverá desde seu nascimento. As experiências positivas e as negativas, como a de dor, permanecerão, na memória emocional, para o restante da vida.

As experiências afetivas vividas pelo recém-nascido não afetarão apenas o desenvolvimento emocional, mas, também, o desenvolvimento cognitivo. As modernas teorias neurocientíficas mostram a interligação dos circuitos neurais destas áreas específicas do cérebro, principalmente, no que tange o momento do desenvolvimento.  Então, experiências afetivas positivas tendem a acelerar o desenvolvimento global destas áreas, enquanto, as negativas têm efeito oposto.

“A pesquisa (Shore, 1997) demonstra que a aquisição da linguagem, a cognição e a inteligência reforçam-se mutuamente e dependem da relação entre a criança e a pessoa que cuida dela. O que o oxigênio é para o cérebro, as palavras pronunciadas com delicadeza, respeito e amor são para a jovem psique.” (p 209).

Portanto, é visto que o ser é, integralmente, corpo e psique, lançado na existência, desde o início da vida, e encontra, na interação com o mundo, o centro de sua formação. O corpo fisiológico se modifica de acordo com o modo que vai se estabelecendo sua relação com o mundo. A experiência, nessa relação, inevitavelmente, deixará marcas na sua existência.

É importante salientar que o livro formula, com bases em evidências científicas, condições ideais para o desenvolvimento da criança, porém, é mister,  ressaltar que o ideal, provavelmente, nunca é alcançado. Não se trata de pais negligentes, mas sim de que, as exigências e contingências da vida fazem com que seja improvável que alguém consiga atender todas as premissas enumeradas no livro. Porém, o ideal é sempre algo a ser buscado, mesmo que nunca alcançado, por isso, o livro é arcabouço fundamental de informações, e é presumível que pais afetuosos, suficientemente maduros e interessados, façam bom uso dessas informações e possibilitem um bom ambiente para o desenvolvimento das potencialidades da criança.

Referências:

O Bebê do Amanhã - um novo paradigma para a criação dos filhos (2014). Verny, Thomas R. e Weintraub, P.; Barany, Editora; São-Paulo - SP.

Why French Kids Don't Have ADHD; Wedge, M – Psychology Today – disponível em http://www.psychologytoday.com/blog/suffer-the-children/201203/why-french-kids-dont-have-adhd  acessado em 31/12/2014


Publicado por: Roberto da S. Melo

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