O trabalho realizado no NASF por alunos de Psicologia
A experiência de alunos do curso superior de Psicologia no Núcleo de Apoio à Saúde na Família (NASF) e o Alcoolismo, enquanto dependência química do indivíduo (ao álcool), considerada doença pela OMS.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
RESUMO
Este artigo relata a experiência de alunos do curso superior de Psicologia no estado de Mato Grosso do Sul em um estágio denominado PINESC, onde estes observam e participam de reuniões com diversos profissionais da área da saúde mental da família, participam de grupos de atendimento, como também de atendimentos direcionados em outras unidades.
Palavras–chave: NASF; atenção básica; saúde da família; alcoolismo.
ABSTRACT
This article reports the experience of students of a college of Mato Grosso do Sul State of Psychology in a stage called PINESC where they observe and participate in meetings with several professionals in the field of family mental longing, participate in service groups as well calls directed to other unit.
Keywords: NASF; primary care; health care; family ; alcoholism.
INTRODUÇÃO
O trabalho retratado no presente artigo está sendo realizado por alunos do terceiro semestre do curso de Psicologia na Faculdade Uniderp Anhanguera Matriz, na capital de Mato Grosso do Sul, Campo Grande.
Em se tratando deste artigo, o estágio chamado PINESC consiste na Interação ensino-serviços-comunidade (Programa de Interação Ensino-Serviço-Comunidade). No 1º semestre do curso de Psicologia em tela, o aluno entra em contato com a realidade no programa e, a partir deste momento, comparece um dia da semana na Rede Municipal de Saúde, no intuito de iniciar a compreensão do funcionamento do sistema local de saúde, bem como conhecer o trabalho desenvolvido pelas equipes de Saúde da Família. No segundo ano, o aluno do PINESC vai acompanhar psicólogos da rede pública, onde vivencia diversas atividades e a realidade dos serviços de saúde. A inserção do aluno nessa realidade é imprescindível para que ele tenha uma ótica realista do contexto de sua região e para que ele se capacite de forma adequada e profissionalmente.
Dentre os princípios que regem atualmente o atendimento à população em relação à saúde está o matriciamento, que consiste no suporte realizado por profissionais de diversas áreas especializadas dado a uma equipe interdisciplinar, com o intuito de ampliar o campo de atuação e qualificar suas ações.
A Atenção Primaria da Saúde é definida como o primeiro contato na rede de assistência dentro do Sistema de Saúde. Tem quatro atributos essenciais: o acesso, isso é, o primeiro contato, a continuidade do cuidado, a integralidade da atenção e a coordenação do cuidado dentro do sistema. O processo de trabalho das equipes de Saúde da Família é o elemento chave deste projeto, constituído por um médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de saúde. (Brasil, Ministério da Saúde, 2010)
Em nosso país a Atenção Primária à Saúde (APS) representa um complexo conjunto de conhecimentos e procedimentos médicos de Saúde Pública e demanda uma intervenção ampla em diversos aspectos relacionados à necessidade da população e de cuidados, para que possa ter efeitos positivos sobre a qualidade de vida da população. Trata-se de um primeiro contato, bem como todo o acompanhamento de saúde assistencial da família, caracterizando-se pela continuidade e integralidade da atenção, colocando em pratica os princípios da territorialização e regionalização.
O NASF é constituído por uma equipe que atua com a promoção de saúde e humanização, desenvolvendo estes princípios. Tem como área de atuação e trabalho a divisão em nove segmentos: saúde da criança; do adolescente; do jovem; saúde mental; reabilitação; saúde integral do idoso; alimentação e nutrição; serviço social; saúde da mulher; assistência farmacêutica; atividade física e práticas corporais, integrativas e complementares.
O NASF é uma equipe composta por profissionais de nível superior de áreas técnicas e da Saúde ou não, que devem atuar de maneira integrada e apoiando os profissionais das equipes de Saúde da Família, bem como das equipes de Atenção Básica para populações especificas, compartilhando as práticas e saberes em saúde nos territórios sob a responsabilidade destas equipes.
Sua missão integra a responsabilização e a gestão compartilhada, não se constituindo porta de entrada do sistema para os usuários, mas apoiando as equipes de Saúde da Família. Seu território é um conjunto de sistemas naturais e artificiais que engloba indivíduos e instituições.
A interdisciplinaridade reside no fato de todas as ações e estratégias se complementarem, de modo que as equipes do NASF devem atuar em conjunto com as equipes de Saúde da Família. No projeto interdisciplinar não se ensina, nem se aprende: vive-se, exerce-se. Nesse aspecto, também é importante salientar a participação social, a intersetoriedade, a educação permanente em saúde, a humanização do atendimento e a promoção da saúde.
O NASF veio com o intuito de ampliar a área de ações da Atenção Básica, bem como sua eficiência, devendo buscar a contribuição para a integralidade do cuidado aos usuários do SUS, sobretudo, por intermédio da ampliação da clínica, auxiliando no aumento da capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de saúde, tanto em termos clínicos quanto sanitários e ambientais dentro dos territórios.
Uma de suas ferramentas tecnológicas é a Clínica Ampliada, onde atuam todos os profissionais de saúde nas suas respectivas prática de atenção à população, objetivando com isso ajustar o que cada profissão pode contribuir para as necessidades dos usuários.
O principal objetivo de implantar o NASF no município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, é aumentar efetivamente a resolutividade e a qualidade da Atenção Básica. Isso deve ser realizado por meio da ampliação das ofertas de cuidado, do suporte ao cuidado e à intervenção sobre problemas e necessidades de saúde, tanto em âmbito individual quanto coletivo. Dessa forma, amplia-se o repertório de ações da Atenção Básica, a capacidade de cuidado de cada profissional e o acesso da população à ofertas mais abrangentes e próximas das suas necessidades.
A rede de Saúde Mental é composta por diversas ações e serviços específicos com ações de saúde mental na atenção primária, envolvendo os Caps ambulatórios, residências terapêuticas, leitos de atenção integral em saúde mental, programa de volta para casa, cooperativas de trabalho e geração de renda, centros de convivência e cultura, dentre outros.
A Atenção Primária em Saúde foi definida pela OMS-Organização Mundial da Saúde em 1978 como:
“Atenção essencial à saúde baseada em tecnologia e métodos práticos, cientificamente comprovados e socialmente aceitáveis, tornados universalmente acessíveis a indivíduos e famílias na comunidade por meios aceitáveis para eles e a um custo que tanto a comunidade como o país possa arcar em cada estágio de seu desenvolvimento, um espírito de autoconfiança e autodeterminação. É parte integral do sistema de saúde do país, do qual é função central, sendo o enfoque principal do desenvolvimento social e econômico global da comunidade. É o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, levando a atenção à saúde o mais próximo possível do local onde as pessoas vivem e trabalham, constituindo o primeiro elemento de um processo de atenção continuada à saúde”. (Alma-Ata,1978).
Resta acrescentar que entre as atividades complementares de Atenção à Saúde estão: a realização de palestras, grupos de discussões e orientação a gestantes, usuários com problemas de ordem psíquica, com substâncias psicoativas, adolescentes, crianças, distribuição de materiais fornecidos pelo Governo Federal de auxilio à gravidez e informativos contendo orientações sobre bem estar.
Assim sendo, e com fundamento nas considerações acima relatadas, o presente trabalho trata, entre outras questões, do Alcoolismo, enquanto dependência química do indivíduo (ao álcool), considerada doença pela OMS e um problema grave de saúde pública em nosso país. O uso constante do álcool, descontrolado e progressivo, compromete seriamente o bom funcionamento do organismo, levando a consequências irreversíveis para o usuário. A pessoa dependente do álcool, além de prejudicar a sua própria saúde e vida, acaba afetando a sua família, amigos e colegas de trabalho. E, durante as atividades no PINESC, o aluno do curso de Psicologia em apreço, teve contato com problemas dessa natureza.
DESENVOLVIMENTO
O estágio realizado por aluno do curso de Psicologia do terceiro semestre da faculdade Anhanguera Uniderp Matriz, nesta capital, Campo Grande, MS, é a principal motivação deste trabalho, de forma que, a partir de então, serão relatadas as suas respectivas atividades.
Uma das unidades que está sendo frequentada pelo estagiário em apreço, ressaltando que o trabalho se completa e realiza em três unidades, é um posto de amplo atendimento. O prédio correspondente é bem iluminado e arejado, com um salão principal com cinquenta cadeiras para a espera do agendamento, uma recepção, uma farmácia, dois corredores internos contendo banheiros separados por gênero e salas de atendimento médico, uma copa, uma porta para uma área externa com três salas destinadas à administração e uma parte de trás para o estacionamento dos carros dos funcionários e colaboradores em geral da unidade.
Durante os dias em que se realizou o estágio do PINESC, foi observada a necessidade de se entender melhor o contexto mais amplo que envolve as pessoas dependentes do álcool, os alcoólatras, bem como todo o processo de aceitação da condição de patologia, seu tratamento através de atendimentos com profissionais habilitados, seu tratamento ambulatorial e a reabilitação, que consiste em visitas periódicas às unidades para avaliação do Psicólogo.
Nesse processo (estágio), as pessoas envolvidas passaram por períodos de dúvidas, recaídas, pois, no caso do uso descontrolado do álcool, estes tem fácil acesso à bebida, o que torna um fator muito prejudicial ao bom andamento do tratamento. Assim, por muitas vezes nesses tipos de tratamentos, há desistência ou ate mesmo resistência de pacientes. Entretanto, a equipe de atendimento acompanha os casos com empenho, procurando sempre da forma mais eficaz ajudar esses pacientes em sua cura.
Percebe-se que pessoas envolvidas com o álcool se afastam da família e a da convivência familiar fica muito prejudicada e, por vezes, até inexistente. Isso, com certeza, é um fator negativo ao tratamento, pois é sabido que em qualquer patologia, principalmente a se refere este artigo, o afeto e a atenção da família auxilia muito no controle emocional dos pacientes, ajudando em sua reabilitação.
Assim é imprescindível o apoio público através de atendimento na rede de assistência de saúde e social e que a comunidade busque ver estes enfermos de forma mais respeitosa, sem preconceitos e com oportunidades de trabalho, tornando possível a cura do paciente.
O caso observado, que motivou este artigo, trata de um professor de música em processo de reabilitação que voltou a ministrar aulas e obteve por fim apoio familiar.
Não há um tempo/prazo determinado para se fixar em relação ao tratamento e, quando um paciente estará realmente reabilitado, sabe-se que se trata de um transtorno muito grave diante de todo contexto já abordado. Assim fica cada vez mais clara a importância de todo o trabalho que vem sendo realizado pelos profissionais presentes nessas unidades. Não é uma patologia que se cura e não regride, sendo comuns os casos de recaídas, ficando evidente a necessidade de sempre fazer um acompanhamento, sobretudo na esfera psicológica destas pessoas.
Em visita a uma das unidades apoiada pelo NASF- Nova Lima, uma solicitação de atendimento de consulta compartilhada ocorreu apenas com a presença do psicólogo preceptor. O professor de música acima citado (paciente) do sexo masculino e com aproximadamente quarenta anos de idade, relatou que passou por uma fase de uso indevido e exagerado de álcool, prejudicando assim sua saúde e convívio social e profissional. Está agora aposentado e ministrando aulas de como tocar instrumentos musicais, no caso violão e contrabaixo. Quando esteve no período de uso constante de álcool, não conseguiu prosseguir em seu projeto profissional.
O usuário em tela contou que estando há um mês sem o uso de tal substância, conseguiu voltar a dar as aulas de música e realizou eventos com sua banda, da qual no momento de crise estava separado. Atualmente, o dito paciente realiza o tratamento ambulatorial, com remédios indicados por médico responsável e por livre espontânea vontade vem manifestando o desejo de um novo atendimento em dois meses para continuar seu tratamento. Estado atual: em reabilitação.
Durante todo o tempo deste estágio, o contato maior nestas unidades vem sendo realizado com orientação de profissionais das áreas de psicologia, nutrição, assistência social e terapeutas ocupacionais e nota-se evidentemente que os problemas aqui atendidos são casos relacionados à saúde mental e física.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da ótica tratada neste artigo, fica evidente que o NASF surgiu para o país como uma inovadora e muito bem sucedida estratégia de atenção a saúde geral da família, e da sociedade, elevando o patamar da qualidade da Saúde Pública, principalmente no atendimento primário em nível nunca antes relatado no Brasil.
Essa proposta inovadora trouxe uma mudança não só de caráter estrutural, mas também na mentalidade dos profissionais de Saúde Pública diante do fato de que a população deve ser tratada com maior respeito e consideração. Assim, conforme as observações do estagiário, é o que vem acontecendo na unidade de saúde aqui relatada.
É evidente que ainda há muitos itens a serem aperfeiçoados e mudanças necessárias, porém, hoje a saúde pública na capital no nosso Estado é considerada umas das melhores do país, podendo ser facilmente verificado por qualquer cidadão presente no cotidiano da referida unidade, quanto ao respeito e à consideração empregada na mesma unidade. Fato lamentável é que esse bom e adequado atendimento não se reflete em todas as outras regiões do Brasil.
Porém, há muito que se fazer ainda e, principalmente, em se tratando do o enfoque maior deste artigo em relação ao alcoolismo, presente de froma recorrente e numerosa em nossa sociedade. É ainda necessário dar maior ênfase não apenas ao tratamento, mas também uma atenção mais humanizada dos pacientes, visando não só um primeiro atendimento e a solução rápida do problema sem protelação e atingir o verdadeiro objetivo que é a reabilitação completa. A reinserção dessas pessoas livres da dependência do álcool na sociedade, com sua saúde mental e física restabelecida, ajuda a construir cada vez mais uma sociedade sadia e equilibrada, com menos problemas em todos os seus segmentos.
Este presente relato teve por objetivo dar uma visão, muitas vezes ignorada pela mídia, de que há uma visível melhora na saúde pública do país, em especial no caso do nosso Estado, onde há unidades bem preparadas tanto do ponto de vista da qualidade operacional, quanto em relação às pessoas habilitadas no atendimento da população cada vez melhor assistida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Cadernos de Atenção Básica. Núcleo de Apoio à Saúde da Família, volume 1: Ferramentas para a gestão e para o trabalho cotidiano, n. 39, 2014.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Cadernos de Atenção Básica. Diretrizes do NASF: Núcleo de Apoio à Saúde da Família: Ferramentas para a gestão e para o trabalho cotidiano, n. 27, 2010.
Declaração de Alma-Alta, 6-12 de setembro de 1978, URSS. Conferência Internacional Sobre Cuidados Primários de Saúde (Documento).
Site Scielo: Atenção primária, atenção básica e saúde da família: sinergias e singularidades do contexto brasileiro. 2006.
DORSCH, Friedrich. Dicionário de Psicologia. 1 ed. RJ, Petrópolis: Vozes, s/d.
Publicado por: Tiago Salsa Corrêa
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.