O suicídio enquanto processo sócio-histórico trazido pelas dicotomias do capitalismo na pós-modernidade
Compreender e explicar a presença do suicídio como um processo histórico e cultural originado das dicotomias trazidas pelo capitalismo nos tempos atuais.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Resumo:
Pode definir-se o aumento do interesse dos estudos e pesquisas na área da Psicologia sobre o suicídio. Porém vale ressaltar que em algumas áreas não possuem uma base de dados e informações necessárias para uma melhor compreensão e atuação neste campo. Esse artigo tem como objetivo apresentar a compreensão do fenômeno psicológico neste campo através da vertente Sócio-Histórica numa relação dialética com o contexto capitalista e sociocultural presente nos dias atuais. A mudança na produção do artefato e a mediação da linguagem na relação do sujeito com o seu contexto também serão tragas a seguir.
Palavras-chave: Artefato; capitalismo; humanidade; historicidade; pós-modernidade; Sócio-Histórica.
Abstract:
An increase in the interest of studies and research in the field of Psychology about suicide can be defined. However, it is worth mentioning that in some areas they do not have a database and information necessary for a better understanding and performance in this field. This article aims to present the understanding of the psychological phenomenon in this field through the Socio-Historical aspect in a dialectical relationship with the current capitalist and socio-cultural context. The change in the production of the artifact and the mediation of language in the relationship of the subject with his context will also be brought up next.
Keywords: Artifact; capitalism; humanity; historicity; post modernity; Socio-Historical.
Introdução:
A depressão tem sido cada vez mais percebida no contexto das pessoas que fazem parte da geração atual e tecnológica. Indivíduos dentro e fora do mercado de trabalho podem compartilhar os mesmos pensamentos, sensações, angústias e crises de ansiedade como característica dos dias de hoje.
Pode-se também, entender certos sintomas como fruto da produção exagerada do capitalismo na contemporaneidade em detrimento da promoção de saúde mental para o sujeito, que encontra-se cada vez mais fora dos interesses empresariais.
A produção de signo voltada apenas para o aumento do capital, deixou de ser baseada numa realidade materialista histórica e dialética, para fazer parte de uma ilusão jamais alcançada, produzindo insatisfação pessoal e profissional dos indivíduos que relaciona-se com os produtos do mercado por intermédio da linguagem.
Desta forma, o presente artigo busca compreender e explicar a presença do suicídio como um processo histórico e cultural originado das dicotomias trazidas pelo capitalismo nos tempos atuais.
O capitalismo na contemporaneidade:
Atualmente, vivemos numa era onde o lucro dita o funcionamento dos ambientes empresariais, coletivos e do estado. Uma das características do atual estágio do capitalismo é a atuação humana em massa, ou seja, a produção e consumo de grande escala, como se tudo fosse parte de um sistema líquido, fluido e instável. Os métodos usados para processar as necessidades tragas pela demanda do capital, resulta numa agilidade nos seus meios de produtividade, no qual, acelera o resultado e trás a sensação de imprevisibilidade, onde deixamos de possuir e receber qualquer tipo de caráter fixo nos objetos e nas relações estabelecidas através da grande rede de contatos que desenvolvemos nesse meio a fim de atuarmos e sobrevivermos.
Apesar das mudanças de produtividade nos meios de manufatura, o ser humano continua a apresentar algo que sempre o acompanhou, embora o mesmo passasse tanto tempo em segredo, que é a sua subjetividade ou a forma própria que tem de construir dentro de si, o sentido que absorve das experiências coletivas através dos aspectos biológicos, psicológicos, sociais, culturais e históricos. Porém, essa singularidade humana que cada um possui da sua maneira, deixou há tempos de receber o devido cuidado, visto que o período pós-moderno deixou de suplantar o capitalismo moderno no momento em que coloca de lado as contradições existentes a respeito do ser humano, abrindo espaço para novas dicotomias.
Se o artefato valorizado antes refletia numa realidade concreta, este agora trás consigo a “uma realidade representada”, criada por métodos ideológicos baseados na criação de universais abstratos onde o conjunto ideal, mira numa padronização de perfil mundial, baseado numa pequena amostra que além de ser específica, não é nada representativa.
A interação entre sujeito e o contexto histórico-cultural no capitalismo
Dessa forma, o sujeito que ao mesmo tempo é enfatizado como um ser de possibilidades e ambições é sequestrado de si mesmo, ao ter de sacrificar suas necessidades concretas por conveniências impostas que não são capazes de responder ás suas diligências de forma autêntica e construtiva. Pode-se analisar que através disso, poderão ocorrer duas coisas: a primeira será um indivíduo totalmente moldado, manipulado, modificado e adaptado pelas convicções empresariais, na qual sua linguagem teria uma absorção corrompida dos acontecimentos da realidade, colaborando com essa produção acelerada de signos controladores e fúteis para dar continuidade ao ciclo de fragmentação da constituição humana, ou então esse mesmo cidadão se constituiria numa interação privada de sentidos humanos e de cidadania para a sua autoconstrução, onde com o tempo perderia a sua própria identificação e também em alguns casos, o sentido de sua própria candidatura à humanidade (BOCK, 2015).
O suicídio em esfera global:
Podemos então, entender o grande número de depressão sendo a maior parte das pesquisas, sobre o fenômeno nos adolescentes e jovens, mas adultos e idosos também sofrem do transtorno, que em grande parte dos casos levam os afetados a ideias, desejos, pensamentos e ideações suicidas. Segundo os dados da Organização Mundial de Saúde (2016), o suicídio é a principal causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos no mundo sendo este fator, o responsável por 1,4% de todos os falecimentos ao redor do globo, tornando-se a 18ª causa de morte em 2016. O questionamento sobre o motivo desses dados e a investigação metodológica como forma de pesquisa para cada situação, torna-se mais do que necessária, numa sociedade que valoriza os serviços e objetos em detrimento da cidadania humana, tendo correlação direta com tais elementos mostrados acima.
Ainda de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), cerca de 800.000 pessoas morrem em decorrência do suicídio todos os anos, o equivalente a uma tentativa de sucesso por menos de 1 minuto. Estudos também apontam que países de média e baixa renda são favoráveis para tais atos, resultando em 79% das tentativas que obtiveram êxito. As principais queixas para isso são várias e devem ser consideradas em todas as situações para uma maior compreensão desses eventos frente ao período que prioriza a acumulação flexível do capital não importando o seu preço, ainda que resulte no sacrifício de compromissos éticos. Outro dado importante, é que apenas 38 dos 194 Estados-membros relatam ter uma estratégia nacional de prevenção ao suicídio.
O suicídio deve ser visto como um processo sócio-histórico trazido pelas dicotomias do capitalismo no período pós-moderno durante o processo de subjetivação de qualquer pessoa desde os seus primeiros anos de vida, ao iniciar o desenvolvimento da consciência mediada pela atividade da linguagem na percepção de pequenos detalhes, até o momento em que se desenvolve de forma mais complexa e cresce, tendo de escolher e arcar com as consequências das próprias decisões selecionadas segundo a permissão das possibilidades lhe oferecidas nas opções presentes no seu contexto de historicidade.
Atuação da Psicologia segundo a perspectiva Sócio-Histórica:
Uma das alternativas a essa situação deprimente, seria uma proposta de superação desses impasses, onde a Psicologia através de uma atuação inter e multidisciplinar, visaria o acolhimento desses sujeitos acompanhado por propostas de intervenções para essas demandas tragas pelos sujeitos, identificando cada qual como um ser ativo, social e histórico, mas também como individual no seu processo singular de construção humana em meio às chances de candidatura à cidadania oferecidas aos mesmos durante cada jornada identificada.
Outra pontuação necessária a ser feita, é a de um atendimento acolhedor e se possível psicoterápico que deve ser feito pela psicóloga junto a uma equipe multidisciplinar formada por médicas, nutricionistas, assistentes sociais e outras profissionais da saúde para um planejamento melhor de recuperação da saúde mental desses sujeitos, a fim de que possa ser elaborado um corpo social com intenções voltadas para a melhoria da qualidade de vida para a diversidade presente em todos os tipos de classe e populações visando à inclusão de todas as pessoas na busca de uma transformação social.
Considerações finais:
Com base no material consultado, devemos pontuar que certos aspectos subjetivos e objetivos do ser humano na sua interação com o contexto materialista, histórico e dialético no qual faz parte, jamais devem ser desconsiderados, levando-se em conta que cada um, tem a devida importância para a construção dialética desse mesmo indivíduo durante o seu processo de constituição humana.
A Psicologia Sócio-Histórica apresenta como proposta inicial na sua abordagem, uma análise crítica sobre os fenômenos psicológicos desenvolvidos nos espaços sociais, para que cada vez mais a saúde mental seja promovida em meio à coletividade de todas as classes.
Referências:
GONÇALVES, Maria da Graça Marchina. A Psicologia como ciência do sujeito e da subjetividade: o debate pós-moderno. In: BOCK, Ana Mercês Bahia; GONÇALVES, Maria da Graça Marchina; FURTADO, Odair (org.). Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em Psicologia. São Paulo: CORTEZ EDITORA, 2015b. p. 67-92.
WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Suicide prevention. Mental Health. 2003. Disponível em: < http://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/suicideprevent/en/>. Acesso em: 15 de set. de 2019.
WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Suicide prevention. Mental Health. 2020. Disponível em: . Acesso em: 07 de jun. de 2020.
Publicado por: Newton Antônio de Sales Costa
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