Luto como processo natural da condição humana
Por que nos sentimos tão ameaçados frente à morte de um ente querido?O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
A morte é a única certeza de nossas vidas. Essa certeza vem da constatação da finitude da vida.
Em nossa cultura Ocidental, a idéia de morte vem acompanhada de um grande pesar, medos e angústias, que, muitas vezes, nos dificultam encará-la como um processo natural da condição humana.
Por que nos sentimos tão ameaçados frente à morte de um ente querido?
Quando perdemos uma pessoa querida, além da angústia e tristeza que a saudade nos impõe, também nos sentimos ameaçados frente à sua morte. Esta nos aproxima da nossa própria condição humana e do fato de que a morte também nos permeia, e fatalmente nos atingirá um dia. Isso nos torna ainda mais vulneráveis, em um momento que já é tão difícil.
O que é o Luto?
Para Freud (1916) “luto é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade, o ideal de alguém e assim por diante”.
Aqui, vamos nos ater à perda de um ente querido. É importante ressaltar que o luto é um processo que se inicia com a perda propriamente dita e se desenrola até o período de sua elaboração – quando o indivíduo enlutado volta-se, novamente, ao mundo externo.
Para a Psicanálise, desde que o luto seja superado, ele não é considerado uma condição patológica, mesmo que traga consigo grandes mudanças no estilo de vida de quem o vivencia, tal como a perda de interesse por atividades do cotidiano e pelo convívio social.
Como identificar o processo de enlutamento?
Cada indivíduo reage ao luto de forma distinta, variando de acordo com sua estrutura emocional, suas vivências e sua capacidade para lidar com perdas.
É fundamental que esse processo de enlutamento seja vivenciado até que ele seja superado, para que a dor da perda não fique reprimida e se manifeste posteriormente como algum outro sintoma. Esse é um processo lento e sua melhora gradual, com período de duração variável para cada pessoa.
O processo de enlutamento é, normalmente, vivenciado através de um ou mais sintomas abaixo:
- Entorpecimento - O indivíduo recentemente enlutado sente-se descrente, em choque, atordoado, desamparado. Isso acontece devido à dificuldade em aceitar a perda.
- Negação – Se apresenta como mecanismo de defesa frente a essa situação tão dolorosa.
- Anseios - Crises intensas de choro e Dor profunda – A perda pode gerar um grande anseio por reencontrar a pessoa morta. A impossibilidade desse reencontro pode gerar crises intensas de choro e dor profunda, assim como uma preocupação excessiva com seus pertences e objetos que tornem sua lembrança viva.
- Culpa – Em muitos casos, esse sentimento é bastante presente. O enlutado pode, ao relembrar alguns eventos vivenciados com a pessoa morta, achar que deveria ter agido de forma diferente nessas ocasiões, ou, até mesmo, que poderia ter evitado sua morte.
- Raiva, desespero, falta de prazer e hostilidade - Muitas vezes, o enlutado se volta contra amigos, familiares, médicos, Deus e, quando há o sentimento de culpa, contra si mesmo. Ele pode vir a se afastar dos amigos e do convívio social assim como perder o prazer e interesse no mundo externo, tanto em atividades novas quanto costumeiras.
Como superar o Luto?
A superação do luto se inicia quando o enlutado passa a construir um novo tipo de vínculo com a pessoa morta, fazendo com que a relação seja preservada em outro patamar, ou seja, quando o indivíduo falecido é internalizado, continuando, assim, a viver no mundo interno do enlutado.
O sofrimento começa, então, a diminuir e ele torna a resgatar laços sociais, retomando vínculos antigos e construindo novas relações.
Podem ocorrer recaídas, principalmente em datas que lembrem o indivíduo falecido, como aniversários de nascimento ou de morte, porém o apoio e a compreensão, tanto dos amigos quanto dos familiares, ajudarão a fazer do processo de enlutamento algo mais suportável.
Com o tempo, o enlutado volta a se inserir no mundo externo de modo pleno e, normalmente, com sua capacidade de suportar perdas aumentada, amadurecida.
Fernanda A. Linhares Guimarães
Psicóloga CRP: 06/90599
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Publicado por: Fernanda A. Linhares Guimarães
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