Metaplasmos na língua portuguesa no brasil
Entenda como os metaplasmos se configuram na língua portuguesa no Brasil.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Resumo
Neste trabalho procuramos entender como os metaplasmos se configuram na língua portuguesa no Brasil. Compreender que a linguagem é um instrumento de que servimos para comunicar o que pensamos e sentimos. E que nela construímos a nossa imaginação. Que a linguagem é um importante meio de transmitir e de adquirir ciências, mas, além disso, é um meio de entendimento, permitindo a possibilidade de regenerar-se e atendendo a apurada sensibilidade dos que nela procuram refletir a sua evolução. Compreender que as evoluções da língua portuguesa desde a romanização contribuíram para sua estruturação atual.
Palavra Chave: Metaplasmo – Léxico – Semântico – Língua Portuguesa
Introdução
É evidente que como qualquer mecanismo vivo, uma língua é fruto de alterações, de contaminações, de enriquecimentos e de empréstimos, que se sucederam e vão sucedendo ao longo do tempo. Neste sentido, é nosso propósito poder atender, ainda que discretamente, o interesse dos desejem encontrar respostas para algumas das suas dúvidas acerca da sua estrutura evolutiva. Podemos ver através dos tempos que a língua portuguesa tem sofrido inúmeras mudanças em sua estrutura, para isso procuramos o seu entendimento através da sua evolução.
Segundo (Mattoso, 1979), a língua aparece na comunicação por meio da fala e os homens se comunicam uns com os outros, e por meio desses sons vocais transmitem ideias, impressões e sentimentos. Mas não é tal comunicação que constitui a língua. Ela realiza-se num ambiente determinado, em meio de uma situação definida, concreta, diante de dados indivíduos, e a situação assim estabelecida colabora na comunicação.
Dados extralinguísticos podem colaborar para a transformação na língua, em circunstâncias reais em que o indivíduo se encontra, depois, a gesticulação junta, toda uma linguagem de sinais. Ela oferece uma norma como estrutura, ela é assim antes de tudo, no seu plano, uma representação do mundo cultural em que o homem se encontra e, como representa esse mundo.
(Mattoso, 1979, p.66) diz que a língua esta sempre em constante transformação e porquanto, tem uma história que, institui-se, portanto, uma distinção entre o estudo e a descrição de uma língua ou de uma parte dela ao longo de sua história, ou seja, a diacronia, e o estudo sincrônico, que é o estágio de uma língua considerado num momento dado, independente de sua evolução histórica no seu funcionamento contemporâneo. Quando se focalizou a língua, historicamente, no século XIX, [...] e nessas diretrizes a língua como fato histórico pertence ao estudo diacrônico ou linguística diacrônica, [...] a evolução como sabemos, foi um conceito daquela época, o século XIX. Surgiu nas ciências da natureza e depois, por analogia, se estendeu às ciências do homem.
A linguística, como uma dessas últimas, também sofreu o impacto da história dada como evolução, e as mudanças linguísticas passaram a ser assim apreciadas. Também o conceito da deriva é muito interessante porque frisa um aspecto importantíssimo, do ponto de vista teórico, nas mudanças linguísticas.
Os dois primeiros aspectos, as mudanças serem paulatinas e graduais e haver uma conexão nas mudanças são inobjetáveis. É necessário compreender que entre a mudança linguística e o chamado “estado linguístico”, na esfera sincrônica, não há fronteira nítida, absoluta. A língua é sempre dinâmica; não há língua estatelada. Podemos descrever que na língua nunca há o estaticismo, mas sempre o dinamismo.
Podemos depreender nas transformações linguísticas três acometimentos decisivos principais, primeiro é associação entre a cultura e a língua, segundo, um impulso para a mudança é a natureza estilística e terceiro, ela é um sistema, uma estrutura em que os elementos estão ligados entre si por associações e contrastes, mas não é um sistema nem completo nem fechado; está como dizia Saussure, em equilíbrio instável, com uma série de pontos fracos, e esses pontos fracos são sempre suscetíveis de sofrer modificações.
Portanto, as alterações de caráter sociocultural comprometem a língua, e essas fatos, por sua vez, considerados sob diversos ângulos, marcam etapas dos estudos linguísticos. Os diversos modos de analisar e abordar os fenômenos da linguagem estabelece a história da linguística e descrevem o seu trajeto ao longo do tempo.
Para uma melhor compreensão vejamos o que diz a Coutinho, (1976, p. 56-57). Para ele a evolução da língua portuguesa pode ser explicada em três fases: pré-histórica, proto-histórica e histórica a que compreende o período do Português arcaico e moderno. A pré-histórica inicia-se com as origens da língua, ampliando-se até o século IX.
A língua que era falada na região era o romance lusitânico, diferente do latim que constitui um estágio intermediário entre o latim vulgar e as línguas latinas modernas (português castelhano, francês, entre outros).
A proto-histórica vai do século IX ao XII. Os textos eram escritos em latim bárbaro que era a modalidade do latim usado apenas em documentos e por isso também chamado de latim tabaliônico ou usado por tabeliões; as palavras portuguesas eram faladas, mas não era escrito, o que confirma a existência do dialeto galaico-português. Dessa fase, os documentos mais antigos são um título de doação, datado de 874, e um título de venda de 883.
Essa fase histórica tem início no século XII, época em que os textos começam ser escritos em português. Este período esta dividido entre o arcaico, séculos XII-XVI, e o moderno no século XVI. Já o período arcaico entre os séculos XII e XVI, compreende dois períodos distintos: Entre o século XII ao XIV, com os textos em galego-português; e do século XIV ao XVI, com o isolamento entre o galego e o português. Já a partir do século XVI, período moderno, a língua portuguesa se padroniza e começa a adquirir propriedades do português atual. No ano de 1572, a obra de Luís de Camões, os Lusíadas, se torna um marco histórico do nosso idioma e também um monumento literário e linguístico.
Coutinho (1976, p. 57), afirma que a publicação de Os Lusíadas no ano de 1572, constitui a verdadeira epopeia nacional portuguesa. Nela se acham retratados o espírito de aventura, a resistência no sofrimento, às qualidades guerreiras, o heroísmo, numa palavra, todas as grandes virtudes da nação portuguesa. Não é Vasco da Gama o herói do poema. A descoberta do caminho marítimo para a Índia foi apenas o pretexto para Camões escrever o seu imortal poema. O assunto é a história de Portugal, rica de episódios e de lances dramáticos. O seu herói é o próprio povo português.
Para Coutinho metaplasmos são modificações fonéticas que as palavras sofreram durante a sua evolução, do Latim para o Português; e essas alterações, são apenas fonéticas, conservando, as palavras, a mesma significação. (Coutinho, 1976, p.142)
Os metaplasmos são classificados em cinco classes, segundo o que afirma o teórico:
Por permuta: São os consistem na substituição ou troca de um fonema pelo outro. São os ele: Sonorização, Vocalização, Consonantização, Assimilação, Dissimilação, Nasalização, Desnasalação, apofonia e Metafonia.
a) Por aumento: São os que adicionam fonemas à palavra, Pertencem a essa classe: Prótese, ou Próstese, Epêntese, Paragoge ou Epítese.
b) Por subtração: São os tiram ou diminuem fonemas à palavra. São eles: aférese, Síncope, Apócope, Crase, Sinalefa ou Elisão.
c) Por transposição: São os que consistem na deslocação de fonema ou de acento tônico da palavra. Transposição de um fonema toma o nome de Metátese. Dessa forma a Metátese pode ocorrer na mesma sílaba ou entre sílabas.
d) Por transformação: eles ocorrem quando um fonema de um vocábulo se transforma, passando a ser outro fonema distinto em lugar do primeiro. Pertencem a essa classe a, degeneração, rotacismo, lambdacismo, ditongação, monotongação, palatização e despalatização.
Extraímos algumas palavras do poema “poetas clássicos”, de Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva), no qual temos um registro do discurso oral do sertão nordestino, e que também tem registros em outras regiões do Brasil, mas que tem predominância na linguagem sertaneja do nordeste brasileiro.
Poetas clássicos
Poeta niversitaro
A palavra “universitário” sofreu aférese do fonema /u/ e monotongação do ditongo /io/ final, resultando em “niversitaro”.
Poeta de cademia,
A palavra “academia” sofreu aférese do fonema /a/, resultando em “cademia”.
De rico vocabularo
A palavra “vocabulário” sofreu monotongação do ditongo /io/ final, passando a “vocabularo”.
Cheio de mitologia,
Tarvez este meu livrinho
A palavra “talvez” sofreu rotacismo, pois o fonema /l/ foi substituído pelo fonema /r/, passando a “tarvez”.
Não vá recebê carinho,
A palavra “receber” sofreu apócope do fonema /r/ e resultou em “recebê”.
Nem lugio e nem istima,
A palavra “elogio” sofreu aférese do fonema /e/ e metafonia do fonema /o/, que passou a /u/. Estes processos deram resultado à palavra “lugio” e a palavra “estima” sofreu metafonia do /e/, que passou a /i/, resultando na palavra “istima”.
Mas garanto sê fié
A palavra “ser” sofreu apócope do fonema /r/, resultando na palavra “sê”; e a palavra “fiel” sofreu apócope do fonema /u/, e passou a “fié”.
E não istruí papé
A palavra “destruir” sofreu aférese do fonema /d/, metafonia do fonema /e/ e apócope do fonema /r/, resultando na palavra “istruí” e a apalavra “papel” sofreu apócope do fonema /l/ e passou a “papé”.
Com poesia sem rima.
No texto citado, temos as palavras “niversitário”, “cademia”, “vocabularo”, “tarvez”, “recebê”, “lugio”, “istima”, “sê”, “fié”, “instruí” e “papé” como formas faladas na linguagem do sertão brasileiro. Consideramos que estas formas são resultados das transformações fonéticas a que denominamos metaplasmos de nossa língua.
Conforme observamos, nossa língua está em processo constante de transformação fonética, algumas das formas surgidas no discurso oral já foram registradas em dicionários de nossa língua, enquanto que outras continuam restritas somente a esta modalidade da língua. Nosso estudo, porém, não está restrito ao presente trabalho, pois como a língua está se modificando a cada instante, devemos estudá-la de modo constante, para que possamos acompanhar as suas transformações.
Conclusão
Concluímos, portanto que os metaplasmos, são alterações fonéticas verificadas nas próprias palavras da língua portuguesa, eles chegam e saem através do tempo, e assim permanecerem essas alterações estáticas por algum período, e novamente se modificam conforme o uso dos falantes, dentro de uma sequência diacrônicas e sincrônicas. Diante de tudo o que foi exposto é importante então que continuemos a buscar cada vez mais valorizar e defender a nossa língua materna. Pois preservá-la, significa muito mais do que somente zelar pelo falar de um povo, significa defender o que há de mais precioso em nossa nação, “nossa identidade, nossos costumes, nossa história e até mesmo nosso futuro”. É com o resultado deste trabalho que entendemos que a língua portuguesa desde sua origem vem sofrendo uma constante variação na sua estrutura, e da importância dessas estas transformações para o desenvolvimento e sobrevivência da língua portuguesa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ASSARÉ, Patativa do. (Antônio Gonçalves da Silva). “Ispinho e fulô”. Rio de Janeiro: Vozes, 1990.
BUENO, Francisco da Silveira. Estudos de Filologia Portuguesa. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1959.
CAMARA JR., J. Mattoso. História e Estrutura da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Padrão, 1985.
CARVALHO, Castelar de, Para Compreender Saussure. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 1997.
COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1974.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2009.
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 2006.
TEYSSIER, Paul. História da língua portuguesa. Lisboa: Sá da Costa. (1982[1980])
[1] Acadêmico do 3º Semestre do curso de Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT, Trabalho acadêmico apresentado a Professora Mestre Marlene Flores como prática de componente curricular da disciplina da história da língua Portuguesa – Diacronia, ofertado pela referida professora no curso de Letras da UNEMAT.
wgoncalves67@hotmail.com
Publicado por: Walter Gonçalves
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