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Análise do Discurso de Sheila Leirner

Análise do Discurso de Sheila Leirner, um texto em análise, elementos estratégicos, uma prática, muitas discussões, considerações.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

um recorte a analisar

O Corpus escolhido para análise do(s) discurso(s) foi um texto jornalístico de Sheila Leirner, datado de 1981, que explicita, de forma irônica e irreverente, um fato ocorrido com o artista “pluricultural” Millôr Fernandes.

A análise do texto foi feita por etapas, baseado num esquema proposto por Cleide Emilia Faye Pedrosa (in Análise Crítica do Discurso: uma proposta para análise crítica da linguagem), e para fundamentar os itens observados /analisados, utilizaremos alguns teóricos, como: Norman Fairclough e Eni P. Orlandi.

um texto em análise

“UM DESENHISTA QUE REJEITA O ESTILO”
De Sheila Leirner

Os Desenhos contidos no livro que Millôr Fernandes lança hoje em são Paulo talvez não sejam os melhores ou os mais significativos. E a forma que os organizadores e a Editora Raízes escolheram, baseada inteiramente no catálogo da exposição de Saul Steinberg no Whitney Museun of Art de N.Y., por Harold Rosenberg (A.A.Knopf), talvez também não seja a mais adequada ao trabalho irreverente e anticonvencional de Millôr. Um trabalho que exigiria muito mais um livro de artista, do que sobre o artista como a “coroação tradicionalista de uma carreira realmente excepcional”.

Entretanto, fica, felizmente, o registro de uma obra sem par neste país. Millôr é único nessa marginalidade de escritor de quadros e pintor de escrituras, desenhista do pensamento, cartunista do literário, crítico do grafismo e humorista da tragédia. Alguém que está fora de qualquer categoria, livre para pensar, assim como Steinberg, que “desenhar é uma maneira de ponderar sobre o papel”, e de ver as cenas do mundo também assim como o genial artista americano: “com uma assinatura bem embaixo, no canto direito”.

No livro, alguns desenhos ironizam as fórmulas de linguagem da História da Arte (op, concretismo, abstracionismo, etc.), sem dúvida, tão falsas e auto-evidentes quanto a figura de Papai Noel ou o ovo de Páscoa. Esta crítica faz sentido: afinal, além de ser um escritor sem estilo, Millôr é também, para nossa alegria, um desenhista que rejeita o estilo.
Pertence ao rol daqueles que independem das máscaras que dão corpo aos sentimentos, pois apresentam os próprios sentimentos. Como eles são. Confusos, sem uniformidade, paradoxais, mas genuínos. Coerentes apenas com a linha brilhante do seu pensamento, e a sensualidade, humor e vitalidade do seu temperamento.
(O estado de S. Paulo, 1981)

Para quem foi escrito este texto? Como ele foi feito? Estas são algumas das perguntas que devem ser feitas em uma análise (crítica) do discurso. De porte destas perguntas é muito fácil entender a intencionalidade e talvez as razões pelos quais ele foi feito. Aplicando estas perguntas ao texto da colunista Sheila Learner, a estrutura e as condições de produção do texto ficarão evidentes.

O Texto escrito foi direcionado aos leitores da “Folha de São Paulo”. Leitores com diferentes visões, costumes e entendimento o que lhes permitem várias ou nenhuma interpretação do que foi lido. Por isso, para entender do que se trata o texto, é imprescindível conhecer Millôr Fernandes, saber de sua trajetória como escritor, humorista e “desenhista do pensamento”, como diz Sheila Learner.

elementos estratégicos

Ao analisar o texto, observamos alguns elementos utilizados como recursos argumentativos. O primeiro desses elementos foi a utilização advérbios atitudinais, como: realmente: aqui tratado como um adjetivo excepcional, podendo ser considerado advérbio de constituinte, traduz o sentimento da colunista diante da obra de Millôr Fernandes; felizmente: este também demonstra o sentimento, a atitude da colunista perante o fato contido no enunciado; sem dúvida: representa um julgamento por parte do locutor; Afinal: (ou na verdade, é preciso reconhecer que...) introduz uma justificativa com relação ao conteúdo da asserção anterior e encaminha a conclusão do locutor; e a expressão: para a nossa alegria: que tem aqui, um valor semelhante ao de felizmente.
Outro recurso argumentativo utilizado pela colunista, foi a seleção lexical aplicada em um jogo de palavras e oposições. Veja:

livro de artista X livro sobre artista
(baseado no valor semântico das preposições)
escritor de quadros X pintor das escrituras
desenhista de pensamento
cartunista literário
crítico do grafismo
humorista da tragédia
anticonvencional X tradicionalista

A comparação também foi um recurso utilizado pela colunista. É evidente em quase todo o texto. No primeiro parágrafo, há uma comparação entre Millôr e Steinberg, um tanto desfavorável para o primeiro, quanto ao fato de seu livro ter sido calcado na organização do catálogo da exposição de steinberg:

...Os Desenhos contidos no livro que Millôr Fernandes lança hoje em são Paulo talvez não sejam os melhores ou os mais significativos. E a forma que os organizadores e a Editora Raízes escolheram, baseada inteiramente no catálogo da exposição de Saul Steinberg no Whitney Museun of Art de N.Y., por Harold Rosenberg

No terceiro parágrafo há um confronto entre correntes artísticas

...Fórmulas de linguagem da História da Arte
e os trabalhos do artista – confusos, sem uniformidade, paradoxais, mas genuínos


No mesmo parágrafo, há um outro confronto:

“escritor sem estilo X desenhista que rejeita estilo

Sheila Leirner utilizou também, palavras com a mesma força argumentativa que se refere a “rejeição do estilo” por Millôr Fernandes:

trabalho irreverente e anticonvencional
marginalidade
fora de qualquer categoria
independe de máscaras
ironiza as fórmulas da linguagem
confusos, sem uniformidade, paradoxais


O Texto nos leva a refletir sobre a prática discursiva ou social que segundo Fairclough (2001) constitui-se de maneira convencional ou criativa, o que contribui para (re)produzir a sociedade como ela é, mas também contribui para transformá-la. Sheila Leirner mostra muito bem, em seu texto, esta “[1](re)produção” na sociedade:

“Os Desenhos contidos no livro que Millôr Fernandes lança hoje em são Paulo talvez não sejam os melhores ou os mais significativos. E a forma que os organizadores e a Editora Raízes escolheram, baseada inteiramente no catálogo da exposição de Saul Steinberg no Whitney Museun of Art de N.Y., por Harold Rosenberg (A.A.Knopf)”...

A autora mostra claramente que a exposição de Millôr foi feita inteiramente reproduzida de um catálogo de uma exposição que aconteceu em Nova York, o que justifica a “(re)produção” da sociedade.

uma prática, muitas discussões

Refletindo a prática discursiva, surgiu uma outra reflexão quanto aos discursos e sujeitos dispersos no texto. Partindo-se do princípio de que o discurso é uma dispersão de textos e o texto é uma dispersão do sujeito. É possível concluir, segundo Orlandi (1996) que a constituição do texto pelo sujeito é heterogênea, isto é, ele ocupa várias posições no texto.
Foucault, em sua principal tese diz a respeito da formação de modalidades enunciativas que o sujeito social que produz um enunciado não é uma entidade que existe fora e independentemente do discurso, como a origem do enunciado (seu autor/sua autora), mas é, ao contrário, uma função do próprio enunciado. Isto é, os enunciados posicionam os sujeitos — aqueles que o produzem, mas também aqueles que são dirigidos – de formas particulares, de modo que “descrever uma formulação como enunciado não consiste em analisar a relação entre o autor e o que ele diz( ou quis dizer, ou disse sem querer), mas em determinar que posição pode e deve ser ocupada por qualquer indivíduo para que ele seja o sujeito dela” (1972: 95-96).

No texto é possível verificar a existência de outros discursos apresentados sob forma de pensamentos de outros escritores. A utilização destes foi feito, para caracterizar o artista, atribuindo-lhe pensamentos semelhantes aos de Streinberg:

“desenhar é uma maneira de ponderar sobre o papel”
“Com uma assinatura bem embaixo, no canto direito”

considerando então

Analisar um discurso requer objetividade e criticidade. Com posse destes elementos será possível desvendar e entender o quê o autor quer, quis ou queria dizer com todas àquelas palavras e estratégias tão significativas quanto o conteúdo que se quer abordar.
Sheila Leirner, foi feliz em suas escolhas lexicais e estratégias argumentativas. Consciente ou não, conseguiu surtir o efeito desejado. Seu discurso foi claro, objetivo, irreverente e criativo. Deixando qualquer um, pensativo quanto ao acontecido com escritor Millôr Fenrnades.

referências consultadas


FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e Mudança Social. Brasília: UNB, 2001

ORLANDI, Eni P. Discurso e Leitura. São Paulo: Cortez Editora, 1996

_____________. Análise do Discurso. Campinas: Pontes, 4º ed. 2002

PEDROSA, C. E. Faye. Análise Crítica do Discurso: uma proposta para análise crítica da linguagem. Banco de dados. Disponível na Internet. Http://www.filologia.org.br/ixcnlf/3/04.htm. Acesso em: 26 de out. 2007

LEIRNER,Sheila. Raciocínio sobre o papel . Texto na íntegra. Disponível na Internet. Http://pagespro-orange.fr/sheila.leirner/start_fichiers/Millor.htm. Acesso em 09 de dez. 2007

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[1] (re)produzir aqui no sentido de copiar em igual teor.


Publicado por: EDMILSON FONSECA

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.