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Teorias Brasileiras do Pensamento Político e Social Contemporâneo

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A Atuação do Cientista Político no Pensamento e Prática Política Brasileira

Sérgio Buarque de Holanda
Sérgio Buarque de Holanda

Introdução

A ciência política é um campo de estudo que reúne profissionais em todas as partes do mundo, criando redes de intercâmbio intelectual e promovendo o desenvolvimento de escolas de pensamento, grupos de pesquisa e eventos científicos. No Brasil, não é diferente. Neste contexto, é fundamental compreender o pensamento político tanto do ponto de vista científico quanto da construção do Estado brasileiro.

As teorias políticas elaboradas por intelectuais brasileiros são fruto de um processo de interação com outros cientistas políticos, tanto em nível nacional quanto internacional. A globalização possibilita que os profissionais viajem para outros países, estabeleçam parcerias e intercâmbios, enriquecendo suas perspectivas teóricas. Além disso, esses pesquisadores são influenciados por um legado teórico que remonta a intelectuais brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas.

Nesse sentido, é relevante destacar dois grandes expoentes do pensamento político brasileiro: Sérgio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro. Esses autores se inspiraram nas ideias de Max Weber, notável sociólogo alemão, para compreender a realidade política do Brasil. Em particular, eles exploraram o conceito de patrimonialismo, que se refere a um tipo de dominação tradicional, para analisar o comportamento político brasileiro. O objetivo é apresentar as principais ideias desses autores de forma objetiva, sem aprofundar-se em suas palavras exatas.

Em um segundo momento, serão abordadas as teorias políticas que estruturam a política cotidiana no Brasil. Dentre os temas a serem explorados, destacam-se o presidencialismo de coalizão, os arranjos institucionais, as relações entre os poderes Executivo e Legislativo, os desafios contemporâneos e as questões enfrentadas pela república brasileira. Embora seja impossível esgotar todas essas questões, o objetivo é fornecer uma introdução aos principais autores e problemáticas, a fim de estimular um aprofundamento posterior.

Assim, ao explorarmos o patrimonialismo de Weber e Holanda, percebemos como os conceitos da ciência política podem ser aplicados de forma significativa ao contexto brasileiro. Conforme observado por Weffort (2006, p.9): "[...] eles têm tantas coisas a dizer a brasileiros e latino-americanos". Portanto, o estudo dessas teorias possibilita uma compreensão mais profunda do pensamento político e contribui para uma atuação mais embasada e segura do cientista político dentro da conjuntura política brasileira.

O Legado Intelectual de Sérgio Buarque de Holanda

Para compreendermos o patrimonialismo, é necessário relembrar os conceitos fundamentais de Weber, como tipo-ideal e dominação. O patrimonialismo é um dos tipos-ideais de dominação, que são construções teóricas que representam as características mais comuns de um fenômeno social. No entanto, é importante destacar que esses tipos-ideais não são completamente observados na realidade.

A dominação refere-se à capacidade de alguém exercer poder legítimo sobre as ações de outras pessoas, tornando-as socialmente reconhecidas. No caso do patrimonialismo, de acordo com Mourão (2015), trata-se de uma forma de dominação política em que não há uma clara distinção entre as esferas pública e privada. Um aspecto central desse fenômeno é a ausência de diferenciação por parte dos governantes e gestores públicos que detêm o poder político-administrativo entre essas duas esferas.

É importante observar que muitos estudiosos têm utilizado o conceito de patrimonialismo para analisar a realidade brasileira, especialmente no contexto da corrupção, que pode ser resumida como a apropriação indevida de recursos públicos. Couto (2016, p. 2) argumenta que esses estudiosos importaram a teoria de Weber e a adaptaram à realidade brasileira, buscando lançar luz sobre as complexas relações sociais permeadas pelo pessimismo, e evidenciando como essas relações moldam as estruturas da administração burocrática.

Essa adaptação do conceito de patrimonialismo sugere que o Brasil não teria realmente alcançado a modernidade, pois as relações sociais ainda estariam excessivamente focadas no âmbito pessoal, em detrimento da burocracia. Embora os autores reconheçam a existência da burocracia, argumentam que ela é apenas uma fachada para manter as aparências de imparcialidade.

No entanto, é importante ressaltar que essa análise não é consensual. Por exemplo, Jessé Souza contesta a validade desse conceito no contexto brasileiro, afirmando que a corrupção é um fenômeno presente em todo o mundo e não é exclusividade do Brasil. Ele acusa aqueles que utilizam essa explicação de serem liberais que acreditam que a corrupção é predominante no setor público, enquanto o setor privado é visto como virtuoso.

Antes de examinarmos as críticas a essa abordagem, é fundamental compreender o conceito de patrimonialismo. Para isso, podemos começar explorando a obra de Sérgio Buarque de Holanda, um renomado estudioso brasileiro que se formou em direito e lecionou em universidades ao longo de sua vida. Sua obra mais famosa, "Raízes do Brasil", aborda diversos temas, incluindo o conceito de "homem cordial" como um tipo-ideal.

Holanda argumenta que os brasileiros se encaixam em uma tradição ibérica que se caracteriza pela pessoalidade, ou seja, obter benefícios com base em relacionamentos pessoais, em vez de mérito individual. Esse tipo de comportamento é comumente observado em ambientes familiares, nos quais os membros buscam o bem mútuo incondicional. Holanda sustenta que essa estrutura ibérica foi transplantada para a construção do Estado brasileiro. Nesse contexto, critérios como simpatia e afinidade pessoal podem determinar o acesso a cargos públicos, o que é vantajoso, pois permite o acesso direto à riqueza do país. Essa perspectiva se reflete na noção de "homem cordial".

Assim, ser cordial no Brasil adquire uma importância significativa, sendo um elemento que conduz positivamente dentro dessa estrutura. Uma vez inserido nessa estrutura, o indivíduo passa a fazer parte dela e é protegido de influências externas. A obra de Holanda, "Raízes do Brasil", também apresenta outras ideias interessantes, como as diferenças entre a colonização espanhola e portuguesa, exemplificadas nas figuras do semeador e do ladrilheiro.

No entanto, essa não é a única abordagem do patrimonialismo inspirada em Weber. Outra interpretação importante é a de Raymundo Faoro, que possui suas próprias especificidades, que discutiremos a seguir.

O Impacto do Conceito de Patrimonialismo em Raymundo Faoro

Raymundo Faoro, um renomado jurista brasileiro, ganhou destaque com sua obra "Os Donos do Poder: formação do patronato político brasileiro", na qual ele aborda o conceito de patrimonialismo como uma forma específica de dominação tradicional. Faoro enfoca a influência dos laços pessoais e privados nesse fenômeno (MOURÃO, 2015).

A abordagem de Faoro possui uma particularidade interessante. Couto (2016) menciona que o autor realiza uma "viagem redonda", explorando uma análise histórica que abrange seis séculos, desde o rei João I de Portugal até Getúlio Vargas. Essa abordagem pode ser interpretada como uma espécie de determinismo, ao considerar a apropriação dos recursos públicos por membros estamentais como a raiz contínua de todos os problemas de governança no Brasil (COUTO, 2016, p. 2).

Figura 1 - Os donos do poder são quem possuem acessos aos direitos
Os donos do poder são quem possuem acessos aos direitos

A percepção de Faoro está alinhada com a ideia de que o Estado é responsável por garantir direitos. Enquanto Holanda adotava uma perspectiva mais cultural, explorando a subjetividade do povo brasileiro, Faoro busca comprovar, por meio de dados, como o Estado seguiu essa dinâmica. Ele é um autor relevante para refletir sobre a transição das estruturas políticas no Brasil.

Vamos agora examinar algumas aplicações do pensamento político brasileiro nas instituições. Um cientista político não pode compreender as estruturas políticas sem uma filosofia política subjacente que oriente seus propósitos. A Constituição de 1988, elaborada após o regime militar, descreve a estrutura atual do Estado brasileiro. Nela estão estabelecidos os direitos fundamentais e as instituições que o Estado organiza para garantir a efetivação desses direitos por meio da lei. Do ponto de vista federativo, existem quatro esferas: União, estados, municípios e o Distrito Federal, sendo que o poder é mais centralizado na União, diferenciando o sistema brasileiro do federalismo dos Estados Unidos. Quanto à divisão do poder, este é compartilhado entre Legislativo, Executivo e Judiciário.

O Legislativo é responsável pela elaboração e revisão das leis, e é composto por duas câmaras: a dos Deputados (federais e estaduais, com mandatos de 4 anos) e a dos Senadores (que, em tradução literal, significa "anciãos", com mandatos de 8 anos). O Executivo, por sua vez, engloba todos aqueles que executam as leis, sendo o presidente da república o chefe máximo. O terceiro poder, o Judiciário, é responsável por aplicar a lei e abrange todo o sistema judiciário, incluindo juízes e desembargadores.

Figura 2 - A Constituição Federal brasileira foi aprovada depois de muita deliberação em 1988
Figura 2 - A Constituição Federal brasileira foi aprovada depois de muita deliberação em 1988

Vale mencionar que já existiu um quarto poder, o Moderador, foi um quarto poder que existiu durante o período do Império (Dom Pedro I), mas atualmente não está em uso. O Judiciário, por sua vez, desempenha o papel de aplicar a lei por meio do sistema judiciário, composto por juízes e desembargadores.

Os Aspectos Singulares do Arranjo Institucional Brasileiro

Os arranjos institucionais no Brasil apresentam particularidades que refletem a complexidade do sistema político do país. Segundo Lotta e Favareto (2016), esses arranjos são definidos como regras estabelecidas pelos agentes políticos para coordenar transações econômicas, relações políticas e sociais. Eles determinam quem pode participar dos processos, os objetivos envolvidos e as formas de interação entre os atores.

No entanto, a existência de arranjos contraditórios pode comprometer a governança efetiva, pois a falta de sinergia entre os agentes governamentais pode minar a confiança e prejudicar o alcance das políticas públicas. É fundamental que os arranjos sejam seguidos de maneira consistente para garantir a confiança mútua e promover uma governança sólida.

No contexto brasileiro, os arranjos institucionais devem se direcionar para as políticas públicas, seguindo a tradição do Estado de bem-estar social. De acordo com Lotta e Favareto (2016), alguns desses arranjos são caracterizados pela presença de três componentes distintos.

Figura 3 - Os arranjos são acordos não escritos e fazem parte da esfera política
Figura 3 - Os arranjos são acordos não escritos e fazem parte da esfera política

No entanto, na prática, nem sempre isso se concretiza ou acontece em sua plenitude. Em outras palavras, o governo apresenta um modelo ideal, mas o termo "ideal" aqui não implica perfeição absoluta. Estudos realizados por cientistas políticos e outros pesquisadores sociais revelam diversas manifestações de alinhamentos, e isso se reflete, por exemplo, na relação entre os poderes Executivo e Legislativo.

Desafios na interação entre os poderes Executivo e Legislativo no Brasil

O arranjo institucional brasileiro enfrenta uma série de desafios que impactam a relação entre os poderes Executivo e Legislativo. A formação de coalizões é essencial para o presidente, mas também é necessário estabelecer condições de governança nos três poderes. O Legislativo possui poderes como a edição de medidas provisórias e a iniciativa de pedidos de urgência, enquanto o Executivo negocia cargos e influencia as decisões legislativas. O desalinhamento entre esses poderes pode levar a consequências prejudiciais à democracia, como a dificuldade na aprovação de leis e a falta de estabilidade. Além disso, a política brasileira enfrenta desafios como a alta dívida interna e externa, o desengajamento político e a polarização, a insegurança jurídica, a violência, a falta de participação social, a sobrecarga dos municípios e a dificuldade na execução de serviços públicos. Esses desafios exigem a atuação de instituições e atores sociais para promover uma governança efetiva e a busca por soluções para os problemas enfrentados.

Contradições e ambiguidades na Terceira República brasileira

A Terceira República (1937-1946) foi um período importante na história política do Brasil, que antecedeu o regime militar e foi marcado pela figura de Getúlio Vargas. Durante esse período, foram estabelecidas estruturas políticas que ainda influenciam o país hoje. Uma contradição política evidente ocorre entre a manutenção da autoridade estatal e a necessidade de apoio popular. Vargas utilizou uma abordagem populista, combinando dominação burocrática com carisma pessoal e paternalismo, cooptando as camadas populares através da estrutura estatal. Essas políticas populistas persistem até os dias atuais e são uma base fundamental do sistema social brasileiro. Além disso, a Terceira República trouxe outras contradições, como a questão trabalhista e a assistência social, que muitas vezes são propensas à corrupção. O populismo continuou a ser uma discussão relevante no Brasil, com acusações frequentes de presidentes utilizando atos populistas para ganhar popularidade. Apesar dessas medidas, o país enfrentou crises no passado e é provável que enfrente no futuro.

Perspectivas para o Brasil após a crise

A palavra "crise" pode ser usada para descrever a falta de funcionamento adequado de qualquer processo. No contexto brasileiro, existem diversas áreas que enfrentam crises, como a educação, saúde, segurança pública, entre outras. No âmbito político, também podemos considerar como crise os momentos em que as instituições entram em conflito, como nos casos de impeachment. Essas crises têm impactos significativos na sociedade e exigem soluções efetivas para superá-las. É fundamental buscar medidas e políticas que promovam melhorias nessas áreas problemáticas, visando um futuro mais estável e próspero para o Brasil.

Conclusão

Em conclusão, este artigo científico apresentou uma análise abrangente das múltiplas crises enfrentadas pelo Brasil em áreas cruciais como educação, saúde, segurança pública e conflitos políticos. Ficou evidente a necessidade de reconhecer e enfrentar essas crises de maneira abrangente e coordenada, buscando soluções efetivas que promovam melhorias nessas áreas e estabeleçam um ambiente mais estável e próspero para o país.

No âmbito educacional, identificamos desafios como a falta de investimentos adequados, deficiências na formação de professores e desigualdades regionais, que requerem medidas estruturais para aprimorar a qualidade do ensino e garantir oportunidades igualitárias para todos os estudantes.

No setor da saúde, constatamos problemas como a precariedade da infraestrutura, a falta de acesso a serviços básicos e a deficiência na gestão dos recursos, demandando a implementação de políticas eficientes que fortaleçam o sistema de saúde, ampliem o acesso a atendimento de qualidade e promovam a prevenção e o combate a doenças.

Quanto à segurança pública, observamos desafios relacionados à criminalidade, violência e sensação de insegurança, evidenciando a importância de políticas integradas que fortaleçam as forças de segurança, invistam em prevenção e repressão ao crime e promovam a participação e o engajamento da sociedade.

No contexto dos conflitos políticos, destacamos a necessidade de fortalecer as instituições democráticas, garantir a separação dos poderes, promover a transparência e a accountability, além de fomentar um ambiente de diálogo e respeito entre os atores políticos, visando a estabilidade e a governança efetiva.

Diante desse cenário complexo, é crucial que os governantes, os legisladores e a sociedade em geral se unam em prol de ações concretas e transformadoras, com base em diagnósticos precisos, planejamento estratégico e implementação eficiente. Somente assim será possível superar as crises enfrentadas, promover um desenvolvimento sustentável e construir um futuro próspero e equitativo para o Brasil e seus cidadãos.

Referências

ALMEIDA, A. Relações Executivo-Legislativo e governabilidade à luz da crise da covid-19. Nota técnica n. 24. Brasília: Ipea, 2020. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9855/1/NT_34_Diest_Rela%c3%a7%c3%b5es%20Executivo_Legislativo%20e%20Governabilidade%20%c3%a0%20Luz%20da%20Crise%20Da%20Covid_19.pdf. Acesso em: 03 Junho 2023.

ANGELI, D. S. Do populismo à experiência democrática: a incorporação dos trabalhadores urbanos ao cenário político brasileiro. Estudios Históricos, Rivera, ano 8, n. 17, 2016. Disponível em: https://estudioshistoricos.org/17/eh1708.pdf. Acesso em: 03 Junho 2023.

BARBOSA, A. R. Relação Executivo-Legislativo municipal brasileiro: produção dos projetos de leis em Salvador. Cadernos de Estudos Sociais e Políticos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 7, p. 84-113,  2015. Disponível. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/CESP/article/view/19031/13860. Acesso em: 04 Junho 2023.


Publicado por: Fernando michel da Silva correia

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