A Ciência Política e o desejo na construção social
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A Ciência Política se articula sob diversas áreas do conhecimento, bem como sob temas da Filosofia, História, Sociologia, Antropologia e muitas outras áreas de estudo. Essa transdisciplinaridade do saber possibilita que a Ciência Política vá além de meras questões institucionais – que são tão conhecidas no âmbito popular –, exercendo um papel mais humanístico em seu conhecimento.
A definição de política se assemelha com a definição de ética, que consiste na reflexão acerca do melhor modo de conviver, o que remete a uma relação de interação entre indivíduos, entendida na concepção de alteridade. Entretanto, há uma grande dificuldade, tanto na política quanto na ética, de organizar as relações humanas de forma que contemple os interesses divergentes dos membros sociais. Sendo o homem desejante por natureza, a sociedade é, por natureza, uma guerra de todos contra todos, como diz o pensador inglês Thomas Hobbes em sua obra Leviatã (1651), destacando o caráter conflituoso das relações sociais. Desse modo, a política representa não apenas a contingência do conviver, mas também, a gestão de desejos contraditórios na administração da polis.
Ao falar sobre desejo, é importante salientar a sua importância em todas as áreas de estudo das relações humanas, o que não é diferente com a política. O desejo se caracteriza no interesse pelo que não se tem; na esperança de que algo, se obtido, possa trazer prazer; ou na suposição de um encontro alegrador. Baseando-se nessas definições, podemos contextualizar questões políticas, tanto atuais, quanto antigas, de forma a colocar o desejo como protagonista, assim como: em guerras pela propriedade privada; em disputas pelo poder e controle político; em revoltas e revoluções; e também, em relações de consumo e ascensão social. Nesse último exemplo, fica evidente como o desejo é utilizado para conduzir as sociedades do mundo capitalista a sustentar o sistema político vigente, de modo que a satisfação pessoal é sempre vista como uma pacatez de vida, uma destreza das atitudes humanas, e substituída pelo fascínio da aquisição. Nesse momento, o desejo é a ambição de posse, é o estímulo de compra que a política precisa no sistema.
Com isso, nota-se a importância de um conhecimento descritivo e crítico sobre política, para melhor entendermos como e porquê a política se articula de certas formas e utiliza elementos de sua definição para moldar comportamentos sociais da forma que mais lhe convém, diante do conflito entre indivíduo e sociedade.
Proporcionando uma reflexão acerca da relação entre indivíduo e sociedade, Jean-Paul Sartre em A náusea (1938) mostra que o homem, mesmo com a sua liberdade deliberativa de “a existência precede a essência”, é influenciado e pressionado pela sociedade a assumir teatralmente identidades que possibilitam a sua integração nessa sociedade. Como se vê a diferença de comportamento de um indivíduo em seu mundo profissional para o comportamento em seu mundo privado. Assim, percebe-se que, por meio de identidades postiças que categorizam as personalidades, o convívio social acaba sendo, de certa forma, padronizado para se tornar uma unidade consistente. Elimina-se, com isso, grande parte dos conflitos de desejos contraditórios entre indivíduos, e facilita muito o dever da política de contemplar os “desejos populares”. Ensinando que comer bife é legal, para dar sempre bife.
Notamos que a política, a partir de sua definição, articula-se para a modelagem incisiva das formas e manifestações sociais, seja quanto às questões de consumo ou de comportamento pessoal. Do primitivo ao contemporâneo, a política se utiliza da gestão de desejos para organizar e influenciar pessoas.
Referências Bibliográficas
HOBBES, Thomas. Leviatã, 1651.
SARTRE, Jean-Paul. A Náusea, 1938.
Publicado por: Rafael Solera
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