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Vídeos de jogos infantis: apontamentos multimodais n’algumas produções do Canal Carimbócu

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

RESUMO 

Este artigo objetiva analisar alguns vídeos para crianças pela perspectiva da multimodalidade e, em si, ele já se apresenta de forma interativa, lúdica e multimodal, com uso das normas culta e coloquial, com qrcodes incorporados, links e smiles.  Num primeiro momento, traz-se uma entendimento basilar sobre modos, suas classificações e relações. Em seguida, conversa-se sobre a imagem, o layout, o som e a intenção.  Toma-se, como corpus de análise, alguns jogos em formato de vídeo do Canal Carimbócu no Youtube,  abordando seus referenciais pedagógicos e determinados históricos de criação, mas principalmente as produções como material semiótico. As análises dos vídeos são feitas por relato livre e, ao mesmo tempo, são norteadas por classificações conhecidas e trabalhadas por autores da multimodalidade. A conclusão se endereça à ótica crítica ideológica, figurando a análise dos jogos infantis junto à construção de discursos que levam em consideração a diversidade cultural, o sentido antirracista, anti-misógino, além de tratar o aprendizado e os esforços intelectivos com diversão e alegria. 

Palavras-chave: modo, multimodalidade, crítica ideológica, vídeo, semiótica

INTRODUÇÃO

A estruturação deste artigo é resultado de uma atividade avaliativa da disciplina chamada Multimodalidade e Construção de Sentidos no Meio Digital (LP 136), conduzida pelo Prof. Dr. Rodrigo Esteves de Lima-Lopes, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Após discussões sobre semiótica, processos ideológicos, modos de linguagem, discurso crítico, linguística sistêmica funcional e construção de significados, resolvi tomar como ponto de partida, um entendimento basilar sobre modo e multimodalidade.

No começo deste texto, haverá uma aproximação elementar a algumas perspectivas multimodais trazidas por Kress (2014), Lima-Lopes (2016), Lemke (2006), da NLG - New London Group (CAZDEN et al, 1996) e Machin (2013). Além destes, também estendo a conversa a outros autores, buscando sempre aclarar as escolhas feitas e a intenção das ponderações. Tento apoucar as divisões entre os modos e olhar a multimodalidade como uma amálgama entre eles. Todavia, para que possamos refletir a dimensão pedagógica em um corpus de vídeos infantis, considero enquadrar as análises em modos, determinando-os e pontuando-os.

Destarte, apresento um canal de Youtube o qual desenvolvo jogos para crianças, abordando seus referenciais pedagógicos e históricos de criação, a importância das narrações, dos sons e das trilhas sonoras, o porquê dos layouts, dos esquemas de cores, linhas, formas, cenários e enquadramentos, além de mostrar a intenção do discurso, da didática e dos valores projetados. 

Faz-se importante destacar que este artigo possui uma formatação científica, mas de forma provocadora, pretendo articular o texto com interatividade, ludicidade e multimodalidade, deixando-o com uma fluida experiência de leitura em HTML. Ancoro-me na forma que Lemke (2006) vê a construção de significados junto à internet, de forma transversal. O autor descreve: “Uma trajetória através de links dentro de um website já pode nos levar a diferentes gêneros e diferentes mídias usando diferentes modalidades”(p. 6)(tradução minha), e essa transversalidade se apresenta livre “das restrições dos gêneros convencionais e representam uma importante fonte, um potencial de tipos de significados radicalmente novos.”(p. 7)(tradução minha).

(Des)compartimentando modos na multimodalidade

Com relação a este primeiro tópico, trago uma aproximação basilar sobre o entendimento de modo e multimodalidade.  Partindo do olhar de Kress (2014), temos que “modo” é uma forma socialmente reconhecida de construir e imprimir significados, tem um variado potencial de representação, possui um feixe de características altamente diversificadas, e dentro de um modo, são encapsulados diversos outros modos. Inclusive, o próprio autor (2014, p. 64) destaca que é difícil ver quais os princípios de coerência os unificam, por isso, é resultante (e cabível) distinguí-los. Lima-Lopes (2016, p.333) também corrobora com este esclarecimento, colocando que “o vídeo é um modo de linguagem completo que encapsula uma série de outros modos”. 

Destarte, não pretendo ser laudatório quanto à compartimentação de modos, e sim classificá-los apenas para a identificá-los dentro da intenção deste artigo. Inclusive, não haverá uma descrição da relação entre os modos, e espelho o que Lima-Lopes (2016, p.334) declara em sua análise de vídeos publicitários: “parte-se de uma análise real e efetiva dessas combinações de forma a entender como o sistema de significados é construído dentro da instanciação específica que tais textos representam”. 

Dito isso, Kress (2014) assenta alguns exemplos de modos usados na representação e na comunicação, como a imagem, a escrita, o layout, música, gestos, discurso, imagens em movimento e trilha sonora (p. 60-61); Lemke (2006) também aponta a construção de significados em modalidades semióticas com aplicação na linguagem, falada ou escrita, e também com “imagens pictóricas, representações visuais abstratas, música, matemática, efeitos sonoros, culinária, vestuário, gestos, postura, línguas de sinais ou ações como tais” (p. 5) (tradução minha). Esses exemplos são importantes para se considerar um norte e para deslindar as possibilidades audiovisuais e pedagógicas que pretendo aqui. 

Ao me deparar com uma amálgama de modos, foi possível amadurecer a concepção de multimodalidade, a qual relaciona todos eles de forma altamente dinâmica. Este olhar é colocado pela NLG - New London Group, o qual traz o exemplo de um shopping mall para ilustrá-lo.  Ao visitarmos um shopping, somos envolvidos por muitos textos escritos, e ao lermos esses textos, tanto criticamente quanto de forma recreativa, somos envolvidos em “uma leitura multimodal que inclui não apenas o design da linguagem, mas uma leitura espacial da arquitetura do shopping e do local, e o significado dos letreiros, dos logotipos e da iluminação. (CAZDEN et al, 1996, p. 81) (tradução minha).

Machin (2013), ao problematizar a descrição de modos, destaca que “na comunicação multimodal, os diferentes modos se tornaram mais integrados, e os elementos visuais foram usados para comunicar ideias e atitudes complexas” (p. 348) (tradução minha). A multimodalidade é de grande amplitude, ela é incorporada em distintas aproximações e moldadas por elas (KRESS, 2014). É também Machin (2013) que reforça, ao tratar de comunicação, que “a multimodalidade se refere à combinação ou integração de vários sistemas de signos ou recursos semióticos, como linguagem, representação, gesto, matemática, música, etc”. (p. 5) (tradução minha).  

Dessa maneira, a multimodalidade habita e se consubstancia a um “quadro amplo de interesse em poder, representação e comunicação” (KRESS, 2014,  p. 60)(tradução minha), o que me oportuniza a figurar a análise dos vídeos junto à perspectiva crítica ideológica, e também a impelir o campo da educação nesse olhar.

Pra onde olhar? 

(Sirvo-me do privilégio de ser formado em Letras para abreviar o “para a” e o “para o” em “pra” e “pro” sem me apoquentar com restrições da norma culta. Destaco aqui meu atrevimento composicional em busca do fortalecimento dessa linda coloquialidade.)

Pra imagem. No esforço de definir quais modos eu usaria para observar os vídeos que produzi, coloco a atenção inicial na “imagem” em si. Pelo entendimento de modo, Kress (2014) “a imagem fixa é baseada na lógica do espaço: ela usa as affordances de um espaço (enquadrado), seja uma página ou uma tela, um pedaço de parede ou uma camiseta”. (p.62) (tradução minha).  E para esquematizar as imagens empregadas, parto de alguns exemplos trazidos pelo próprio Kress (2014), com considerações sobre o tamanho, a cor, a linha e a forma, círculos, quadrados e triângulos. Lima-Lopes (2016, p.333-334) também traz classificações que serão pesadas, como a perspectiva, cores, olhares, composição de quadro, som, edição de imagem e texto.

Pro layout. O layout também é um modo de grande importância no objetivo deste artigo, já que a distribuição semiótica tem consequências sociais e ontológicas: as formas como são combinadas as imagens e os textos são representativas para a construção de significados, e me aproprio desse pensamento trazendo a voz de Kress (2014, p. 70):  Layout 'orienta' os espectadores/leitores para significados como 'centralidade' ou 'marginalidade', 'dado' ou 'novo', 'anterior' e 'posterior', 'real' e 'ideal'. Esses são estados de coisas no mundo, diferentes e ainda assim tão significativos quanto ‘nomear’, ‘relacionar’, ‘representar’. (tradução minha).

Pro som. Com a atenção voltada aos sons dos vídeos, este modo também é analisado como um material semiótico. Machin e Leeuwen (2016) declaram que, “resumidamente, a modalidade se refere a vários graus de realismo com os quais o som gravado ou sintetizado pode representar sons no mundo real” (p. 419) (tradução minha).  Destarte, trago para análise a influência dos sons, narrativas e músicas, além de demarcações e significados trazidos por estes autores, como eco, reverberação, tom, tensão e vibratos. Esses elementos se relacionam a diversas experiências subjetivas para o espectador, tais como sensação de intimidade, amor, mistério, espaço, medo e aventura. Também observo O’Halloran (2004, p.123-124) quanto ao seu olhar sobre soundtrack, considerando volume, tom, timbre, ritmo, e algumas características que mesclam o discurso, a música e os efeitos sonoros.  Ainda, reforço que também é observado e evidenciado o potencial ideológico sobre a construção sonora, e me apoio em Machin e Leeuwen (2016), os quais alertam que “a análise crítica do discurso multimodal pode revelar discursos enterrados, por exemplo, de gênero e poder por meio da análise detalhada de som e música” (p. 415)(tradução minha).

Pra intenção. É importante ressaltar que a minha produção dos vídeos considera um receptor idealizado. Assim, ao me orientar pela dimensão pedagógica, dependo de um repertório cultural que concilie símbolos convencionalizados, e a partir disso faço uma busca interpretativa sobre os efeitos que os vídeos podem causar nas crianças (e também em seus responsáveis). Reforço que a intenção da comunicação conta bastante, e para me apoiar nesta ótica, coloco as indagações de Cameron e Panović (2014, p. 5) : “a pergunta não é só ‘o que isso diz?’, mas também ‘por que essa pessoa está me dizendo isso?’.” (tradução minha). 

Junto aos três tópicos citados, imagem, layout e som, infinitos modos se compõem, como a escrita, a música, gestos, discurso, imagens em movimento, trilha sonora, tamanhos e suas variações, as cores, as linhas, as formas, intenção do discurso,  valores projetados, etc.  Todavia, constantemente busco dispensar catalogações autônomas, pois prefiro analisar a intenção dos vídeos junto a um relato livre, e para tanto, apoio-me no jeito que Machin (2013) o faz. O autor, ao se pronunciar sobre recursos visuais que um simples texto pode ter, retrata que ele “pode envolver o potencial comunicativo de fontes arredondadas e amigáveis, cores diluídas para indicar humor descontraído, muito espaço em branco vazio para criar uma sensação de simplicidade e espaço para respirar (p. 348) (tradução minha). De forma similar, mantenho este percurso.

O Carimbócu e sua sua criação podem ser consultados em https://www.arquer.com.br/arte_e_entretenimento/carimbocu/.

Lá, é descrito seu histórico, a origem do nome, a relação do canal com a pedagogia e as crianças, além de uma perspectivação de Machin e Leeuwen (2016) sobre os sons de fundo usados na aprodução. No link, também é possível acessar os videos em análise e seus complementos. Eles são feitos com os jogos: Sequência, o jogo Buzina de Kombi, o Jogo Língua, o jogo A Revolta da Caneta Vermelha, o Jogo Escondido no Livro, o Jogo 2 Iguais,Tamanhos ≠s, e o Jogo 3 Fakes.

Considerações Finais

No início deste texto, mostrei que eu pretendia trazê-lo de forma multimodal, construído-o para ser publicado em HTML, em PDF, com qrcodes incorporados, links, smiles, linguagens formais e informais, culta e coloquial, tentando manter uma leitura fluída e de forma transversal. Aliás, foi em Lemke (2006) que me respaldei para poder dançar entre diferentes modalidades. Além dele, outros autores como Kress (2014) e Lima-Lopes (2016) foram apresentados para sustentar o entendimento sobre “modo”. Com cautela, deixei claro que eu não pretendia catalogar os modos, então trouxe o exemplo da NLG (visita ao shopping) e os esclarecimentos de Machin (2013, 2016), apontando a combinação e integração dos modos.  Retomei e reforcei Kress (2012, 2014), visando espectar a multimodalidade e justificar a análise de vídeos junto à perspectiva crítica ideológica.

Foram escolhidos quatro percursos para analisar os vídeos: a imagem, o layout, o som e a intenção, e os trouxe no esforço de justificar minhas catalogações e interpretações sobre os jogos. Por fim, apresentei o histórico do Canal de Youtube Carimbócu, seu propósito pedagógico, e a forma que foi pensada sua ambientação sonora. O trabalho trouxe a decomposição de oito jogos, e assumo que eles são demasiado extensos, já que observar em minuciosidade é uma recomendação à análise multimodal. Todavia, acredito que isso reforça a crença de que qualquer seleção fragmentária, com vistas à multimodalidade, tente a ser uma exploração inesgotável. Não se trata de adotar uma postura ingênua, e sim apontar um pequeno número de observações de cada, e ao mesmo tempo incluir os referenciais pedagógicos existentes: memorização, discernir sons, relação parte-todo, conhecimentos gerais, localização espacial, jogo de posição, iguais e diferentes, e análise de figuras.

Com as observações multimodais sobre os vídeos, sinalizei como alguns modos se amalgamam e se representam semioticamente. Deveras, tento criar uma relação ideológica com os espectadores, construindo discursos que levam em consideração a diversidade cultural, o sentido antirracista, anti-misógino, além de tratar o aprendizado e os esforços intelectivos com diversão e alegria.  Sinto-me contribuindo no olhar de Lima-Lopes e Câmara (2019) pois os vídeos do meu canal  partem de uma seara pessoal, “mas se enquadram em um ambiente público que pode ter como objetivo uma transformação social mais abrangente na sociedade na qual estão inseridos e circulam (p. 101).

Por fim, este artigo convida as crianças, pais, avós ou outros responsáveis, a conhecerem o Canal Carimbócu. “Curta, inscreva-se e ative o sininho”.  Cabe mencionar que ainda há muito o que ser estudado junto à multimodalidade para que haja um entendimento mais profícuo sobre a construção de significados e identidades, e como os discursos podem ser direcionados ao bem estar social, à cidadania, ao respeito às diferenças, e ao campo educativo.  A expansão do repertório multimodal “é importante para a criação de um diálogo intercultural voltado à justiça social, ocasionando melhores formas de convivência em sociedade” (LIBERATI, LIBERATI, PADRE, SANTOS, 2017, p. 263).

REFERÊNCIAS

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Publicado por: Francisco Arquer Thomé

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