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RESIDÊNCIA NA DISCÊNCIA PEDAGÓGICA PARA UMA MELHOR ATUAÇÃO EM TURMAS MULTISERIADAS

Análise sobre a relevância da Residência Pedagógica, para facilitar a prática dos professores/educadores na atuação com crianças em turmas multiseriadas.

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Resumo

O estudo elaborado, pretende mostrar a relevância da Residência Pedagógica, para facilitar a prática dos professores/educadores na atuação com crianças em turmas multiseriadas. O objetivo geral volta-se para propor essa modalidade de ensino, por meio de extensão, nas próprias universidades públicas que ofertam a Licenciatura em Pedagogia, tendo como finalidade facilitar a aceitação voluntária, dos que atuam e ainda estão em fase de finalização da Pedagogia e não encontram conforme deveriam, o preparo condizente nos estágios supervisionados obrigatórios. Justifica-se pela percepção obtida em relação aos estágios, nos quais precisam ser melhor elaborados, para promover a vontade da busca pela Educação Continuada prática, tendo como elo norteador, o número elevado de alunos que não conseguem obter um aprendizado significativo e com o tempo, evadem a escola. Os recursos metodológicos partiram de uma revisão bibliográfica da literatura, onde  procura apontar que, nos dias hoje, em meio a tantas transformações sociais é indispensável que o professor tenha as habilidades em consonância com a realidade do alunado, para fazer valer a prática pedagógica e o ensino como um direito de todos os cidadãos.

Palavras-chave: Residência Pedagógica. Turmas Multiseriadas. Docente/discente. Extensão. Processo de Ensino-aprendizagem.

Introdução

O presente estudo tem por objetivo identificar as possibilidades de implantação da Residência no Curso de Licenciatura em Pedagogia, tendo como meta, ampliar o saber docente, de modo a minimizar as dificuldades no processo de ensino-aprendizagem de crianças no Ensino Fundamental, destacando que a partir de práticas adquiridas pelos mediadores e formandos na própria universidade ou em intuições formais públicas, melhores serão as probabilidades de atuação em sala de aula pelos profissionais educadores.

A aprendizagem para apresentar um nível aceitável de desenvolvimento por parte do alunado, precisa que a distorção entre idade e série seja reduzida cotidianamente no âmbito institucional, isso porque é comum encontrar alunos com defasagens em diferentes disciplinas, devido as condições sociais, pais/responsáveis analfabetos funcionais, problemas estruturais na própria escola (ausência de acesso aos recursos e ferramentas digitais, acessibilidade, etc.) e com idade fora das propostas curriculares (0 a 12-13 anos de idade – Escolarização Básica), para prosseguir dentro dos segmentos no Ensino Fundamental, em questão de tempo/ano.

As defasagens requerem que as diretrizes curriculares (autonomia nas escolas, para que os profissionais possam planejar os conteúdos pedagógicos dentro da realidade do alunado) sejam cumpridas pelo docente, tendo como meta minimizar a probabilidade de fracasso escolar, destacando ainda, ser este um fator de descontentamento daqueles que esperam da escola pública, que oferte bases para a construção da cidadania de seus indivíduos.

É relevante mencionar que em meio aos aspectos inibidores de uma aprendizagem direcionada ao bom desempenho, tem-se o desconhecimento das exigências mercadológicas e sociais necessárias ao docente (tecnologias que agreguem os saberes do próprio professor e dos alunos, dentro das transformações sociais vigentes), associadas à falta de habilidade prática, após o término da Licenciatura em Pedagogia (o fazer docente em meio a uma multiplicidade de saberes, com série/idades, culturas e um olhar que possa traçar o perfil do aluno, dentro de seu cotidiano e grupos pertencentes), constituindo-se em pontos que atrapalham na elaboração de planejamentos para atuação em turmas multiseriadas.

Os números elevados de alunos em sala multiseriadas, são os que não conseguiram acompanhar a evolução do processo de ensino-aprendizagem formal na idade e série pretendidas, o que causa uma ruptura no aprendizado ao colocar em consonância com o desenvolvimento e as habilidades essências, para assimilar, interpretar e acomodar as propostas didático-pedagógicas exigidas pelas diretrizes.

Neste pensar, a Residência no Curso de Pedagogia pode ser uma proposta significativa para melhorar a qualidade do ensino nas escolas públicas, em especial, em salas de aula multiseriadas, tendo como finalidade elevar a probabilidade do professor em criar metodologias, nas quais contemplem o aprendizado adquirido pelo alunado em seu meio e, possa ser ampliado para melhor formação dentro das perspectivas educacionais, como um todo.

A Residência na Licenciatura em Pedagogia é importante na ampliação dos saberes para a condução do alunado no Ensino Fundamental, cabendo ao professor procurar acompanhar as propostas educacionais com base nas transformações do tempo, isto é, as oriundas do mercado capitalista, no qual diariamente impõe estilos de vidas ideais para a sociedade e; diretamente influencia na ação prática de sala de aula, pois esses saberes advindos de informações rápidas exigem que o profissional esteja atento aos questionamentos dos alunos.

Portanto, faz-indispensável a figura do gestor como incentivador de um ambiente satisfatório que pode ser dado pelo incentivo a novos saberes, por projetos que se estendam a construção de planejamentos coletivos (família, comunidades, etc.), orientação acerca das exigências sociais (reuniões, roda de conversas, etc.), para estimular os formadores na busca por especialização prática dentro de um contexto educacional plural, no qual abarque a diversidade de ideias, ideologias e culturas.

O objetivo geral apresenta que a Residência na Licenciatura em Pedagogia, se constitui num caminho inovador para a construção da prática pedagógica dentro uma sociedade, na qual exige saberes diferenciados para auxiliar o aluno dentro de sua linguagem, a interpretar as mudanças que ocorrem na sociedade.

Para melhor elucidar a linha de pesquisa, a metodologia é dada por uma revisão de literatura, com abordagem qualitativa, onde os textos foram compostos por alguns dos seguintes teóricos; FREIRE (1967); BRASIL (1996); LIBÂNEO (2001/2004); SAVIANI (2009); PANNUTI (2015); LAHIRE (2011); CAPES (2018); BRASIL (2019), dentre outros.

É válido mencionar que propor estratégias que inovem o espaço educacional, a partir de decisões cooperadas e inovadoras, tal como a aceitação da abertura para a Residência em Pedagogia, nos dias de hoje, se torna imprescindível para quebrar os preconceitos e vencer as barreiras impostas por um mercado institucional capitalista e volátil, assim como a necessidade de adequação as proposta das Leis: Constituição Federal do Brasil de 1988 em seu artigo 205 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº. 9.394/96) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC/2019) em seus dispositivos legais. 

Isso porque, são muitos os preconceitos direcionados a uma parcela significativa de alunos vulneráveis, sendo estes proporcionados em boa parte, pela impossibilidade de acesso as novas tecnologias e linguagem falada em seu meio (diversidades de culturas, dentre outros), o que nega a cultura de base do aluno e; ao mesmo tempo, procura moldá-lo dentro de um padrão social propriamente capitalista para satisfazer a demanda composta por um público elitizado, que percebe os que tem menos recursos, como uma probabilidade de aumento de seus lucros (mais-valia pelo trabalho que muitas das vezes, é dado ainda por crianças/adoelscentes), portanto, àqueles que podem empregar/investir na educação, no geral, não contribui para que se efetive conforme, as leis determinam. 

PRÁTICA DOCENTE: A CONSTRUÇÃO DE NOVOS SABERES NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

O estudo que segue, faz uma breve abordagem acerca do saber docente para a formação integral, que pode ser definida como uma proposta educacional, na qual busca elevar a capacidade cognitiva e intelectual do aluno, em níveis mais elevados, já que o mesmo é um direito assegurado em leis, o que reflete a necessidade de rever cotidianamente a prática aplicada em sala de aula, junto a multiplicidade de aprendizagens dos alunos que necessitam de planejamentos, em acordo com a realidade vivenciada cotidianamente, para adequarem-se as exigências sociais (DEWEY, 2002).

A prática docente precisa ser consolidada, não somente por meio de titulações, mesmo que estas sejam indispensáveis, pois representam a formação continuada (desenvolvimento intelectual do professor para fins de profissionalização e melhor atuação no contexto educacional) e, a luta incessante de alguns profissionais, para saber lidar com as diversidades.

Porém, durante o percurso voltado para propor bases ao alunado em sua formação, se faz fundamental que ocorra a unicidade dos títulos à realidade de sala de aula, para contemplar o alunado fora dos muros da escola, com base nas propostas curriculares, estabelecidas pelas legislações, isto é, o docente precisa se adequar-se as mudanças do tempo, mas, somente com as habilidades e competências produzidas pelo magistério na práxis pedagógica, as dificuldades de elaboração de planejamentos se mostram presente, de forma acentuada, para o atendimento da multiplicidade de saberes levados pelos aprendiz à instituição de ensino (LIBÂNEO, 2001).

Libâneo (2001) por sua vez, aponta que a prática docente leva o profissional a reinventar-se mediante as transformações sociais, sendo as demandas um caminho inovador que deve ter como base, o estímulo para a criação de metodologias amplas e plurais, de modo a atender a diversidade de alunos em suas necessidades de aprendizagens, significando que,

Uma pessoa estuda Pedagogia para ensinar crianças. O pedagógico seria o metodológico, o modo de fazer, o modo de ensinar a matéria. Trabalho pedagógico seria o trabalho de ensinar, de modo que o termo pedagogia estaria associado exclusivamente ao ensino (LIBÂNEO, 2001, p.6).

Neste pensar, a citação de Libâneo (2001) mostra a necessidade de reflexão acerca das metodologias práticas aplicadas no cotidiano de sala de aula, isso porque o docente deve ter uma formação que o leve a compreender as transformações do tempo e reorganizá-las, para que o aluno aprenda a lidar com as mesmas e, com isso forme a sua identidade cultural e social.

Destacando que a qualidade do ensino para os diferenciados segmentos da educação básica está assentada na necessidade de uma formação profissional que os leve a elaborar planejamentos, na qual instigue o alunado a empenhar-se para aprender, pois a dedicação do professor, precisa estar abastecida também do estímulo do aprendente, isso porque a partir da participação mútua, as dificuldades no processo de ensino-aprendizagem serão minimizadas.

Libâneo ainda em estudo (2001) descreve em seus relatos que a formação pedagógica precisa ampliar a capacidade de atendimento aos diversos públicos que compõe a instituição escolar, tendo em vista que, “o campo da atividade pedagógica extraescolar é extenso, levando a imaginar que faz-se essencial incluir no processo de ensino-aprendizagem e o extraescolar a todos os atores educacionais, tanto nos relacionados ao sistema público, quanto ao âmbito particular (p.13)”.

Para o autor, a prática pedagógica se transforma em alerta para o docente em termos de evolução e transformação do tempo, que precisam ser acompanhados pelo alunado para não perder as bases do aprendizado, evidenciando que o professor, independente de área de atuação ou disciplinas ministradas, deve levar em consideração todas as pluralidades que acontecem dentro e fora do âmbito escolar, tendo como ponto norteador o processo de ensino, assegurando, assim a sua habilidade frente as diversidades e competitividades que são traçadas pelo sistema educacional.

Libâneo (2001) deixa claro que o mediador deve reinventar-se, sendo formador de opiniões, mas sempre exercendo a prática do diálogo, que pode ser dada a partir de atividades, nas quais promovam as interações e a interdisciplinaridade, de modo a agregar os conteúdos à cultura social em que o aluno está inserido, dentro das diferentes realidades vivenciadas em seu meio.

Segundo Fernandes (2001) o professor para agregar novos saberes aos alunos, precisa fazer uma análise acerca de seus planejamentos, inserindo as diferentes aprendizagens, peculiaridades e complexidades que são percebidas no aprendente, pois todos os aspectos que estão entrelaçados na cultura, no social e no próprio modo de perceber por parte de quem aprende o universo em que habilita, influenciando diretamente na aquisição do processo de ensino-aprendizagem

Para tanto,

Existe a necessidade de que o docente amplie o seu campo de aprendizagem através da Licenciatura em Pedagogia, que pode ser construída a partir da realidade social do aluno, seja em instituições formais ou não formais, cabendo a observação acerca da formação que lhe será proporcionada pelos meios em que fizer a escolha “escolas, sistemas escolares, os movimentos sociais, as diversas mídias, incluindo o campo eleitoral, a área de saúde, as empresas, os sindicatos (etc.), objetivando oferecer ao sujeito as melhores formas de interiorizarem a importância da educação (LIBÂNEO, 2001, p.14).

Neste sentido, a formação do profissional mediador do ensino, deve ser composta por uma gama considerável de conhecimentos que lhe proporcionem as competências e habilidades para saber identificar o perfil do aluno, as necessidades que o cercam, assim como as melhores práticas para se estabelecer trocas, seja de experiências, saberes (etc.) e, propriamente dos conteúdos didático-pedagógicos essenciais à formação para os meios pertencentes (FERNANDES, 2001).

Demonstrando Libâneo (2001) em consonância ao pensar de Paulo Freire (1967), que o profissional da educação deve conscientizar-se em relação a realidade vivenciada pelo aluno, cabendo procurar descobrir de qual cultura participa, da linguagem falada e modo de leitura/escrita, assim como, das percepções de mundo.

No entanto, podemos encontrar nesta pedagogia ressonâncias de um antigo princípio humanista será igualmente necessário buscar as circunstâncias concretas que lhe atribuem sentido. No método de ensino seria possível, por exemplo, encontrar algo da “maiêutica socrática”, pois como em Sócrates a conquista do saber se realiza através do exercício livre das consciências (FREIRE, 1967, p.6).

Freire (1967) em suas Obras retrata a relevância do ensino ser prático para propor a compreensão do aluno, ao mesmo tempo, em que diz respeito ao olhar humano (singularidades, dificuldades e complexidades, dentre outros), isto é, o docente precisa abastecer-se de saberes que os oriente na formação do sujeito, através dos conteúdos didático-pedagógicos para a efetivação do processo de ensino-aprendizagem, tal como, ver e interpretar as diferenças, nas quais dependem da sua sensibilidade, habilidades e inovações, dentro de sala de aula para ajudar o alunado, também fora do muro da escola.

Freire (1967) aponta que a realidade educacional precisa ser refletida por todos os docentes, isto é, as trocas de experiências, saberes, interações e afetos são construídos a partir de prioridades na prática e na organização de um planejamento que atenda às necessidades dos alunos, de modo ativo, mas, sem proporcionar qualquer tipo de resistência ao aprendente; e sim, o estímulo ao aprendizado básico que é indispensável à formação cidadã.

A formação cidadã em acordo com a LDBEN nº. 9.394/96 pode ser entendida da seguinte maneira,

TÍTULO I - Da Educação. Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL, 1996, p.1).

Ainda com base neste pensar, segundo Freire (1967) “a alfabetização e a conscientização jamais se separam (p.12)”, o que reflete que o professor reflexivo é aquele que vai além dos saberes propostos para educar o outro, o que busca além deles apropriar-se de bases que lhe ensine a trabalhar cotidianamente com as diferenças em sala de aula, sem separar o contexto histórico-social do aluno de sua necessidade de aprendizagem formal, para estabelecer vínculos estruturados (conhecimentos formais), com a sociedade.

Prosseguindo na mesma linha do pensar acima, Chakur (1995) evidencia que na maioria das vezes, o fracasso escolar acontece por razões na formação do educador, onde acaba sendo treinado para ensinar a um aluno “perfeito”, que não proporcionará qualquer tipo de decadência em seu aprendizado, que terá um desempenho positivo durante a trajetória escolar, sendo que a visão é totalmente errônea, principalmente, quando em uma sala de aula as perspectivas do mediador não confere com a realidade estrutural do aluno, que tem tempo ideal para aprender com base em seu desenvolvimento, conforme descrito nas obras de Piaget (1977).

Essa visão de aluno ideal também é um dos fatores inibidores da aprendizagem, pois, o professor sempre espera que suas metodologias aplicadas alcance o nível de sabedoria formal do sujeito, quando ele é quem precisa se remodelar as demandas dentro do processo de ensino-aprendizagem, para efetivar as propostas educacionais e; com isso, trabalhar a sua sala de aula com planejamentos elaborados para contemplar a multiplicidade de saberes com que estes chegam à escola (CHAKUR, 1995).

Para tanto, o processo de ensino-aprendizagem deve ser entendido como um ato contínuo, isso porque o professor deve ampliar seus saberes também com práticas, haja vista que teoria e prática são associadas e o sujeito para adaptar-se as demandas sociais e ao contexto escolar, precisa de metodologias aplicadas com a valorização das diversidades presentes em sua vida.

Que de acordo com Gramsci (1989),

Uma tomada de consciência, um complexo processo psicológico interior em que a apropriação da cultura possibilita a transformação e a elevação da concepção do mundo anterior, que tem o seu acento na prática. Um processo de aprendizagem em que o papel do professor é levar o aluno, enquanto ser social, a atingir níveis mais altos de desenvolvimento.

Sendo que as diversidades também têm de aprender a compreender que o professor não é múltiplo, mas que se multiplica em sua organização para atendê-las em suas singularidades. São na realidade, reflexões que precisam ser feitas, tanto por aluno/família, quanto educadores, nos quais enfrentam turmas multiseriadas, destacando que durante a própria formação do discente, é indispensável que o mesmo seja preparado para lidar com esses reveses, isso porque os resultados que os alunos irão apresentar durante um bimestre/semestre ou ano letivo, influenciarão diretamente na qualidade de seus planejamentos (TARDIF, 2002).

Mencionando que se faz comum nas escolas públicas, a presença de alunos com defasagens em diferentes disciplinas, atribuindo a culpa ao docente. Esse pensar de que o professor é a único culpado pelo fato do sujeito não conseguir aprender, causa inúmeras restrições as ações, devido a: dificuldades de recursos que abranjam as diversidades de alunos em uma sala de aula (em especial, tecnologia, cujos laboratórios não tem a capacidade de atender ao aluno de forma individual – são agrupados), alunos de escolas particulares com diferenças na capacidade de adaptação à escola, ensino nas escolas particulares muito tecnológicos, fazendo que quando entram na escola pública (questões particulares da família), o descompasso afaste os sujeitos já residentes de uma possível igualdade em termos de ensino; pois, algumas vezes, é comum que o professor oferte maior atenção àquele que apresenta facilidade para aprender. O aluno que sai de séries anteriores sem saber ler e escrever corretamente e que já apresenta devido aos segmentos anteriores a tendência ao fracasso escolar na série matriculada (HAGE, 2005).

Com base no pensar anterior, Hage (2005, p.3) relata que a escola com salas multiseriadas promove uma série de desafios ao docente, onde por um lado, o obriga no cumprimento de suas funções a elaborar planejamentos distintos, por outro, a tentar se adequar as múltiplas realidades, ambas situações são fatores de extremo distanciamento de uma prática concisa por parte do professor em sala de aula, isso porque, na maioria das vezes, em que se depara com uma turma com defasagens no processo de ensino-aprendizagem (mesmo sendo camuflado por alguns alunos que apresentam um desenvolvimento adequado), torna difícil o trabalho do mediador em criar planejamentos, para uma diversidade que ele desconhece a real dificuldade no processo de ensino-aprendizagem.

Por isso, Tardif explica que,

As distancias de aprendizado existentes em uma sala de aula em meio as diversidades culturais, setoriais, econômicas, etc., devem ser utilizadas como um ponto de partida para direcionar o docente em seu trabalho cotidiano. É relevante que o mediador conheça a disciplina que irá ensinar e o perfil de alunos que serão atendidos, para poder elaborar propostas que integre o alunado, a partir de um planejamento único, que tenha início, meio e fim, sem separar os que tem facilidade dos que não a apresentam, para de fato reduzir o fracasso escolar, fato comum nas escolas públicas (TARDIF, 2002, p.39).

Esse ponto de vista de Tardif (2002) evidencia a necessidade de o docente procurar construir uma relação saudável com seus alunos, para conseguir elaborar o perfil de sua turma, haja vista que, a aproximação professor/aluno/família eleva a capacidade do mediador em considerar seus pontos fortes e fracos e; com isso, ir moldando a sua prática diária.

Tardif (2002) menciona que, a atualidade apresenta inúmeras complexidades no ato de ensinar e aprender, o que remete a necessidade de o professor procurar embasamentos teóricos que estejam em consonância com sua prática diária. Portanto, elaborar planejamentos, requer uma visão que não haja preocupação apenas com as diversidades de sala de aula (culturas, etnias, crenças, etc.), mas sim, deve-se atentar para como o aluno aprende e o que é preciso para aprender, no entanto, se existe uma turma onde as dificuldades estão presentes deve-se ir no cerne da questão, isto é, qual foi o aprendizado adquirido até aqui? O que deixou de aprender?

A cerne da questão está embasada nas metodologias aplicadas em sala de aula e também na realidade socioeconômica, cultural, étnica e religiosa do aluno, isto é, o seu contexto histórico que é definitivamente influenciador, no modo como o aluno aprende, por isso, a formação docente deve ser abastecida de teoria e prática.

Ressaltando, que esses questionamentos mostram que o professor deve ser reflexivo ao entrar em uma sala de aula e, também norteia variados pontos, tais quais, como trabalhar em uma turma multiseriada, se existe a pressa de ensinar sem ter de esperar o tempo do aluno aprender? Quais metodologias aplicar? São perguntas que apontam que o olhar do mediador precisa ser para o todo que compõe o sujeito, tendo como meta, o aprendizado dos conteúdos formais essenciais a formação cidadã (TARDIF, 2002).

Não se trata aqui de querer de volta o ensino tradicional, aquele que não olha as aprendizagens adquiridas pelo alunado fora dos muros da escola, é apenas uma possibilidade estratégica, para que todos aprendam na mesma proporção e tenham base para seguir nas demais séries sem dificuldades, apropriando-se de forma correta da leitura e escrita, já que estas são os principais pontos de partida e chegada para o  alcance de um processo de ensino-aprendizagem, dentro das propostas educacionais (TARDIF, 2002).

Sala Multiseriada: Desafios e Possibilidades

Os textos anteriormente mencionados deixam em evidencia que as escolas junto aos docentes, enfrentam desafios para propor uma educação de qualidade, mesmo porque as instituições públicas de todo o país sofre com os descasos políticos, infraestrutura inadequada, inacessibilidade para quem precisa de atendimento especial para ter acesso à educação como direito, etc., fatores estes, agregadores da inibição da transmissão de um ensino que contemple o alunado em sua demanda de aprendizagem, associando-se, ainda a ausência do preparo do docente para trabalhar as diversidades, recursos e tecnologias necessárias, que ajudem a melhorar o perfil prático dos educadores.

Tardif (2002) afirma esse pensar ao dizer que as instituições, por terem agravadas a situação em termos estruturais, a cada ano demonstram com maior afinco que o docente precisa atualizar-se e buscar construir práticas que os ajude a vencer os desafios proporcionados pelas políticas públicas, que são influenciadoras na maneira como o aluno aprende.

Chimentão (2009) em afirmação a Tardif (2002) relata que o docente atual precisa pontuar suas titulações, o que significa que a busca incansável por estas (titulações), acaba em parte, atrapalhando o fazer diário em sala de aula, isso porque, os títulos elevam a classificação, mas distancia da atuação com crianças em fase de aprendizagem e com distorção entre idade/série, pois quanto maiores forem os números de títulos e técnicas adquiridas, mas distante de sala de aula se torna o professor, haja vista que, as horas a serem trabalhadas se reduzem, com isso a formação construída por esse profissional ao longo dos anos, algumas vezes, não chega aos alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental.

Essa visão dos autores, deixa claro que não é somente titulações que ajudam o professor a criar metodologias para o atendimento a uma diversidade de alunos com saberes diferenciados, mas também, o seu fazer pedagógico dentro da realidade de sua turma e da responsabilidade diante do papel de ensinar, para a promoção da igualdade social, socioeconômica, cultural, etc., portanto, cabe as instituições que ofertam a licenciatura, uma melhor qualidade em termos da oferta da prática para a sala de aula e acompanhamento nos estágios obrigatórios (CHIMENTÃO, 2009).

E, ao se tratar da prática em turmas multiseriadas, a visão docente deve ser direcionada a forma como o aluno aprende e ao que deixou de aprender e; onde encontram as suas dificuldades, isso porque é um fato comum a elaboração de planejamentos distintos, o que atrapalha na aplicação dos conteúdos didático-pedagógicos, deixando claro que se o mediador não tiver o controle de sua turma, que no geral, não o tem, (isso porque séries e idades num mesmo espaço se diferenciam pelo próprio desenvolvimento normal do ser humano), promove ainda mais, dificuldades em transformar os saberes levados pelos alunos para o ambiente formal, em experiências associadas ao aprendizado letrado, indispensável a sua formação cidadã.

A sala de aula multiseriada é na realidade, um conjunto de sujeitos formados como se as limitações fossem plenas e, com isso dependem de projetos rápidos para poder se adequarem a outros alunos, quando são frutos de condições socioeconômicas que elevam as desigualdades sociais, didáticas e visões distanciadas da vivência e capacidade de assimilação em determinados conteúdos, nos quais não foram corrigidos em tempo hábil (CHIMENTÃO, 2009).

Portanto, se houver por parte dos educadores um olhar mais técnico e, ao mesmo tempo afetuoso, as metodologias planejadas e organizadas serão capazes de reverter esse quadro, dentro das possibilidades em que os sujeitos encontram-se inseridos, mas isso requer além de ideologias, a atuação prática do docente e políticas públicas condizentes com as regras educacionais e a realidade da população atendida pelas instituições.

E, Freire (1967) citado anteriormente, apresenta que é relevante que professor tenha consciência de seu papel e, a partir dele busque resgatar o aluno que não consegue aprender. Freire em suas obras evidencia que o mediador quando aprende a linguagem do aluno e a dissemina no contexto de sala de aula, eleva a probabilidade de aprendizagens compartilhadas, pois cada um aprende apresentando um pouco de sua história vivenciada cotidianamente, no entanto,

A grande preocupação de Paulo Freire é a mesma de toda a pedagogia moderna: “uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política”. Nas linhas de sua filosofia existencial sua única exigência específica, e esta exigência define claramente os termos do problema, é que “teria o homem brasileiro de ganhar esta responsabilidade social e política, existindo essa responsabilidade”. O saber democrático jamais se incorpora autoritariamente, pois, só tem sentido como conquista comum do trabalho do educador e do educando (FREIRE, 1967, p.19).

Na linha do pensar de Freire (1967) observa-se que a educação para se concretizar necessita que o professor adentre a realidade vivenciada pelo aluno, não descartando, em qualquer hipótese do significado da Formação Continuada, está é essencial para elevar saberes, porém, o docente deve abastecer-se de técnicas para criar metodologias que ajude o aluno a aprender e vencer suas dificuldades.

Destacando, ainda, que o aprendizado deve abranger os princípios constitucionais, no que trata-se da equidade, porque a partir do momento em que se cria um método para alguns e outros não, volta-se ao tradicional, isto é, o mediador como detentor do saber e o aluno um mero receptor, portanto, a essência do aprendizado deve ser homogênea, mesmo que a turma seja diversa, porque se o sujeito faz parte de um grupo que requer metodologias mais específicas para aprender é porque não conseguiu, até aquele momento, adquirir os saberes necessários à sua trajetória escolar.

Essa colocação de Freire (1967) ainda remete a uma visão de que o docente é aquele que foi formado para a sala de aula num contexto tradicional, mesmo que tenha havido transformações no decorrer dos tempos, não havendo um pensar mais direcionado a colocar em prática a seguinte reflexão: a aplicação da Residência em Pedagogia é fundamental para minimizar os desafios presentes em salas de aula multiseriadas?

Com base na CAPES (1992), a Residência Pedagógica, é indispensável para oferecer um ensino de qualidade e minimizar as estatísticas que aumentam a cada ano a distorção entre idade e série, seja pelas condições socioeconômicas e culturais dos alunos, tanto quanto a ausência estrutural das escolas públicas, nos Anos Iniciais e “2º Segmento” do Ensino Fundamental.

A UNICEF (2018) esclarece com base nos dados do Segundo Censo Escolar de 2017 que crianças com idade de 6 anos entram nos Anos Iniciais no tempo certo, porém 12% dos alunos, apresentam distorção entre idade e série com o passar dos anos, chegando a um percentual de 26%, sendo o 3º ano o que apresenta maiores defasagens, devido as dificuldades de aprendizagem dos conteúdos curriculares.

Alguns pontos são apresentados pela UNICEF para tentar explicar as defasagens, são elas: transferência de escola municipal para estadual (número maior de alunos e ambiente escolar bem diversificado); inadequação a nova estrutura escolar, assim como aos pares que se distanciam (amizades desfeitas, receio de novos professores, etc.) “mudança de sala de aula unidocente para multidocente (p.5)”; alfabetização traçada por alguns gestores e docentes sem a visão de futuro da trajetória escolar do aluno, quando estes se encontram na Educação Infantil.

E, segundo os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Nacionais Anísio Teixeira (INEP, 2019) para o Ensino Fundamental, a taxa de distorção entre idade/série, com base no gráfico 1, apresenta um percentual significativo, colaborando para o analfabetismo funcional e a evasão escolar.

Destacando que no ano de 2019 a taxa atingiu 18,7% apresentando queda em relação ao ano de 2018, onde o percentual foi de 19,7%, sendo o sexo masculino com maior prevalência, assim com os 6º (27,6%), 7º (27,9%) e 8º (26,1%) anos, o que mostra que o “2° segmento” continua com a defasagem apresentada nas séries iniciais, o que certamente irá influenciar, quando o aluno tiver de cursar o ensino médio (INEP, 2019).

Esses dados remetem a necessidade de reflexão acerca do fazer docente e do preparo dos formadores de discentes em Pedagogia em reforçar a prática pedagógica, como um alicerce para melhoria na criação de metodologias no planejamento, para se trabalhar a criança no Ensino Fundamental, em especial, nos Anos Iniciais, tendo como finalidade evitar que no decorrer da trajetória educacional, as dificuldades de aprendizagem sejam elevadas.

Aos formadores, segundo Freire (1996) cabe uma educação permanente (formação continuada), a competência “técnico-científica (p.7)”, ética e a missão de ensinar, tendo a conscientização que seus formandos irão atuar com a diversidade de linguagens, culturas, etnias, gêneros, crenças, dentre outros e, que não poderão ser tradicionalistas, tão pouco, construtivistas ao ponto de não considerar o tempo de aprendizagem com base no desenvolvimento humano e nas complexidades que cada aluno leva para a sala de aula, sem deixar de citar as vulnerabilidades socioeconômicas e a realidade vivenciada cotidianamente em seu meio.

Em finalização aos textos supracitados, o ambiente de aprendizagem deve ser satisfatório, isto é, promotor de um processo de ensino aprendizagem que não exclua o aluno, mas sim, no qual esteja direcionado a ofertar uma boa relação professor/aluno ao ponto em que o aprendente perceba que tem a liberdade de compartilhar os seus saberes, de trocar experiências, ser participativo, sem o receio de repressão e preconceitos.

Aos formadores também é relevante construir a autonomia em seu discente/pedagogo para que este forme uma visão acerca da dimensão social e dos desafios que terá de enfrentar para ensinar o outro que depende também de sua prática para aprender e não negar no futuro, a necessidade da educação formal, como o elo que interliga todos os âmbitos em que o sujeito se encontra inserido (LIBÂNEO, 2001).

REFLETINDO A FORMAÇÃO DISCENTE NOS DIAS ATUAIS: RESIDÊNCIA

Uma das questões que tem proporcionado debates entre os estudiosos, tais como Freire (1967); Nóvoa (1992); Libâneo (2001), Saviani (2009), dentre outros citados no decorrer dos textos, é a necessidade da prática docente, para orientar os alunos do Ensino Fundamental, em especial, os que fazem parte de uma tentativa de resgate da aprendizagem (Anos Iniciais) e são componentes de salas de aula multiseriadas, onde a distorção entre idade e série e defasagens no processo de leitura e escrita, causam desestímulo nas propostas do professor/educador em seus planejamentos diários (NÓVOA, 1992).

As salas de aula multiseriadas vem demonstrando a necessidade do atendimento prático pelos docentes às demandas dos sujeitos no processo de ensino-aprendizagem, isso porque, as dificuldades do aluno, principalmente, ao se tratar do 3º ano de escolarização (conforme mostrado no gráfico 1), representam um percentual significativo da falta de conhecimento da leitura/escrita, como essencial a interpretação das disciplinas e construção da própria identidade pelo aprendiz.

Nóvoa (1992) destaca que o aperfeiçoamento da prática pedagógica é fundamental para elevar a qualidade nas experiências, tendo como meta a obtenção das habilidades nas ações direcionadas ao ato de ensinar, compondo-se dos saberes, integração e eficiência dos professores, em qualquer tempo, sendo que deve acontecer, mais especificamente, durante a formação pedagógica, para que possa associar a realidade dos alunos, às situações socioculturais vivenciadas por estes, em seu cotidiano.

Este pensar deixa claro, que o professor/educador que atua em salas multiseriadas precisa saber reconhecer se o aluno possui ou não uma introdução contextualizada no processo de leitura e escrita, isso porque se não houver um conhecimento prévio do letramento, automaticamente, o sujeito irá apresentar dificuldades em todas as séries, portanto, o traço desse perfil aparente, acerca da assimilação/acomodação dos conteúdos pelo aprendiz no início de sua alfabetização é fundamental, quando se entra para atuar em uma turma diversa (CAPES, 1992).

E, a Residência Pedagógica pode se constituir em uma oportunidade de ampliação do fazer docente, onde a CAPES (1992) a define como:

Residência Pedagógica, pode ser apresentada como uma forma de se ampliar os conhecimentos daqueles que tem a missão de ensinar e preparar os sujeitos para o pleno exercício da cidadania. A Residência foi uma iniciativa criada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES – Fundação Pública, através da Lei nº. 8.405 de janeiro de 1992, tendo como finalidade contribuir na melhoria da formação docente (CAPES, 1992).

A CAPES (1992) sugere para a formação docente, projetos e programas de aperfeiçoamentos que estejam relacionados ao fazer pedagógico, tendo como norte o aluno de Licenciatura em Pedagogia e o seu desenvolvimento para as adversidades futuras, tais quais, enfrentar os desafios do próprio tempo, continuar a buscar os estudos em qualquer fase da vida e, estar apto às exigências sociais e mercadológicas impostas pelo sistema educacional, tal como saber ensinar a diversidade que está presente em todas as salas de aula. Afirmando, ainda que,

A Residência Pedagógica vem em auxílio à formação docente, onde através de metodologias práticas, direcionadas a propor experiências, criam iniciativas voltadas para adequar o discente a realidade dos futuros alunos e a uma diversidade que necessita ser atendida em todos os aspectos, tais quais, culturais, gênero, etnias, crenças, dentre outros, que na maioria das vezes, a sala de aula somente, não irá oferecer ao formando, mesmo que passe anos elaborando estratégias para contemplar, de forma igualitária os alunos no processo educativo (CAPES, 1992, p.1).

Em explicação a citação, a Residência Pedagógica pode ser entendida como um meio para adequação dos discentes na área em estudo, à realidade institucional e social dos futuros alunos, que na maior parte das vezes, estão inseridos em salas multiseriadas e exigem do profissional um saber que vai além de planejamentos teóricos, mas que estejam engajados em práticas, cuja função seja de interesse a minimizar os problemas proporcionados pela diversidade de culturas, dificuldades de aprendizagens e vulnerabilidades, que cada sujeito leva para a sala de aula.

A CAPES (1992); em consonância com Libâneo (2001, p.6) relata que,

Não há sociedade sem práticas educativas. Pedagogia diz respeito a uma reflexão sistemática sobre o fenômeno educativo, sobre as práticas educativas, para poder ser uma instância orientadora do trabalho educativo. Ou seja, ela não se refere apenas às práticas escolares, mas a um imenso conjunto de outras práticas.

Essa citação de Libâneo (2001), enfatiza que o professor tem de refletir a sua metodologia e atentar para o seu público, isto é, a quem ensino? E, o que eles precisam aprender para de fato enfrentarem os desafios, não somente de sala de aula e demais segmentos do ensino, mas, de pertencimento nos grupos, na futura profissionalização, na própria vida e em seu lugar de pertencimento.

Portanto, prática e aluno se unem numa mesma abordagem, significando que o aprendiz tem a necessidade de estar apto as competições proporcionadas pelas transformações sociais, sendo indispensável que aprenda as regras vigentes nos dias de hoje, para que tenha a capacidade de adequação ou readaptação no ensino que estiver sendo exigido, um exemplo, é este ano de 2020 (Pandemia – COVID-19), onde o mundo fornece excessos de informações e; até mesmo, aqueles mais propícios ao entendimento e que tem o acesso ao tecnológico, não se encontram em seus saberes, para definir cada comunicado.

 Isso porque são informações instantâneas e o cérebro precisa de milésimos de segundos para assimilar. E, se a criança não tem o conhecimento inicial advindo de uma boa prática pedagógica, logo, não saberá agir em meio as diversidades do tempo e exigências sociais. Por isso, a leitura e escrita bem administrada por quem ensina e reconhece o seu papel nesta ação, corresponde a um fazer responsável/formador, onde ao ensinar, aprende e oportuniza o outro na aquisição de novas aprendizagens (LIBÂNEO, 2001).

E, Freire (1983, p.45), é mais específico ao declarar que,

O sujeito pensante não pode pensar sòzinho; não pode pensar sem a co-participação de outros sujeitos no ato de pensar sôbre o objeto. Não há um “penso”, mas um “pensamos”. É o “pensamos” que estabelece o “penso” e não o contrário. Esta co-participação dos sujeitos no ato de pensar se dá na comunicação. O objeto, por isto mesmo, não é a incidência terminativa do pensamento de um sujeito, mas o mediatizador da comunicação.

Esse argumento em torno da comunicação, dessa responsabilidade de expressar para o outro, de modo que a escuta permita a co-participação em minha fala e no meu ato de pensar, indiscutivelmente influencia na aprendizagem do professor/educador, isto é, na maneira que está disposto a formar alguém (FREIRE, 1983).

É preciso haver um consenso no ato de ensinar e oportunizar o sujeito para que aprenda, por isso essa necessidade de uma reflexão acerca de como estou sendo formado para formar o outro, que depende de início, dos meus poucos saberes, mas que serão decisivos para a continuidade em novos aprendizados.

Mencionando que essa capacidade de interpretação dos fatos, depende de uma formação discente que o prepare para acompanhar a evolução ou retração (dificuldades) dos saberes dos alunos, tendo como meta que haja no futuro, por parte da escola um trabalho de inserção, dado por meio do processo de ensino-aprendizagem mediatizado e não monológico na proposta de ensinar.

Isso porque a velocidade com que ocorrem as mudanças no meio social, se não forem bem disseminadas em salas de aula, em termos de preparo do aluno para o exercício como sujeito de direitos e deveres, consequentemente, terá influência para o distanciamento da busca pela continuidade na escolarização básica, nas desigualdades sociais, preconceitos, logo, na qualidade de vida (CAPES, 1992).

Nóvoa (1992) em afirmação a esse pensar, evidência que quanto maior a experiência por parte dos mediadores do ensino, mais habilitado estará ao exercício do magistério. Também enfatiza que as oportunidades devem ser esgotadas em seu maior nível, para que o cumprimento do papel de professor/educador/formador dentro e fora de sala de aula se concretize como fato único, isto é, objetivo de todos aqueles que participam da tarefa de educar/ensinar.

O autor descreve em suas obras que se faz essencial, que haja por parte dos formadores, o interesse e disponibilidade da oferta de conhecimentos que fortaleçam a prática docente, o que significa que durante as etapas de formação dos discentes em Licenciatura Pedagógica se torna indispensável produzir metodologias, nas quais estejam dentro da realidade dos formandos, para que estes aprendam a lidar com os  futuros alunos que irão fazer parte de sua trajetória, por isso, aprender sobre a importância da valorização das diferentes culturas e contextos em que os sujeitos estarão inseridos é fundamental.

Destacando, ainda que assumir o compromisso de ensinar propondo trocas de experiências com aqueles que ocupam a definição de docente/discente deve se tornar uma prática para minimizar os desafios futuros de sala de aula, em meio a uma ampla diversidade, em que os alunos fazem parte. Desta forma, a Residência Pedagógica pode ser uma opção, na qual facilite a atuação dos que já estão no exercício da profissão e daqueles que irão fazer parte das atividades educacionais na escolarização básica.

Considerações Finais

As dificuldades de atuação em turmas multiseriadas elevam a preocupação dos docentes, pois os números de alunos nos quais apresentam distorção entre idade e série se elevam anualmente e; neste ano de 2020, onde as aulas estão sendo ofertadas de forma Remota, percebe-se pelas inúmeras informações, em especial, o INEP (2019) e o MEC/2020, que os percentuais aumentarão gradativamente com o passar dos anos, isso porque, muitos professores/educadores precisarão se reinventar para adequar-se à nova realidade, o que deixa em evidência a ausência de preparo pelas instituições formadoras.

Mencionado, que a maioria dos docentes tem pós-graduação, mas no geral, dadas de forma online (EAD) inibindo o acesso a prática em sala de aula, o que faz falta para o cotidiano de atuação, isso porque, são alunos singulares e complexos, com diferentes culturas, dificuldades e necessidades, promovendo, assim, por parte das instituições especializadas na oferta da Licenciatura em Pedagogia, que se tenha um olhar mais atento por parte dos gestores e formadores.

Mas, não se deve esquecer que o aluno dos dias de hoje, não pode ser tratado dentro de metodologias tradicionais, pois conforme as diretrizes da LDBEN nº. 9.394/96 e da BNCC/2019, o aprendiz precisa ser direcionado a expressar sentimentos, dificuldades em seu processo de ensino-aprendizagem, sua cultura e vulnerabilidades, pois se faz necessário que aprenda a interpretar o seu meio e o universo em que participa e não pode nem deve ser um mero receptor em sala de aula. O aluno precisa aprender e ser estimulado a compartilhar saberes, ideias, ideologias, dentre outros.

Por isso, a proposta da Residência em Pedagogia ser ofertada pelas instituições formadoras de discentes/docentes, em especial as públicas, isso porque, o discente irá sentir-se mais seguro em não ter de buscar instituições apenas EAD (não que essa deva ser descartada, pelo contrário é muito válida e, vivemos num mundo cada vez mais digital), pois saberá acompanhar as metodologias que são já ofertadas na grade curricular, terá mais liberdade para trocar experiências.

Mencionando, que os formadores serão conhecidos e conhecem o aluno/discente, saberá traçar o perfil do mesmo e poderá encaminhar a uma prática pedagógica em projetos, programas de extensão dentro do ambiente institucional e na escolarização básica, com crianças múltiplas, direcionar, acompanhar a evolução e apontar erros, do mesmo modo, promover condições para elevar os acertos.

O discente de Pedagogia, somente com a teoria não consegue elaborar o traço do perfil do aluno que é essencial para a construção de planejamentos sólidos e metodologias ativas dentro das perspectivas do letramento, que nos dias atuais, vem sendo cada vez mais escasso, seja pelo desconhecimento de como utilizar a tecnologia para esse aprendizado ou pelas rupturas causadas por alguns docentes, quando já estão um longo tempo em sala de aula e, deixam de acreditar nas políticas públicas, o que influencia diretamente naquele que depende dos saberes docentes para o alcance da formação integral.

Portanto, ao concluir, percebe-se que a busca pela oferta da Residência Pedagógica é uma questão de melhor formação por parte de quem oferece a oportunidade de acesso ao Curso de Pedagogia. Lembrando que a proposta da implantação da Residência Pedagógica no CEDERJ/UENF é com base na minha realidade, onde as experiências são dadas com alunos adultos universitários e muitos no início do ano relataram que não sabiam o que fazer com os alunos, pois a avaliação do professor/formador neste ano de 2020[1], deixou de ser apenas institucional, ganhando os lares dos alunos, então, a avaliação passou a ser dos pais/responsáveis (O que estão ensinando aos meus filhos? O que os professores trabalham? O que sabem? Tem condições de formar uma criança?), sendo uns dos fatores inibidores e causadores de estigmas, que nos próximos anos, serão revelados pela ausência de muitos docentes, principalmente, aqueles que tem anos de atuação em turmas multiseriadas.

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[1] Monografia apresentada em 14 de dezembro de 2020 (UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro – Nota:9).


Publicado por: Giselle Alves da Conceição

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