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PEDAGOGIA HOSPITALAR: METAS E DESAFIOS PARA O PEDAGOGO

Análise dos principais desafios enfrentados pelos pedagogos que atuam em hospitais e as metas que almejam alcançar.

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RESUMO

O campo de atuação do pedagogo não está mais vinculado somente à tradicional sala de aula. Como a educação está em todos espaços, é cada vez mais pedida a atuação do pedagogo em outros ambientes. Esse artigo tem o objetivo de analisar a importância do pedagogo nos hospitais, pois foi verificado que existem muitos desafios nesse novo campo de atuação. No Brasil a primeira Classe Hospitalar foi fundada em 15 de outubro de 1987, no Hospital A.C. Camargo, nessa ocasião surgiram muitas metas e desafios para o pedagogo atuar junto a equipe multidisciplinar nos hospitais. Para entender o funcionamento dessa atividade, foram feitas visitas técnicas ao centro de referência da criança do câncer GRAACC e ao Hospital o A.C Camargo. Este último, pioneiro no tratamento em Pedagogia Hospitalar. O profissional, na pedagogia hospitalar, atua de forma a complementar e humanizar o tratamento clínico à crianças e adolescentes em idade de escolarização através de métodos educacionais.

Palavras-chaves: Ambiente não escolar, Pedagogia Hospitalar, Humanização, Criança Hospitalizada.

ABSTRACT

The teaching field of pedagogue is no longer linked only traditional classroom. As education is in all spaces, the presence of pedagogue is increasingly requested in other environments. The purpose of this article is to analyze the importance of the pedagogue in hospitals, it was verified that there are a lot of challenges in this field.

In Brazil the first class Hospital was founded on 15th October, 1987, in Hospital A.C. Camargo. At that time there were many aims and challenges for the pedagogue face within the multidisciplinary team in hospitals. Thus were made two technical visits to the referenced child cancer center GRAACC, acronym in Portuguese, and the hospital pioneered the treatment in Hospital Pedagogy – A.C. Camargo.

The pedagogue in hospital pedagogy came as a way to complement and humanize the clinical treatment to children and teenagers in the school age through educational methods.

Keywords: Non-school environment, Hospital Pedagogy, Humanization, Hospitalized Child.

1 INTRODUÇÃO

O pedagogo tem a oportunidade de atuar em diferentes ambientes vinculados à educação, sendo um deles o hospital. Com o objetivo de verificar quais são as metas e os desafios enfrentados pelos profissionais em pedagogia hospitalar, observou-se a necessidade da realização de um estudo acerca da atuação do pedagogo, em conjunto com a equipe multidisciplinar, na garantia à continuidade dos estudos de crianças e adolescentes hospitalizados.

Assim como no ambiente escolar, o professor deve ser a ponte entre o conhecimento e o aluno, pois cabe a ele levar o aprendizado onde se faz necessário.

Para especificar uma das diferentes situações, o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente assegura o prosseguimento do currículo escolar, recreação, programas de educação e saúde durante a internação e/ou tratamento nos hospitais. Diante desse embasamento, constatou-se a necessidade de ampliar o conhecimento sobre essa área de atuação do pedagogo em conformidade com a legislação do país.

O objetivo geral é compreender o papel do pedagogo em ambiente não escolar e sua importância ao atuar na Pedagogia Hospitalar.

Os objetivos específicos se dividem em compreender a Pedagogia Hospitalar e identificar quais são os desafios enfrentados pelos pedagogos que atuam em hospitais e as metas que almejam alcançar.

Para a realização deste artigo foi preciso realizar uma pesquisa exploratória-descritiva, buscando melhor compreensão sobre a atuação do pedagogo em ambiente hospitalar. Para tal foram realizadas visitas técnicas a dois hospitais que contam com a Pedagogia Hospitalar durante o tratamento de crianças e adolescentes hospitalizados.

Buscando embasamento teórico, no que diz respeito a garantia legal à Pedagogia Hospitalar, foram realizadas pesquisas bibliográficas em literaturas que abordam o referido tema, bem como a legislação brasileira, sites especializados em educação e aos sites dos hospitais visitados.

As visitas técnicas foram realizadas em duas entidades: GRAACC – Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer e ao Hospital A.C. Camargo. As visitas foram necessárias para conhecimento da rotina e atuação dos pedagogos hospitalares no processo ensino-aprendizagem no atendimento a pacientes em idade escolar.  

A escolha destas instituições se deu pela incidência de pacientes internados em idade escolar. Com relação ao o Hospital A.C. Camargo, também por se tratar da instituição pioneira no atendimento pedagógico em ambiente hospitalar. As visitas foram acompanhadas por um profissional indicado por cada uma das instituições, que permitiu uma melhor vivência e entendimento do funcionamento da Pedagogia Hospitalar.

A análise qualitativa foi utilizada, pois conforme o embasamento teórico e as visitas realizadas, busca-se compreender como o pedagogo pode atuar em ambiente hospitalar sendo a ponte entre os pacientes e o conhecimento.

Para melhor abordagem do tema, o artigo foi dividido em três seções:

  • Seção I:  breve descrição sobre a História da Pedagogia Hospitalar, seu surgimento na França e início no Brasil. Além disso, serão expostas algumas leis que garantem o direito à educação para crianças e adolescentes hospitalizados.
  • Seção II: Aprofundamento do tema abordado, metodologias aplicadas e ênfase na importância da humanização da criança no processo de ensino-aprendizagem durante o período de hospitalização.
  •  Seção III: relato das visitas técnicas realizadas as entidades supramencionadas, conhecimento do cotidiano de pedagogos, pacientes e suas respectivas famílias, além dos métodos utilizados para garantir o acesso à educação aos pacientes durante tratamentos médicos que exigem o afastamento de crianças e adolescentes da escola. Ainda nesta seção pode-se observar quais as metas a serem alcançadas durante o processo de ensino-aprendizagem no período de hospitalização desses pacientes. E por fim são abordados os Eixos de Análise sobre o tema.

2 SEÇÃO I – HISTÓRIA E LEGISLAÇÃO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR

Na presente seção será apresentado o percurso histórico da Pedagogia Hospitalar, desde a Antiguidade com um pequeno relato de como começou a sua conceituação, chegando na fase da 2ª Grande Guerra, onde seus princípios começaram a se desenvolver, passando pelas legislações que cercam esse tema no Brasil e no Mundo.

Conforme Matos e Mugiatti (2014), já na Antiguidade por meio dos papiros egípcios pode-se notar a preocupação com a saúde. Sendo que com o passar do tempo esta preocupação tomou proporções ainda maiores, tanto que na idade medieval as pessoas começaram a associar fatores sociais, educacionais e ambientais com a saúde.

Neste contexto, a Pedagogia Hospitalar, surge como forma de minimizar o sofrimento infantil dentro dos hospitais, vindo assim, para complementar o tratamento médico com um cuidado psicossocial e cognitivo, além de propiciar outros benefícios as crianças e adolescentes que estão em tratamento. 

De acordo com Esteves (2008), os primeiros traços da Pedagogia Hospitalar, como se conhece hoje, surgiram em 1935 na França, por meio da criação da primeira escola para crianças inadaptadas. A instituição foi inaugurada, pelo então Ministro da Educação, Henri Siellier.

Segundo o dicionário Michaelis[1], inadaptado é definhada como: 1. Não adapta 2. Quem ou o que não se adaptou. Estas definições remetem a ideia de que o hospital francês foi instituído com o objetivo de integrar crianças, que por diversas razões, não conseguiam se integrar em hospitais convencionais.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), o mundo sentiu os efeitos desse evento, e dentre os prejudicados estavam as crianças. Mesmo inocentes, elas sofreram por causa do caldeirão de massacres que ocorriam em vários ambientes. Com isso, a classe médica defendeu a classe hospitalar para que as crianças e adolescentes tivessem um melhor bem-estar dentro dos hospitais (ESTEVES, 2008).

Conforme Esteves (2008), foi criado o Centro Nacional de Estudos e de Formação para Infância Inadaptadas (C.N.E.F.E.I), em 1939 na cidade de Suresnes a 9,3 km da capital francesa. O centro tinha como objetivo formar professores para trabalhar em hospitais e em outras entidades. Nesse mesmo ano, foi criada a função de Professor Hospitalar. A formação de dois anos, capacitava profissionais para atuação em hospitais ou em áreas que se assemelham até hoje.

No Brasil, conforme Dutra (2009), há quase 30 anos, em 15 de outubro de 1987, o Hospital A.C. Camargo, localizado na cidade de São Paulo, inaugurou a proposta de Pedagogia Hospitalar inserida pela fundadora Carmen Prudente.

De acordo com a bibliografia disponível na página oficial da instituição, Dona Carmen foi jornalista e filha de médico. Ela se casou com o então fundador do hospital Antônio Prudente Meirelles de Moraes, também médico. O nome do hospital é uma homenagem ao mestre de Dr. Prudente, que junto com o médico Antônio Cândido de Camargo, fundou a APCC – Associação Paulista de Combate ao Câncer.

Dona Carmen[2] trabalhou ao lado da pedagoga Maria Genoveva Vello e juntas fundaram a pioneira Escola Especializada Schwester Heine, que é a unidade educacional dentro do hospital oncológico, a nomenclatura da Escola homenageia a enfermeira Heine de origem alemã, que veio para o Brasil para trabalhar no Hospital A.C. Camargo. A palavra Schwester vem de Krankenschwester, que significa enfermeira no idioma alemão.

Apesar de pouco tempo de desenvolvimento no Brasil, a Pedagogia Hospitalar ganhou um maior ensejo por meio da Resolução de 15 de maio de 2006, pois antes o profissional pedagogo poderia exercer seu trabalho apenas dentro de ambientes de educação formal, mas a partir desta Resolução, eles tiveram a oportunidade de percorrer outros meios educacionais, no qual se pode observar:

Art. 4º O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos.  (RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1, DE 15 DE MAIO DE 2006).

A Constituição Federal-CF (1988), diz que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família. Se a lei máxima que define os direitos e deveres dos cidadãos brasileiros garante o acesso à educação, cabe aos pedagogos e demais profissionais da educação, levá-la as diferentes situações onde se encontra o educando.

Por mais que hajam leis garantindo o direito às crianças e adolescentes ao tratamento médico em ambiente escolar e recreativo, não são todos os hospitais que proporcionam esse acesso. Muitas vezes, o objetivo principal dos hospitais que promovem o bem-estar do cidadão para que ele possa se tratar da sua enfermidade é ineficiente.

Para que ocorra o desenvolvimento pleno da educação escolar são necessários profissionais dispostos a trabalhar em equipe. Importante também, ter um ambiente que cative o fascínio para o além do delinear entre a vida e a morte. A educação é um direito de toda criança e adolescente, sendo assim as crianças que necessitam passar por um longo período hospitalizadas não estão excluídas desse direito.

Uma das legislações que ampara esse direito é a Constituição Federal de 1988, citada anteriormente, que em seu Título VIII, capitulo III, da Educação Cultura e Lazer e do Desporto, dispõe conforme artigo 205 que: “A educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade usando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação”.

Sendo a educação um direito de todos garantido por lei, os alunos que necessitam de uma hospitalização por um período longo ou indeterminado, como no caso de pacientes em tratamento do câncer, têm direito a educação hospitalar.

Encontra-se também amparo para os alunos que necessitam de educação especial hospitalizados no Decreto Lei nº 1044/69, em seu art 1º que diz:

Art 1º São considerados merecedores de tratamento excepcional os alunos de qualquer nível de ensino, portadores de afecções congênitas ou adquiridas, infecções, traumatismo ou outras condições mórbidas, determinando distúrbios agudos ou agudizados, caracterizados por:  a) incapacidade física relativa, incompatível com a frequência aos trabalhos escolares; desde que se verifique a conservação das condições intelectuais e emocionais necessárias para o prosseguimento da atividade escolar em novos moldes;

Apesar de ser lei datada de 1969, ela se faz muito atual, pois assegura o prosseguimento dos estudos aos alunos que se encontram convalescentes, dizendo em seu art 2º: “Atribuir a esses estudantes, como compensação da ausência às aulas, exercícios domiciliares com acompanhamento da escola, sempre que compatíveis com o seu estado de saúde e as possibilidades do estabelecimento”.

A Declaração dos Direitos das Criança da Organização Mundial de Saúde assegura que: “...a criança gozará de proteção especial... a fim de facultar o desenvolvimento físico, moral, espiritual e social, de forma sadia e normal e em condição de liberdade e de dignidade”.

A educação hospitalar está inclusa como educação especial, tendo em vista o atendimento de pacientes que, em virtude de alteração de sua saúde, estão impossibilitados de ter acesso a escolarização da forma tradicional, uma vez que isso poderia representar riscos a seu quadro clínico.

A Convenção da Guatemala (1999), uma das mais importantes conquistas internacionais em favor dos deficientes, também ressalta o direito dos deficientes no qual diz:

As pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas, definindo como discriminação com base na deficiência toda diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais. Este Decreto tem importante repercussão na educação, exigindo uma reinterpretação da educação especial, compreendida no contexto da diferenciação, adotado para promover a eliminação das barreiras que impedem o acesso à escolarização (CONVENÇÃO DE GUATEMALA, 1999).

Já nacionalmente temos a Resolução 41/95 que trata especificamente da Criança e do Adolescente Hospitalizados, na qual manifesta no seu artigo 9º que eles têm o “Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar”.

Por meio do SINES (Sindicato dos Especialistas de Educação do Ensino Público), é fruto a Lei 15.886, de 4 novembro de 2013, que estabelece diretrizes para o programa pedagógico hospitalar, essa lei garante às crianças e adolescentes a continuidade de seus estudos em classes hospitalares.

O Ministério da Educação em conjunto com a Secretaria de Educação Especial criaram em 2002 um documento[3] para o atendimento nas classes hospitalares, com orientações e estratégias que amparam o acesso à educação das crianças hospitalizadas .De acordo com o documento, visa a necessidade de  constituir ações políticas a favor do atendimento educacional em ambientes não escolar, assegurando  o acesso à educação básica,  e dando atenção as necessidades educacionais especiais, propiciando o desenvolvimento  e favorecendo a construção do  conhecimentos desses educandos.

Até o lazer da criança e do adolescente que se encontram acamados em tratamento é garantido por lei, pois se é preciso que eles passem por um longo processo de internação, precisam de um atendimento que vise o atendimento de todas as suas necessidades. Quanto ao lazer, o amparo para esse direito está manifesto na Lei 11.104 de 21 de março de 2005:

Dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação.
Art. 1o Os hospitais que ofereçam atendimento pediátrico contarão, obrigatoriamente, com brinquedotecas nas suas dependências.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se a qualquer unidade de saúde que ofereça atendimento pediátrico em regime de internação.
Art. 2o Considera-se brinquedoteca, para os efeitos desta Lei, o espaço provido de brinquedos e jogos educativos, destinado a estimular as crianças e seus acompanhantes a brincar.

Todas as leis acerca da educação hospitalar ressaltam o direito da criança e do adolescente de exercer o direito a educação e de seu bem-estar, não apenas dentro de ambientes especiais, como o hospitalar, mas também acamado em sua própria casa. Sendo assim, esses direitos podem acrescentar esperança ao aluno e também conforto aos seus familiares, de saber que mesmo afastado do ambiente escolar convencional, o aluno não vai ter seus estudos interrompidos e poderá voltar, se possível for, com sua vida curricular em uma escola regular sem prejuízos educacionais.

3 SEÇÃO II. PEDAGOGIA HOSPITALAR

A enfermidade sempre foi algo presente na vida humana e pode afetar a todos, seja adulto ou criança. A Pedagogia Hospitalar é a educação no meio hospitalar. Ela pode contribuir para o desenvolvimento intelectual, social e psicológico das crianças e adolescentes que estejam em tratamento médico. Podendo assim, conter a educação formal, dando prosseguimento ao estudo do educando, mudando o ambiente regular (escola) para o contexto hospitalar, e outras adaptações devidas ou educação informal, que se dão através, e principalmente, no uso da brinquedoteca, atividades lúdicas, oficinas e demais projetos.

A Pedagogia Hospitalar vem como uma forma de minimizar os efeitos negativos do quadro clínico e psicológico do paciente, uma vez que, ajuda na sua estabilidade emocional, na continuidade de seus estudos para que ele não fique defasado. Por esse motivo, que Matos e Mugiatti (2014) expõe que além do problema físico, junto com a doença vem uma série de outras situações quando a enfermidade se mostra multifatorial, ou seja, vários fatores, não apenas uma causa ou efeito. Dessa forma, não é justo que se realize um tratamento meramente físico, porque antes o doente era visto apenas pela sua enfermidade, de forma isolada e unilateral, sem que fosse tratado em todos os seus desdobramentos.

De acordo com Fontes (2008), Pedagogia Hospitalar se diferencia da pedagogia tradicional porque ocorre em ambiente diferente, nesse caso o hospital, e o aprendizado busca contribuir para a satisfação do corpo e da mente do educando. Conforme Matos e Mugiatti (2014), ela contribui para cura, pois “Favorece a associação do resgate, de forma multi/inter/transdisciplinar, de condição inata do organismo, de saúde e de bem-estar, ao resgate da humanização e da cidadania”. (Matos e Mugiatti, 2014, p. 29).

Fontes (2008), mostra que há duas formas de contribuição da Pedagogia Hospitalar para o bem-estar da criança hospitalizada. A primeira acontece por meio do lúdico como meio de comunicação e distração, enquanto a outra destina-se em conhecer esse ambiente, que muitas vezes é tenebroso, isso ajuda a desmistificar, e trazer outros sinônimos, outros meios de atendimento, para assim, fazer com que a criança deixe parte de seus medos, resistências e possa confiar e se ambientar com a equipe multidisciplinar e o espaço, no qual se passa o seu processo de tratamento.

Como o compreendido por Matos e Mugiatti (2014), na obra Pedagogia Hospitalar: a humanização integrando a educação e saúde diz que:

Observa-se que a continuidade dos estudos, paralelamente ao internamento, traz maior vigor às forças vitais da criança (ou adolescente) hospitalizada, como estímulo motivacional, induzindo-o a ser tornar mais participante e produtivo, com vistas a uma efetiva recuperação. Tal fato, além de gerar uma integração a participação ativa que entusiasmam o escolar hospitalizado, pelo efetivo da continuidade da realidade externa, contribui, ainda de forma subconsciente, para o desencadeamento da vontade premente de necessidade de cura, ou seja, nasce uma predisposição que facilita sua cura e abrevia o seu retorno ao meio a que estava integrado. (MATOS e MUGIATTI, 2014, p. 72).

Por meio das contribuições de Fontes (2008), essa definição não é excludente no conceito de Classe Hospitalar, mostra-se muito mais abrangente, pois é uma nova abordagem educativa, porque não exclui a escolarização dos menores que se encontram convalescentes por semanas ou meses. É por meio do contato com cada aluno que o professor, em ambiente de tratamento de saúde, irá ministrar o conteúdo para o desenvolvimento individual.

Dentre os desafios do professor em ambiente hospitalar há os critérios de avaliação, já que os métodos avaliativos se diferem das tradicionais provas e retenção escolar. Como diz Arosa (2012):

Na escola, o professor é a autoridade e, muitas vezes, encontra na avaliação o seu instrumento de coerção, garantindo seu lugar de soberania. Neste sentido, se o controle e a decisão sobre o ‘destino’ dos pacientes está nas mãos da equipe médica, qual é o lugar da avaliação no trabalho pedagógico realizado em espaço hospitalar? (AROSA, 2012, p. 4162).

No hospital um dos métodos para avaliação pode ser a avaliação formativa, no qual o importante é avaliar o processo de ensino-aprendizagem. Conforme Arosa (2012), isso pode ser conseguido por meio de experiências cotidianas, diálogo, observação, relatórios de aprendizagem, registro de auto avaliação e portfólio. Caso a escola de origem envie o conteúdo, e a criança ou adolescente tenha condições físicas e psicológicas, o trabalho avaliativo pode ser como os demais alunos em sala de aula, com algumas alterações, se necessárias.

Segundo Matos e Mugiatti (2014), faz-se necessário que o homem adapte às suas necessidades, por isso, deve haver uma quebra do paradigma para evolução, no qual diz que “escola só em sala de aula e hospital apenas para tratamento médico”, o pedagogo hospitalar é uma evolução e agente de mudança para um novo contexto no aprimoramento do atendimento hospitalar.

Mais uma vez o atendimento multidisciplinar no contexto hospitalar diz que ele não é limitante, mas algo que vai além da escola e do hospital. O hospital-escola ultrapassa os paradigmas, porque integra a escola na hospitalização, pois “a adaptação do ambiente hospitalar para a escola e da escola para o ambiente hospitalar se constitui numa necessidade, bem como uma possibilidade emergente para interação pedagógica em um ambiente diferenciado”. (MATOS e MUGIATTI, 2014, p. 73).

O campo de atuação do pedagogo, no ambiente hospitalar, consiste em diferentes espaços como: brinquedotecas, ambulatórios, quartos e enfermarias. O atendimento especializado é por meio da entidade SEESP – Secretária de Educação Especial, que desenvolve ambientes para potencializar e favorecer a construção do conhecimento dos estudantes em educação básica, respeitando as necessidades e dificuldades de cada educando.

O papel do pedagogo para pacientes em idade de escolarização hospitalizados durante o tratamento médico é muito importante. Sabe-se que nesses casos o processo de ensino-aprendizagem ocorre em um ambiente não escolar, mas as práticas docentes não devem fugir de um dos principais objetivos do professor: contribuir na formação de cidadãos/sujeitos autônomos, éticos, críticos, participativos e atuantes socialmente.

Humanização é a palavra-chave no processo de ensino no contexto pedagógico-hospitalar, uma vez que, o professor deve saber reconhecer até que ponto o aluno pode contribuir com a atividade. Esta visão vai além do relatório médico, pois envolve todo o emocional do paciente e um olhar atento a todos os contextos do pedagogo que está junto ao aluno-paciente. Para isso, é essencial saber ouvir e ser ouvido, uma vez que escutar também é muito importante, para poder assim, ter a melhor conduta com o aluno.

Uma forma de humanizar o atendimento é valorizar a família do educando, pois a ela compete uma importante contribuição no tratamento, como diz Matos e Mugiatti (2014) no trecho: “Em se tratando de família transparece a necessidade de lhe conferir a devida importância e incentivo, pois da sua participação depende, em parte considerável, o êxito do tratamento no seu todo”.

Sendo assim, o que diferencia o professor que trabalha em um hospital para o professor que trabalha em ambiente de educação tradicional é principalmente a empatia[4]. Não que o professor que está na escola não precise ter empatia por seus alunos, porém compreender emocionalmente a situação do outro, nesse caso o aluno hospitalizado, é de suma importância.  Num momento de tanta fragilidade emocional, física ou o conjunto das duas, é importante que o pedagogo mantenha o foco em seus projetos e saiba trabalhar suas emoções para que o sentimento de pena não seja maior que sua vontade de ensinar e ministrar o tempo através da didática pedagógica, mesmo porque a maior propriedade que seres vivos possuem, que é a vida, pode estar em risco.

Há também a necessidade de observar as exigências de um ambiente em que os sentimentos, medos e anseios estão tão expostos, como o hospitalar. Além do preparo psicológico que um pedagogo deve ter para se trabalhar em um local tão oposto e institucionalizado que é a visão da educação apenas em escolas.

Em seu livro Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire diz que sempre se preocupou em desenvolver sua prática educativa em um clima alegre (FREIRE, 2014, p.70). Parece contraditório falar em um “clima alegre” quando a aprendizagem acontece em um ambiente hospitalar, mas o professor pode propiciar ao aluno um ambiente agradável ao permitir que, mesmo fragilizado, possa participar como sujeito no processo de ensino-aprendizagem. Isso é possível quando existe uma relação horizontal, dialógica entre professor e aluno (aluno e professor), quando não há transferência de conteúdo, mas sim, a compreensão do objeto estudado obtida através dos materiais oferecidos pelo professor ao aluno (FREIRE, 2014 p.116).

Outra lição importante que se aprende com Paulo Freire e que, assim como na escola também deve-se aplicar à Pedagogia Hospitalar, é saber escutar, ou seja, é falar com o aluno, sem o autoritarismo, mas aberto às dúvidas e indagações e, até mesmo, discordâncias e diferenças que surgem durante o aprendizado (FREIRE, 2014, p.117).

O pedagogo que trabalha em hospitais se depara com a realidade de pessoas que veem seus sonhos e projetos interrompidos, mesmo que provisoriamente, devido ao surgimento de uma doença que impossibilita a criança/adolescente de frequentar a escola, correndo o risco de afetar o seu desenvolvimento psicológico, escolar e social. Dessa forma, cabe ao pedagogo, em conjunto com a equipe multidisciplinar hospitalar, tentar minimizar o sofrimento do paciente através do ensino. Assim, quando a criança hospitalizada puder retomar a sua rotina, não estará em desvantagem em relação aos demais alunos de sua sala de aula convencional. Sabe-se que é um trabalho árduo, mas ao mesmo tempo satisfatório, pois proporcionará à criança e seus familiares a possibilidade de continuar os projetos e sonhos interrompidos durante o período de hospitalização, pois não se deve negar o direito de sonhar a quem sonha. (FREIRE, 2014, p. 141).

Dessa forma, de acordo com Maia el all. (2002), o brincar é muito importante, porque constrói a relação da criança com o mundo ao seu redor, possibilita prazer e domina suas angustias.  Por meio do brincar, as experiências diárias das crianças podem ser comparadas a de um adulto. Tendo um lugar para as crianças soltarem a imaginação, que possibilita o contato com lúdico, a interação com outras crianças, e um certo distanciamento com a rotina de sofrimento e tristeza que o hospital tem, a brinquedoteca se torna um ambiente muito importante. 

Além da brinquedoteca, uma outra forma de se quebrar o clima muito desagradável dentro dos hospitais, como constatou Matos e Mugiatti (2014) ...”pode ser atenuado adotando-se medidas simples, como por exemplo, pintar as paredes de cores variadas (tons pastéis) e usar roupas de cores diferentes, tanto as crianças como o pessoal assistentes”, já que as cores remetem a alegria e descontração, terminando assim com parte do clima austero.

Analisar as adaptações necessárias que garantam a acessibilidade dos alunos ao currículo escolar, brinquedotecas, métodos de avaliações, materiais pedagógicos e espaço físico. Além do lado dos recursos materiais, se faz necessário ampliar a visão do lado psicossocial, fragilidade emocional, integração e enlutamento do educando.

Promover maior interação entre os pais e/ou responsáveis pelo menor em tratamento hospitalar – escolar, por meio da troca de informações entre os educadores e as famílias. Desenvolver estratégias e criar ambientes escolares que proporcionem a interação e a troca de vivências entre as crianças. Favorecer a convivência e incentivar vínculos de amizade entre as crianças para que umas ajudem as outras.

Além dessas práticas, a tecnologia proporciona novas maneiras de se interagir com tudo e com todos, e usá-la para a educação para poder aproximar crianças e adolescentes que estejam em tratamento médico é uma ótima alternativa. Hoje o educando pode estar numa maca de hospital e acompanhar uma aula através de vídeo-aula gravada ou online, distribuída em plataforma de redes privadas ou através de uma rede aberta como o Youtube, passando tempo por meio de Podcasts, jogos e músicas.

O educando pode fazer atividades, desenvolver pesquisas, tirar dúvidas com professores, se formar em um curso à distância, tudo isso a partir do uso de um computador ou um smartphone como ferramenta.

4 SEÇÃO III- VISITA AO GRAACC E AO HOSPITAL A.C. CAMARGO

Sábado, dia sete de maio de dois mil e dezesseis foi realizada a visita ao GRAACC - Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer, que se localiza na Rua Pedro de Toledo, 572. Vila Clementino. São Paulo – SP. A visita foi monitorada pelos voluntários Ricardo, André, Micaela e Carla que contaram que cerca de 95% dos pacientes desse hospital são encaminhados pelo SUS (Sistema Único de Saúde); são atendidas crianças com câncer de todas as regiões brasileiras e, até mesmo, de outros países, que, na maioria das vezes, chegam em um estágio avançado da doença por causa da demora do diagnóstico.

O GRAACC conta com uma equipe multidisciplinar composta por médicos, dentistas, assistentes sociais, psicólogos, entre outros profissionais, que atuam no atendimento médico, psicológico e até social das crianças em tratamento e suas famílias.

Muitos projetos são desenvolvidos pelo GRAACC, mas um que chama a atenção é o “Projeto Escola Móvel”. Muitas crianças quando recebem o diagnóstico que estão com câncer e precisam passar por tratamento acabam deixando os estudos de lado, seja por opção da família ou da própria escola que não dispõe do conhecimento necessário para lidar com possíveis sintomas e/ou reações diversas durante o tratamento, como por exemplo o período que o aluno precisa se ausentar de suas atividades escolares em decorrência de internações ou tratamentos medicamentosos. Dependendo da condição da saúde do paciente é verificada a necessidade ou não de internação. Não sendo necessário, a criança faz o procedimento médico e é liberada no fim do dia para retornar à sua residência.

O Projeto Escola Móvel é desenvolvido pela equipe multidisciplinar do GRAACC da seguinte forma: a assistente social verifica se a criança em tratamento está matriculada em alguma instituição de ensino, se não estiver a matrícula é realizada em uma escola do bairro. Caso o paciente esteja matriculado, a assistente social vai até ao local de ensino informar que a criança está em tratamento no GRAACC. A escola, por sua vez, fornece a grade curricular e as aulas são ministradas para a criança por professores contratados pelo GRAACC no ambiente hospitalar.

No período de avaliações teóricas, a escola, em que a criança está matriculada, envia as provas ao hospital e os professores do GRAACC fazem a sua aplicação. Após sua aplicação, as avaliações são devolvidas à escola e corrigidas pelo professor que ministraria as aulas para a criança em um ambiente escolar. A aprovação/reprovação está condicionada ao aprendizado e não à doença e ao tratamento que a criança está passando.

Assim, com o desenvolvimento do Projeto Escola Móvel as crianças que lutam contra o câncer não são privadas do conhecimento, pelo contrário, pois o processo de ensino e aprendizagem continua mesmo em um ambiente hospitalar, onde as aulas podem ser ministradas no leito do paciente.

Há relatos de pacientes que concluíram a educação básica durante o tratamento no GRAACC e de lá saíram rumo à Universidade, pois existe a possibilidade de o paciente prestar o vestibular e o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) enquanto está em tratamento, no leito ou até mesmo durante uma sessão de quimioterapia, cuja sessão pode levar de uma a sete horas.

Outra iniciativa importante do GRAACC, em parceria com a UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), é a bolsa de estudos, 100% gratuita, fornecida para professores que tenham interesse em trabalhar em ambiente hospitalar, são três bolsas por semestre e o curso tem a duração de seis meses.

Durante a visita, um ambiente chamou a atenção: a Brinquedoteca do Senninha que fica localizada no 3º andar do hospital. O espaço, doado ao GRAACC pelo Instituto Ayrton Senna, é dividido de acordo com a faixa etária dos pacientes. Há espaço para atendimento de bebês, crianças, adolescentes e também para as mães.

Os bebês podem engatinhar, brincar com brinquedos apropriados à idade de cada um; as crianças maiores contam com “cozinhas” e bonecas para as meninas e carrinhos e bonecos de super-heróis para os meninos, além das fantasias das princesas e super-heróis – as crianças podem vestir as fantasias e usá-las, por exemplo, durante as sessões de quimioterapia. Isso contribui para atenuar a sessão medicamentosa, pois as crianças encarnam os personagens e tem um momento mais lúdico. O espaço destinado aos adolescentes conta com jogos, computadores e vídeo games.

As mães dos pacientes podem realizar trabalhos artesanais em uma mesa central e a venda destes produtos é revertida ao GRAACC. Esta oficina artesanal visa não apenas ocupar o tempo das mães enquanto aguardam seus filhos, mas também ensinar um novo ofício, pois uma pesquisa realizada pelo GRAACC constatou que muitos pais abandonam suas famílias durante o tratamento das crianças. É na Brinquedoteca do Senninha que os pacientes infanto-juvenis e as mães aguardam a chamada para a realização das sessões de quimioterapia.

Os pacientes que não residem em São Paulo podem ficar em uma casa de apoio, doada por uma importante empresa alimentícia. A casa fica perto do GRAACC e ficam hospedados os pacientes e suas mães. Cabe as mães as tarefas de cuidar dos quartos onde dormem e das roupas delas e dos filhos.

Em 2016, o GRAACC comemora vinte e cinco anos com conquistas importantes, como a construção do segundo anexo hospitalar, a obtenção da máquina de radioterapia vinda da Alemanha, também por contar com avançada tecnologia no tratamento contra o câncer infantil sem esquecer de toda a complexidade física, emocional, psicológica e social envolvida durante esse sofrido processo vivido pelos pacientes e suas famílias.

Buscando melhor compreensão sobre a vivência do pedagogo em ambiente hospitalar, constatou-se a necessidade de visitar um outro hospital que conta com a Pedagogia Hospitalar e disponibilizasse um pedagogo durante a visita técnica. Com base na história da Pedagogia Hospitalar no Brasil, optou-se pela visita ao Hospital A.C. Camargo, que assim como o GRAACC atende pacientes com câncer.

A visita técnica à Escola Especializada Schweitzer Heine do Hospital A.C. Camargo, que se localiza na Rua Tamandaré, nº 753. Liberdade. São Paulo – S.P., aconteceu no dia vinte e cinco de agosto de dois mil e dezesseis, monitorada pela gestora Maria do Carmo da Silva Mutti e pela pedagoga Camila Martinez Joaquim.

Os dez professores que atuam nessa escola, nos períodos matutino e vespertino, são cedidos pelas Diretorias Estadual e Municipal de Ensino. O corpo docente faz parte de uma equipe multidisciplinar composta por médicos, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, entre outros profissionais. Os professores são itinerantes, não ficam em apenas um ambiente no hospital, eles vão até os educandos, respeitando sempre a vontade do aluno, da família e suas condições físicas. 

A Escola Especializada Schwester Heine atende pacientes entre zero e vinte e um anos de idade, tanto provenientes do SUS como da rede particular de saúde, tem o próprio Projeto Político Pedagógico, mas seus professores também trabalham seguindo o PPP da escola de origem da criança hospitalizada. A principal meta dos profissionais é “promover o desenvolvimento integral do paciente com câncer”. Entre os objetivos, pode-se destacar o acompanhamento pedagógico do processo de escolarização do paciente, o envolvimento dos pacientes através da realização de atividades educativas e lúdicas que contribui com a diminuição da ansiedade e aumentando a aderência ao tratamento e procedimentos médicos realizados. Além de vincular o aluno à escola, garantir o sucesso escolar, conduzir o processo de ensino através de adaptações curriculares, entre outros.

Na primeira consulta no hospital é informada aos pais a existência da Escola Schwester Heine. Caso a criança fique impossibilitada de ir à escola, a equipe pedagógica entra em contato com a instituição de ensino de origem, para ter acesso ao conteúdo que aplicado aquela criança para dar continuidade ao programa de ensino. Se por ventura a unidade educacional não fornecer o material utilizado em suas dependências, o conteúdo é desenvolvido pela parte pedagógica no hospital.

O atendimento pedagógico ganhou sua eficácia comprovada na prática no Hospital A.C. Camargo, de acordo com dados do hospital[5] em 1995, quando por força maior de uma Lei Municipal, os professores da classe hospitalar entraram de férias juntamente com os professores das escolas regulares, a escola hospitalar fechou, e ao retornarem houve um aumento de 60% do uso de analgésicos nas crianças e adolescentes, além que eles apresentaram quadros de maior irritação e depressão.

Após o ocorrido, a equipe médica do A.C. Camargo enviou um relatório ao município de São Paulo relatando o ocorrido e as férias coletivas dos docentes deixaram de ser obrigatórias. Atualmente, segundo o hospital, não há interrupção nas aulas, pois a equipe docente intercala as férias, respeitando apenas os sábados e domingos.

Os atendimentos acontecem em diferentes ambientes do hospital e em diferentes momentos, dependendo das condições do paciente podem ser individuais ou em grupo. A duração das aulas, pode variar entre quarenta e cinco minutos a uma hora. As classes hospitalares estão presentes em três ambientes específicos: na internação, no ambulatório e na UTI do Hospital A.C. Camargo.

Na Escola Especializada Schwester Heine, a educação é formal em um contexto diferente, o ensino é regular (vínculo com a Secretaria de Educação), trabalhando, geralmente, com projetos. Há também o vínculo entre os professores da Escola Especializada Schwester Heine e a escola de origem dos alunos-pacientes. Os contatos são, primeiramente, por telefone e, os demais, por e-mail com o envio de relatórios das atividades desenvolvidas durante o período de hospitalização.

Os atendimentos pedagógicos não acontecem sem o consentimento da família da criança e são registrados por meio do “Roteiro de Acompanhamento Escolar”. Este roteiro é composto por entrevista com a família do aluno-paciente, preenchimento da ficha do aluno e envio da carta/e-mail padrão para vinculação entre as escolas. Todas estas informações estão disponíveis em um sistema próprio da instituição.

De acordo com a gestora Maria do Carmo da Silva Mutti, a Escola Especializada Schwester Heine atende de segunda à sexta-feira, nos períodos manhã e tarde e a construção de uma Brinquedoteca faz parte do planejamento do Hospital A.C. Camargo.

A partir das vivências nas duas instituições, segue abaixo partes de confluência que estão subsidiadas pelos referenciais e que por meio das visitas realizadas e os estudos teóricos constantes nas seções I e II, pode-se observar algumas categorias presentes nos dois espaços:

A Humanização precisa ser demonstrada nas atitudes de todos os profissionais que integram a equipe multidisciplinar, incluindo o pedagogo, visando a recuperação dos alunos-pacientes.

Sabe-se que o período de hospitalização é doloroso para pacientes e suas famílias, assim, amenizar o sofrimento causado durante o tratamento médico é possível ao se tomar medidas que façam com que os profissionais que lidam com os pacientes os enxerguem integralmente, ou seja, de forma física, psicológica, cognitiva, afetiva e socialmente.

Ao especificar o direito que crianças e adolescentes hospitalizados possuem ao ter acesso a programas educacionais para a saúde, o acompanhamento curricular escolar e o acesso a alguma forma de recreação (Resolução 41/95) tem-se expresso legalmente o direito de humanização a esses pacientes.

Entende-se que a humanização engloba o pedagogo - bem como a equipe multidisciplinar que o integra - o brincar, o atendimento no leito e as famílias dos educandos hospitalizados.

Ao atuar em ambiente hospitalar, o pedagogo sabe que faz parte de uma equipe multidisciplinar (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, dentistas, psicólogos, assistentes sociais, entre outros profissionais), que tem como objetivo a recuperação, não apenas física, mas integral dos alunos-pacientes.

Trabalhar em equipe, adotando medidas que amenizem o sofrimento causado pelos procedimentos médicos (exames, injeções, cirurgias, entre outros), e pelo afastamento do educando de sua família, de seus amigos, alterando bruscamente sua rotina, é um desafio para todos os profissionais que integram a equipe multidisciplinar.

O pedagogo pode ajudar a amenizar o sofrimento dos alunos-pacientes, ao lhes proporcionar o acesso ao conhecimento, contribuindo para que os educandos não interrompam seus estudos, propiciando o desenvolvimento cognitivo de cada paciente em idade de escolarização hospitalizado.

Em ambiente hospitalar, assim como na escola, o pedagogo é a ponte entre o aluno e o conhecimento. Conhecimento este que é construído em uma relação onde ambos são sujeitos atuantes no processo de ensino-aprendizagem, havendo, sempre, a compreensão por parte do pedagogo que a realização de atividades está condicionada as condições clínicas de cada educando hospitalizado.

Os estudos teóricos realizados e os relatos de experiências mostram que, em ambiente hospitalar, o aprendizado acontece em diferentes espaços, tais como ambulatórios, enfermarias, classes hospitalares e brinquedotecas.

As brinquedotecas são ambientes hospitalares-educacionais garantidos por lei como direito às crianças e adolescentes hospitalizados (Lei 11.104 de 21 de março de 2005), pois o brincar, além de amenizar o sofrimento vivido pelos pacientes e suas famílias, contribui no processo de ensino-aprendizagem através da ludicidade e dos jogos educativos.

Ao receber o diagnóstico de uma enfermidade que impossibilita a frequência escolar de crianças e adolescentes, os hospitais que contam com a Pedagogia Hospitalar podem garantir o acesso à educação a esses pacientes em ambientes hospitalares adaptados para este fim, como por exemplo, brinquedotecas, classes hospitalares, ambulatórios, mas quando os pacientes não têm condições clínicas de ir a um desses ambientes, o atendimento pedagógico-hospitalar pode acontecer nas enfermarias ou, até mesmo, nas UTI’s, ou seja, o pedagogo, dependendo do quadro clínico, atende as crianças e adolescentes nos leitos, dando continuidade aos estudos, não deixando que esses pacientes fiquem privados do saber, pelo contrário, sendo a ponte entre o alunos hospitalizados e o conhecimento.

A família e sua participação são muito importantes durante o período de hospitalização de crianças e adolescentes, o atendimento pedagógico em ambiente hospitalar não acontece se a família não autorizar, pois os pacientes dependem, na maioria das vezes, do incentivo da família para dar continuidade aos estudos durante o tratamento médico.

Entender a alteração que acontece na rotina das famílias quando suas crianças e adolescentes precisam de hospitalização é importante para direcionar o atendimento que será oferecido, para isto é importante conhecer a realidade e o contexto que os cerca.

 Há famílias que precisam se reorganizar, pois o tratamento médico necessário para a recuperação das crianças e adolescentes, muitas vezes, é oferecido em outra cidade ou estado, impossibilitando o convívio permanente de todos os membros familiares. Nestes casos, geralmente ocorre o afastamento de, pelo menos, duas pessoas do convívio familiar, geralmente, a mãe/responsável e o paciente. Desenvolver projetos que alcancem, além dos pacientes, também suas famílias é uma medida desafiadora que ameniza o doloroso período de hospitalização de crianças e adolescentes.

 A valorização das famílias é uma das formas de humanizar o tratamento médico e os atendimentos pedagógicos em ambiente hospitalar.

Além da alteração na rotina familiar, há também outras alterações sociais que acontecem com a hospitalização de crianças e adolescentes, como a frequência escolar desses pacientes, por isso, a atuação do pedagogo em ambiente hospitalar é tão importante, pois através dos atendimentos pedagógicos os alunos-pacientes são incentivados a prosseguir os estudos, propiciando a continuidade do desenvolvimento cognitivo, psicológico, afetivo e social, tendo a formação como cidadão proporcionada também durante a hospitalização.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio do presente artigo podemos conhecer um pouco melhor a História da Pedagogia Hospitalar, desde a Antiguidade, passando pela Idade Medieval, o surgimento da primeira escola para crianças inadaptadas inaugurada em 1935, na França e a criação do Centro Nacional de Estudos e de Formação para Infância Inadaptadas - C.N.E.F.E.I. em 1939, também na França, que tinha como objetivo formar em dois anos professores hospitalares para atuar em hospitais ou em outras entidades. No Brasil, a Pedagogia Hospitalar teve início, há quase trinta anos, no Hospital A.C. Camargo, que atua nessa área até os dias atuais.

A partir dos estudos teóricos e das visitas técnicas podemos considerar a importância da humanização durante o período de hospitalização de crianças e adolescentes em idade de escolarização, abrangendo todos os atendimentos oferecidos aos pacientes e suas famílias durante o tratamento médico, desde as  equipes multidisciplinares (médicos, enfermeiros, dentistas, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, entre outros profissionais), até os atendimentos pedagógicos, que ressaltam a importância de espaços que propiciem o aprendizado em ambiente hospitalar (brinquedotecas e classes hospitalares) e da adequação de outros espaços necessários quando os alunos-pacientes não dispõem de condições clínicas de saírem das enfermarias ou estão nas UTI’s, necessitando de atendimento educacional nos leitos.

Assim como nas escolas, os pedagogos que atuam em ambiente hospitalar devem ser a ponte entre os educandos hospitalizados e o conhecimento, levando em consideração as limitações e condições clínicas de cada aluno-paciente, pois o processo de ensino-aprendizagem não ocorre em de forma regular, mas em um ambiente hospitalar e um dos objetivos dos pedagogos que atuam nessa área deve ser contribuir no aprendizado das crianças e adolescentes hospitalizados para que, quando puderem retornar à escola de origem, não estejam em desvantagem em relação à turma, além de conhecer a realidade e o contexto que os cerca.

Compreendemos que na Pedagogia Hospitalar o desenvolvimento integral de cada educando é uma das metas principais dos pedagogos e da equipe multidisciplinar que os integra. Assim, ao atuar em ambiente hospitalar, os pedagogos contribuem para a formação de cidadãos críticos, éticos e participativos que poderão atuar ativamente na sociedade, tendo como uma das bases para a sua vivência o conhecimento construído durante o período de hospitalização.

Vivenciar e entender como é a rotina de pedagogos que atuam em ambiente hospitalar foi de extrema importância para a realização do presente trabalho, pois observamos que a prática é embasada pela teoria e respaldada pela lei, fazendo valer o direito ao acesso à educação que cada brasileiro possui.

Dessa forma, vemos a importância da Pedagogia Hospitalar ao, por meio dos pedagogos, não privar do conhecimento os alunos-pacientes hospitalizados, contribuindo para a recuperação e desenvolvimento integral de cada educando através da humanização.

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[1] Dicionário Michaelis (online) disponível em: . Acesso 05 set. 2016.

[2] Informações capitadas na página oficial do Hospital A.C. Camargo. Disponível em: . Acesso em: 14.ago. 2016.

[3] Conteúdo disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000423.pdf. Acesso em 29 nov. 2016.

[4] Empatia: 1. Habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa;2. Compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem;3. Qualquer ato de envolvimento emocional em relação a uma pessoa, a um grupo e a uma cultura. Michaelis -Dicionário (Online). Significado de empatia. Disponível em:< http://michaelis.uol.com.br/busca?id=Oaje>. Acesso em 18 set. 2016.

[5] Dados disponíveis em: www.accamargo.org.br. Acesso 04 set. 2016.

Por Claudineia de Jesus Sales,

Daniela Matias de Lima e

Hendy Oliveira Lopes de Souza

Orientadora MS. Eliana Chiavone Delchiaro.


Publicado por: HENDY OLIVEIRA LOPES DE SOUZA

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