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PEDAGOGIA DOS CUIDADOS

Breve resumo sobre pedagogia aos cuidados.

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A pedagogia dos cuidados tem por objetivo principal a capacidade de compartilhar pensamentos, sentimentos e experiências no universo da educação, do processo de ensino-aprendizagem e de suas vertentes. Envolve, por isso mesmo, as famílias, os alunos, professores, equipe gestora, funcionários, enfim, toda a comunidade escolar. Está voltada aos princípios da esperança, da fé, de saber o momento de “parar” para rever metas, objetivos e principalmente para ouvir todos os personagens desse processo.

Afinal, quais são os valores da educação numa sociedade imersa no universo das mídias digitais? De que maneira avaliar com maturidade e serenidade os problemas pertinentes às raças, religiões, identidades, minorias e inclusão social? Quais são as necessidades e sentimentos mais expressivos no universo da Educação no seio das consequências da pandemia (Covid-19)?

Aqui tem-se a constatação da importância dos conceitos de superação e convivência com os conflitos próprios desse momento social que afeta a Educação e seu processo. Não se trata de emitir juízos de valor, de julgamentos, mas sim entender seus bloqueios e necessidades reais. É saber pedir, ver a necessidade do outro, de seu momento, angústias e dificuldades. É deixar que o outro fale de seus sentimentos, que construa suas narrativas, que expresse seus complexos, dores e angústias. Deixar ainda que fale das violências que sofre, de seus desafetos e medos.

De outro lado, a pedagogia dos cuidados também se volta ao reconhecimento da ação direcionada ao bem comum, da gratidão e ampliação das oportunidades para todos, do entendimento da liberdade de escolha, dos direitos humanos, civis, de saber olhar para as dificuldades estruturais e deixar-se envolver pela empatia. Vislumbra-se aqui o universo e as janelas da alma: afinal, qual o impacto que o meu comportamento causa nos outros? Minha família, meu “colo”, meu “ninho”: de que maneira minhas experiências familiares refletem meus medos, vinganças e comportamentos desordenados no ambiente escolar? É o momento de parar e pensar nas consequências da própria ação e não culpar os outros, a família e a escola por tudo o que acontece. É necessário um entendimento amplo, que considere a totalidade e complexidade da convivência escolar.

No entanto, a pedagogia dos cuidados amplia o horizonte de compreensão desses problemas, na medida em que avalia as diversas situações aos olhos da ética e não do pessimismo; na medida em que busca a verdade, o diálogo, a sinceridade e tranquilidade para resolver situações complexas e adversas. Para tanto, deve ouvir os alunos, entender seus anseios, desânimos, ausência de motivação, sentimento de fuga, exclusão, exaustão e “afogamento” do próprio eu. Por isso, a pedagogia dos cuidados indica os caminhos da tolerância, do respeito, da verdade, da honra e da inclusão. Contribui para entender a distância entre alunos e professores, do processo de indisciplina e do estresse no ambiente escolar.

A pedagogia dos cuidados não é a “sala da disciplina” para alunos agitados. Antes de tudo, é a responsável pela condução da comunidade escolar para o diálogo e entendimento do que está correto e do que precisa de correção de rumo. Para tanto, sabe acolher, expressar saudades, estabelece vínculos com os alunos, estrutura estudos do meio em ambientes do entorno escolar, supera a rotina enfadonha com atividades pedagógicas criativas e motivacionais. Amplia a compreensão das experiências e da esperança, procura entender as fases difíceis e também superá-las com prudência e diálogo. Está atenta às revoltas, às feridas, aos sentimentos familiares, aos sentimentos de raiva e indignação, aos retrocessos, à desesperança.

A pedagogia dos cuidados acredita na educação e em seus princípios enquanto elemento primordial para o desenvolvimento do ser humano em todas as suas dimensões. Nesse momento dos efeitos da Pandemia (Covid-19) para o universo educacional, a pedagogia dos cuidados amplia sua compreensão dos problemas voltados às perdas de vidas, às perdas físicas, às estruturas econômicas e notadamente à saúde dos alunos, professores e todos os profissionais do ambiente escolar. Mas também reveste-se de uma postura positiva, da tolerância, da união, da força do grupo, do comportamento prudente e paciencioso, no amparo e cuidado das famílias, da compreensão de suas revoltas, feridas, dores, solidão e desamparo. Há um olhar atento aos compromissos governamentais para que se voltem à estruturação de políticas educacionais mais assertivas, com a disponibilidade de recursos financeiros e preocupação com o aperfeiçoamento e saúde dos profissionais da educação.

Além dessas realidades, a pedagogia dos cuidados se volta às necessidades dos professores, da equipe gestora e de todos os profissionais que trabalham nas escolas. Dessa maneira, mapeia a violência contra os professores, o desacato à sua autoridade profissional em sala de aula. Seu principal objetivo é estabelecer conexões seguras e saber lidar com os conflitos, lutando contra a insanidade e vulnerabilidade no processo de convivência e comunicação entre alunos e professores. É o entendimento da não violência com os outros e consigo mesmo. Professores também possuem famílias, filhos. Seus filhos também são alunos. Professores também choram. Daí o desafio da pedagogia dos cuidados criar novos espaços de receptividade, novos ambientes, de ampliar os princípios de colaboração e de implantar locais de contação de histórias com as narrativas de professores e alunos, da comunidade.

A pedagogia dos cuidados se utiliza da comunicação compassiva, da preocupação com o outro e suas necessidades, sem as armadilhas do julgamento prévio e imaturo. Busca, por isso mesmo, a horizontalidade no processo de comunicação. A pedagogia dos cuidados faz sua morada na alma do próprio eu, na alma das famílias, também mora nas ruas, entende o deserto das avenidas em noite fria e do abandono, mas também se reveste do aconchego, da honra e do respeito da vida em família.

A experiência da Pandemia (Covid-19), impulsiona a pedagogia dos cuidados a ampliar o entendimento sobre o tempo de luto, das doenças graves, do processo de terminalidade e do momento da morte. No entanto, também se eleva na criação de vínculos com a comunidade e as famílias, explorando suas potencialidades, anseios e desejos. Nessa direção, novos arranjos são pensados, processos colaborativos são implantados, o respeito à religiosidade e espiritualidade são preservados. Observa-se a preocupação com o aumento do suicídio entre crianças e jovens, ao abuso e violência sexual, ao comportamento xenofóbico, à prática do bullying, ao combate do crime, homicídios, uso de drogas, roubos, latrocínio e ao aprendizado eficaz dos alunos e principalmente ao processo de integração ética e práxis social no universo educacional.

A efetivação da pedagogia dos cuidados interage com todos os ambientes, universidades, poder público, empresas, comunidades, redes sociais, enfim, com todos os personagens que envolvem o processo de ensino-aprendizagem e de formação dos alunos. Essa interação pode ampliar seu alcance através da justiça restaurativa, do círculo de diálogo e escuta nas escolas. Para além da manifestação dos sentimentos de raiva, ódio e indignação diante das desigualdades e das situações adversas, a pedagogia dos cuidados acena para o processo de cooperação, acolhimento, da escuta empática, da resiliência e solidariedade, da compaixão e reciprocidade

Desânimos, frustrações, angústias, inseguranças, medos, fobias, apreensão e ansiedade constituem o cenário preocupante no seio das famílias e das escolas. A pedagogia dos cuidados está além das práticas conteudistas. Reconhece sua importância, mas não rotula comportamentos e não julga com autoritarismo. Estimula o desenvolvimento da criatividade, da interação com o meio, mas também chora com as injustiças, com as fraquezas, o desamparo e a palidez da ausência de sentidos. A serenidade e a preocupação com a saúde indicam seguramente a preocupação da pedagogia dos cuidados com a superação dos problemas e dificuldades, de trabalhar com as dimensões do corpo e suas potencialidades, da manifestação da alegria, da felicidade, do sorriso e da convivência familiar empolgante e afetiva. É o cuidar de si e do outro. É o cuidar das famílias e da escola! É amparar!

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Por: Edvaldo Renê Míssio

Doutor em Educação e Mestre em Filosofia (Unicamp).

Pesquisador na área de Sociedade da Informação e comunicação.

Professor universitário e Orientador Pedagógico.


Publicado por: EDVALDO RENÊ MÍSSIO

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