PEDAGOGIA DOS CUIDADOS
Breve resumo sobre pedagogia aos cuidados.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
A pedagogia dos cuidados tem por objetivo principal a capacidade de compartilhar pensamentos, sentimentos e experiências no universo da educação, do processo de ensino-aprendizagem e de suas vertentes. Envolve, por isso mesmo, as famílias, os alunos, professores, equipe gestora, funcionários, enfim, toda a comunidade escolar. Está voltada aos princípios da esperança, da fé, de saber o momento de “parar” para rever metas, objetivos e principalmente para ouvir todos os personagens desse processo.
Afinal, quais são os valores da educação numa sociedade imersa no universo das mídias digitais? De que maneira avaliar com maturidade e serenidade os problemas pertinentes às raças, religiões, identidades, minorias e inclusão social? Quais são as necessidades e sentimentos mais expressivos no universo da Educação no seio das consequências da pandemia (Covid-19)?
Aqui tem-se a constatação da importância dos conceitos de superação e convivência com os conflitos próprios desse momento social que afeta a Educação e seu processo. Não se trata de emitir juízos de valor, de julgamentos, mas sim entender seus bloqueios e necessidades reais. É saber pedir, ver a necessidade do outro, de seu momento, angústias e dificuldades. É deixar que o outro fale de seus sentimentos, que construa suas narrativas, que expresse seus complexos, dores e angústias. Deixar ainda que fale das violências que sofre, de seus desafetos e medos.
De outro lado, a pedagogia dos cuidados também se volta ao reconhecimento da ação direcionada ao bem comum, da gratidão e ampliação das oportunidades para todos, do entendimento da liberdade de escolha, dos direitos humanos, civis, de saber olhar para as dificuldades estruturais e deixar-se envolver pela empatia. Vislumbra-se aqui o universo e as janelas da alma: afinal, qual o impacto que o meu comportamento causa nos outros? Minha família, meu “colo”, meu “ninho”: de que maneira minhas experiências familiares refletem meus medos, vinganças e comportamentos desordenados no ambiente escolar? É o momento de parar e pensar nas consequências da própria ação e não culpar os outros, a família e a escola por tudo o que acontece. É necessário um entendimento amplo, que considere a totalidade e complexidade da convivência escolar.
No entanto, a pedagogia dos cuidados amplia o horizonte de compreensão desses problemas, na medida em que avalia as diversas situações aos olhos da ética e não do pessimismo; na medida em que busca a verdade, o diálogo, a sinceridade e tranquilidade para resolver situações complexas e adversas. Para tanto, deve ouvir os alunos, entender seus anseios, desânimos, ausência de motivação, sentimento de fuga, exclusão, exaustão e “afogamento” do próprio eu. Por isso, a pedagogia dos cuidados indica os caminhos da tolerância, do respeito, da verdade, da honra e da inclusão. Contribui para entender a distância entre alunos e professores, do processo de indisciplina e do estresse no ambiente escolar.
A pedagogia dos cuidados não é a “sala da disciplina” para alunos agitados. Antes de tudo, é a responsável pela condução da comunidade escolar para o diálogo e entendimento do que está correto e do que precisa de correção de rumo. Para tanto, sabe acolher, expressar saudades, estabelece vínculos com os alunos, estrutura estudos do meio em ambientes do entorno escolar, supera a rotina enfadonha com atividades pedagógicas criativas e motivacionais. Amplia a compreensão das experiências e da esperança, procura entender as fases difíceis e também superá-las com prudência e diálogo. Está atenta às revoltas, às feridas, aos sentimentos familiares, aos sentimentos de raiva e indignação, aos retrocessos, à desesperança.
A pedagogia dos cuidados acredita na educação e em seus princípios enquanto elemento primordial para o desenvolvimento do ser humano em todas as suas dimensões. Nesse momento dos efeitos da Pandemia (Covid-19) para o universo educacional, a pedagogia dos cuidados amplia sua compreensão dos problemas voltados às perdas de vidas, às perdas físicas, às estruturas econômicas e notadamente à saúde dos alunos, professores e todos os profissionais do ambiente escolar. Mas também reveste-se de uma postura positiva, da tolerância, da união, da força do grupo, do comportamento prudente e paciencioso, no amparo e cuidado das famílias, da compreensão de suas revoltas, feridas, dores, solidão e desamparo. Há um olhar atento aos compromissos governamentais para que se voltem à estruturação de políticas educacionais mais assertivas, com a disponibilidade de recursos financeiros e preocupação com o aperfeiçoamento e saúde dos profissionais da educação.
Além dessas realidades, a pedagogia dos cuidados se volta às necessidades dos professores, da equipe gestora e de todos os profissionais que trabalham nas escolas. Dessa maneira, mapeia a violência contra os professores, o desacato à sua autoridade profissional em sala de aula. Seu principal objetivo é estabelecer conexões seguras e saber lidar com os conflitos, lutando contra a insanidade e vulnerabilidade no processo de convivência e comunicação entre alunos e professores. É o entendimento da não violência com os outros e consigo mesmo. Professores também possuem famílias, filhos. Seus filhos também são alunos. Professores também choram. Daí o desafio da pedagogia dos cuidados criar novos espaços de receptividade, novos ambientes, de ampliar os princípios de colaboração e de implantar locais de contação de histórias com as narrativas de professores e alunos, da comunidade.
A pedagogia dos cuidados se utiliza da comunicação compassiva, da preocupação com o outro e suas necessidades, sem as armadilhas do julgamento prévio e imaturo. Busca, por isso mesmo, a horizontalidade no processo de comunicação. A pedagogia dos cuidados faz sua morada na alma do próprio eu, na alma das famílias, também mora nas ruas, entende o deserto das avenidas em noite fria e do abandono, mas também se reveste do aconchego, da honra e do respeito da vida em família.
A experiência da Pandemia (Covid-19), impulsiona a pedagogia dos cuidados a ampliar o entendimento sobre o tempo de luto, das doenças graves, do processo de terminalidade e do momento da morte. No entanto, também se eleva na criação de vínculos com a comunidade e as famílias, explorando suas potencialidades, anseios e desejos. Nessa direção, novos arranjos são pensados, processos colaborativos são implantados, o respeito à religiosidade e espiritualidade são preservados. Observa-se a preocupação com o aumento do suicídio entre crianças e jovens, ao abuso e violência sexual, ao comportamento xenofóbico, à prática do bullying, ao combate do crime, homicídios, uso de drogas, roubos, latrocínio e ao aprendizado eficaz dos alunos e principalmente ao processo de integração ética e práxis social no universo educacional.
A efetivação da pedagogia dos cuidados interage com todos os ambientes, universidades, poder público, empresas, comunidades, redes sociais, enfim, com todos os personagens que envolvem o processo de ensino-aprendizagem e de formação dos alunos. Essa interação pode ampliar seu alcance através da justiça restaurativa, do círculo de diálogo e escuta nas escolas. Para além da manifestação dos sentimentos de raiva, ódio e indignação diante das desigualdades e das situações adversas, a pedagogia dos cuidados acena para o processo de cooperação, acolhimento, da escuta empática, da resiliência e solidariedade, da compaixão e reciprocidade
Desânimos, frustrações, angústias, inseguranças, medos, fobias, apreensão e ansiedade constituem o cenário preocupante no seio das famílias e das escolas. A pedagogia dos cuidados está além das práticas conteudistas. Reconhece sua importância, mas não rotula comportamentos e não julga com autoritarismo. Estimula o desenvolvimento da criatividade, da interação com o meio, mas também chora com as injustiças, com as fraquezas, o desamparo e a palidez da ausência de sentidos. A serenidade e a preocupação com a saúde indicam seguramente a preocupação da pedagogia dos cuidados com a superação dos problemas e dificuldades, de trabalhar com as dimensões do corpo e suas potencialidades, da manifestação da alegria, da felicidade, do sorriso e da convivência familiar empolgante e afetiva. É o cuidar de si e do outro. É o cuidar das famílias e da escola! É amparar!
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Por: Edvaldo Renê Míssio
Doutor em Educação e Mestre em Filosofia (Unicamp).
Pesquisador na área de Sociedade da Informação e comunicação.
Professor universitário e Orientador Pedagógico.
Publicado por: EDVALDO RENÊ MÍSSIO
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