Infância e novas mídias
As novas tecnologias e as novas mídias ajudam a formar crianças cada vez mais acostumadas a lidar com as maravilhas do mundo digital.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Introdução:
Com o avanço tecnológico torna-se quase impossível falarmos da infância hoje em dia sem a associarmos a jogos eletrônicos, Internet, DVDs, aparelhos celulares e brinquedos com controle remoto. As novas tecnologias e as novas mídias ajudam a formar crianças cada vez mais acostumadas a lidar com as maravilhas do mundo digital e, detalhe, cada vez mais cedo! Tal adaptação nos leva a questionar qual caminho será traçado pela nova geração: serão adultos “descolados” que sabem lidar com todas as tecnologias e mais informados ou serão crianças que perdem o interesse pelas brincadeiras simples e amadurecem antes do tempo perdendo a essência da infância que é imaginar?
O tema da infância e as novas mídias têm influenciado diversos especialistas ao redor do mundo que, intrigados cada vez mais sobre como a infância está sendo afetada com as transformações tecnológicas, dedicam suas pesquisas a buscar compreender se a influência é predominantemente negativa ou se existe algo de positivo nessa nova forma de se desenvolver dos jovens.
Para o professor David Buckingham (diretor do Centro de Estudos da Infância, Juventude e Comunicação da Universidade de Londres e especialista na relação entre comunicação e infância):
“educar não significa apenas que os professores devam falar e os alunos escutarem. Significa também encorajar a participação das crianças na produção de mídias. Proteger as crianças da influência negativa das mídias está ultrapassado. As crianças precisam ser estimuladas por educadores preparados a lidar com as novas mídias e criar as suas.” (Centro de Convivência da UFSC)
É necessário investir na qualificação dos profissionais da educação para que estes, ao invés de inibir o uso das novas tecnologias por parte dos seus alunos, os encorajem a utilizá-las de forma a ajudar em seus estudos e na sua formação como indivíduo. É fundamental saber extrair coisas positivas deste impacto que, segundo outros especialistas, quando não utilizados de maneira correta, podem acarretar sérios prejuízos para as crianças e os adolescentes que crescem de forma cada vez mais precoce. Para muitos o tempo das brincadeiras inocentes na rua e dos desenhos animados na TV de casa parece ter ficado num passado distante da atualidade, isso não só influencia a formação intelectual, social como também a formação sexual dos jovens.
A formação intelectual pode ser prejudicada se o hábito de pesquisar tudo o que for proposto em sala de aula seja feito através da Internet. O costume de pesquisar em livros, revistas, jornais e bibliotecas se extingue cada vez mais cedo. Até mesmo os trabalhos escritos são feitos em editores de textos que corrigem automaticamente a gramática, impedindo que os alunos aprendam com seus próprios erros. E esse modo de pesquisa não afeta somente os jovens com mais idade, pois é comum vermos crianças menores utilizando, cada vez mais cedo, os computadores, sejam eles domésticos ou das chamadas lan houses[1].
A formação social também é afetada devido ao maior tempo de reclusão ao qual o jovem e a criança se submetem em suas casas enquanto permanecem horas em frente ao computador. As amizades, em sua maioria, são feitas hoje através de redes sociais e canais de comunicação on line[2] como MSN e Orkut. Com o tempo as crianças e os jovens perdem o contato com as outras e a troca de experiências pessoais passa a ocorrer de forma virtual, sendo que na maioria das vezes, estas pessoas jamais chegarão a se conhecer de forma concreta.
Para o psicólogo especialista em sexologia, Carlos Boechat Filho, o afrouxamento dos valores sexuais e a influência da mídia são os principais responsáveis por um adiantamento na vida sexual dos adolescentes. Segundo o psicólogo, quanto mais tempo em frente à TV ou ao computador, navegando pela Internet, maior será a facilidade de acesso a conteúdos eróticos e inapropriados para menores. Neste caso torna-se de extrema importância o acompanhamento dos pais que devem impor limites ao mesmo tempo em que evitem reprimir a busca por certas informações.
Pesquisas realizadas no Reino Unido sugerem que as crianças agora ficam muito mais confinadas em casa e têm muito menos independência de locomoção do que tinham 20 anos atrás. E, enquanto os pais agora passam muito menos tempo com as crianças, eles tentam compensar a falta fornecendo cada vez mais recursos econômicos para cuidar dos filhos. (Buckingham, 2003, p.21)[3]
Até meados da década de 1990, os preços de aparelhos eletrônicos e celulares eram muito altos, porém com a evolução tecnológica e o avanço econômico brasileiro, nossos jovens passaram a almejar novos tipos de presente e os pais, influenciados pela constante queda nos preços destes itens, acabam cedendo e fornecendo aparelhos cada vez mais sofisticados que, durantes suas próprias infâncias, não existiam ou eram privilégios dos mais afortunados financeiramente.
De acordo com os especialistas, as novas mídias e as novas tecnologias influenciam na mudança do sentido da infância. Se antes destas transformações as crianças eram diferenciadas pela etnia, classe social e cultura, hoje elas começam a se polarizar em grupos dos que vivem uma “infância moderna” e os outros que ainda tem uma “infância tradicional”.
Lilian Ivana Born[4] é uma das pesquisadoras que avaliaram as influências das novas tecnologias na infância, em especial o uso do celular. Como antes foi mencionado uma nova divisão entre “infâncias”, Lilian fez a seguinte declaração:
“acerca da influência da tecnologia nas sociedades, entendendo que ela não é neutra, que altera e produz novos modos de vida, e com isso também uma nova representação de infância.”
Segundo a pesquisadora, as propagandas que disseminam as novas funções e os novos modelos, cada vez mais atrativos, despertam nesses indivíduos o desejo de posse desses aparelhos, criando assim uma nova realidade da infância: o consumismo precoce.
O lado positivo do uso das novas mídias também deve ser avaliado, a TV, por exemplo, quando aliada de forma correta ao processo pedagógico pode complementar o processo de ensino-aprendizagem e interagir como um exercício intelectual e de cidadania. Mas para que isso realmente funcione, é necessário que nós pedagogos saibamos auxiliar as crianças de forma que elas, antes de qualquer coisa, aprendam a assistir à TV, podendo compreender as imagens e as mensagens enviadas.
Promover a utilização da TV como recurso pedagógico é fazer com que a escola tenha o material que vai possibilitar a produção de conhecimento na criança. É o professor que define a escolha das imagens e o uso que dará a elas no processo pedagógico.
“[...] as mídias apresentam-se, pedagogicamente, sob três formas: como conteúdo escolar integrante das várias disciplinas do currículo, portanto, portadoras de informação, idéias, emoções, valores; como competências e atitudes profissionais; e como meios tecnológicos de comunicação humana (visuais, cênicos, verbais, sonoros, audiovisuais) dirigidos para ensinar a pensar, ensinar a aprender a aprender, implicando, portanto, efeitos didáticos como: desenvolvimento de pensamento autônomo, estratégias cognitivas, autonomia para organizar e dirigir seu próprio processo de aprendizagem, facilidade de análise e resolução de problemas, etc.” (LIBÂNEO, 2001, p. 70)[5].
Conclusão:
Diversão, educação, socialização e comunicação. Esses deveriam ser os tópicos formadores de uma infância saudável, porém num mundo tão desenvolvido, e com mais novidades surgindo diariamente, torna-se cada vez mais complicado não migrar a infância como conhecíamos para a “infância do futuro” quase toda (ou toda) automatizada e individualista.
Cabem a nós, futuros educadores, investirmos em conhecimentos específicos que possam unir as facilidades tecnológicas e midiáticas com a formalização da educação, interagindo com os alunos através do uso de ferramentas que lhe despertam o interesse pelos estudos (computadores, câmeras digitais, aparelhos celulares, etc.) e através deles transmitirem os conhecimentos e conteúdos que norteiam a ação pedagógica.
Uma infância ideal é aquela onde as crianças disponibilizam de novos meios de diversão e informação, não deixando de lado as brincadeiras clássicas que as ajudam na socialização. Deste modo, unindo o passado e o futuro (cada vez mais se fazendo presente) poderemos ajudar a construir adultos inteligentes e sociáveis que, sabendo lidar com as novas tecnologias, apreciam a boa e velha forma de viver, ou seja, ainda num mundo real.
Bibliografia:
http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20060703101942AApaRXa 07/01/2010 às 02:02
http://midialab.wordpress.com/2008/02/07/infancia-e-novas-midias/ 12/03/2010 às 23:41
http://www.artigos.com/artigos/sociais/sociedade/a-influencia-da-tecnologia-na-vida-de-criancas-e-adolescentes-dos-pequenos-centros-urbanos-1869/artigo/ 12/03/2010 às 23:57
http://www.aurora.ufsc.br/eventos/eventos_3a_jornada_mesa1.htm 12/03/2010 às 23:44
http://www.periodicos.proped.pro.br/index.php?journal=revistateias&page=article&op=view&path%5B%5D=190&path%5B%5D=189 07/04/2010 às 01:55
http://www.webartigos.com/articles/35613/1/A-Televisao-na-Educacao-Infantil/pagina1.html 07/04/2010 às 01:34
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:LPzOlYiHtu4J:www.ulbra.br/ppgedu/files/resumo15.pdf+a+inf%C3%A2ncia+e+o+celular&cd=5&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br 07/04/2010 às 02:07
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[1] "Local Area Network", quer dizer "rede local", traduzindo assim uma loja ou local de entretenimento caracterizado por ter diversos computadores de última geração conectados em rede de modo a permitir a interação de dezenas de jogadores. O conceito de LAN House foi inicialmente introduzido e difundido na Coréia em 1996, chegando ao Brasil em 1998. A tradução para o português poderia ser "casa de jogos para computador".
[2] Conectado à Internet. Conexão em tempo real.
[3] BUCKINGHAM, David. Media education – literacy, learning and contemporary culture. Cambridge: Polity Press, 2003.
[4] Lilian Ivana Born (Mestre em Educação, professora de escola municipal, Porto Alegre/RS/Brasil)
[5]LIBÂNIO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora. São Paulo: Cortez, 2001.
Publicado por: Elaine Rose da Silva
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