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Breves considerações sobre as representações midiáticas do professor

Uma análise sobre a visão da mídia sobre o professor

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Um dos principais sensos comuns pedagógicos – criado a partir de leituras distorcidas de Paulo Freire, Henry Giroux e François Dubet, entre outros autores – aponta que a educação, por si só, seria capaz de transformar a sociedade. Ou seja, de acordo com essa equivocada linha de pensamento (também conhecida como "pedagogismo"), bastaria promover mudanças positivas no campo educacional para, automaticamente, termos uma realidade melhor.

Sendo assim, recorrendo a um vocábulo do léxico marxista, a educação constituiria uma espécie de infraestrutura da sociedade, determinando o funcionamento de todas as outras instâncias. Nessa lógica, o professor, como protagonista do processo de ensino, torna-se o único responsável pelos possíveis fracassos e sucessos do sistema educacional (a despeito de toda complexidade que envolve esta questão e seus condicionantes pedagógicos, cognitivos, políticos, econômicos, sociais e contextuais).

Esta personalização dos aspectos positivos e negativos da educação na figura do professor também está presente nos discursos midiáticos, tanto em textos jornalísticos quanto nas produções da chamada indústria do entretenimento.

É comum encontrarmos na mídia artigos de opinião, reportagens e matérias que culpabilizam o professor pelo fracasso escolar. Desse modo, em tais narrativas, a maioria dos docentes (supostamente) não possui domínio de turma, tem péssima didática, desconhece os fundamentos teórico-metodológicos de sua disciplina de referência e trabalha no magistério por "falta de opção”. Nessas simplificações editoriais, a educação é ruim porque os professores "não se esforçam o suficiente”.

Por outro lado, pontos que realmente nos ajudam a compreender os motivos para o caos do sistema educacional são capciosamente negligenciados, como o sucateamento do ensino público, as perseguições ideológicas, a infraestrutura precária de escolas e os currículos que não dialogam com o cotidiano.

Já nas produções da indústria cultural, o professor é o "salvador" da educação. Obras como o filme britânico “To Sir With Love”, o longa-metragem estadunidense “Dead Poets Society” e a série de televisão brasileira “Segunda Chamada”, apesar de distantes no tempo e no espaço, apresentam enredos similares: um professor (ou professora) começa a lecionar numa determinada escola (em algumas oportunidades, com estudantes indisciplinados ou com problemas de aprendizagem); a princípio, ele(a) encontra resistência por parte do corpo discente (e dos demais sujeitos escolares); mas, no decorrer do ano letivo, coloca em prática uma certa metodologia e resolve, de forma decisiva, todos os problemas daquela realidade de ensino.

A visão do professor como “herói”, a princípio, parece positiva. Afinal de contas, demonstra o poder transformador da educação e da ação docente. No entanto, uma observação mais acurada nos leva a concluir que essa representação docente tem o mesmo sentido dos discursos jornalísticos sobre o professor mencionados anteriormente. Nesse caso, a educação é boa porque o “professor se esforçou o suficiente”. 

Não obstante, esse tipo de imaginário social, ao superdimensionar as possibilidades de atuação docente, pode frustrar profissionais do magistério em início de carreira. Ao sair da graduação, com grande expectativa para exercer o novo ofício, o professor chega à escola acreditando que, assim como nos filmes ou em algumas teorias acadêmicas, ele vai mudar toda a dinâmica educacional, fazer com que os alunos assimilem o conteúdo de maneira satisfatória, acabar com a indisciplina em sala de aula, formar cidadãos críticos etc. 

Porém, o cotidiano escolar é muito mais complexo e controverso do que nos é apresentado nas obras de ficção. Os professores de “To Sir With Love”, “Dead Poets Society” e “Segunda Chamada” dificilmente obteriam o mesmo sucesso pedagógico na vida real. Diante disso, o docente, ao perceber que não vai transformar a educação como imaginava, tende a ser acometido por um sentimento de impotência; não raro se culpando pelo fracasso escolar, sem analisar todo o contexto em que está inserido.

Evidentemente, não negamos que o professor também é responsável pelo êxito ou insucesso escolar do alunado; mas não somente ele, conforme apontam algumas das ideias pedagogistas aqui apresentadas. A função docente é atuar como mediador no processo de construção do conhecimento, o que significa ocupar um papel de intermediário entre os alunos e o conteúdo didático.   Outros fatores que influenciam nesse processo (como as desigualdades sociais e o descaso/falta de investimento público) fogem da alçada de influência docente.

Também é importante frisar que, conforme já afirmaram Paulo Freire e Dermeval Saviani, a educação não deve ser vista a partir uma perspectiva ingênua e, segunda a qual ela seria a chave de todas as questões e “redentora da sociedade”. Portanto, um melhor sistema educacional somente será possível na medida em que também seja colocado em prática um projeto efetivo de transformação global da sociedade, pois, lembrando novamente Paulo Freire (em livro escrito em parceria com Antonio Faundez), “não é mudando as partes que se muda o todo, mas é mudando o todo que se mudam as partes”.

Referências Bibliográficas

DUBET, François. O que é uma escola justa?: a escola das oportunidades. São Paulo: Cortez, 2008.

FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma Pedagogia da Pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

GIROUX, Henry. Teoria e resistência em educação: para além das teorias de reprodução. Petrópolis: Vozes, 1986.

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. 39. ed. Campinas: Autores Associados, 2007.


Publicado por: Francisco Fernandes Ladeira

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