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O mal-estar da pós-modernidade em Chapeuzinho Amarelo

Confira as principais problemáticas do mundo pós-moderno nas representações da infância analisando a paródia “Chapeuzinho Amarelo” de Chico Buarque.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

RESUMO

O presente estudo partiu da necessidade de compreender o novo paradigma vigente na sociedade pós-moderna, questões como insegurança, medo, angústia, individualismo, consumismo e crise de identidade. Assim, este trabalho objetiva discutir as principais problemáticas do mundo pós-moderno nas representações da infância, analisando a paródia “Chapeuzinho Amarelo” de Chico Buarque. Para isso, foi necessário investigar todos os aspectos citados e relacioná-los com o referido texto, optando-se por uma pesquisa qualitativa. Durante a análise de cada elemento, observou-se as desvantagens que a modernidade imprimiu na sociedade, no entanto é possível sobressair a esta nebulosa situação. O trabalho tem como principal fonte teórica Zygmunt Bauman.

Palavras- Chave: Pós-Modernidade. Medo. Chapeuzinho Amarelo.

1 INTRODUÇÃO

Esperamos com este estudo desenvolver o senso crítico, de modo a possibilitar um novo olhar sobre a sociedade contemporânea. Que a partir dele novos valores e pensamentos sejam formados desencadeando novas atitudes como o afeto, o respeito e a solidariedade humana, sentimentos tão diluídos atualmente.

O momento atual exige uma postura ativa e crítica dos indivíduos, a não conformação com os ditames desse regime que apenas aprisiona o ser humano, não proporciona sentido existencial, fere a emoção, banaliza as relações interpessoais, exclui aqueles que não podem viver de acordo com os apelos do mercado consumidor e gera os mais terríveis sentimentos.

Em um mundo pós-moderno é preciso estar consciente que embora os valores e os padrões mudem de uma época para outra, contudo os mais significativos irão sempre permanecer intactos as mudanças, e são exatamente por esses padrões que se solidificam por tantas e tantas gerações que o homem precisa construir sua identidade, pois só assim poderá compreender seu lugar na sociedade.

Independente da liquidez dos tempos modernos, do sentimento de vazio, da solidão cabe ao indivíduo enfrentar corajosamente todos estes males, vencer seus medos e voltar a sorrir como uma criança, observando aquilo que pode afetar positivamente e negativamente sua vida, somente assim poderá usufruir com tranquilidade as novidades da pós-modernidade sem prejuízo de seu bem-estar.

Assim, objetivamos discutir sobre as inquietações do homem pós-moderno, seus medos, angústias, individualismo, consumismo e crise de identidade. Todas essas questões serão analisadas em conjunto com as representações da infância na paródia “Chapeuzinho Amarelo” de Chico Buarque.

Deste modo, ressaltamos a importância deste trabalho pelo fato de contribuir e alertar sobre os males do mundo atual e refletir suas consequências e desafios que devem ser enfrentados pela sociedade, contando com o embasamento teórico de Zygmunt Bauman (1998), (2007).

2 MATERIAIS E MÉTODOS

A paródia “Chapeuzinho Amarelo” evidencia os males da sociedade pós-moderna, pois é possível observar que a personagem está submersa pela sensação de medo, tornando-a uma menina solitária e angustiada. Contudo, quando enfrenta seu maior medo consegue se libertar de suas amarras e viver livremente.

Assim, observamos que mesmo diante de uma sociedade líquida cujos preceitos são modificados rapidamente e de forma contínua depende do sujeito encarar os desafios e sobreviver na contemporaneidade.

Este estudo terá embasamento teórico nas concepções de Bauman com as obras o mal-estar da pós-modernidade, 44 cartas do mundo líquido moderno entre outras.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A paródia “Chapeuzinho Amarelo” aborda a história de uma menina que tem medo de tudo. Seus medos eram tão grandes no plano imaginário que a impediam de viver uma vida plena e feliz.

Tinha medo de trovão. / E minhoca, pra ela era cobra. / E

nunca apanhava sol / porque tinha medo da sombra. / Não ia

pra fora pra não se sujar. / Não tomava sopa pra não se ensopar.

/ Não tomava banho pra não descolar. / Não falava nada pra

não engasgar / Não ficava em pé com medo de cair.

É neste contexto que analisaremos os vários aspectos do mundo pós-moderno como: o medo, a insegurança, a incerteza e a identidade.

A grosso modo, podemos dizer que tal personagem representa o mal-estar da sociedade moderna, uma vez que esta se encontra em profunda angústia ante as situações mais corriqueiras da vida e de algo aparentemente ilusório.

Segundo Bauman (1998), o medo é provocado pela incerteza e insegurança e acrescenta que atualmente vivemos em uma atmosfera de medo ambiente. Ele explica que a insegurança é resultante da vontade de liberdade experimentada pelo homem moderno ou pós-moderno. A insegurança por sua vez origina-se na “desregulamentação, no enfraquecimento das relações humanas, na busca por esclarecimento da liberdade” (BAUMAN, 2007, p. 442).

Sobre o enfraquecimento das relações humanas é importante salientar que o mesmo procede do individualismo tão atuante na sociedade vigente, pois o que interessa é tão somente o bem estar próprio e a busca de uma posição elevada na sociedade.

Nesta perspectiva, Bauman (2007) salienta os desafios advindos da era moderna: a passagem do estado sólido para o líquido, a separação e o divórcio entre o poder e a polícia, a fragilidade dos laços inter-humanos, o enfraquecimento das estruturas sociais e as consequências das escolhas são de total responsabilidade do indivíduo. Assim, o indivíduo vive em um ambiente de solidão tendo que encarar seus medos e angústias sozinho, pois nada mais lhe inspira confiança, nem mesmo o Estado.

De acordo com a paródia “Chapeuzinho Amarelo”, o maior medo da menina era encontrar o Lobo e por que não dizer que a imagem do Lobo representa os desafios enfrentados pela sociedade moderna? Eis a reflexão.

Todos estes fatores confirmam o estado de liquidez da nova sociedade em que tudo flui muito rápido, tudo é passageiro, incerto e inseguro cujos valores, pensamentos e atitudes foram transformados, muito embora existam valores imutáveis como afirma Mary Douglas (1966 apud Bauman, 1998, p.16).

Nesta sociedade não há lugar para as relações humanas, pois o contato humano foi lançado em troca dos aparelhos eletrônicos, das avançadas tecnologias. Atualmente, as pessoas estão vivendo no mundo virtual a fim de preencher o vazio causado pela pós-modernidade. Bauman explica que as redes sociais foram aceitas alegremente pelas pessoas que necessitavam de companhia, mas que se sentiam infelizes perto de gente, ou seja, as pessoas estão ocupadas demais para dedicarem-se a outras pessoas sendo esta uma das consequências da globalização.

No que se refere à identidade é essencial observar as concepções de Bauman (1998), quando afirma que a identidade foi reduzida a um projeto de vida pelo estado moderno e que não é mais construída gradualmente, mas sim em “uma série de novos começos, que se experimentam com formas instantaneamente agrupadas, mas facilmente demolidas, pintadas umas sobre as outras: uma identidade de palimpsesto”. (BAUMAN, 1998, p.36).

Assim, o homem já não é capaz de construir sua identidade de maneira sólida, antes ela é instável e sujeita a repetidas mudanças em face dos tempos líquidos, necessitando sempre ser construída e reconstruída.

Outro aspecto indispensável para o nosso estudo vem a ser o consumismo que se apresenta de forma esmagadora e excludente, pois aqueles que não podem consumir conforme Bauman (1998) são deixados de fora e tidos como consumidores falhos e objetos fora do lugar. Assim, observamos que nesta sociedade prevalece aquele que é mais forte e que não há espaço para a solidariedade, porque o que impera nela é o capitalismo.

Diante de todas as reflexões acerca do mundo atual e suas relações com o texto citado é necessária que se faça uma ressalva: como já citado o maior medo de Chapeuzinho era encontrar o LOBO, o que de fato aconteceu, no entanto ao enfrentá-lo seu medo dissipou-se e finalmente ela pode desfrutar de uma vida feliz.

Não tem mais medo de chuva, nem foge do carrapato.

Cai, levanta, se machuca, vai a praia, entra no mato,

Trepa em arvore, rouba fruta, depois joga amarelinha,

com o primo da vizinha, com a filha do jornaleiro,

com a sobrinha da madrinha

e o neto do sapateiro.

Assim, verificamos que mesmo em uma sociedade líquida em que os sentimentos, as pessoas não são valorizados e o indivíduo vive sobre uma névoa de incertezas, inseguranças, crise de identidade, ainda assim é possível vencer os medos impostos pela pressão da vida moderna.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O propósito deste trabalho foi analisar e compreender os conceitos e implicações da pós-modernidade e suas consequências na vida e nas relações humanas o que contribuiu para identificarmos de forma ampla e clara o porquê de muitas inquietações humanas, além de facilitar a compreensão das constantes mudanças do meio em que estamos inseridos.

Este estudo contribuiu para ressaltar a importância das relações humanas, do convívio social, para reflexão sobre o consumismo, capitalismo, incertezas e a necessidade de estabelecer uma identidade sólida mesmo no mundo líquido.

Sobretudo, destacamos que as possibilidades para superar os medos e angústias têm caráter subjetivo, está no sujeito o poder de decisão. Logo, acreditamos que é possível aproveitar todas as vantagens da modernidade sem refutar os valores essenciais que devem nortear a sociedade.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998).

BAUMAN, Zygmunt. Tempo Líquidos. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

BAUMAN, Zygmunt. 44 cartas do mundo líquido moderno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.

CORDEIRO, Sandro da Silva; COELHO, Maria das Graças Pinto. Descortinando o conceito de infância na história: do passado à contemporaneidade.


Publicado por: DEBORA RAQUEL DE VASCONCELOS

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