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Nem todas mulheres merecem declarações

Lírica medieval, trovadores, cantigas, cancioneiros, cantigas de amor, eu lírico, inferiorização em relação a mulher.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Na lírica medieval, os trovadores eram os artistas de origem nobre, que compunham e cantavam, com o acompanhamento de instrumentos musicais. Estas cantigas foram manuscritas e reunidas em livros, conhecidos como cancioneiros e divulgadas nas festas e nos palácios. Parte dessas cantigas eram escritas e cantadas para as mulheres como forma de cortejá-las, dando-se o nome de cantigas de amor; neste tipo o trovador destaca todas as qualidades da mulher, colocando-se em uma posição inferior a ela. Porém, existem outros tipos de cantigas, a que o artigo trata o eu lírico não se inferioriza em relação à mulher.

Assim, o presente trabalho pretende verificar como os trovadores apresentavam a mulher em suas cantigas. Para isso, tomamos como análise a “Cantiga Dona Fea”, de Joan Garcia de Guilhade, buscando entender o que as mulheres ouviam ou gostavam de ouvir nas canções, tomando como base a Crítica do eu lírico em relação à mulher que desejava a canção.

Podemos perceber que essa cantiga é de maldizer, pois há uma crítica do eu lírico para a mulher que desejava ser igual as outras, pois ele costumava cantar inúmeros elogios para muitas mulheres, mas a “Dona Fea” nunca louvou e, aos olhos do eu lírico, nem tem o porquê de louvá-la, sendo ela uma mulher feia, velha e maluca.

A “Dona Fea”, que tanto queria uma canção, por ter um certo ciúmes de ser uma mulher que não ganhava atenção, sentindo-se assim desprezada, solicitou ao sujeito lírico que compusesse essa melodia. Para atender os lamentos dela ele criou a cantiga, mas o que escreveria ele, se não a verdade que a via. Por isso, sem restrições ele fez a Cantiga à “Dona Fea”, mostrando para todo mundo o que sentia por ela, apenas insatisfações, não havia uma palavra de carinho a lhe dizer. Comprova-se isso no trecho: “E vedes como vos quero loar:/ Dona fea, velha e sandia!” (v. 5-6).

Ao mesmo tempo, que o sujeito lírico castiga a “Dona Fea” com suas palavras, ele se desculpa, pedindo o perdão de Deus. Nessa época, a religião era algo de extrema importância para o homem medieval, por isso, agradar e obedecer a Deus era o objetivo de vida, pois o Teocentrismo é um dos traços essenciais da cultura medieval, que também estão presentes na cantiga.

Podemos notar que o eu lírico, na segunda estrofe, pede perdão a Deus pelo mal que vai fazer com suas palavras a “Dona Fea”, “Dona fea, se Deus me perdon,/pois avedes [a] tan gran coraçon” (v. 7-8), deixando claro que ele sabe o quanto de tristeza trará a essa mulher, que irá se sentir ainda mais desprezada do que sentia-se sem ter uma cantiga dedicada a ela.

Portanto, podemos perceber que as canções feitas para as mulheres eram delicadas, formosas, amorosas e, por meio dessas, os trovadores declamavam o seu amor. Porém, o que vemos na cantiga de Joan não é toda essa formosura, ele quis satirizar a “Dona Fea”, mostrando dessa forma que nem todas as mulheres eram iguais, nem todas eram dignas de poemas, e que essas tinham que se aceitarem como eram e se conformarem que não eram bonitas como as outras, mesmo que a religião diga que todas são iguais perante a Deus.

MASSAUD, Moisés. A literatura portuguesa através dos textos. 11ª ed. São Paulo: Cultrix, 1982.

NUNES, José Joaquim. Cantigas de amigo dos trovadores galego-portugueses. 3 v. Lisboa: Cento do Livro Brasileiro, 1973.

SUA PESQUISA.COM. Trovadorismo. Disponível em www.suapesquisa.com/artesliteratura/trovadorismo.htm. Acesso em 14 mar. 2009.


Publicado por: Aline Freire de Souza

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