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ANÁLISE DA MÚSICA “LÍNGUA” COMPOSTA POR CAETANO VELOSO DE ACORDO COM A PROPOSTA GERATIVISTA

Breve análise da música "Língua", composta por Caetano Veloso, de acordo com a proposta gerativista.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

ANÁLISE DA MÚSICA “LÍNGUA” COMPOSTA POR CAETANO VELOSO, DE ACORDO COM A PROPOSTA GERATIVISTA

INTRODUÇÃO

O objetivo do presente artigo é analisar, segundo a proposta gerativista, a música “Língua”, de autoria de Caetano Veloso. A teoria gerativista ou gerativismo é a formalização dos aspectos linguísticos aplicados a um método determinado, explicito e preciso de uma língua. Ela argumenta que o sujeito tem a capacidade de produção e conhecimento verbal sem aprendizado. Segundo a perspectiva gerativista, a competência linguística do falante e a sua criatividade de expressão devem ser enfatizadas com base na fundamentação de regras.

A proposta gerativista tem como fundamento as ideias de N. Chomsky, baseadas na construção de uma gramática cuja prioridade é a análise sintática, e não apenas um estudo de elementos isolados de uma frase. Portanto, Chomsky defende que uma língua natural não deve ser controlada por uma norma fixa.

Em síntese, o gerativismo proporciona uma nova visão da formação das palavras por meio da gramática da competência. Chomsky descreve a criação do léxico por meio da competência do falante, ou seja, a capacidade do indivíduo criar novas formas que possam se adaptar a um discurso.

ANÁLISE DA MUSICA “LÍNGUA”, DE CAETANO VELOSO

A música “Língua”, de Caetano Veloso, apresenta várias perspectivas morfofonológicas. Ela faz uma reflexão do português brasileiro, haja vista que o cantor evidencia nesta obra o português falado no Brasil como idioma único, comparado a outros idiomas.

Nesse sentido, Caetano menciona a características do português brasileiro agregando singularidades de outras culturas, inserindo-as na cultura brasileira. Abaixo, veremos que a canção começa com uma frase que gera um duplo sentido:

Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões

Nessa estrofe, pode-se compreender a palavra “Língua” como o idioma do autor. Ao dizer que gosta de roçar a sua língua à de Camões, Caetano Veloso nos traz a ideia de distinção entre o português lusitano e o falado aqui no Brasil, uma vez que o autor é brasileiro e Luís de Camões é português.

Assim, entende-se que não existe igualdade entre as línguas portuguesas. Além disso, no que se refere à oralidade, o autor cita que se dedica a “confusões de prosódias”, visto que se refere à acentuação da sílaba tônica de forma correta.

Na segunda estrofe, o interdiscurso é novamente destacado. Veloso traz, respectivamente, os escritores da literatura brasileira e portuguesa Guimarães Rosa e Fernando Pessoa:

Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade

Ao citar tais poetas, o cantor nos mostra que as obras de Fernando Pessoa são conhecidas e inseridas na cultura brasileira. Além disso, ele descreve Guimarães Rosa com paixão ao citar o verso “Da Rosa no Rosa”, uma vez que ao fazer alusão a rosa, Caetano enfatiza o sentimento de pureza e amor.

A terceira estrofe faz referência a colonização do Brasil. Nesse contexto, o autor traz uma exposição acerca desse assunto:

E quem há de negar que esta lhe é superior?
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
Minha pátria é minha língua
Fala Mangueira! Fala

Ao dizer “deixar os Portugais morrer à míngua”, Caetano não faz referência aos portugueses. O cantor faz evidência à língua portuguesa falada no Brasil como a maior riqueza dos brasileiros. Nessa mesma estrofe, ele diz: “Minha Pátria é minha língua”, ou seja, faz referência a devoção pelo seu idioma, haja vista que Caetano também valoriza a própria língua ao fazer o uso da expressão “Fala Mangueira”, em alusão aos valores culturais do Brasil.

Na quinta estrofe, ao citar “Flor de Lácio”, poema de Olavo Bilac, Caetano nos remete observar certos traços de intertextualidade:

Flor do Lácio
Sambódromo
Lusamérica
Latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Nos versos acima citados, o cantor enfatiza o seguinte: embora o português Brasileiro tenha sua origem na “Flor do Lácio”, ele caminha com capacidade própria. Ao fazer referência ao verso “O que quer/O que pode essa língua”, observamos que a língua deve e pode ser atualizada. Já os versos “Lusamérica e Latim em Pó” mostra o fim do latim e, respectivamente, o surgimento da língua portuguesa.

Em toda canção, de maneira inteligente, o autor faz associações entre os estrangeirismos, o português brasileiro e o português falado em Portugal. Na próxima estrofe, veremos um paralelo entre autores brasileiros e portugueses, destacando uma relação direta com a língua inglesa:

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas!
Cadê?
Sejamos imperialistas!

Nesse caso, podemos observar um encontro com diversos tipos de escrita e rimos de fala, isto é, recursos expressivos e mistura de gêneros textuais. Dessa forma, Caetano nos revela o surgimento de uma língua nova, repleta de estrangeirismos, variedades linguísticas e neologismos. A sexta estrofe apresenta também a variedade da língua como marca:

Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E xeque-mate
Explique-nos, Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em 'ã'
De coisas, como 'rã' e 'ímã'
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier
Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé e Maria da Fé
E Arrigo Barnabé
.

Podemos observar no verso “Vamos na velô da dicção choo choo de Carmem Miranda” a transformação das palavras em neologismos, por consequência da velocidade das informações. Devido a isso, com objetivo de uma comunicação mais veloz, palavras perdem sílabas. Observa-se isso na palavra “Velô”, que faz referência de maneira abreviada a família de Caetano Veloso.

O autor, ao citar a dicção “choo choo”, de Carmem Miranda, faz ironia ao sotaque adquirido pela cantora nos Estados Unidos, mostrando que inglês dela tinha sotaque português. Ainda nessa estrofe, o cantor traz a TV Globo e diz: “Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo” / “Sejamos o lobo do lobo do homem”. Aqui ele chama a atenção dos telespectadores para não serem simples receptores, mas sérios analistas do uso da língua transmitida pela emissora.

A seguir, na sétima estrofe, Caetano Veloso critica os estrangeirismos e nos apresenta várias formas de se falar o português brasileiro:

Incrível
É melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Se você tem uma ideia incrível
É melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo
Meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria

O autor critica os artistas pela adoção da língua estrangeira, demonstrando o valor que estes dão a estes estrangeirismos. Diferente deles, Caetano Veloso supervaloriza a própria língua, denominando-a como “minha pátria” ou como mátria. Tais versos mostram a importância de se valorizar o próprio idioma.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, a análise da música “Língua”, de Caetano Veloso, segundo a proposta gerativista, permite a observação de aspectos linguísticos, como a capacidade do autor para a produção de frases inéditas. Tais frases demonstram a competência linguística do autor em usar a língua de acordo com suas particularidades, como também fundamentá-la com diferentes arranjos.

REFERÊNCIAS

AMORIM, H. P. Morfologimusicalizar: uma análise da criação de novas palavras na música brasileira. Brasília (DF) Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade de Brasília, 2018, 29 p.

ARAUJO, A. P. Gramática Gerativa. Infoescola: navegando e aprendendo, 2020. Disponível em: https://www.infoescola.com/linguistica/gramatica-gerativa/. Acesso em: 20 nov. 2023.

FREITAS, J. R. Dois olhares sobre a língua: Pe. Francisco da Rocha Guimarães e Caetano Veloso. Patos de Minas (MG), Revista Crátilo, Centro Universitário de Patos de Minas, 2013, p. 46-52.
GUIMARÃES, E. A Língua Portuguesa no Brasil. São Paulo, Rev. Cienc. Cult. vol.57, n.2, 2005, 5 p.

LIMA, V. S. As relações intertextuais e interdiscursivas na canção “Língua” de Caetano Veloso. Campo Grande (MS), I Encontro de Pesquisas em Linguística e Literatura dos Programas de Pós-graduação em Letras da UEMS/CG – Letras Compartilhadas, 2019, 15 p.

REGO, A. C. S. Morfonologia da Língua Portuguesa. Conteúdo da disciplina - Universidade Veiga de Almeida, 2023.

Publicado por Marcos Aurélio Coura de Araujo[1] e Flavia Maria Farias Baptista da Cunha[2].

[1] Aluno do curso de Licenciatura em Letras da Universidade Veiga de Almeida.

[2] Professora do Curso de letras da Universidade Veiga de Almeida.


Publicado por: MARCOS AURELIO COURA DE ARAUJO

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