A poética dos Goliardos
Conheça sobre a poética de Goliardos e a origem deste termo.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
O renascimento urbano do século XII viu surgir à figura do intelectual, isto é, homem cujo ofício era ensinar e escrever. Esses intelectuais tinham consciência de viverem no âmbito bem diferente dos séculos passados e consideravam a si mesmo como modernos. Entre esses homens pensantes, encontramos um grupo formado por estudantes pobres que viviam em constantes viagens de uma cidade para outra, conhecidos como Goliardos, a origem desse nome é um pouco controversa. Possivelmente deriva do francês antigo goliart. Na origem, significava "bufão", e teria adquirindo, no século XIII, o sentido de glutão, debochado. Poderia também derivar de gole, goule (depois gueule, goela) ou do nome de Golias, o gigante bíblico, símbolo dos inimigos da Igreja (que seria simbolizada por David), em razão dos poemas freqüentemente anticlericais declamados pelos goliardos. O elemento goli- também poderia ser de origem protogermânica, tendo, neste caso, o sentido de gritar, cantar em voz alta, brincar, fazer rir. No latim medieval goliardus, teria afinal assumido o sentido de "clérigo ou estudante vagabundo". Levados por uma vida de mudanças e curiosidades não eram bem aceitos socialmente, a comunidade urbana não via com bons olhos aquele grupo de rapazes pobres, irreverentes, rebeldes e imorais, que faziam críticas ferozes a todas as classes sociais, além de defenderem os prazeres da bebida, do amor e do jogo.
Grande parte da obra poética e musical dos goliardos é anônima, devido as complicações que poderiam ter caso fossem conhecidos. Em uma época em que o pensamento Teocêntrico predominava e a hierarquia religiosa ditava as regras, esses jovens anárquicos e de espírito livre, usavam suas composições como um protesto e uma maneira de se opor ao sistema vigente. Estas composições foram reunidas nos Carmina Burana, nos quais à exaltação dos prazeres carnais se associa a crítica à Igreja medieval, que condena os costumes libertinos. O Carmina Burana,é um códice contendo mais de 200 canções profanas compostas por esses artistas, que esmolavam para ganhar a vida. A cantiga abaixo é um resumo ideológico das aspirações de quase todos eles:
“Se o sábio/ tem costume de construir sua morada
Sobre a rocha / então sou um louco,
Pois sou como a corrente que avança / e cujo curso
Jamais se detém./
Sigo adiante/ como um barco sem piloto/
Como um pássaro vagando/ pelos ares
Nada me detém/ nem chaves nem Grilhões /
Procurando meus semelhantes/ junto aos miseráveis
Meu caminho é longo/ como minha juventude/
Largar-me-ei aos vícios / esquecidos da virtude/
Desejando mais os prazeres/ que a salvação /
Minha alma está morta / só me importa a carne...”
Nota-se além da forte expressão filosófica, a preocupação semântica contida nesses versos, como o sentimento de liberdade e rebeldia reforçando a expressividade do Eu - lírico em afirmar que nem mesmo “os grilhões” os podem prender. Outro fator a ser observado se refere à alusão ao tema puramente engajado, enquanto os trovadores de sua época pouco se preocupavam com a questão social, eles iam à direção contrária, pois, reafirmavam de forma crítica, o que a sociedade da época não estava habituada a questionar. São freqüentemente associados ao partido gibelino (facção política do século XII partidários do Sacro Império Romano-Germânico), mas na realidade os Goliardos vão além: vêm no Papa não apenas o hipócrita tutor da tradição moral, mas também o expoente de uma hierarquia organizada sob a tentadora força do dinheiro. Polêmicos, inteligentes e satíricos essa tríade pode caracterizar tanto os autores quanto suas obras, os Goliardos sofreram as mais diversas perseguições e condenações, e acabaram por desaparecer das culturas dos séculos seguintes, porém, deixaram seu legado: suas idéias, que reviveriam nos intelectuais do Humanismo, durante o Renascimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:
SPINA, Segismundo; A Cultura Literária Medieval. Editora: Ateliê Editorial-SP, 1997.
Publicado por: RUBENS SANTOS DO NASCIMENTO
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