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A IMPORTÂNCIA DO HÁBITO DE LER

Importância do hábito de ler, bem como seus múltiplos benefícios.

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RESUMO

Este trabalho apresenta a importância do hábito de ler, bem como seus múltiplos benefícios. A leitura apresenta uma importância vital como estratégia de melhoria do processo de ensino e aprendizagem; o que contribui para o desenvolvimento nos leitores de capacidades de análise crítica e síntese, bem como o entendimento de sua realidade. A escola tem a responsabilidade de desenvolver o gosto pela leitura em seus estudantes; embora não seja uma tarefa simples.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Ensino; Aprendizagem; Escola.

1 INTRODUÇÃO

Vivemos em uma sociedade cada vez mais complexa, com mutações sociais precipitadas e constantes imprevisibilidades e alterações. Além disso, o uso veemente das novas tecnologias e a sede por informações imprime nas pessoas a precisão de adaptabilidade, opinião crítica, criatividade, competência para a inovação e abertura ao novo. O incremento de uma sociedade de informação impõe-se, portanto, no mundo tecnológico em que vivemos.

A leitura reflexiva representa uma das boas vias para entender a realidade. É verídico que em nossa sociedade as práticas leitoras são pouco incentivadas e desenvolvidas. Desta forma, dado a sua importância, a leitura deve ser estimulada e integrada ao cotidiano dos estudantes e, consequentemente de jovens e adultos.

Encontrar formas de tornar a leitura um hábito prazeroso é uma incumbência de todos os professores, mas, em especial, dos professores de Língua Portuguesa. Entretanto, esta tarefa não se caracteriza como fácil ou imediata; mas sim de forma lenta e progressiva, cabendo aos docentes encontrar métodos para incentivar o desenvolvimento da leitura significativa dos aprendizes.

Neste processo, o papel da escola é essencial, e o professor é o mediador. Entretanto, nem sempre ele disponibiliza recursos adequados para concretizar atividades pretendidas com foco na leitura, ou também é possível que não saiba como elaborá-las e aplicá-las.

A concretização da formação de leitores exige da escola e dos demais membros dos setores do processo educativo ações que estimulem o pensamento, a criticidade, a criação, apresentando materiais de leitura diversos, com os quais seja possível despertar e estimular o gosto pelo ato de ler, desde os primeiros anos escolares.

2 DESENVOLVIMENTO

Muito se conhece e se fala sobre o hábito e a importância da leitura, inclusive sobre seus benefícios. De acordo com Brito (2015), é apropriado comparar a leitura a uma viagem: “Quando lemos um bom livro e nos deixamos ser transportados para uma realidade paralela, onde à medida que cada página é virada, o leitor é submetido a universo único, repleto de descobertas, encantamento e diversão”.

Mas, afinal, o que é ler? Silva (1987, p. 96), esclarece sobre o assunto:

A leitura não pode ser confundida com decodificação de sinais, com reprodução mecânica de informações ou com respostas convergentes a estímulos escritos pré-elaborados. Esta confusão nada mais faz do que decretar a morte do leitor, transformando-o num consumidor passivo de mensagens não significativas e irrelevantes.

Em contrapartida, BORDINI (1986, pág. 116) elucida a prática leitora como produtora e construtora humana e social:

[...] o ato de ler se completa e gratifica o leitor, tornando-o conivente com outras vidas e outros mundos, obrigando-o a se emocionar, a repudiar, a apaixonar-se, todavia, sem nunca perder o controle consciente da situação de leitura, o que é, talvez, seu maior atrativo, pois permite um diálogo em igualdade de condições.

É importante extrapolar alguns entendimentos relacionados ao inicial aprendizado da leitura. A mais importante é a que de ler é meramente decifrar, transformar letras em sons, tornando o ato de compreender somente consequência natural dessa ação. Com esta compreensão equivocada os educandários vêm lançando ampla quantidade de “leitores” bons em decifrar qualquer escrito, porém com espantosas dificuldades para entender o que arriscam ler.

Ter acesso à boa leitura é dispor de uma informação cultural que alimenta a imaginação e desperta o prazer pela leitura, possibilitando que se tenha a leitura com um hábito que faz parte do cotidiano, dessa forma, fazendo com que sempre se mantenha os conhecimentos atualizados. De acordo com Orlandini (2005, pág. 19),

Atribui-se à leitura um valor positivo absoluto: ela traria benefícios óbvios e indiscutíveis ao indivíduo e à sociedade – forma de lazer e de prazer, de aquisição de conhecimentos e de enriquecimento cultural, de ampliação das condições de convívio social e de interação.

A importância da alfabetização leitora é o princípio do gosto por ler. De acordo com dados do MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, no que diz respeito aos Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa (2011, pág. 22):

Conhecimento atualmente disponível a respeito do processo de leitura indica que não se deve ensinar a ler por meio de práticas centradas na decodificação. Ao contrário, é preciso oferecer aos alunos inúmeras oportunidades de aprenderem a ler usando os procedimentos que os bons leitores utilizam. É preciso que antecipem, que façam inferências a partir do contexto ou do conhecimento que possuem, que verifiquem suas suposições – tanto em relação à escrita; propriamente, quanto ao significado.

Partindo de premissas da história da ação de ler, segundo estudo de MARTINS (1994, pág. 22): “Saber ler e escrever, já entre os gregos e romanos, significava possuir as bases de uma educação adequada para a vida”.

Esta educação não visava apenas o desenvolvimento de habilidades intelectuais e espirituais, mas também aptidões para que o cidadão se integrasse efetivamente na sociedade.

Entretanto, o estereótipo de leitor que conhecemos hoje, ou seja, o leitor dos textos impressos, segundo SILVA (2010, pág. 42-46) é: “recente e surge na Europa, aproximadamente no século XVIII, quando a impressão dos livros passa do modo artesanal para o modo empresarial”.

Isto permitiu que as pessoas tivessem acesso mais facilitado a um número maior de livros do que antes: graças ao surgimento da imprensa.

Entretanto, o invento da imprensa não resolveu vitaliciamente os problemas com relação à leitura. Embora houvesse mais livros, o ato de ler também foi evoluindo. Evoluiu internamente nos leitores e também naqueles cujo hábito adquiriu-se. Referindo-se à invenção e modernização da imprensa, Koch (2003), ressalta:

A imprensa sabe causar efeitos diversos nos seus leitores, trazendo sempre conceitos e ideias, que surgem muitas vezes de interesses públicos ou de influência de meios como dinheiro e poder. É através de ideias e opiniões públicas que o jornal formula seu discurso, podendo tanto atuar como mensageiro da opinião pública como também criador da mesma. O jornalismo faz suposições do que é a sociedade e de como ela funciona, retratando-a constantemente e oferecendo interpretações de como compreendê-la. Devemos levar em conta que nem sempre o jornal expõe seus gêneros textuais mostrando um ponto de vista claro para o leitor adotar, embora lembremos que nenhum texto apresenta neutralidade.

A educação esteve presente concomitantemente com a leitura. Além de decodificar, derivou-se a necessidade de leitura reflexiva, independente do contexto em que o texto se apresente e de seu leitor. Sobre este relevante quando se fala de leitura, Baccega (2003, pág. 81) destaca:

A formação de cidadãos, atributo da escola, passa hoje obrigatoriamente pela habilitação do cidadão para ler os meios de comunicação, sabendo desvelar os implícitos que a edição esconde; sendo capaz de diferenciar, entre os valores dos produtores dos meios, aqueles que estão mais de acordo com a identidade de sua nação; reconhecendo os posicionamentos ideológicos de manutenção do status quo ou de construção de uma variável histórica mais justa e igualitária. E, para isso, a escola não pode esquecer-se do ecossistema comunicativo no qual vivem os alunos. Ou seja, ou a escola colabora para democratizar o acesso permanente a esse ecossistema comunicativo ou continuará a operar no sentido da exclusão, tornando maiores os abismos existentes.

É verídico que em nossa sociedade as práticas leitoras são extremamente indispensáveis, mas pouco repensadas, incentivadas e desenvolvidas. Entretanto, a escola é responsável por dar grande estímulo e produzir variadas condições para o ato de ler, conforme comenta Margarida Soares (2010):

Os cidadãos, maioritariamente, leem muito pouco. Os alunos, segundo os testemunhos dos professores, não leem. O endeusamento do trabalho e o atrativo de outras formas de lazer não deixam tempo para que seja dada à leitura o seu valor e a sua importância como instrumento no acesso ao conhecimento, ao entretenimento e ao prazer, embora seja consensual para a sociedade que é preciso inverter esta situação, uma vez que é inegável o papel relevante que o ato de ler assume no mundo contemporâneo.

Por conseguinte, mesmo que sem exclusividades, fica para a escola a incumbência de praticar a leitura e formar leitores, porquanto essas competências precisam ser desenvolvidas ao largo da vida escolar dos educados.

A leitura reflexiva é a melhor forma de se entender a nossa realidade social. Assim, SABINO (2008, pág. 1) argumenta:

A leitura reflexiva representa uma das boas vias para entender a realidade. Ler um texto não acompanhado de reflexão não constitui caminho para o entendimento da realidade. Quantas vezes se lê mecanicamente e, no final da leitura, não se consegue resumir as principais ideias que o texto pretende transmitir. Assim, não basta tirar informação de um texto. Além do entendimento do texto, a passagem a um outro estado de leitura é requerido: a crítica ao mesmo, com base em pressupostos diferentes, buscando novas inferências e novas implicações. É preciso proceder à sua análise crítica, o que requer operações mentais mais complexas do que a simples recepção de informação. Ler e refletir sobre o que se lê à medida que se lê é essencial para a produção de conhecimento.

Para criar situações que possam fazer florescer o pensamento crítico do que é lido, o professor precisa de um planejamento conciso e moldurado de acordo com a clientela específica. Em contrapartida, Calçada, citado por Azevedo (2007), dá ênfase às dificuldades que os educadores enfrentam para alcançar seus objetivos:

Consequentemente, aos professores são colocados inúmeros e complexos desafios no ensino da leitura, vendo-se estes obrigados a dar as respostas adequadas quer na forma quer no tempo. O grande repto será perceber o papel, a importância e as funções da leitura nas sociedades contemporâneas, procurando gerir com eficácia o presente e projetar o futuro, porque [...] até há bem pouco tempo o conceito de leitor se associava à frequência de leitura, hoje a expansão dos ambientes digitais recoloca este conceito numa outra representação, emancipada do tempo e do espaço em que o ato de ler se concretiza.

Um dos objetivos quanto à criação da escola é a função de homogeneizar, para comunicar padrões sociais definidos, para amoldarem-se as crianças a um arquétipo social dominante, mas os homens são todos dessemelhantes uns dos outros em todos os pontos de vista. Desta forma, a disparidade é notada como uma dificuldade e muitas são os tentames para permanecer a homogeneizar.

No entanto, segundo Curto (2008):

Não é possível que todos aprendam da mesma maneira, por isso o objetivo é que todos possam trabalhar reflexivamente e construir o pensamento, de forma coletiva, sem que ninguém se sinta marginalizado.

Para consolidação desse tema, o professor deve desenvolver seu trabalho a partir do pensamento de cada educando, oferecendo atenção ao que cada um pode assimilar, numa perspectiva sócio construtivista, apelando às atividades expressivas, porque permitem refletir e refletir é tentador, motivador, porquanto a motivação contagia e se torna funcional, pois é importante aprender a entender o mundo; em especial, através da leitura.

O docente deve auto avaliar seu trabalho com constância, a fim de encontrar seus pontos fortes para fortalecê-los e dar atenção a seus erros, repensando sua prática. Desta maneira, segundo Curto (2008):

Não sendo possível dissociar aprendizagem dos processos metacognitivos, o professor recorre também à avaliação formativa individual de modo a permitir ao aluno autorregular as suas aprendizagens e, deste modo, tomar a direção certa tomar no desenvolvimento do seu trabalho, ou seja, tornar-se consciente do seu processo de aprendizagem, ter a capacidade de reconhecer as dificuldades e avaliar corretamente as próprias possibilidades de resolver um problema.

No contexto da sala de aula, especialmente, o processo de desenvolvimento da leitura parte das premissas a alfabetização. De acordo com Figueiredo (2004):

A leitura é um conjunto complexo de processos coordenados que incluem operações perceptuais, linguísticas e conceptuais e que vão desde a descodificação de letras na página impressa, à determinação do referente de uma palavra ou de uma frase até à estrutura do texto. Além desta inter-relacionação entre as relações semânticas e referenciais que se encontram num texto, há ainda a ativação de um processo integrativo: a evocação da informação armazenada na memória de longo prazo.

Não há dúvidas de que a educação é a mais importante vertente propulsora do desenvolvimento social, cultural e econômico de uma nação. Assume, dessa forma, uma grande importância a plano pessoal, social, nacional e universal. Entretanto, para que o desenvolvimento educacional seja impulsionado, o ambiente precisa ser apropriado à obtenção, elaboração e divulgação da ciência.

 Alguns autores consideram a leitura um alicerce da sociedade de conhecimento, dado que ela promove a libertação do pensamento e a prática do exercício da cidadania. Segundo Karl Popper (1992, pág. 101), “o livro é o bem cultural mais importante da Europa e talvez da humanidade. […] Quem lê, quem efetivamente lê, sabe mais e pode mais”.

Desta forma, a leitura assume a vital importância como estratégia de melhoria no processo de ensino e aprendizagem, o que contribui significativamente para o desenvolvimento, em crianças e jovens especialmente, de capacidade de pensamento, análise crítica e de síntese.

Precocemente, em idade escolar, as crianças já devem entrar em contato com novos vocábulos por meios orais ou por meio de leitura compreensiva, para que, por meio da excitação intelectual consequente, ampliem o seu vocabulário, proporcionando a prática do aprendido.

Segundo Jensen (2002, pág. 58), “um jovem que não esteja exposto à novas palavras, nunca desenvolverá no córtex auditivo as células que lhe permitam distinguir corretamente diferentes sons”. Aqui nasce a importância da leitura de distintos gêneros textuais, especialmente contos, às crianças; tanto a escola como os pais, devem estimular os filhos, lendo para as crianças. Nesta etapa, o cérebro já está preparado para distinguir bem os dessemelhantes fenômenos acústicos.

Tanto a leitura como o conhecimento, são construções interiores individuais, nas quais os processos de construção, desconstrução e reconstrução estão acionados internamente em cada sujeito. Portanto, a leitura reflexiva e dirigida consente inclusive o acordar da consciência para o exercício de valores éticos, humanísticos e estéticos. Até mesmo pode funcionar como divertimento benéfico, instruindo, informando e desenvolvendo crianças e jovens, de uma maneira motivadora e alegre.

Enquanto a prática da leitura se dilata e se torna um deleite, o leitor aprende a desfrutar, e formulam-se juízos de valor sobre os significados assimilados, sobre a legitimidade e conformação das ideias, comparando-as com experiências e leituras prévias.

Meticulosa e reflexiva deve ser a leitura. Não deve, nunca, ser uma atividade inerte. Para que se aproveite a leitura realizada, o leitor deve ser um ativo questionador do que foi lido. E esta ação deve ser ensinada às crianças e, consequentemente, trará resultados positivos na leitura, já que terão uma compreensão maior e poderão avaliar o que leem. Também irão adquirir o hábito de questionamento.

Segundo Elder & Paul (2002, pág. 33),

O questionamento interior enquanto se processa a leitura, deve incidir nas razões, nas finalidades, nos objetivos de tal leitura, nos propósitos, ideias principais e inferências do autor do livro e deve estar acompanhado de uma reflexão sobre o próprio entendimento do que está expresso, do seu significado, da sua importância na vida.

Ainda segundo Elder & Paul (2003, pág. 9-11), pode-se considerar a existência de cinco níveis de leitura:

  • Primeiro nível – Leitura e análise oração a oração – O leitor consegue traduzir em palavras próprias o significado de cada oração.
  • Segundo nível – Explicação do sentido de um parágrafo – O leitor indica a ideia principal de um parágrafo, tradu-lo em palavras próprias; exemplifica o seu significado, gera metáforas, ilustrações, diagramas e/ou gráficos.
  • Terceiro nível – Análise da lógica do que se lê – O leitor questiona e busca mentalmente respostas sobre: propósitos, opiniões, suposições, inferências, fontes de informação, conceitos básicos do autor, bem como das implicações na vida que daí advém.
  • Quarto nível – Avaliação da lógica do que se lê – O leitor reflete sobre a clareza da intenção do autor, a confiança que o mesmo suscita, a precisão nos detalhes, a introdução de material irrelevante, a profundidade com que o tema é tratado, a multiplicidade das fontes de informação utilizadas, a constatação de contradições e o significado do tema.
  • Quinto nível – Representação – O leitor assume o papel do autor e consegue discursar como se fosse este.

À medida que a criança cresce e vai praticando a leitura, o nível que vai atingindo, sobe, passando progressivamente do primeiro ao quinto.

A ação de leitura individual pode ser instigada em sala de aula e na biblioteca. Sendo que a biblioteca constitui o ambiente de acesso e uso da informação através da leitura de livros, de textos da Internet ou outros. O que interessa considerar neste ponto é o texto que vai ser lido, independente se está em formato de papel, seja em suporte digital.

Para Lourenço Filho (1946, pág. 4):

Ensino e biblioteca não se excluem, completam-se. Uma escola sem biblioteca é instrumento imperfeito. A biblioteca sem ensino, ou seja, sem tentativa de estimular, coordenar e organizar a leitura, será, por seu lado, instrumento vago e incerto.

A escolha do que será lido, depois da apropriação da leitura, parte dos leitores, de forma espontânea. Mas, enquanto não se apropriam, a preocupação com relação à formação leitora é grande, em especial por parte dos professores.

GUEDES e SOUZA (2011) repartem a incumbência de tarefas, quanto à preocupação do ensino e aprendizagem, com foco na alfabetização e letramento:

Ler e escrever são tarefas da escola, questões para todas as áreas, uma vez que são habilidades indispensáveis para a formação de um estudante, que é responsabilidade da escola. Ensinar é dar condições ao aluno para que ele se aproprie do conhecimento historicamente construído e se insira nessa construção como produtor de conhecimento. Ensinar é ensinar a ler para que o aluno se torne capaz dessa apropriação, pois o conhecimento acumulado está escrito em livros, revistas, jornais, relatórios, arquivos. Ensinar é ensinar a escrever porque a reflexão sobre a produção de conhecimento se expressa por escrito.

A realidade é que nossa nação sofre ainda com a deficiência no ensino público e com um apontador elevado de analfabetismo funcional. Assim, todas as ações que venham a incentivar e transformar beneficamente os brasileiros em leitores são bem recebidas. O despertar para a atualidade e a relevância do saber ler com internalização transforma pessoas comuns em cidadãos contextualizados, conscientes de seu papel social. Transformação esta que tem suas raízes na escola. Assim diz Belloni (2001, pág. 57):

Para interpretar o mundo, a escola é um agente social fundamental, mas não único. Não podemos, portanto, abrir mão de discutir, na sala de aula, o fenômeno da mídia, especialmente a televisão, mas partir dela para a compreensão crítica do mundo. E estamos o tempo todo a nos perguntar qual é, hoje, o papel da escola, dos pais? Que influência exercem na formação das crianças, dos jovens, constantemente bombardeados pela indústria cultural. As crianças e os adolescentes nas sociedades contemporâneas aprendem mais como a televisão do que com os pais e professores? Como caracterizar este mais? Mais informações, mais conhecimentos pontuais? Modelos de comportamento, opiniões políticas? Possibilidades de desenvolver sua sensibilidade? A televisão oferece tudo isso e muito mais. A televisão, ao pretender reproduzir o universo real em sua complexidade, constrói um simulacro do mundo em que o indivíduo acaba se encontrando, assumindo as imagens produzidas como se fosse sua vida real. E estas imagens penetram a realidade, transformando-a, dando-lhe forma.

A principal responsabilidade é, definitivamente, da escola, embora as ações planejadas e executadas pelas instituições não atinjam as tão almejadas metas quanto à leitura com seus discentes. Entretanto, LAJOLO (1995, pág. 121) escreveu esclarecendo alguns aspectos:

[...] se a escola conseguir simular, nas atividades de leitura que patrocina, a circulação social que tais atividades de leitura têm fora do âmbito escolar, há uma possibilidade extremamente concreta de que estas atividades adquiram o sentido que elas precisam ter extramuros da escola e não se encerrem com as atividades que se encerram no final do ano letivo.

A importância de materiais diversificados para as aulas faz toda a diferença no aprendizado. Jornais, revistas, contos, fábulas, poesias, lendas e até mesmo o livro didático; apresentam diversos caminhos e possibilidades de atividades pedagógicas para o professor. Cabe unicamente ao professor suas escolhas e adaptações, muito embora, nem sempre o livro didático traz o que o aluno realmente precisa, ou então de forma que ele assimilaria o conhecimento com mais facilidade.

Vários autores refletem sobre isso, inclusive Zanchetta Jr (2005, pág. 1507).:

No livro didático, os textos surgem pasteurizados, ajustados à “cultura do fragmento”, que, mesmo sendo uma das únicas alternativas para acesso a determinados conteúdos, incentiva o desprezo pela origem, pela história, pela integridade da informação (algo que se verifica em boa parte das coleções, no tocante aos textos da imprensa). Se a colagem de conteúdos sociais extraídos dos suportes midiáticos pode, de um lado, sensibilizar e ajudar no processo de conscientização dos alunos, também pode contribuir para o esvaziamento político da escola: o texto informativo emoldurado no Livro Didático, tomado como ponte para a participação nos problemas da sociedade, reforma a ideia de um papel que está além das possibilidades da escola.

Negar os problemas narrados por Zanchetta Jr. é negar a história do cotidiano e a forma emaranhada como os fatos são narrados, por vezes difíceis de serem interpretados. Mas reconhecer isto, não implica em deixar de utilizar a mídia como fonte de estudo, mas sim, em articulá-las para que a leitura crítica possa ser possível, adaptada aos aprendizes, sua realidade e historicidade.

Silva (2005, pág. 13-14) vai mais além:

[...] deve-se combater com todas as forças a tendência corrente de entender o ato pedagógico unicamente como sinônimo de leitura. O ato pedagógico envolve, sim, leituras da realidade e de textos que expressam realidade, mas esse ato não pode ser entendido de forma tão mesquinha ou estreita. O ato pedagógico é muito mais abrangente e complexo. Tem, na base, o diálogo entre professor e aluno e, no horizonte, os vários campos da cultura e do conhecimento.

3 CONCLUSÃO

Como se viu, a leitura reflexiva é um ato que se reveste da maior importância para o desenvolvimento educacional de crianças e jovens, atendendo aos efeitos positivos que produz.

Assim, se torna evidente a precisão por formação de pais, professores e outros profissionais da educação. Somente desta maneira será viável o desenvolvimento de ações incentivadas pelo interesse pela leitura em crianças e jovens, tornando possível uma compreensão de mundo e dando estímulos para a prática dos valores sociais e a participação consciente na vida de seu país.

Por outro lado, para formar uma população crítica, imprescindível para promover o desenvolvimento cultural, científico, tecnológico e económico de um país, contribuindo para processos inovadores, é essencial que a leitura reflexiva seja uma prática bem inculcada nas gerações jovens e menos jovens.

É preciso pensar na leitura como um meio para se alcançar o pensamento critico. Pensar não é somente uma ação intelectual, é mais complexo: é um atividade que almeja desvendar o mundo e a si mesmo. E a escola, como um todo, precisa desenvolver no educando a capacidade de pensar e, consequentemente, se conhecer.

Faz-se necessário que se ensine ao aluno não só a ler, mas a gostar da leitura e a descobrir os prazeres e alegrias que ela lhe poderá proporcionar.

Sobre este contexto, Freire (1982) destaca:

Formar sujeitos sociais, leitores da realidade em que se inserem e capazes de usar a leitura como instrumento indispensável à sua participação na construção do mundo histórico e cultural, implica garantir uma ação educacional voltada para o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno, da sua capacidade de interpretar construções simbólicas, de modo que este se torne capaz de ler e pronunciar o mundo.

No contexto da sala de aula, Figueiredo (2004), dá ênfase à memória do que se lê:

A leitura é um conjunto complexo de processos coordenados que incluem operações perceptuais, linguísticas e conceptuais e que vão desde a descodificação de letras na página impressa, à determinação do referente de uma palavra ou de uma frase até à estrutura do texto. Além desta inter-relacionação entre as relações semânticas e referenciais que se encontram num texto, há ainda a ativação de um processo integrativo: a evocação da informação armazenada na memória de longo prazo.

Imprescindível a escrita de Freire (1989, pág. 13), quando aborda as habilidades linguísticas, partindo seu contato primeiro com os educandos, em seus primeiros anos de vida:

Inicialmente me parece interessante reafirmar que sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo, como um ato criador. Para mim seria impossível engajar-me num trabalho de memorização mecânica dos ba-be-bi-bo-bu, dos la-le-li-lo-lu. Daí que também não pudesse reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras. Ensino em cujo processo o alfabetizador fosse “enchendo” com suas palavras as cabeças supostamente “vazias” dos alfabetizandos. Pelo contrário, enquanto ato de conhecimento e ato criador, o processo da alfabetização tem, no alfabetizando, o seu sujeito. O fato de ele necessitar da ajuda do educador, como ocorre em qualquer relação pedagógica, não significa dever a ajuda do educador anular a sua criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem. Na verdade, tanto o alfabetizador quanto o alfabetizando, ao pegarem, por exemplo, um objeto, como laço agora com o que tenho entre os dedos, sentem o objeto, percebem o objeto sentido e são capazes de expressar verbalmente o objeto sentido e percebido. Como eu, o analfabeto é capaz de sentir a caneta, de perceber a caneta e de dizer caneta. Eu, porém, sou capaz de não apenas sentir a caneta, de perceber a caneta, de dizer caneta, mas também de escrever caneta e, consequentemente, de ler caneta. A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Esta montagem não pode ser feita pelo educador para ou sobre o alfabetizando. Aí tem ele um momento de sua tarefa criadora.

Plínio Martins Filho, presidente da Editora da USP e professor no curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA), diz que o consumo de livros no Brasil só não é maior por uma questão de hábito.

Uma das causas da falta de hábito é que a leitura tem que disputar espaço com outras formas de entretenimento. As grandes editoras do Brasil surgiram junto com o rádio e a televisão que, de alguma forma, são meios de lazer baratos e de fácil acesso. (2000).

Entretanto, a escola nem sempre consegue atrair e preparar seus leitores. É o que diz Daniel Pennac (1993, pág. 55):

Ele [o jovem] é um público implacável e excelente. Ele é, desde o começo, o bom leitor que continuará a ser se os adultos que o circundam alimentarem seu entusiasmo em lugar de pôr à prova sua competência; estimularem seu desejo de aprender, antes de lhe impor o dever de recitar; acompanharem seus esforços, sem se contentarem de pegá-lo na curva; consentirem em perder noites em lugar de ganhar tempo; fizerem vibrar o presente sem brandir a ameaça do futuro; se recusarem em transformar em obrigação aquilo que era prazer, entretanto esse prazer até que ele se transforme em dever, fundindo esse dever na gratuidade de todo aprendizado cultural, fazendo com que encontrem assim, eles próprios, o prazer nessa gratuidade.

A leitura traz surpresas para os indivíduos que a praticam: emoções, descobertas, vocábulos, cultura e conhecimentos. Saber ler criticamente é ter a oportunidade de desvendar o mundo e compreendê-lo. É a chance de escrever e reescrever em sua vida uma história que te não é sua, mas passa a ser. Assim, SILVA (2010, pág. 42-46) esclarece:

“Cada leitura é uma nova escritura de um texto. O ato de criação não estaria, assim, na escrita, mas na leitura, o verdadeiro produtor não seria o autor, mas o leitor. Ler não é descobrir o que o autor quis nos dizer, [...] ao ler, o leitor trabalha produzindo significações e nesse trabalho que ele se constrói leitor. Suas leituras prévias, suas histórias como leitor, estão presentes como condição de seu trabalho de leitura e esse trabalho o constitui como leitor e assim sucessivamente.”

Feliz do aluno que aproveitou as oportunidades que lhe foram proporcionadas para se formar leitor crítico, cidadão consciente e aprendiz constante.

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Publicado por: Gabriele Tafarel

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