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A expressão dos diversos tipos de sentimentos na poesia de Camões

A expressão dos diversos tipos de sentimentos na poesia de Camões, análise de duas obras dedicadas à Dinamene, Luiz Vaz de Camões, o amor platônico e suas vertentes, Dinamene é o nome de uma das nereidas da Ilíada de Homero.

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A EXPRESSÃO DOS DIVERSOS TIPOS DE SENTIMENTOS NA POESIA DE CAMÕES: ANÁLISE DE DUAS OBRAS DEDICADAS A DINAMENE.


Sisney Darcy Vaz da Silva Júnior


O Classicismo é a continuidade das transformações iniciadas pelo Humanismo: o declínio da Igreja e do Feudalismo e a ascensão da Burguesia e do Capitalismo. Nesta escola manifesta-se a busca pelos padrões clássicos e a influência do modelo Greco-latino. Daí origina-se a atitude racionalista, que via a razão como bem a ser atingido e cultivado. A expressão dos sentimentos permaneceu, mas estava submetida a uma tentativa de explicação racional. (MOISÉS, 1994).

Dentre os autores de maior expressão dentro da Escola Classicista, encontramos Luiz Vaz de Camões, nascido provavelmente em Lisboa em ano incerto, resgata em suas obras os padrões clássicos e a busca pelo equilíbrio formal. Tanto nos sonetos quanto nas redondilhas, Camões, é também poeta e pensador, visto que a sensibilidade e a consciência interagem em um equilíbrio incomparável.
Neste sentido, o poeta utiliza-se do aspecto neoplatônico e idealista, que se fundem a materialidade do toque dionisíaco, onde o amor “está no pensamento como idéia”, e também é “Fogo que arde sem se ver”, fazendo assim uma mescla do idealismo amoroso de origem platônica e a busca pela realização e uma concretização deste.

Desta forma, neste artigo será trabalhada a relação da expressão dos sentimentos derivados do amor platónico e suas vertentes, sejam elas manifestadas através dos traços clássicos, como o mitológico, ou até mesmo, pela influência do racional em duas poesias Camonianas. Peças estas pertencentes a uma fase da vida de Camões, dita como Dinamênica.

É possível analisar nas poesias “Alma minha gentil que te partiste” e “Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste”, o clamor do sujeito lírico em busca de um ser feminino. Supões-se que esta mulher, cognominada poeticamente em umas das obras por Dinamene, seja a mulher chinesa a qual Camões se apaixona em uma de suas expedições, que por conseqüência do destino acaba morrendo em um naufrágio as costa do Camboja[1].

Dinamene é o nome de uma das nereidas[2] da Ilíada de Homero, esta nereida é uma ninfa[3] que preside os oceanos, ou seja, são divindades que segundo a mitologia educam os heróis. Elas representam a expressão dos aspectos femininos dentro do inconsciente masculino, pelo fato de serem advindas do mar, perturbam o espírito dos homens que por ele navegam.

Esta mulher idealizada pelo sujeito lírico carrega fortes traços decorrentes de uma da cultura Greco-latina, recurso este que viabiliza a expressão de idealização do ser feminino. Esta que por ele é idealizada, também por ele é culpada pela própria morte, seu sentimento de perda, faz com que haja um conflito do eu lírico buscando uma tentativa de regeneração através do amor pós-morte, com a intenção que este sobreponha os acontecimentos passados, aliviando a dor da perda.

Logo nas primeiras estrofes notamos o tom de lamento e de sofrimento do eu lírico, por não aceitar estar longe de Dinamene. Ele não aceita o fato de ela ter o abandonado, ou seja, possui este sentimento de dor, entretanto, culpa ela pela própria morte, notamos isto quando ele diz: “Tão asinha esta vida desprezaste!” e “Tão cedo desta vida, descontente”. Dizendo que ela desprezou a vida por não tentar lutar para viver.

Outro fator evidente nas obras analisadas foi o sentimento de saudade que o sujeito lírico manifesta em decorrência da ausência da amada. Saudade esta desencadeada em função de uma morte “antecipada” de Dinamene. O sentimento de perda, dito anteriormente, deriva-se da não conformidade com a procedência dos fatos.
Decorrente da saudade emerge nas poesias a dor. O eu lírico presente nas obras, expande-se em sentimentalismo lamuriosos, visando somente a sua dor. Não presencia-se em nenhum momento das obras o relato de sofrimento da Dinamene, visto que quem morre afogada é ela. Entretanto esta visão antropocêntrica em que o individualismo prevalece é demonstrada pelo sujeito lírico, viabilizando a hipótese que este não valoriza a dor da amada, mas sim, somente a dor por ele sentida.

Os sentimentos de culpa, perda, dor e saudade, um decorrente do outro, são justificáveis quando se fala do idealismo amoroso. O amor que o sujeito lírico sente por Dinamene é a razão de todas estas problemáticas. Um sentimento imponderável, um sofrer que mata, e, ao mesmo tempo, uma esperança que alivia. Notamos que a dor se aprimora, reconstruindo-se, pelo Amor, e pela harmonia buscada, na luta constante pela união com a sua amada.

Ao mesmo tempo em que ele busca estar junto, ele revela alguns distanciamentos, notamos isto quando, o autor utiliza-se de dualidades como “Oh mar! Oh Céu! Oh minha escura sorte” em uma poesia, e em outra “ Repousa lá no Céu eternamente / e viva eu cá na terra sempre triste”. Falando justamente de separação. Na primeira ele fala da separação de corpo e alma da Dinamene, sendo que seu corpo ficou no mar, lugar a qual se tem a morte do corpo físico, porém, sua alma transcende até os céus. No segundo diz que a separação foi entre o eu lírico e a mulher idealizada, sendo que nas rimas, o Céu aparece com letra maiúscula, intensificando a idéia que o céu é melhor que a terra.

[4]Localizados entre os confins do humano e do perene, o amor e a esperança de felicidade, induzem o eu lírico a amar através do sobre-humano, porque acredita que sua amada tenha atingido o mais alto grau de pureza, passando a ser a ligação do humano com o divino. Dinamene, não é mais uma simples mulher, mas a essência torna-se, para o sujeito lírico, a representação de que o eterno se concebe, de que o reino de Deus se faz a partir do reino do homem, e que isso acontecerá por intermédio da amada, esta idéia é complementada pelas estrofes finais e o desejo de estar mais uma vez junto a Dinamene.

Nas estrofes finais das poesias trabalhadas, notamos que há uma esperança, alimentada pelo desejo de estar novamente junto a Dinamene, retomando a idéia de união, vemos isto nas duas poesias, sendo que em uma o sujeito lírico expressa este desejo através de um questionamento: “Que pena sentirei que valha tanto/ Que inda tenha por pouco viver triste?” e em outra ele faz através de uma rogativa: “Que tão cedo de cá me leve a ver-te, / Quão cedo meus olhos te levou”. Desta forma entende-se que o eu lírico manifesta-se insatisfeito em viver na terra, separado de sua amada, que ele prefere morre e permanecer eternamente ao lado dela.

Por fim cabe salientar que através da analise das poesias, percebemos uma grande manifestação do sujeito lírico em relação aos sentimentos que por ele são expressos, quando fala da amada Dinamene. Rodrigues Lapa, na sua obra de 1970, Líricas, defende que, para Camões, Dinamene “foi das coisas mais suaves da sua vida, uma nota de amorosa mansidão na sua existência turbulenta”. Desta forma concluo este trabalho, falando justamente desta relevância.

Dentro das poesias presenciamos várias etapas deste amor sentido pelo sujeito lírico, para com a sua amada, derivando inúmeros sentimentos. Um sentimento imponderável, um sofrer que mata, e, ao mesmo tempo, uma esperança que alivia. Nestes poemas, existe fortemente marcada a fala da dor do homem, do descontentamento e da esperança. Sendo que a dor se aprimora, reconstruindo o Amor sentido pelos dois, alimentando a esperança de um dia ainda ficarem juntos.

Referências Bibliográficas

• AMARAL, Emília; FERREIRA, Mauro; LEITE, Ricardo; ANTÔNIO, Severino. Novas Palavras (Literatura, Gramática, Redação e Textos). 1° Ed. Rio de Janeiro: FTD, 1997.

• MOISES, Massaud (org). A Literatura portuguesa através dos textos. 23° ed. São Paulo: Cultrix, 1994.

• RUA DA POESIA. Ah! minha Dinamene! Assim deixaste, Disponível em: http://www.ruadapoesia.com/content/view/163/37/ - Acesso 07 de junho de 2007.

• RUA DA POESIA. Alma minha gentil, que te partiste, Disponível em: http://www.ruadapoesia.com/content/view/159/37/ - Acesso 28 de junho de 2007.

• SARAIVA, Antônio José. Iniciação à literatura portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

• SUAPESQUISA.COM. Classicismo, literatura portuguesa, Disponível em: http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/classicismo.htm - Acesso 27 de junho de 2007.

• WIKIPEDIA. Classicismo, Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Classicismo - Acesso 27 junho de 2007.

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[1]O Camboja (também chamado Cambodja ou Cambodia) é um país asiático da Indochina, limitado a norte pelo Laos, a leste e a sul pelo Vietname, a oeste pelo Golfo da Tailândia e a oeste e a norte pela Tailândia. Capital: Phnom Penh

[2]Na mitologia grega, as Nereidas (em grego, ‘filha de Nereu’) eram as cinqüenta filhas (ou cem, segundo outros relatos) de Nereu e de Dóris. Nereu compartilhava com elas as águas do mar Egeu.

[3] Segundo a mitologia as ninfas são espíritos, geralmente alados, habitantes dos lagos e riachos, bosques, florestas, prados e montanhas, são normalmente filhas de Zeus, consideradas espiritos menores, por serem Deusas da Natureza.

[4] Texto adaptadoda Revista Linguagem em (Dis)curso, volume 2, número 1, jul./dez. 2001, artigo: AMOR: GRANDES CERTEZAS, MUITAS INCERTEZAS de Terezinha A. Marcon Constante e Viviane Borges Goulart.


Publicado por: Sisney Darcy Vaz da Silva Júnior

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