TEORIAS DA HISTÓRIA OS FATOS, AS FONTES, O TEMPO E A HISTÓRIA
Breve análise sobre as teorias da história, os fatos, fontes e o tempo.
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INTRODUÇÃO
Os gregos separavam o pensamento em dois conceitos diferentes: o doxa e a episteme. Enquanto doxa seria o pensamento relativo à opinião, episteme seria o pensamento científico. Para Platão, isso foi indispensável para defender suas teorias e ideias. Ao longo dos séculos, as ciências evoluíram e a história foi lutando para galgar seu lugar como ciência.
Por muito tempo, o único papel do historiador era narrar fatos relevantes na história do mundo, tais como coroações, guerras, invasões, a história dos reis e grandes reinados. O historiador apenas narrava fatos. Ele escolhia as fontes que lhe pareciam confiáveis, ou úteis a sua narrativa, as situava no tempo e pronto.
Muitos foram os que defenderam a história como arte ao invés de ciência. Afinal, a história estava extremamente entrelaçada a narrativa e ficava a pergunta: O quanto desta narrativa é doxa? E o quanto é episteme? Contudo, este tempo passou, visto que para consolidar-se como ciência, a história atravessou um longo caminho criando suas próprias metodologias. E é sobre isso que pretendemos falar brevemente.
SÉCULO XIX
Foi no século XIX que os historiadores iniciaram uma corrida para estabilizar a história como ciência, trabalhando firmemente para comprovar o pensamento histórico como pensamento científico. Para isso, organizaram-se em torno de modelos historiográficos.
Positivismo Histórico
O positivismo histórico é um herdeiro direto do Positivismo de August Comte. Desenvolveu-se principalmente na França no Século XIX. O princípio desta vertente, que é também conhecida como história tradicional, baseia-se no fato como principal ferramenta que deveria ser usado para construir uma história universal comum a todos os homens.
Estes fatos deveriam estar embasados em documentos, pois só com documentos, de fato, haveria história. Dessa forma, sem documentos não haveria comprovação dos fatos; e sem comprovação, não haveria o rigor necessário para consolidar o pensamento histórico como científico.
Essa metodologia tão comum em ciências naturais parecia não atender as necessidades da história como ciência humana ou “ciência do espírito”. Para os positivistas históricos, o historiador devia apenas se ater aos fatos com total imparcialidade.
Com isso, ele deveria ser exatamente como um cientista das ciências naturais, até o fim imparcial com seu objeto de estudo. Esse pensamento foi questionado e combatido muito cedo dentro do próprio século XIX.
Historicismo
Historicismo é uma corrente historiográfica que teve seu alvorecer na Alemanha no próprio Século XIX que ultrapassou tanto este século, quanto esta nacionalidade. Vemos seus desdobramentos no século XX com o seu primeiro divulgador Leopold Von Ranke.
Para Ranke, a história estava em constante mudança. Logo, a história e o homem eram indissociáveis, visto que o homem era um ser inacabado em constante evolução, assim como a própria história. Os historicistas opuseram-se firmemente aos positivistas, pois era impossível a imparcialidade do historiador. Afinal, ele próprio estava inserido em um contexto histórico que sempre o impeliria ao engajamento.
Segundo os historicistas, a complexidade do ser humano era incompatível com a objetividade que os positivistas defendiam. No entanto, para as ciências naturais poderia ser intrínseco, pois esbarravam na subjetividade do ser humano.
Em síntese, os historicistas defendiam que, para ciências humanas, deveria adotar-se uma metodologia específica.
Materialismo Histórico
O materialismo histórico é mais uma das correntes historiográficas do século XIX. A partir das proposições de Karl Marx e Frederich Engels, o Materialismo se opõe ao positivismo e ao Historicismo, pois estes estavam claramente vinculados à filosofia.
Marx e Engels vincularam seu modelo diretamente a sociologia, uma vez que, para eles, os homens traçavam a história a partir de suas relações pessoais e das relações entre grupos e classes, sendo o fator econômico primordial para essas relações. Esse modelo pressupõe uma história crítica, na qual o homem é o objeto de estudo.
Marx e Engels acreditavam que a sociedade organizou-se no transcorrer do tempo em classes distintas referentes aos modelos econômicos adotados e em função deles. Modelos estes que traziam os conceitos de luta de classe, conceito de mais valia e modos de produção. Tais modelos foram adotados, justamente, para facilitar o entendimento de como as sociedades humanas organizavam-se em torno dos modos de produção e seu excedente.
SÉCULO XX
No século XIX, na Alemanha, os historiadores reuniam-se em torno do historicismo e na Inglaterra em torno do Materialismo de Marx e Engels. Já no início do século XX, na França, ainda adotava-se o Positivismo.
Em 1929, March Bloch e Lucien Febrve fundaram uma revista batizada de Anais de história econômica e social (Annales d’histoire économique et sociale). Com isso, o objetivo desta revista era divulgar as pesquisas históricas elaboradas por eles, bem como pelo grupo de pesquisadores a eles associados.
Escola de Annales
O grupo de associados que veio juntar-se a Bloch e Febvre ficou conhecido como escola de Annales. Logo, ainda que não fosse um lugar físico, mas sim um grupo de pesquisadores de diversas nacionalidades e disciplinas.
Para os “Annales”, a pesquisa histórica não podia resumir-se a simples narrativas dos fatos baseados em documentos. A história deveria proporcionar o diálogo e o debate a partir de propostas de resolução de problemas, a chamada História-problema.
Metodologia de Annales
A metodologia adotada pelos “Annales” era de propor um problema que deveria nortear o estudo do pesquisador. Para tal, notou-se a necessidade de um diálogo interdisciplinar. Desta forma, a história problema era lida a partir dos mais variados aspectos e, em sua totalidade, abarcar o maior número de leituras possíveis.
Leopold Von Ranke
Agora, falaremos brevemente de Leopold Von Ranke. É talvez o maior nome do historicismo, isto é, um historiador quase mitológico. Ranke nasceu na Turíngia em 21 de dezembro de 1795, na pequena cidade de Weihe.
Formou-se professor pela Universidade de Leipzig em 1818. Iniciou sua carreira em um ginásio em Frankfurt/Oder, tornando-se logo conhecido como historiador. Tal fama valeu a nomeação para professor na Universidade de Berlim em 1825, onde exerceu a profissão ininterruptamente até retirar-se em 1871.
Leopold Von Ranke é considerado por muitos pesquisadores como “pai” da história científica. Sobretudo, muito do trabalho de Ranke foi influenciado pela filosofia. Iniciou seu primeiro livro “o Geschichte der romanischen und germanischen Völker von 1494 bis 1514” (História dos povos latinos e germânicos de 1494 a 1514) em 1824.
Ranke ganhou destaque pela colossal variedade de fontes para um historiador da época. Dentre estas fontes, estão inclusas as memórias, diários, cartas pessoais e formais, documentos governamentais, malotes e documentos diplomáticos e testemunhos de primeira mão de testemunhas-oculares.
Ranke usava como base de seu método a grande quantidade de fontes primárias que atravessavam o tempo. Para Ranke, o agente humano era de suma importância no papel da história.
Fernand Braudel, importante nome da escola dos Annales, considerava a metodologia de Ranke ingênua e tendenciosa. Porém muitos historiadores ainda utilizam a metodologia de Ranke, principalmente no campo da história política.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nada nasce de fato pronto. Ao que nos parece, o próprio mundo a nossa volta está em constante mudança e evolução. Com a história não foi diferente: seus conceitos vieram mudando, e evoluindo.
Ela atravessou um longo caminho considerado por muitos como arte e presa às narrativas, até uma ciência “dura”, engessada e presa somente às fontes e documentos. Ela já foi escrava somente dos grandes fatos, somente dos grandes feitos.
Mas ao longo do tempo, foi notado que história está indelével ao ser humano, ao homem como agente constante. Sim, de fato o historiador tem o papel de observar, coletar e absorver os fatos, as fontes e estrutura-las,
Contudo, se de fato a neutralidade é algo obstante do ser humano, cabe ao historiador ser também um propositor de problemas a serem resolvidos. Ser alguém que demonstra os fatos através de fontes confiáveis, para que erros do passado não se repitam.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SANTANA, E. Materialismo Histórico: um conceito filosófico e histórico. Educa mais Brasil: E+B Guia Enem, 2020. Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/sociologia/materialismo-historico. Acesso em: 10 jun. 2022.
BENTIVOGLIO, J.; LOPES, M. A. (orgs). A constituição da História como ciência: de Ranke a Braudel – Petrópolis, RJ, Vozes, 2013, 150p.
LEOPOLD VON RANKE, Origem. In: Wikipédia, a enciclopédia livre, 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Leopold_von_Ranke. Acesso em: 11 jun. 2022.
Publicado por:
Rafael Rocha Porciuncula Rodrigues
Giovanni Codeça da Silva
Publicado por: Rafael Rocha Porciuncula Rodrigues

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