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Resenha - O século XX

Resenha do livro O Século XX explicado aos meus filhos, de Marc Ferro, historiador francês renomado, cinema como fonte de ideologias.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Marc Ferro, historiador francês renomado, propôs estudos da relação cinema-história, foi um pioneiro na incorporação do cinema como fonte para o entendimento das ideologias e mentalidades dos sujeitos da História, compondo a 3ª geração da "Escola dos Annales. Este historiador demonstra ser conhecedor de todos os temas, desta obra resenhada, não fazendo outras referências bibliograficas e citando muito poucos autores. Um dos textos muito utilizados no campo acadêmico e dos profissionais da História intitula-se A história vigiada (1988), entre outros que discutem as duas grandes guerras mundiais.

Geralmente os estudos de Ferro são destinados ao público de historiadores, no entanto, este em especial, vem para talvez suprir uma carência, para leitores menos afins com o conhecimento histórico. Seria ele destinado e classificado para a categoria infanto-juvenil? Não somente a este, pois nada impede sua leitura por parte de um público ainda maior.

Em O século XX explicado aos meus filhos, o autor adota para escrever sobre o século XX a forma de pergunta e resposta, a qual supõe ser perguntada por seu “filho”, estudantes ou qualquer outra pessoa, amante da História, que queira pensar, aprender, discutir questões presentes ou pelo menos não esquecidas de um passado recente, o século anterior. Os temas abordados neste texto são variados, embora perpasse sobre eles a História política do século XX, enfatizada na História Contemporânea mundial. Os principais acontecimentos que transformaram, abalaram a história deste século e os sujeitos que dela fizeram parte são destacados por Ferro.

A obra compõem-se de 94 páginas, dividida em 15 capítulos curtos não seguidores de uma ordem cronolígica histórica. Os subtítulos apresentam uma pergunta direta, a qual é respondida no desenvolvimento do capítulo, numa linguagem clara e simples, porém, detalhada embasada na análise histórica contemporânea, em especial.

Em quase todos os temas interrogados permeia o método comparativo, o autor tenta relacionar os estudos, os eventos, instituições, os agentes histórico, percebendo diferenças e semelhanças entre eles, mesmo que eles não ocorram simultaneamente no tempo, porém todos estão inseridos no mesmo século – 1911 a 2005, este é o marco para as indagações.

O primeiro questionamento analisa três personalidades: Gandhi, Martin Luther King e Nelson Mandela, percebendo uma simpatia universal entre eles. Mais adiante: Mussolini, Hitler e Stalin também são destacados por suas heranças. Os Estados Unidos são assunto não somente quando comparados com a União Soviética, as semelhanças de problemas são registrados, mas também como país multi-étnico, conseqüência de sua imigração.

Ferro sustenta que várias foram, neste século, as tentativas de resolver conflitos usando a violência, perpassando todos os continentes e deixando rastro de extermínio. As duas grandes Guerras Mundiais exemplificam bem esta agressão a vida humana, além das guerras de libertação nacional, ou seja, descolonização. O terrorismo soma-se a guerra e a repressão política no final do século XX. E é justamente em relação à primeira e à Segunda Guerra que o livro detém mais a atenção. A interrogativa sobre as diferenças entre essas guerras compõe o capítulo de maios extensão.

Enfatizadas pela sua importância e complexidade na primeira metade da História do século XX, entre os anos de 1914-1918 a primeira, e 1939-1945 a segunda. As guerras não são compreendidas se não pensarmos os movimentos totalitaristas. Dessa forma, o fascismo, o nazismo e o comunismo são tentados de comparação em uma análise rica em elementos históricos.

Devido à nacionalidade do autor, há no trabalho uma indagação a qual talvez, para nós latino-americanos, não teria a devida importância na listagem dos eventos, pontos a serem expressos aqui. É ela: Por que existe, na França, um tabu em relação ao comportamento dos franceses durante o período de Vichy e da Ocupação alemã?

O sujeito histórico Hitler volta ao cenário do debate quando o autor pensa a analogia deste com os judeus, incluídos no tema maior da violência. O extermínio dos judeus, o genocídio de ciganos, doentes mentais e outros grupos, que fizeram parte de um plano político nazista é condenado por Ferro.

Como um dos principais conflitos do século em “explicação”, a Guerra Fria é observada à luz das duas potências protagonistas: Estados Unidos e União Soviética. Lembrando ainda, que as últimas décadas do século XX renderam mais três acontecimentos importantes para o fechamento desse período de muitas transformações políticas, econômicas. São eles: a queda do muro de Berlim, 1989, a reunificação da Alemanha em 1990 e o esfacelamento da União Soviética no ano de 1991.

O autor se propõe ainda a assinalar a história do Oriente – Médio, na pergunta Qual a origem da hostilidade dos muçulmanos contra o Estado de Israel?, percebendo a questão chave para o leitor compreender o seu presente, estudando o passado. Por fim, Marc ferro nos lembra que o século XX apresentou crescentes inovações, avanços na medicina permitindo maior expectativa de vida e menos sofrimento, pois as transformações formam nunca tão rápidas, além de progressos sociais e políticos, e com tudo isto a ilusão de um século do progresso. Entretanto, as guerras mundiais não consolidaram este cenário, alterando significativamente a História e criando novos problemas.

FERRO, Marc. O século XX explicado aos meus filhos. Tradução de Hortencia Santos Lencastre. Rio de Janeiro: Agir, 2008.

Gabriele Daiana Thiecker, especialista em História Contemporânea.
gabrielethiecker@hotmail.com


Publicado por: Gabriele Thiecker

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