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Ratko Mladić e seu Papel na Guerra da Bósnia

Análise sobre Ratko Mladić e seu Papel na Guerra da Bósnia.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Introdução:

Ratko Mladić, nascido em 12 de março de 1942, em Božinovići, Iugoslávia (atualmente na Bósnia e Herzegovina), veio ao mundo em uma vila isolada durante os tumultuados tempos da Segunda Guerra Mundial. Seu pai, um líder partidário, encontrou seu destino em confrontos com os Ustaša, o movimento fascista croata que controlava o governo do Estado Independente da Croácia, uma entidade fantoche criada pelas potências invasoras do Eixo.

Crescendo na República Popular Federativa da Iugoslávia sob a liderança de Josip Broz Tito, os anos formativos de Mladić foram moldados pelo complexo cenário geopolítico dos Bálcãs. Sua exposição precoce aos efeitos das lutas durante a guerra e às complexidades políticas da região influenciaram sua trajetória.

Iniciando uma carreira militar, Mladić ingressou no Exército Popular Iugoslavo, onde suas habilidades o impulsionaram rapidamente pelas fileiras de oficiais. Sua ascensão veloz dentro da hierarquia militar marcou o início de uma jornada que mais tarde se entrelaçaria com os eventos turbulentos da dissolução da Iugoslávia no início da década de 1990.

O Açougueiro da Bósnia:

Quando falamos sobre grandes generais, vêm à mente nomes como Heinz Guderian, Erwin Rommel, Dwight Eisenhower, George S. Patton, Georgi Zhukov, Bernard Montgomery, Charles de Gaulle, Ferdinand Foch, Ulysses S. Grant, Robert E. Lee, entre outros brilhantes líderes militares ao longo da história contemporânea. No entanto, isso não se aplica a Ratko Mladić, um militar que assumiu o comando das forças armadas da República da Sérvia sem qualquer aptidão para a função.

Primeiramente, Ratko Mladić era um militar sádico e monstruoso, ficando conhecido por crimes horrendos, como o Massacre de Srebrenica, que foi o primeiro genocídio na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1992, o então líder político dos sérvios, Radovan Karadžić, formou um exército sérvio-bósnio, incorporando membros do exército iugoslavo e nomeando Ratko Mladić como comandante dessas forças armadas.

Em julho de 1992, os sérvios iniciaram a expulsão dos bósnios do noroeste do país, dando início a um processo de limpeza étnica(ENGELBERG, 1992). Vale destacar que meses antes, os sérvios haviam tomado a cidade de Prijedor, sendo esse evento reconhecido como um golpe ilegal de estado.

Na mesma cidade, foram construídos campos para abrigar bósnios e croatas, mantidos pelos sérvios em condições desumanas. Cerca de 3000 desses indivíduos acabaram perdendo a vida(SITO-SUCIC, 2014), sendo posteriormente encontrados em valas comuns em 2013 e confirmado pelo Tribunal Penal Internacional da ex-Iugoslávia.

Mladić foi acusado de ser um dos arquitetos desse crime, entre muitos outros que ocorreram ao longo dos seis dias de julho de 1992, conforme a alegação da promotoria:

“firme comando e controle sobre [o exército e as forças sérvias da Bósnia] durante toda a campanha de limpeza étnica no município de Prijedor, matando mais de 1.500 muçulmanos e detendo milhares de outros em condições brutais e desumanas.”

Em agosto de 1992, imagens de campos em Prijedor chamaram a atenção do mundo quando foram publicadas na revista Time, acompanhadas pela seguinte história: “Ninguém em lugar nenhum pode mais fingir que não sabe a barbárie que envolveu o povo da ex-Iugoslávia”.(JOHN, 2017)

No período que abrangeu abril a maio de 1993, a cidade de Srebrenica, na Bósnia, tornou-se um epicentro das tragédias decorrentes do conflito na ex-Iugoslávia. O Conselho de Segurança da ONU declarou Srebrenica e outras áreas como “áreas seguras”, visando proteger civis deslocados pelas ações das forças sérvias.

Maio de 1993 marcou a criação formal do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, um marco importante na busca por responsabilização por crimes de guerra.

No dia 5 de fevereiro de 1994, Sarajevo estava no seu 22º mês de cerco pelas forças sérvias, que realizaram um ataque de morteiro resultando na perda de 68 vidas e deixando 200 pessoas feridas em um mercado no centro da cidade. Esse evento foi considerado, pela mídia da época, como a “pior atrocidade da guerra”.

Dias após este covarde ataque da Sérvia, a OTAN emitiu(POMFRET, 1994) um ultimato às forças sérvias: retirarem as armas pesadas das montanhas ao redor da cidade ou enfrentariam graves consequências. Inicialmente, os militares sérvios relutaram, mas acabaram acatando a exigência até o dia 20 de fevereiro. Outubro de 1994 testemunhou as primeiras operações de combate da OTAN, com derrubada de aeronaves sérvias e a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Bósnia.

O ano de 1995 foi marcado por eventos cruciais. Um cessar-fogo de quatro meses quebrou em janeiro, enquanto em março, uma diretiva de Karadžić indicava a intenção de criar uma situação insuportável nas áreas seguras da ONU. Em julho de 1995, Srebrenica testemunhou um ataque das forças sérvias, resultando em execuções em massa e o indiciamento de Ratko Mladić e Radovan Karadžić por genocídio e crimes contra a humanidade.

A OTAN lançou uma campanha de bombardeios em agosto de 1995, seguida pela tomada de territórios pelos muçulmanos e croatas em setembro. Outubro viu um acordo de cessar-fogo, pavimentando o caminho para o Acordo de Paz de Dayton, formalmente assinado em dezembro de 1995 em Paris. Este acordo dividiu a Bósnia e Herzegovina em entidades políticas, estabelecendo as bases para a reconciliação na região.

Os eventos destacam a monstruosidade de Ratko Mladić, evidenciando sua notória incompetência militar. O prolongado Cerco de Sarajevo, o maior cerco militar na história contemporânea, perdurou por 1425 dias (43 meses) sob a investida sérvia, sem sucesso na tomada da cidade, que permaneceu sob controle bósnio. Paralelamente, a República de Srpska Krajina colapsou em apenas três dias durante a Operação Tempestade, e as subsequentes operações na Bósnia colocaram os sérvios à beira da derrota total em poucos meses.

É importante notar que, embora mais de 55% dos arsenais e quartéis da ex-Iugoslávia estivessem na Bósnia, muitas dessas instalações estavam sob controle sérvio, concedendo à Sérvia 90% do equipamento militar pesado da JNA (Yugoslav People's Army). Surpreendentemente, mesmo com essa vantagem, os sérvios foram derrotados por forças bósnias despreparadas.

O auge da Sérvia na Guerra da Bósnia ocorreu em 1993, quando a BSA (Bosnian Serb Army) detinha cerca de 70% do território, mas esse domínio caiu para 49% em 1995. Mesmo com 80.000 soldados e poderosa artilharia, as forças sérvias foram derrotadas no desfecho da guerra.

No contexto de Sarajevo, alguns podem argumentar que o objetivo era conduzir Alija Izetbegovic às negociações, reforçar a linha de separação e proteger os sérvios dentro da cidade. No entanto, ao longo de 43 meses, os sérvios falharam nesses objetivos.

Ratko Mladić, não conseguiu atingir as metas propostas pela República da Sérvia, mesmo tendo um poder militar superior aos croatas e bósnios, levando a sua inevitável demissão em 8 de novembro de 1996 por Biljana Plavšić, presidente da República Sérvia da Bósnia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BBC. 1994: Market massacre in Sarajevo. Disponível em: https://news.bbc.co.uk/onthisday/hi/dates/stories/february/5/newsid_2535000/2535435.stm#to Acesso: 17 de Janeiro de 2024

ENGELBERG, Stephen. Serbs Said to Force Muslims to Flee. The New York Times, 29 de Julho de 1992.

INTERNATIONAL CRIMINAL TRIBUNAL FOR THE FORMER YUGOSLAVIA. Ethnic cleansing in Prijedor. 1992. Disponível em: https://www.icty.org/x/file/Outreach/view_from_hague/jit_prijedor_en.pdf. Acesso em: 17 de Janeiro de 2024.

__________. The Tribunal - Establishment. 1993. Disponível em: https://www.icty.org/en/about/tribunal/establishment Acesso: 17 de Janeiro de 2024

__________. Trial Judgement Summary for Radovan Karadžić. 2016. Disponível em: https://www.icty.org/x/cases/karadzic/tjug/en/160324_judgement_summary.pdf Acesso em: 16 de Janeiro de 2024

__________. THE PROSECUTOR OF THE TRIBUNAL AGAINST RADOVAN KARADZIC RATKO MLADIC. Disponível em: https://www.icty.org/x/cases/mladic/ind/en/kar-ii950724e.pdf Acesso em: 16 de Janeiro de 2024.

JOHN, Tara. The Story of This Shocking Image From a Prison Camp in Bosnia Continues 25 Years Later. Time, 2017. DIsponível em: https://time.com/5034826/fikret-alic-time-cover-bosnia/ Acesso em: 17 de Janeiro de 2024

OTAN. Operations and missions: past and present. NATO, 2023. Disponível em: https://www.nato.int/cps/en/natohq/topics_52060.htm Acesso em: 16 de Janeiro de 2024

POMFRET, John. U.N., NATO IN DISPUTE OVER BOSNIA. The Washington Post, 1994. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/archive/politics/1994/02/14/un-nato-in-dispute-over-bosnia/65ac0893-3606-411c-997e-2441e398f7b6/ Acesso em: 17 de Janeiro de 2024

SITO-SUCIC, Daria. Bosnia buries 284 war victims unearthed from gruesome death pit. REUTERS, 2014. Disponível em: https://www.reuters.com/article/us-bosnia-burial/bosnia-buries-284-war-victims-unearthed-from-gruesome-death-pit-idUSKBN0FP0K420140720/ Acesso em: 17 de Janeiro de 2024

THE INTERNATIONAL CRIMINAL TRIBUNAL FOR THE FORMER YUGOSLAVIA. THE PROSECUTOR v. RATKO MLADIC. United Nations, 2011. Disponível em: https://www.icty.org/x/cases/mladic/ind/en/111216.pdf Acesso em: 17 de Janeiro de 2024

United Star Holocaust Memorial Museum. The UN Designates the City a “Safe Area”. Disponível em: https://www.ushmm.org/confront-genocide/cases/bosnia-herzegovina/srebrenica/background/safe-area Acesso em: 17 de Janeiro de 2024.


Publicado por: César Alexandre da Silva Aprile

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