PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM HISTÓRIA
Breve apresentação sobre o processo de ensino e aprendizagem em história.
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PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM HISTÓRIA
Introdução
Sentados numa ciranda, crianças se preparam para ouvir mais uma história. Estando ansiosos em um incensário, queimam ervas. Da fumaça espessa, o cheiro invade as narinas, trazendo ao ambiente o ar místico, simbólico e religioso. Um idoso vestido de branco conta um Itã (lenda). Ele fala sobre Ajalá, o orixá (divindade africana), que fábrica as cabeças humanas. Entenda-se por cabeça a mente.
Segundo o Itã, Ajalá é um apreciador dos mais entusiastas de bebidas alcoólicas. Estando constantemente embriagado, jamais consegue moldar duas mentes iguais. O velho sacerdote conclui para seus acólitos que, por isso, nenhum ser humano pensa igual. É uma lição sobre lidar com as diferenças dentro de um terreiro.
Na mesa de um podcast, na Bahia, o jovem de 22 anos Lucas, apelidado de “gogó de ouro”, que apesar da pouca idade, herdou da avó um terreiro de candomblé. E junto com templo, um cargo e uma comunidade, tornando-se um sacerdote (Babalorixá). Conta este mesmo Itã aos dois jovens apresentadores uma lição sobre mito, e sobre como o mito explica o rito.
Começar este breve ensaio com exemplos tão distantes é, na verdade, um convite a reflexão sobre formas de ensinar e aprender. Nossa metodologia de ensino segue moldes do século XIX. Nela, estão contidos pensamentos positivistas de ordem e disciplina, mecânicos e tecnicistas, onde apenas o conteúdo experimentado é louvado. E no ensino de história há forte resquício do historicismo de Leopold Von Ranke e sua dura descrição de fatos, datas, locais e personagens históricos.
Pensamos ensino ainda de forma dura. Ainda seguimos um modelo expositivo, onde o professor é detentor de um saber que será passado aos alunos, onde deverão apenas memorizar e reproduzir tal conteúdo. Por consequência disso, a sociedade se queixa de membros que se deixam levar por “fake news”, por não conseguirem interpretar um texto e terem dificuldades de pensar de forma crítica. Será que o erro não está em como enxergamos ensino?
Metodologias de Ensino e Aprendizagem
Em primeiro lugar, deixemos claro que existem variadas metodologias para lidarmos com ensino e aprendizagem, e o método expositivo é um deles. Porém, foi pensando para o século XIX um século analógico, e agora vivemos no século XXI um século digital.
O exemplo usado no começo do texto é de um jovem sentado a frente do microfone em uma mesa parecida com uma mesa de bar. Enquanto ele apreciava um hambúrguer artesanal, contava suas experiências e pesquisas a outros dois jovens em um podcast ao vivo.
Os apresentadores desse programa não fizeram perguntas prontas, mas atravessaram a exposição do jovem com suas próprias experiências e, ao mesmo tempo, liam comentários e perguntas dos expectadores respondidas ao vivo, sem pauta, sem corte. Isto não é também uma forma de ensinar e aprender? Talvez, a partir desta experiência espontânea que surge com advento da pandemia x internet, possamos pensar em uma metodologia construtiva de ensino e aprendizado.
Afinal, neste método, o ensino não é algo dado, mas sim construído em meio à aula e as experiências do educador e do educando. Há neste método a questão da dialética, onde ideias e experiências são confrontadas e desse ponto de partida se constrói o conhecimento.
O filósofo Mario Cortella diz que existe um choque secular no ensino brasileiro, pois as metodologias são do século XIX, os professores do século XX e os alunos do século XXI. Sendo assim, o que talvez precisemos é levar em conta um denominador comum, algo que possa perpassar estas diferenças, e trazer a tona uma forma mais fluida de pensar educação.
Se pensarmos nos métodos de avaliação, esbarraremos mesmos problemas, porém, materializados em uma única forma. Nesse caso, o aluno consegue apenas memorizar o conteúdo das fórmulas matemáticas, das datas, dos dados geográficos e das regras gramaticais. Agora devemos nos questionar se isso é ensino, e se de fato os alunos aprendem alguma coisa com esse método.
Se nos deixarmos levar pelo Itã que nos é apresentado no começo do texto. Se cada humano possui uma forma única de pensar, ou seja, uma mente ímpar, como podemos pensar em educação, aprendizado e avaliação de alunos, sem pensar em uma metodologia dialética, construtiva e crítica?
O professor Manuel Castells, em uma entrevista, disse que muitos alunos vão para escola apenas para adquirir um diploma, contudo recorrem à internet para aprender de verdade. E muitas das vezes, é dessa verdade absoluta pregada na internet que surgem as fake news, e suas teorias que dividem pessoas em grupos polarizados e antagônicos.
Será que o modelo africano do sentar em roda, em ciranda e ouvir histórias é uma metodologia inferior por estar ligada a uma religião? Ou será que os cultos dominicais das igrejas pentecostais estão lotados por quê? E está febre que se tornou tão popular (os podcast) são populares por quê? Talvez, porque nas experiências propostas acima, aquele que ensina e aquele que aprende estão em posições parecidas, horizontais. Os conhecimentos são compartilhados e se misturam histórias a partir de memórias individuais. Dessa forma, são construídas experiências de memórias coletivas.
Considerações Finais
De maneira sintética, houve mudança no modo de lidar com informações, visto que o modo de aprender também mudou. Devemos também pensar em um modo novo de ensinar, uma vez que o senso comum foi se alterando e mudou este modo. As religiões que estavam em uma aparente queda de popularidade, agora são talvez o único espaço onde os humildes tenham voz para debater questões sociais e políticas, onde suas ideias e memórias serão levadas em conta.
E os jovens que em raras vezes paravam sua atenção em uma só informação, hoje conseguem ficar algumas horas assistindo um podcast. Ali, as informações são passadas de forma horizontal, e eles têm suas perguntas respondidas de forma tranquila e sem julgamentos. Não há um professor em cima de um tablado que muitas vezes tira sua dúvida, ou o manda esperar até o final da explicação.
Deixemos de exemplo a forma de avaliação utilizada na modalidade E.A.D da Universidade Veiga de Almeida: os “fóruns avaliativos” de AV1. Nessa metodologia de avaliação, o professor faz uma proposta em cima do conteúdo aplicado. Em seguida, os alunos fazem exposições sobre suas próprias ideias sobre a disciplina, e depois todos debatem sobre as ideias que foram expostas por seus pares.
Por fim, cada aluno se vê confrontado por ideias tão variadas e ricas provenientes do mesmo conteúdo, sobretudo, enriquecidas por memórias individuais e cosmovisões diversas que constroem um saber novo. Um saber diferente que nasce para educador e educandos.
Referências Bibliográficas
É Niúma podcast. Entrevista pai Lucas “gogó de ouro”. YouTube, 2022. Disponível em: https://www.youtube.com/live/-YZ_rK5UvrM?si=WuQb5apR5VLhvhmo. Acesso em: 19 nov. 2023.
LEÃO, D. M. M. Paradigmas Contemporâneos de Educação: Escola Tradicional e Escola Construtivista. Revista Scielo: Cadernos de Pesquisa, nº 107, 1999, p. 187-206.
AMORIM, M. A. B. V. História, memória, identidade e História Oral. São Paulo, Jus Humanum: Revista Eletrônica de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Cruzeiro do Sul, v. 1, n. 2, 2012, 6p.
MORIN, E. É Preciso educar os educadores. Entrevista concedida a Fronteiras do Pensamento, 2017. Disponível em: https://www.fronteiras.com/leia/exibir/entrevista-edgar-morin-e-preciso-educar-os-educadores. Acesso em: 18 nov. 2023.
CASTELLS, M. Escola e internet: o mundo da aprendizagem dos jovens. YouTube, Fronteiras do pensamento, 2020. Disponível em: https://youtu.be/J4UUM2E_yFo?si=oS1EMlffINyaGo0X. Acesso em: 18 nov. 2023.
Publicado por Rafael Rocha Porciúncula Rodrigues[1] e Társis de Carvalho Santos[2]
[1] Aluno do Curso de Licenciatura em História da Universidade Veiga de Almeida
[2] Professor tutor do Curso de Licenciatura em história da Universidade Veiga de Almeida
Publicado por: Rafael Rocha Porciuncula Rodrigues

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