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Fuggerei: Dentre a história e os muros da habitação social mais antiga de que se tem relato

Análise sobre a o complexo habitacional Fuggerei na modalidade de habitação de interesse social, de ordem privada e embasamento filantrópico.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Resumo:

A premissa deste artigo é salientar o complexo habitacional Fuggerei na modalidade de habitação de interesse social, de ordem privada e embasamento filantrópico, que a partir de conceitos sociais e construtivos, além dos aspectos urbanísticos datados da era medieval, perdura até hoje.

Palavras chave: habitação, Fuggerei, social.

Abstract:

The premise of this article is to highlight the Fuggerei housing complex in the form of housing of social interest, private and philanthropic, which, based on social and constructive concepts, in addition to urban aspects dating from the medieval era, continues to this day.

Keywords: housing, Fuggerei, social.

Introdução:

O Fuggerei é reconhecido como o esquema de habitação social mais antigo do mundo (MORISSON, 2014). Em 1.517, a acumulação de riqueza foi criticada por Martinho Lutero, que considerava contrária à vontade de Deus a concentração abastada de recursos nas mãos de uma única pessoa ou família. Jakob Fugger, membro da alta classe ligada ao comércio, era devoto ao catolicismo e consequentemente foi afetado pelas alegações, nisto, criou um complexo habitacional para famílias católicas que sofressem de insegurança financeira.

Figura 1: Perspectiva do Fuggerei em Augsburg, Alemanha, criado em 1926.

Fonte: Burning Farm, 2023. 

Como resposta às críticas e visando mitigar a negatividade associada, Fugger iniciou um projeto de habitação social destinado a católicos pobres, os residentes tinham como regras inclusas a comprovação de baixa renda, a não portabilidade de dívidas, ser bem visto pela sociedade da época e orar três vezes ao dia em nome da família Fugger. Estes princípios acompanham os habitantes desde a data de criação, bem como o preço do aluguel que se equipara e congela em 0,88 euros, o que faz com que atraia vários profissionais e muitos curiosos no fenecimento de desbravar este pequeno conjunto medieval cerceado da cidade. 

Figura 2: Vista interna do Fuggerei no outono.

Fonte: Assemble Papers, 2020.

Desenvolvimento:

Em 1515, durante um encontro na cidade de Antuérpia entre Fugger e o escritor Thomas Morris, o construtor teve acesso ao livro “Utopia” que estava sendo desenvolvido na época, há relatos de que Morris mostrou seus escritos a Fugger e este se baseou na filosofia do modelo urbano qualificado e nos princípios de benevolência  descritos no livro, mas não a política e a filosofia (MORRISON 2014, apud TIETZ-STRODEL, 1982).

No período entre 1519 e 1523, o arquiteto responsável pela obra Thomas Krebs ergueu um total de 53 residências no Fuggerei, cada uma aportando uma dupla de unidades habitacionais de aproximadamente 60m², com sistema de drenagem, que era rebuscada para a época e para o tipo de modalidade construtiva. As edificações eram de estética uniforme, abrigavam dois patamares, e eram enfileiradas ao longo de sete ruas que davam acesso aos dois portões externos. Além de espaços para escola e enfermaria, o local também tinha uma igreja com um pátio.

Figura 3: Museu da casa original.

Fonte: Assemble Papers, 2020

Por ser um complexo murado e independente, o Fuggerei impunha uma série de regras, incluindo toque de recolher à noite, com possibilidade de infração passível de multa cumulativa, três orações diárias para a família fundadora e trabalho de manutenção da propriedade. O muro também era a representatividade da fronteira entre a ordem interna e a desordem do mundo exterior, de acordo com os limites físicos e horários impostos, os cidadãos tinham uma espécie de ferramenta de idealização de comportamento moral como ferramenta de controle (GIOVANAZZI, 2023 apud TIETZ-STRODEL,  1982).

As casas originais eram arquitetonicamente semelhantes, destacando o caráter igualitário do assentamento. Possuíam telhados góticos clássicos, tinham bastante espaço se levado em conta a época de construção, com abastecimento de água por poço e drenagem, proporcionando condições dignas para a vida. A disposição dos pátios revela que o espaço dividido do Fuggerei não apenas impedia certas ações dos moradores, mas também orientava suas atividades. Os quintais eram localizados na parte traseira da residência e eram reservados a cada unidade, representando a autonomia seccionada do conjunto, sendo idealizados e propostos para desenvolvimento de atividades relacionadas ao trabalho.

Figura 4: Rua dentro do complexo.

Fonte: Assemble Papers, 2020

Este tipo de modalidade construtiva foi popularizado na Europa posteriormente entre alguns governantes e monarcas, a viabilização de projetos habitacionais acessíveis pela classe trabalhadora foi tida como expectativa de aumento da produção a partir da adequação das condições de vida. Este molde veio a ser o embasamento da doutrina das cidades industriais acessíveis no pós-revolução (AMIRJANI, 2020).

Conclusão:

A oferta de moradia digna e de espaço para a vida privada dava autonomia e qualidade de vida às famílias. A dualidade inerente ao Fuggerei residia no fato de que, ao criar esses espaços privados divididos, também impunha limites rigorosos, evitando transgressões que pudessem comprometer a liberdade moral do indivíduo.

Assim, o Fuggerei não apenas proporcionava moradia, mas delineava um código de conduta, convidando os residentes a sustentar sua honra através do trabalho diligente. Esta comunidade murada não só representava uma expressão arquitetônica da preocupação com questões sociais, mas também elucidava como um ecossistema separado do entorno no qual as dinâmicas sociais eram meticulosamente reguladas.

Em síntese, o Fuggerei emerge como um testemunho singular da interseção entre as esferas social, econômica e moral. Este enclave murado não apenas representava historicamente a estratificação da sociedade, como também denota que desde a época que antecede a revolução industrial a preocupação com a dignidade da moradia já era tangível como motivo de debate na vida urbana.

Referências

AMIRJANI, Rahmatollah. Shushtar New Town: A Turning Point in Iranian Social Housing History. 2020. University of Canberra. Disponível em:

Fugger Foundation. Disponível em: . 

GIOVANAZZI, T. Poverty and Architecture: The Fuggerei as an Early Example of Affordable Housing. Journal on Architecture and Domestic Space. Burning Farm, 02/10/2023. ISSN 2813-8058. Disponível em: .

KLOTZ-REILL, E. Barfuß durch die Finstere Gass eine Kindheit in der Fuggerei. 4., unveränd. Aufl. ed. [s.l.] Augsburg Wißner, 2013. 

MORRISON, T. Albrecht Dürer and the Ideal City. Parergon, v. 31, n. 1, p. 137–160, 2014. Disponível em: .

PRUGGER, K. Discovering 500 years of social housing at Munich’s ‘Fuggerei’ | Assemble Papers. Assemble Papers, 6 abr. 2020. Disponível em: . 

SCHELLER, B. The Honor of the Poor and the Honor of the Merchant: Jakob Fugger's Creation of the Fuggerei in Augsburg. Histoire urbaine, v. n° 27, n. 1, p. 91-106, 2010. Disponível em: .

TIETZ-STRÖDEL, M. Die Fuggerei in Augsburg: Studien zur Entwicklung des sozialen Stiftungsbaus im 15. und 16. Jahrhundert. Tübingen: Mohr, 1982.


Publicado por: Fernanda Rochelly Bezerra Lacerda

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.