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BREVE ANÁLISE SOBRE O MATERIALISMO HISTÓRICO E A ESCOLA DE ANNALES

Introdução à discussão acerca do materialismo histórico e a Escola de Annales.

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BREVE ANÁLISE SOBRE O MATERIALISMO HISTÓRICO E A ESCOLA DE ANNALES

Introdução

Houve uma época na existência do ser humano e, sobretudo, do ser humano como ser social, que o historiador era de fato um mitógrafo. Logo, o seu papel consistia em agrupar e recontar os mitos que eram passados oralmente de geração em geração, isto é, que davam sustentação a uma sociedade. Os mitos eram então instrumentos para construção da identidade cultural de um povo, seja uma tribo, seja uma cidade-estado, ou até mesmo um império.

A história já foi vista como arte pelo seu fator polissêmico1 e, algumas vezes, abstratos em contraste com as ciências duras. Porém, ao longo dos séculos, a história foi consolidando-se como ciência e, para tal, foram se moldando, criando ferramentas e metodologias. O fato é que nesse processo surgiram as escolas historiográficas, cada qual reflexo de sua temporalidade e espacialidade. Com isso, pretendemos nesse breve estudo de caso comparar os pensamentos e metodologias de duas importantes vertentes historiográficas: o materialismo histórico do filósofo alemão Karl Marx, assim como o seu companheiro teórico Engels com a Escola dos Annalles, fundada na França do século XX, pelos historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre.

Historiografia

Segundo nos aponta Jefferson Evandro Ramos: “Historiografia é o registro escrito da História”. Pode-se dizer que é a arte de escrever e registrar os eventos do passado. Podemos também definir que historiografia é o estudo crítico do que foi escrito como história, e que esse ramo da ciência vem evoluindo e mudando sua forma de escrever e interpretar os fatos e fontes históricas.

Materialismo histórico

O materialismo histórico é uma corrente historiográfica “filha” do século XIX, “o século das luzes”. Essa corrente foi desenvolvida e idealizada pelo filósofo alemão Karl Marx e pelo teórico e amigo pessoal de Marx, Frederich Engels. O cerne de sua teoria tem alguns pilares, talvez o principal seja a luta de classes, ou seja, toda história da humanidade é atravessada e fruto da luta pelo excedente de recursos, o lucro.

Nesse caso, os opressores, denominados classe dominante detém os meios de produção e, por isso, exploram e oprimem a classe antagônica, o proletariado, que vende seu único bem, sua força de trabalho. Em suma, a única forma possível de avaliar a história era através de seu recorte material, que girava em torno desta luta de classes.

Características do Materialismo Histórico

Rompimento com idealismo: Marx acreditava que apenas com o rompimento do status quo, e uma revolução da classe dominada poderia promover o fim das desigualdades, e assim estabelecer um governo igualitário, até o ponto de não haver mais a necessidade de um governo.

Classes: O materialismo histórico tem como forte características as análises entre as classes em que se dividem uma sociedade, Marx preocupou-se em estratificar estas classes.

Dialética/Luta de classes: Para Marx a humanidade se define pelo que produz, por isso materialismo histórico. Sendo assim a própria história da humanidade estaria pautada na dialética entre a classe dominante que detém os meios de produção e a classe dominada que é explorada, tendo como único bem sua força de trabalho.

Modos de produção: refere-se as formas que são utilizadas para a produção nas sociedades. Pode-se compreender como um sistema político, social e econômico que sintetiza as forças produtivas e as relações de produção. Refere- se às formas gerais de produção predominantes em determinados períodos econômicos de cada sociedade como o feudalismo ou o capitalismo.

O Materialismo histórico antagoniza com uma escola de sua época o positivismo de Augusto Comte. Enquanto o positivismo baseava seus pensamentos na verdade da história onde o historiador não devia criticar os fatos, mas apenas narra-los, o materialismo histórico tinha também como forte adjetivo a crítica, não só dos fatos, mas também dos contextos.

Escola de Annales

Os Annales são uma corrente historiográfica fundada na França do século XX pelos historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre, embora a nomenclatura escola possa denotar um lugar físico. A escola de Annalles era na verdade um grupo de pesquisadores de várias áreas relativas as humanidades que publicavam trabalhos em uma revista denominada Annales d’Histoire Économique et Sociale.

A Perspectiva dos Annalles foi revolucionária para história, pois houve a partir desta historiografia as mudanças que seriam usadas ou não como fonte. Um dos exemplos é a característica multidisciplinar, onde havia diálogo entre a história e toda gama de humanidades como: sociologia, antropologia, geografia, psicologia entre outras e, sobretudo, a negação da história como uma simples narração.

Para os Annalles, era necessário que o historiador criticasse fontes e fatos, e acima disso trabalhasse com a problematização das questões levantadas, no que foi conhecido como história-problema. O historiador precisava analisar toda conjuntura, temporalidade, espacialidade e contextos envolvidos com o fato que era objeto de estudo.

Características da Escola dos Annales

Multidiciplinaridade: atravessar a história por diversos olhares, sempre em conjunto com outras ciências sociais.

Outras visões de temporalidade: deixar de observar os fatos sob uma cosmovisão linear, dura e continua.

Contextualizar e problematizar os fatos: o historiador deveria analisar cada fato não só por diversas perspectivas das humanidades, como também se levantar hipóteses de trabalho relacionadas a cada fato, o que atribuíu-se o nome história-problema.

Considerações Finais

O que fica em evidência ao trabalhar com essas duas correntes historiográficas (Materialismo histórico e Escola de Annales) é o papel do historiador de não só acumulador de memórias, mas também de ser propositor do pensamento crítico e analítico sobre os fatos, tanto do passado quanto contemporâneos e seus possíveis desdobramentos no futuro. Não que o historiador deva agir como um “futurólogo” ou voltar ao mito e se tornar um vidente, mas evocar mais uma vez as pitonisas de Delfos, assim como propor hipóteses sobre a humanidade e suas muitas relações com os fatos e o mundo que a cerca.

O século XIX nos trouxe o Positivismo como a história puramente metodológica e com seus fatos que eram a personificação da verdade. Porém, Marx quebra esse paradigma e nos aponta uma corrente historiográfica que não só critica os fatos históricos, como também nos aponta uma possível solução para o problema proposto. E os Annales em "Suas Várias Faces, de Marc Bloch a Jaques Le Goff" que elevaram de vez a história ao “Status” de ciência com a forma crítica de interpretar os acontecimentos. Nesse sentido, adotaram também a  possibilidade de analisar dos grandes aos menores acontecimentos, onde não só as grandes narrativas contavam, mas os pequenos fatos do dia a dia. Talvez possamos pensar a história como obstante das ciências “duras”, sobretudo, muito mais próxima do ser humano e sua faceta simbólica e abstrata, sem como isso perder a lógica e o método.

Referências bibliográficas

HAYEK, F. A. Os erros fatais do Socialismo: Por que a teoria não funciona na prática.  Faro Editorial; 1ª edição, 2017, 240 p.

PESAVENTO, S. J. História & história cultural. Autêntica Ed.; 1ª edição, 2007, 132 p.

PORFíRIO, F. "Karl Marx"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/karl-marx.htm. Acesso em 28 de março de 2025

RAMOS, J. E. M. Historiografia: Sua pesquisa.com, 2020. Disponível em: https://www.suapesquisa.com/o_que_e/historiografia.htm. Acesso em: 22 mar. 2023.

1 Adjetivo relativo à polissemia

2 Diz-se da palavra ou locução que apresentam mais de um sentido


Publicado por: Rafael Rocha Porciuncula Rodrigues

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