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As mulheres e a luta social política

Por que a mulher sofreu tantas restrições?

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.


“Mulheres dotadas de grande capacidade intelectual se revelariam às criminosas natas, mostrando-se incapazes de abnegação, paciência e altruísmo que caracterizam a maternidade, função primordial que comandaria toda a organização biológica e psicológica da mulher”.

(Médico e criminologista, Dr. Cesare Lombroso)

As mulheres que hoje ocupam 41% do mercado de trabalho, que lutaram tanto pela emancipação, são vitoriosas, pois conseguiram, concretizar apesar de muito sacrifício, o seu ideário de luta e vida, mas a princípio de 1886, a situação da mulher e sua reivindicação por maior participação na sociedade não eram vistas com bons olhos. A emancipação era vista pelos mais diversos setores sociais e tendências políticas como grave ameaça à ordem estabelecida, predomínio desta visão encontravam legitimidade até no pensamento científico da época.

Conforme o filósofo Pimentel Lins, a filosofia considerava que a inferioridade da razão ente as mulheres era fato incontestável, cabendo a elas apenas cultivá-la na medida certa ao cumprimento de seus deveres naturais: obedecer ao marido e cuidar dos filhos. A medicina do séc. XIX afirmava que a fragilidade, o recato e o predomínio das faculdades afetivas sobre as intelectuais eram características biologicamente femininas, assim como a subordinação da sexualidade ao instinto maternal. Em oposição, o homem somaria sua força física, uma natureza autoritária, empreendedora, racional, e uma sexualidade sem freios.

O recurso da ironia e da comédia foi um poderoso instrumento para desmoralizar a luta pela emancipação feminina e reforçar o mito da inferioridade e passividade da mulher. Apesar desse tom depreciativo, essa abordagem não está tão distante da adotada por criminalistas e médicos da época, que alertavam para o perigo representado pela mulher intelectualizada. No Rio de Janeiro, vários médicos concordavam com essa afirmativa. Comentando os motivos que levariam as mulheres a cometer o terrível crime de infanticídio.

O Dr. Augusto Militão Pacheco aponta as “mulheres originais” distintas das demais “pela extrema devassidão, pelo gosto freme de pintar, escrever, viajar e etc.” São enquadradas nesse pensamento do Dr. Militão, primeiro a mulher infiel e depois a emancipada. Na virada de séc. XIX para o séc. XX a mulher emancipada e intelectual, e compenetrada de seus afazeres, era mau exemplo para outras mulheres, pois faziam como que acreditassem que elas poderiam viver sem o marido. Ao se recusarem a restringir o seu universo a maternidade e ao lar, desprezando suas funções naturais, essas mulheres de comportamento diferenciado, seriam a fonte de todos os flagelos sociais. Nenhum meio, foi desprezado na difusão do princípio de que o cuidado com os filhos exigia que a esfera feminina fosse aquela da casa, uma forma de salvaguardar os privilégios masculinos.

Nesse momento, ficava-se claro que além, dos males acarretados aos filhos, a competição que se desenvolveria entre homens e mulheres, seria prejudicial ao convívio conjugal. Lavando como conseqüência a ruína da instituição do matrimônio. O médico italiano Cesare Lombroso, conceituado criminologista do séc. XIX, fazia uma série de observações sobre a mulher dizendo que a mulher normal apresentaria uma série de comportamentos e ações que as assemelham as crianças, como um senso moral deficiente e uma tendência exagerada à vingança e ao ciúme. De maneira geral, isso tudo ficaria freado pela maternidade, frieza sexual e inteligência menor.

Lombroso faz uma leitura esdrúxula do pensamento e da intenção feminina, coloca que as moças honestas que procuram maior instrução poderiam incorrer em delitos. Depois de tão desiludida com o casamento, que era o destino esperado por quase todas as mulheres, que não suportavam as traições de seus cônjuges e os maus tratos sofridos, não lhes resta nada se não o delito, o suicídio ou a prostituição.

As questões voltadas também à profissionalização feminina, também foi muito criticada. As demais reivindicações do gênero, como os vistos ao exercício da plena cidadania, particularmente as lutas pelo voto, eram objetos de chacota com o objetivo de ridicularizá-las. Um bom exemplo é a crônica “mais uma reinvidicação feminina” (publicada na revista fon-fon, de 04/11/1908), disponível através do google pela Internet: revistas e matérias históricas.

“Já não são somente nas profissões, não se limitam aos direitos civis e políticos, as reinvidicações das nossas ardentes feministas. Há uma tendência pronunciada, para usar coisas até agora permitida ao sexo feio. É assim que brevemente, aparecera uma obra da ilustrada por alguma senhora... reivindicando o direito das senhoras usarem barba também.”

Carlos Alberto Kinkler, jornalista, escritor, cartunista e poeta.

Por trás dessa piada sem graça sobre as mulheres usarem barba, ilustra a visão da época que as feministas estavam ansiosas para ocupar não só as funções que eram privadas ao homem, mais também seus atributos físicos. Para terminar de vez o autor destaca mais uma das fraquezas da mulher: “(barba) servirá (...) para demonstrar a falsidade da alegação de que toda mulher é tagarela, pois necessariamente terão de ficar caladas pelo menos enquanto fazem à barba” (publicada na revista fon-fon, de 04/12/1908). Muitos autores da época tentaram se opor e até mesmo barrar esse avanço feminista em direção a sua emancipação, usando um tom de cavalheirismo e pieguice:

“Não concebo a mulher fora do seu ciclo apostrofando sobre os deuses ou discutindo a origem das espécies. Ela foi feita para domar o homem. O que será da humanidade no dia em que ela rasgar a camisola e sair às ruas, não mais com a leve sombrinha da seda mais sim com o humilhante cacetete do capanga eleitoral? Desaparecera (Desaparecerá) o encanto dos salões, a alma da paisagem, o amor do lar...”

(Pierre Corcant, cronista Francês que trabalhou no Jornal Gazeta nos anos de 1930 a 1948)

Colocações maldosas vêm à tona novamente e fatos que vira e mexe vem à tona, a impotência entre os diferentes atributos do homem e da mulher serem respeitados.

Reforça-se o pensamento de que a mulher tem de ser bela e recatada. Algumas crônicas propõem estratégias para a superação desses obstáculos, a fim de garantir as feias à possibilidade do casamento, única aspiração feminina, considerada legítima pela mentalidade machista da época.

Outros cronistas da época propunham que sejam realizados “leilões matrimoniais”, recurso para que as moças feias tivessem mais chance de conseguir o casamento. A curiosa conclusão é que a mulher não agraciada com a beleza, e relegada a humilhante situação de solteirona, buscaria vingança questionando sua condição e aderindo aos movimentos de emancipação. Veja um trecho da musica de Euclides Tavares, datada de 1923, chamada de A Mulher de Hoje:

O homem já perdeu o jeito

Já não pode fazer nada

O homem hoje fica em casa

Para as crianças tratar

E a mulher toda garbosa

Vai para rua passear

Pode a mulher todo trabalho

Do homem querer fazer

Mas... eu

Só tenho uma vingança

Homem não pode ela ser

Por isso mesmo não me caso

Pra mulher não me mandar

Este conselho dou a todos

Que se quer amarrar

Ai, ai, ai

Tudo ela quer

Pois seja tudo

Mas seja sempre mulher

A música dá uma boa noção da reação diante das iniciativas femininas para ter direito ao voto e ao trabalho. E apesar de tudo isso, mais e mais as mulheres reagiam no sentido de alterar sua posição em relação da esfera política e privada.

A virada do séc. XIX para o XX assinalou a marcha das mulheres para conquistar sua emancipação. Na constituição de 1891, as mulheres ainda não tinham direito a voto, direito conquistado em 1932, na Era Vargas. O Brasil foi o quarto país do mundo a permitir a mulher votar e ser votada (os outros três eram, pela ordem, Canadá, Estados Unidos Equador). Mas ainda hoje a participação da mulher em cargos públicos e na vida política, ainda é pequena.

Mais em 1999 elas já representavam 41,4% do total populacional que recebia salários iguais, no entanto, ainda é tabu. Na maior parte das vezes elas chegam aos cargos de chefia, recebendo um terço a menos do que eles. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres estudam mais embora continuem a ganhar menos.

As mulheres já entram praticamente em todas as atividades antes reservadas a os homens. Elas são por “exemplo” mais de 40% dos advogados de São Paulo, são maioria em profissões como jornalismo, estão em todos os lugares, nas Forças Armadas, como motoristas de táxi e caminhões de carga e até nas lutas de boxe. Dois fatores contribuíram grandemente para esse avanço: a queda na taxa de fecundidade e o aumento do nível de instrução. A redução da fecundidade ocorreu com mais intensidade nos anos 70 e 80. Em 1960, as mulheres brasileiras tinham em média, 6,3 filhos. Em 1980, a média diminuiu para 4,4. No final dos anos 90, a taxa de fecundidade era de 2,3.

Hoje no Brasil, um quarto das famílias é chefiada por mulheres. De acordo com as estimativas, a participação feminina nos cargos mais altos e poderosos só será igual à dos homens, nos Estados Unidos, em 2064. No mundo inteiro, segundo a organização internacional do trabalho, isso só ocorrer por volta de 2472.

Conclui-se, pois que desde os primórdios da história humana, onde as mulheres têm um papel fundamental nessa trajetória como peças propulsoras da evolução social e do ser humano, que houve uma evolução gradativa da mulher no que diz respeito a os seus direitos e deveres, suas obrigações e aptidões.

Contudo se compararmos a vida dessas mulheres, no período da idade média com os dias atuais, são inúmeras as mudanças e vitórias, porém é muito pouco comparado a todo o sofrimento e humilhação que foram submetidas em todas as fases da história.

Mesmo com os direitos garantidos por Leis, como o direito ao voto, Lei Maria da Penha, Licença Maternidade e outros, muitas ainda passam por situações de violência, sexual, social e familiar, profissionalmente são diminuídas e os salários ainda são inferiores, como seres humanos ainda são tratadas em alguns casos como inferiores, submissas, quando na realidade estão prontas para desempenhar atividades que só os homens atuam, ainda melhor que eles, pois já chegaram a um pé de igualdade em nível de intelectualidade com os homens.

Numa conclusão mais abrangente, podemos dizer que esse trabalho busca mostrar que as mulheres têm direito de mostrar seus valores que são muitos, para uma sociedade machista e preconceituosa que até hoje impera de forma quase absoluta, não para ocupar os seus lugares na sociedade, mais como indivíduas constitutivas desse sociedade compondo a regulação e a harmonia dela de forma vital no lar, na família, na sociedade, na política e no mundo.

BIBLIOGRAFIA

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Ideologia e feminismo. A luta da mulher pelo voto no Brasil. Petrópolis: ED. Vozes, 1980.

CHARTIER, Roger.

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DEL PRIORE, Mary.

História do Amor no Brasil / Mary Del Priore. 2. ed. São Paulo : Contexto, 2006

HAHNER, june E.

Emancipação do sexo feminino – a luta pelos direitos da mulher no Brasil, 1850/1940, Editora mulheres, 2003.

LION, Graciano

Ordem feminina contra a autoridade da Igreja na idade média: Editora mulheres, 1990.

MORAES, Aparecida Fonseca.

Mulheres da vila: prostituição, identidade social e movimento associativo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

PERROT, Michelle

Os excluídos da historia, operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1998.

RICHARDS, Jeffrey

Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.


Publicado por: jota de aurora

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