AS MULHERES E A VISÃO DA IGREJA NO PASSADO
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RESUMO
Ao analisar a história do casamento e a visão religiosa sobre as mulheres, é possível perceber o controle absoluto que a Igreja exercia sobre o casamento e a sociedade no século XII. A Igreja ditava as regras sexuais, determinando até mesmo a posição sexual do casal. As ordens clericais da época consideravam um homem que sentisse desejo por sua esposa como adúltero, estabelecendo assim os papéis sexuais no casamento de forma desfavorável às mulheres. Essa visão se fortaleceu com a associação da mulher ao pecado original e ao diabo, tornando-a inferior e sujeita a castigos físicos pela Lei canônica. Mulheres eram proibidas de ocupar cargos públicos e eram vistas como frívolas, ardilosas e de pouca inteligência. O casamento era o destino esperado para as mulheres, independentemente do amor, e a habilidade em conseguir um bom casamento era crucial para sua vida. Somente no final do século XVIII e início do século XX, as mulheres começaram a reivindicar seus direitos em busca da emancipação feminina, lutando para se posicionar de forma mais confortável em uma sociedade masculina, machista e preconceituosa. Essa luta continua até os dias atuais para garantir seu lugar na sociedade.
Abstract
When analyzing the history of marriage and the religious view of women, it is possible to perceive the absolute control exerted by the Church over marriage and society in the 12th century. The Church dictated sexual rules, even determining the sexual position of the couple. The clerical orders of that time considered a man who felt desire for his wife as an adulterer, thus establishing unfavorable sexual roles in marriage for women. This view was strengthened by associating women with original sin and the devil, making them inferior and subject to physical punishments under canonical law. Women were prohibited from holding public positions and were seen as frivolous, cunning, and lacking intelligence. Marriage was the expected destiny for women, regardless of love, and the ability to secure a good marriage was crucial for their lives. Only in the late 18th and early 20th centuries did women begin to demand their rights in pursuit of female emancipation, fighting to position themselves more comfortably in a male-dominated, sexist, and prejudiced society. This struggle continues to this day to secure their place in society.
Como a Igreja visualizava a mulher?
Entremos nessa máquina do tempo chamada história, que nos permite ir e vir na temporalidade, de forma livre e democrática, concedendo-nos analisar a situação religiosa do mundo feminino voltemos no tempo, a meados de 1150, quando o casamento foi visto como um sacramento, uma união das almas do homem e da mulher. A Igreja aparece de forma impositiva e absoluta, pois na visão clerical, era necessário que os papeis sexuais ou as divisões sexuais, estivessem bem esclarecidos. Desta forma, a Igreja passa a assumir o total controle moral e organizacional do casamento e da sociedade da época, tomando medidas como: limites mínimos de idade para o matrimônio, (12 para as meninas e 14 para os meninos), dias específicos da semana para que aconteçam as cerimônias, cobranças em dinheiro por muitos dos serviços, medidas simples, mais que fugiram do controle de forma absurda. À Igreja chegou a ditar as regras sexuais, determinando até como deveria ser a posição sexual do casal em seu leito sagrado de amor. E se você se perguntar, o que isso tem a ver com a mulher? Veremos que tudo, pois segundo as ordens clericais daquela época, “um homem que sentisse desejo sexual por sua esposa era um adúltero” a determinação dos papeis sexuais no casamento só foi ditada por causa da mulher, de que forma?
Os pensadores do clero encaravam o sexo como algo necessário, um mal que precisava acontecer, apenas com a finalidade de procriação, sendo assim, o casamento se tornou uma forma de controlar os impulsos sexuais e evitar a fornicação, isso na visão dos pensadores clericais, porque Jesus, em momento algum em seus discursos e ensinamentos, mencionou nada sobre o pecado original, nem uma única palavra, mas um Papa chamado Clemente de Alexandria (mas o Papa Clemente de Alexandria, no séc. II) no séc. II põe as mulheres em uma situação extremamente complicada pra época, vinculando a descoberta do sexo por Adão e Eva, diretamente a mulher, deixando-a numa situação de cárcere doméstico, sexual, social e religioso.
Vejamos São Paulo, a idéia que ele deixou a esse respeito foi a de “credor e devedor” onde o marido tinha que dar a esposa o que devia a ela e vice-versa. E ela por sua vez não poderia reivindicar o seu corpo como de sua propriedade; pois esse pertencia e seu marido e vice-versa. Em face da situação não ser favorável para a mulher nessa visão religiosa, Santo Alberto Magno completa dizendo: “se um marido reconhece um desejo sexual por parte da parceira, deve agir imediatamente para satisfazê-la, mesmo que isso não lhe tivesse sido pedido”. (Lion, 1990). Fica assim muito claro que a mulher não é dona do seu corpo como uma pessoa que tem vontades e desejos próprios, mais sim, esse pertence ao seu cônjuge. Neste prisma, (Lion, 1990) escreveu: “a mulher não tem poder algum e em tudo esta sujeita ao marido”, estava assim decretada a separação sexual entre homem e mulher e a hostilidade que a Igreja imprimiria por um bom tempo em relação ao sexo feminino.
O calvário da alma feminina começa quando as ordens eclesiásticas fazem um direcionamento espiritual de que ela era filha e herdeira de Eva, a fonte do pecado original e instrumento do Diabo, mostrando-a como inferior, deixou-se enganar pela serpente e enganou seu companheiro, fazendo-o perder o paraíso, descobrindo e ensinando a ele o deleite carnal. Essa visão passou a fazer parte dos artigos teólogos, médicos e científicos, sem a mínima contestação. Desta forma sem manifestação contrária, passou-se a ver na mulher um caráter maléfico e promíscuo, que precisava ser disciplinado. Surge a Lei canônica, que permitia que a mulher fosse surrada, espancada em qualquer camada da sociedade.
Foi proibido à mulher ocupar ou desempenhar cargos públicos, e uma determinação adotada pela Lei Secular dizia o motivo de forma depreciativa, mostrando as mulheres como “frívolas por natureza, ardilosas, perspicazes, apegadas ao material (avarentas) e de pouquíssima ou quase nenhuma inteligência”. A Lei eclesiástica de forma abrangente, mas não menos diminutiva, deixava claro o motivo, a razão e circunstância pela quais as mulheres não podiam ocupar cargos públicos, seria simplesmente porque ”as mulheres não foram feitas para esse tipo de serviço, mais sim, para as ocupações femininas e domésticas”. (Lion, 1990).
Sendo assim o casamento era o destino que as mulheres esperavam. E isso sem falar nas mulheres em relação ao amor, sim, porque falar de amor também era proibido, os casamentos aconteciam com ou sem amor, pois eram acordos feitos entre as famílias, elas não tinham que amar seus cônjuges, apenas se acostumar com eles, serem companheiras, fieis, amigas, excelentes donas de casa e mães. Porém a mulher tinha que ser hábil em relação a se conseguir um bom partido, por que a sua vida dependia disso, de um bom casamento e de um bom homem, para que não sofresse tanto.
O drama sofrido pelas mulheres, que veio até fins do séc. XVIII e início do séc. XX, quando de forma mínima, as mulheres passaram a reinvidicar seus direitos em busca da tão sonhada emancipação feminina. Uma luta foi traçada pelas mulheres com muita força para poderem se posicionar de forma mais confortável no universo masculino, machista e preconceituoso. Uma luta que elas travam até hoje para continuar garantindo o seu lugar nos dias atuais.
BIBLIOGRAFIA
ALVES, Branca Moreira. Ideologia e feminismo. A luta da mulher pelo voto no Brasil. Petrópolis: ED. Vozes, 1980.
CHARTIER, Roger. “Diferenças entre os sexos e dominação simbólica (nota critica)”. Campinas: Unicamp, 1995.
DEL PRIORE, Mary. História do Amor no Brasil / Mary Del Priore. 2. ed. São Paulo : Contexto, 2006
HAHNER, june E. Emancipação do sexo feminino – a luta pelos direitos da mulher no Brasil, 1850/1940, Editora mulheres, 2003.
LION, Graciano Ordem feminina contra a autoridade da Igreja na idade média: Editora mulheres, 1990.
MORAES, Aparecida Fonseca. Mulheres da vila: prostituição, identidade social e movimento associativo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
Publicado por: João Paulo dos Santos
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