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Guerra do Paraguai: Militares Esquecidos Soldados Indígenas

Uma análise sobre os conflitos da Guerra do Paraguai. Clique e confira!

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

RESUMO

Este artigo analisa o conflito conhecido como Guerra do Paraguai, uma agitação de grande porte que ocorreu na segunda metade do século XIX, entre Brasil, Uruguai, Argentina e aliados contra o Paraguai. Foi o maior conflito entre nações na história da América do Sul. Ele dizimou quase dois terços da população paraguaia. A desordem se deu por conta da disputa nos interesses econômicos em torno da navegação no rio Prata, sendo região de grande interesse de fronteiras que não estavam bem definidas. Esta indefinição serviu para justificar a oportunidade do acerto de contas e ocupar territórios ambicionados pelas distintas sociedades envolvidas. Este texto leva ao leitor informações e análises sobre a participação de grupos indígenas no conflito. Estes povos indígenas provindo da região do Chaco comprometeram-se na luta contra o Paraguai em prol do Império do Brasil. Alguns participaram como voluntários da pátria, embora houvesse um recrutamento forçado. Muitos deles lutaram sob ordens de militares do Império em prol da nação onde muitos não sabiam o que era, mas lutavam numa guerra particular dentro da grande guerra. Indígenas estes que tempos mais tarde após o agitamento, carregavam consigo os prêmios que os recompensavam pelos seus atos de coragem e bravura, foram reconhecidos e podem ser vistos, tempos depois com trajes da guerra simbolizando orgulhosamente sua participação.

Palavras Chaves: Bolívia,Guerra, Paraguai,Índios, Tríplice Aliance, Indígenas.

1. Introdução

O conflito da guerra do Paraguai ocorreu na segunda metade da década de 1860 e contando com as forças armadas do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai e o apoio de seus aliados. Na região do Chaco foram convocados indígenas para participarem do combate, que lutaram bravamente em prol do seu território em espaço brasileiro.

O presente artigo está dividido em cinco partes. Na primeira discorre sobre todo o desenvolvimento do texto colocando os fatos que serão apresentados. A segunda, mostra o inicio da disputa pela navegação na mais importante rota e mais simples para Mato Grosso.

A terceira parte atenta para a participação dos indígenas no conflito onde índios da região do Chaco foram convocados por paraguaios e brasileiros para a disputa e alguns lutaram pelo Império do Brasil, comandados por militares zelando por uma sociedade desconhecida e lutando voluntariamente ou mesmo forçadamente.

A quarta parte aborda o retorno dos Indígenas do conflito como sendo os grandes heróis, trazendo consigo armas, munições, uniformes, promoções e prêmios pelos seus atos de bravura.

Por fim, cada uma dessas partes trata de fatos decorrentes do conflito e a quinta e última parte apresenta as justificativas e conclusões, para que o conflito seja abarcado e possa ter melhor entendimento.

2. Inicio da disputa pela Navegação

A guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai foi o conflito mais longo e devastador do século XIX que marcou a história da América do Sul. Acarretou no aniquilamento do Paraguai, o mais desenvolvido país capitalista da América Latina até o início do confronto. As batalhas ocorreram na segunda metade do século entre 1864 e 70, contando com as forças armadas do Brasil, da Argentina e do Uruguai contra o exército e marinha do Paraguai.

A navegação marítima e fluvial preponderava, no século XIX, sobre os demais elementos de transporte. “Com a implantação da navegação a vapor, a região se tornava cada vez mais importante, intensificando-se o movimento comercial nos rios Paraná, Paraguai, Uruguai e no estuário do Prata” (CARMO, 1989, p. 45).

O conflito conhecido como “Guerra do Paraguai” marcou a década de 1860, envolvendo Argentina, Uruguai, Brasil e Paraguai. Por volta de 1850 dez anos antes, ocorreram no rio Paraguai alterações no curso das navegações. Paraguai e Brasil começaram a disputar o território onde navegavam navios de grande e pequeno porte, principalmente brasileiros, a população ribeirinha que ali vivia passou a utilizar aquela rota.

Em 15 de maio de 1811 o Paraguai se tornou independente, o Império Português e depois do Brasil passou a pressionar o Paraguai e reivindicando a rota para o livre comércio, de acordo com Kroeber[2] (1967, p.105) após meados do século XIX, “os rios compartilhados entre dois ou mais países passaram a constituir tema das mesas de negociação entre as potências interessadas no escoamento de suas manufaturas e manufaturados de mercadorias necessárias”.

Figura 1 “Bacia Do Rio Paraguai” imagem[3]traz os trechos navegáveis e demais rotas.

Fonte: Ministério Dos Transportes.

Além disso, o rio era a porta de entrada mais simples[4]em Mato Grosso. Em extensão é o segundo maior da América do Sul. No caminho até desaguar na bacia da Prata o rio cursa dois mil quilômetros.

3. Participação de Indígenas no conflito

Os indígenas da região do Chaco foram convocados a participarem do conflito e lutaram ao lado de não índios na disputa pela navegação, conviveram com violência, suportaram desrespeito e diversas humilhações, ao decorrer a mais devastadora violência na América do Sul.

Durante o conflito da Guerra do Paraguai, os índios se comprometeram em defender o Império do Brasil, quando em 1864 o território na região dos rios Apa e Blanco foi ocupado por paraguaios, terraque pertenciam aos Guaicurus, Kadiweus e Mbayás, o qual era reivindicado pelo Brasil e Paraguai.

Provenientes da região do Chaco, os índios que lutaram na Guerra do Paraguai do lado brasileiro, tinham o rio como ponto de referência daquela sociedade.

Os Guaranis eram um dos povos que habitavam as margens do rio Paraguai. Entre eles e os distintos habitantes do Chaco sucediam frequentemente conflitos destes povos com os demais moradores do Chaco, ainda antes da vinda dos espanhóis, no século XVI.

Carvalho em sua obra produzida em 2002 escreve acerca deste conflito: “esta inimizade entre as tribos Guaicurus e Guarani aparece, desde o início da colonização, como um fator complicador das relações que se estabelecem com os conquistadores” (CARVALHO, Apud CUNHA, 2002, p. 464).

O território mato-grossense foi bravamente defendido por indígenas Guarani, Guaicurus, Kadiweus e Mbayás, sob as ordens de militares do Império. Sua proteção foi importante para a sociedade, tornando-os assim integrantes convocados para agir nos combates. Por conhecerem todo o território os índios Guaicurus e Guaranieram vistos como sabedores da região conduziram os fugitivos brasileiros pelas serras e facilitaram as condições de sobrevivência durante a guerra, estando com os brasileiros do inicio ao fim do conflito.

Alguns fatos que ocorriam entre Paraguai e Bolívia eram relatados pelos índios às autoridades brasileiras, na disputa pelo contorno das fronteiras. Além disso, os índios eram utilizados, compondo os quadros do exército brasileiro e no transporte de pessoas e cargas pelo rio Paraguai.

Rosely Batista Miranda de Almeida[5]fala no seu texto de bravos guerreirosao falar da participação dos índios na Guerra do Paraguai, que muitas vezes foram levados a força para a guerra.

Entre os índios havia voluntários, mas grande parte deles era levada à força para o campo de batalha. O que se consideraria hoje uma grave infração aos direitos individuais, era comum na época. Em geral, o recrutamento compulsório incidia sobre indígenas, negros, forros ou escravos, e homens desocupados em condições de lutar – todos representantes das camadas “inferiores” da população. A prática do recrutamento forçado não era tranqüila. Existe o registro da atitude de um velho índio Guaná chamado Braz, que teve dois filhos menores, Ricardo e José, recrutados contra a sua vontade. Ele se apresentou ao general Alexandre Manoel Albino de Carvalho, presidente da Província de Mato Grosso, em julho de l865, para exprimir suas queixas. Segundo alegou o ancião, eram Ricardo e José que o ajudavam a manter-se na velhice e além disso, um outro filho já participava da guerra, como soldado no Exército imperial (ALMEIDA, 2008).

O recrutamento indígena para guerra foi realizada de uma maneira voluntária e ao mesmo tempo forçosa sendo uma convocação onde muitos não tiveram a oportunidade de escolher ir ou não para combate, assim como a autora traz à tona o caso do índio ancião que teve seus dois filhos menores convocados para a guerra sem seu consentimento.

Na citação acima o velho índio ousou a tática de reclamar como seu filho já estivesse guerreando no exército imperial seus demais filhos não podiam entrar na guerra declarando ao general que seus filhos o ajudavam a viver. Estando, já idoso, não tinha condições de prover suas necessidades sozinho e precisava de um apoio na velhice.

4. Retorno dos Indígenas do Conflito

Além do recrutamento ao combate a autora ressalta a despeito da volta dos indígenas dos combates:

Os índios voltavam dos ataques aos paraguaios carregando consigo fuzis, munições, tecidos, terçados (sabres), uniformes velhos e diplomas recebidos de oficiais brasileiros, como prova de sua presença nas fileiras da guerra. Alguns, como os Guaná, receberam até gratificação em dinheiro. Eles costumavam guardar por muito tempo os modestos prêmios que recebiam, orgulhosos de seus atos de bravuras. Em 1865, os Kadiwéu chegaram até São Salvador, pelo rio Apa, carregando armas a eles oferecidas por brasileiros, além de muitos outros objetos e mercadorias obtidos com saques e pilhagens contra instalações militares e comboios de abastecimento. Em 1879, quase quinze anos depois, ainda eram vistos usando os velhos sabres presos à cintura. (ALMEIDA, 2008.)

Os indígenas retornaram da guerra como grandes heróis, entretanto como o autor referência, alguns dos objetos e honrarias deles foram comprados ou recebendo promoções pelos seus atos de audácia. Só em alguns casos foram recompensados em moeda corrente, e anos após o seu fenecimento carregavam consigo vestes do conflito, para serem reconhecidos por aqueles que não vieram ao conflito e serem notados por aqueles que viveram a grande guerra.

No decorrer da análise visualiza-se o sofrimento e a luta dos índios em defender o Estado Imperial e Nacional, o que não se distancia dos escravos que vieram, contra sua vontade e, sobreviveram ao que lhes fora imposto.

Os índios no decorrer guerra conviveram com mortes, violência física, humilhações e assim lutaram por algo que aos seus olhos era desconhecido ou se tratava de outros interesses como indica a citação anterior: conseguir armas, roupas, chapéus, diplomas (troféus de guerra e honrarias).

Rosely Batista Miranda de Almeida mostra em seu texto Bravos Guerreiros, os índios guaicuru, kadiweu e guaná durante a guerra e no pós-conflito carregando fuzis, munições, vestidos com uniformes da guerra. Mesmo muito tempo após a guerra exibiam seus troféus conquistados numa guerra particular que tinha outros interesses que os do império ou da tríplice Aliança.

Os cadiuéus (grupo remanescente dos Guaicuru) sustentam ainda hoje que receberam, da parte do próprio imperador D. Pedro II, a promessa formal de terem suas terras demarcadas tão logo terminasse a guerra. Eles temiam, desde o começo do conflito, que seu território pudesse ser invadido pelo inimigo e vir a tornar-se propriedade dos castelhanos paraguaios. Autores como Sílvia Carvalho, atestam que, por documento oficial, datado do século XIX, eles têm, realmente, esse direito. Contudo, o acordo nunca foi respeitado (ALMEIDA, 2008).

As terras indígenas com o final da guerra foram usurpadas por militares e por grandes fazendeiros. O fato causa ainda nos dias atuais conflito entre índios e não índios no Sul de Mato Grosso. As forças indígenas foram fundamentais para vencer o Paraguai, e muitos deles voltaram da guerra sem o prestígio merecido pelos objetivos alcançados nos combates, e foram soldados deixados às margens da sociedade, esquecidos da memória nacional e da historiografia.

Além disso, os Guaicurus sofreram ainda no pós guerra com a epidemia de varíola, epizootia, conhecida como pestes das cadeiras, e provocou grande mortalidade nos animais e nos próprios índios, sendo grande parte deles dizimados. Os Guaicurus que sobreviveram se tornaram em grande parte, desempregados, tendo que se empregar em fazendas e lutando com os ex-militares e fazendeiros que usurparam suas terras.

5. Considerações finais

O combate deixou amplos danos tanto no Brasil como no Paraguai, país este que foi destruído. Quase dois terços da população masculina paraguaia foram aniquilados e o que restou constituíam-se de idosos, crianças e truncados pela ação militar. As indústrias, a guerra congelou e a população passou a viver essencialmente do cultivo, do sustento no extrativismo e na agricultura familiar ou comunal. A Argentina herdou parte do território e a dívida de guerra com o Brasil, só foi absolvida em 1943 pelo governo de Getúlio Vargas.

No Brasil milhares de vidas foram ceifadas e a guerra afetou drasticamente a economia, acarretando a necessidade de vários empréstimos externos para conservar o equilíbrio econômico do país. Porém, ao encerrar a guerra, o Brasil tinha um exército bem-sucedido e atualizado e formara-se o arcabouço da nação e do sentimento patriótico.

O único país que apenas lucrou com esta ação armada foi a Inglaterra, que não participou diretamente da guerra, mas conseguiu modernos mercados e o Brasil ampliou sua dívida interna e externa. O Paraguai foi destruído visto que foi uma ameaça ao imperialismo inglês.

Os índios que lutaram nos campos de combate vivem hoje em desentendimento com os não-índios da região do Mato Grosso do Sul. Deixaram suas terras para lutar a favor do Império do Brasil e depois esse Império que fora defendido bravamente os atacou ferozmente. Os méritos e as honrarias não foram entregues aos indígenas, suas antigas propriedades hoje estão em posse de ex-militares do comando que são grandes fazendeiros.

BIBLIOGRAFIA E FONTES

ALMEIDA, Rosely Batista Miranda de. Bravos Guerreiros. Disponível em: http://goo.gl/0xKMa9 acesso em 18 de outubro 2014. Revista de História.com.br (2008).

COSTA, Maria de Fátima. A história de um país inexistente: Pantanal entre os séculos XVI e XVIII. São Paulo: Kosmos, 1999.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.) História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras: Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992.

DORATIOTO, Francisco Fernando Monteoliva. Maldita Guerra: Nova História da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

FONSECA, J. S. da.Viagem ao redor do Brasil (1875-1878). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1952, p. 120-121

KROEBER, C. B. La navegación de los ríos en la historia argentina. Buenos Aires: Paidos, 1967, p. 105.

Mapa elaborado pelo Ministério Dos Transportesdo Brasil.disponível em: http://goo.gl/7SwzyY acesso em 15 de outubro de 2014

REYNALDO, Ney Iared. GUERRA DO PARAGUAI: UM CONFLITO ANUNCIADO (1852 A 1864). Goiás: Anphlac, 2008.

VASCONCELOS, Cláudio Alves de. A questão indígena na Província de Mato Grosso: Conflito, trama e continuidade. Editora UFMS, 1999.


[1] Rodrigo Bueno De Freitas, Brasileiro, nascido em 30 de abril de 1996, em Araputanga-MT, aos 16 anos iniciei minha carreira acadêmica, atualmente sou estudante do curso de Licenciatura Plena em História pela Universidade Do Estado De Mato Grosso, UNEMAT.

[2]KROEBER, C. B. La navegación de los ríos en la historia argentina. Buenos Aires: Paidos, 1967, p. 105.

[3]Mapa elaborado pelo Ministério Dos Transportes disponível em: http://goo.gl/7SwzyY acesso em 15 de outubro de 2014.

[4]FONSECA, J. S. da. Viagem ao redor do Brasil (1875-1878). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1952, p. 120-121

[5]ALMEIDA, Rosely Batista Miranda de.  Bravos Guerreiros. Disponível em: http://goo.gl/0xKMa9 acesso em 18 de outubro 2014. Revista de História .com.br (2008).


Publicado por: Rodrigo Bueno De Freitas

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