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Vale do Amanhecer- Um espaço geográfico cultural

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O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Um elo entre Geografia, Cultura e Religião.

INTRODUÇÃO:

O interesse sobre esse determinado espaço geográfico foi fruto da necessidade de apresentar um estudo que colocasse em prática as atualizações das idéias geográficas. O respeito pelas diferenças e particularidades das pessoas, não somente relativo à religião, mas às etnias, às classes sociais, à regionalidade é relevante para a Geografia. Desse modo, o estudo sobre a região do Vale do Amanhecer contempla questões sociais, políticas e econômicas de uma sociedade culturalmente diferenciada, mas que possui as mesmas necessidades da grande parcela da população mundial.

A nova visão geográfica trata-se de uma atualização das idéias tradicionais, aproximando-se cada vez mais da relação recíproca entre o homem e o meio. O advento da globalização que aproximou as fronteiras e homogeneizou as técnicas não foi capaz de fazer o mesmo com o espaço. A cultura de cada povo continua - ainda que influenciada pelo avanço do consumismo - a ser refletida no local onde se inserem os indivíduos caracterizando o espaço geográfico como um reflexo da sociedade, garantindo a pluralidade cultural e espacial.

Somente quando chegamos ao entendimento da complexidade e particularidade humana é que somos capazes de aceitar o outro, respeitar suas diferenças, suas ideologias, seu modo de viver, de produzir e de habitar o espaço. Capazes principalmente de vencer os preconceitos.

Com esse intuito resolvemos tratar desse espaço urbano diferenciado – Vale do Amanhecer – localizado em Planaltina (Distrito Federal). Cuja formação foi influenciada principalmente pelo fator religioso, contrapondo a maioria das grandes cidades mundiais que se originaram em torno de interesses econômicos.

A “Doutrina do Amanhecer” tem como fundadora Neiva Chaves Zelaya, ou Tia Neiva, como ficou conhecida. Nascida na cidade de Própria-SE veio para Brasília trabalhar como caminhoneira na época da construção da nova capital. Foi aqui que começou a desenvolver sua mediunidade, sem saber realmente do que se tratava procurou ajuda de vários médicos e psicólogos, mas não encontrava respostas para o que realmente estava acontecendo.

Até que conheceu o espiritismo Kardecista que a ajudou nas primeiras lições de vida espiritual, já ouvindo espíritos que se apresentavam. Começaram a surgir pessoas de diversos locais em busca de auxilio vindos principalmente do Nordeste, Minas Gerais e Goiás, em 1969, orientada pela espiritualidade, o grupo transferiu-se para o local onde hoje está alojada essa doutrina, local este que era uma pequena fazenda, dando ao lugar o nome de “Vale do Amanhecer” inspirado na geomorfologia do local que se apresenta como uma área rodeada de vales. Localizado à 6 km de Planaltina e à 50 KM do centro do Plano Piloto de Brasília.

O local tem cerca de 22 alqueires e o formato de um triângulo, formado por dois córregos e a rodovia DF-15. Inicialmente destinado à construção do templo, Neiva distribuiu alguns lotes para alguns de seus seguidores, onde acabou se tornando uma pequena vila.

A doutrina incorporou além de características de civilização do passado, partes de religiões afro-brasileiras, espiritismo, catolicismo, islamismo entre outros. Os adeptos dessa religião são pessoas comuns que em busca de solucionar problemas pessoais e coletivos decidiram trabalhar para si e para seu próximo.

Essa temática da religião ainda é pouco investigada pelos geógrafos, mas apoiados nos argumentos de alguns autores consideramos que a Geografia e a Religião estão interligadas já que uma analisa o espaço e a outra ocorre espacialmente.

A religião permite atribuir ao espaço um valor simbólico e sentimental, capaz de ultrapassar e se diferenciar do valor propriamente econômico ou de mercado. Esse simbolismo é refletido nas vestimentas, nos costumes, orações e principalmente na arquitetura das cidades religiosas que possuem uma organização doutrinária.

“A cultura é rica em símbolos e signos que oferecem uma rede infinita de ‘linhas’ interligadas que, quando combinadas a um sistema religioso, fornecem características singulares aos lugares em que esta união ocorre.” (DOROTÉO,1999).

O fluxo de informações a que temos acesso pelos variados meios de comunicação, nos traz o conhecimento dos diversos espaços urbanos tanto na escala local quanto na global, assim é fácil termos a percepção desse simbolismo cultural a que nos referimos.

Ainda que nunca tenhamos nos deslocado geograficamente a alguns países como a China, EUA, Israel, Peru, Angola fazemos mentalmente uma série de associações simbólicas à esses espaços que os diferenciam econômica, cultural e socialmente.

Duas dimensões são ainda tratadas dentro dos estudos geográficos sobre religião, o sagrado e o profano. O Primeiro diz respeito a tudo aquilo que a doutrina, as leis, os mandamentos, as escrituras pregam e que os seguidores procuram seguir, por sua vez profano é tudo aquilo que se desvincula do sagrado, toda prática, ação, conduta que é vista como inadequada pela religião.

Assim como o sagrado, o profano é capaz de transformar e caracterizar o espaço, é importante lembrar que não só no Vale do Amanhecer, mas em outras cidades religiosas essas duas dimensões convivem e ocorrem paralelamente, em maior ou menor grau em decorrência disso é bem provável que ocorram conflitos.

Hoje a população estima-se em 30mil habitantes. As pesquisas realizadas no local apontaram que sua grande maioria não pertence à religião, existe uma grande parcela de protestantes e também católicos. Isso aconteceu porque o local acabou perdendo o propósito para que fora criado inicialmente, por influencia política muitos lotes nessa área foram vendidos a não seguidores.

Com relação à estrutura da região existe uma área central, próxima aos templos, que é dotada de uma considerável infra-estrutura com pavimentação, iluminação, saneamento e coleta de lixo, em contra partida existe perifericamente a Vila Pacheco onde as condições não são as mesmas, o asfalto, por exemplo, não existe e os outros serviços básicos não são satisfatórios para atender a população.

De maneira geral as duas maiores reclamações são por falta de hospitais e segurança, esses problemas acontecem principalmente porque a região não recebe recursos diretos tornando-se dependente da administração de Planaltina, já que o Vale do Amanhecer é considerado como parte da mesma.

O comércio do Vale do Amanhecer atende as necessidades básicas de sua população dispondo de pequenos supermercados, feira de produtos alimentícios, padarias, restaurantes, etc. A economia gira entorno da movimentação turística no local, são várias as pousadas existentes e as lojas de artigos religiosos, contudo não existem ofertas de emprego suficientes para todos, grande parte da população depende das oportunidades para se trabalhar em Brasília ou em outras regiões administrativas.

Muitas vezes as oportunidades para essas pessoas não surgem porque sofrem com o preconceito de morarem nesse local. Tal atitude representa a mediocridade dos seres humanos que incapazes de aceitar as diferenças não são possuem uma tolerância religiosa capaz de viver o espírito de amor, compaixão, solidariedade e respeito pelo próximo.

Os moradores do Vale, dotados de sua particularidade frente ao misticismo por eles vivido, não os tornam diferentes quanto à necessidade de qualidade de vida. As pessoas são diferentes, mas os problemas vividos por elas são quase sempre os mesmos e a atenção dada a estes deve ser igual independente de sexo, etnia, classe e religião.

Compreender isso, ter a capacidade de valorizar os diferentes espaços urbanos e as diferenciadas culturas é olhar para o mundo geograficamente. 


Publicado por: Rayane Bandeira da Costa

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